segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Entrevista da 2ª - Josué Gomes da Silva

folha de são paulo
ENTREVISTA DA 2ª - JOSUÉ GOMES DA SILVA
Faltam previsibilidade e transparência na economia
COTADO PARA MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, FILHO DE JOSÉ ALENCAR DIZ QUE AJUDA MAIS FORA DO GOVERNO
MARINA DIASDE SÃO PAULORecém-filiado ao PMDB, principal partido aliado dos petistas, o empresário Josué Gomes da Silva, 49, diz que a "falta de previsibilidade e transparência" no campo dos negócios é o maior problema da política econômica do governo Dilma.
Para o mineiro, que defende a presidente enquanto sugere "falhas na comunicação" do ministro da Fazenda, Guido Mantega, os equívocos estão na "forma" e não na "direção" das medidas. "A hiperatividade no campo macroeconômico deixa o empresariado desconfiado", explica.
Filho do ex-vice-presidente da República José Alencar Gomes da Silva, o presidente da Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas) tornou-se uma das apostas do Palácio do Planalto para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de para acalmar o ânimo dos colegas empresários.
Mas Josué descarta a possibilidade. "Acho que ajudo mais fora de um ministério."
A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Folha - O senhor foi sondado pelo senador Aécio Neves para ser candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB. Por que optou pelo PMDB e pela aliança com a presidente Dilma Rousseff?
Josué Gomes da Silva - Sempre manifestei que tenho um lado, o do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff. E é natural que essa seja minha opção, afinal papai fez parte desse projeto que me parece ter inúmeros acertos. Conheço o senador Aécio, mas nunca houve sondagem.
Qual foi a participação de Lula na sua filiação ao PMDB?
Nunca poderia deixar de ouvi-lo. Ele sempre teve um carinho muito grande no período de convalescência do papai e sempre respeitou o papai, as opiniões do papai, dando absoluta liberdade para que o papai se manifestasse. Lula é um democrata, dá sugestões e opinião, mas não impõe nada. Ele é um grande conhecedor da política e fez sua recomendação.
O ex-presidente Lula e o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), defendem seu nome para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O senhor está disposto a assumir o cargo?
Só posso me sentir honrado, mas não significa que eu concorde que essa seja a melhor alternativa para o projeto, para a candidatura [da presidente Dilma]. Não houve convite. Seria honroso, mas, sinceramente, acho que ajudo mais fora de um ministério. Não me parece o melhor momento.
O setor empresarial está descontente com o governo federal e sua nomeação no ministério poderia ser importante para a interlocução com o PIB.
Já tem um diálogo entre o setor empresarial e o governo Dilma, não precisa de outra pessoa para ampliar isso. Não nego que o setor empresarial esteja descontente. Mas não acho que seja com o governo. Aquele espírito animal de investidor está apagado, adormecido, por causa do conjunto de circunstâncias.
Quais circunstâncias?
Nosso governo não foi suficientemente claro na comunicação das últimas medidas econômicas. Os empresários precisam de previsibilidade. Uma das razões de o setor estar com o instinto de investimento adormecido é porque não tem clima de transparência. Me parece que o governo está atento e não houve descontrole fiscal. Tem que focar na inflação e nas contas públicas e é o que está fazendo.
Como é possível recuperar a confiança na economia?
Tem que dar mostras de que é absolutamente zeloso com a inflação e com as contas públicas. Agora é melhorar a previsibilidade. Hiperatividade no campo macroeconômico deixa o empresariado desconfiado. Diminuir a volatilidade é condição essencial para que voltemos a graus de investimento necessários para o crescimento de 4% a 5%, que é o que acredito ser o potencial brasileiro.
Como o senhor avalia a política econômica do governo?
Tem mais acertos do que erros e, normalmente, só erra quem faz. Talvez na vontade de fazer muito, alguns erros tenham sido cometidos, mas o mais importante é se dar conta e corrigir a rota.
Empresários dizem que a política econômica do governo Dilma causou um desequilíbrio fiscal que atingiu o pior resultado para o mês em 17 anos. O senhor concorda?
O mundo vê um aumento das despesas públicas desde 2008. Em todos os países há expansionismo fiscal. O Brasil, que tem uma dívida pública líquida sobre o PIB da ordem de 35%, não precisava mais gerar superavit primário da magnitude anterior. Ao diminuir o superavit primário, o governo reduz a carga tributária sobre o PIB. Pode-se questionar a forma. O governo não anunciou de forma clara e aí anuncia uma meta um pouco inviável. Depois tenta fechar as contas de maneira legal, mas parecem maneiras arbitrárias e uma certa contabilidade criativa.
Alguns empresários têm se aproximado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que deve concorrer à Presidência em 2014. Em que medida isso deve preocupar o governo e por que seus colegas parecem atraídos por ele?
O novo desperta curiosidade, ainda que Campos seja um político conhecido que tem feito um governo admirável. Com apoio do governo federal, é verdade. Acho que ele vai travar um bom debate.
Acha que Dilma será candidata em qualquer circunstância?
Sim. A presidenta tem todos os méritos e vai se eleger.
Não vê nenhum cenário em que Lula seria o candidato?
Acho que não. Claramente o presidente Lula está trabalhando com afinco pela candidatura de Dilma e Temer.
Um segundo governo Dilma seria diferente do primeiro?
A marca desses onze anos é desenvolvimento com distribuição de renda e justiça social. Isso melhora a qualificação da população. Por isso o Brasil está crescendo e é nesse projeto que eu acredito.
O senhor disse contribuir mais para a candidatura de Dilma fora do ministério. Seria como candidato em Minas Gerais? Como conciliar atividade empresarial e atuação política?
Não vejo incompatibilidade entre as atividades porque minha militância política é como cidadão. Minha defesa desse modelo, estando fora do governo, é mais legítima. Não estou buscando cargo. Obviamente não falo que não disputarei cargos, mas nunca tratei nem pensei nisto. Estou na política porque acredito.
Sua entrada no PMDB envolve algum tipo de compromisso com o financiamento dos candidatos do partido em 2014?
Nunca foi discutido candidatura, imagina se foi discutido algum aspecto financeiro para a campanha. Nunca.
É a favor do financiamento exclusivamente público para campanhas? Acha que isso inibiria o caixa dois, como dizem os defensores da ideia?
O caixa dois não deveria existir com financiamento público nem privado. Se o cidadão está disposto legitimamente a participar da política, pode contribuir com um partido. Não podemos admitir abuso de poder econômico, ou seja, financiamento de grandes empresas que tenham interesses específicos.
O que achou do julgamento do mensalão? E as prisões?
Não conheço os autos do processo, então, qualquer opinião acabaria tendo um filtro de ideias preconcebidas e prefiro evitar equívocos.
Ficou demonstrado no julgamento que o antigo PL, partido do seu pai, recebeu R$ 9 milhões após a aliança com o PT. Não há evidência de que seu pai tenha participado das negociações, mas seria razoável supor que ele tenha se interessado em saber o que houve. Vocês conversaram sobre isso?
Papai deu declarações públicas sobre isso. Na aliança entre PT e PL, com o PT na cabeça de chapa, ficou combinado a distribuição de recursos da arrecadação de maneira a permitir que o PL financiasse seus candidatos a deputado. Não era troca de dinheiro. Agora, como foi arrecadado, distribuído e o que foi feito com o dinheiro, isso não cabia ao presidente Lula nem ao papai como candidatos, cabia aos tesoureiros.
    RAIO-X - JOSUÉ GOMES DA SILVA
    Empresário, 49 anos
    NASCIMENTO
    25 de dezembro de 1963 em Ubá, Minas Gerais
    FORMAÇÃO ACADÊMICA
    Engenharia civil na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e direito na Faculdade Milton Campos. MBA na Universidade de Vanderbilt, no Tennessee
    CARREIRA
    Funcionário de carreira, assumiu a presidência da Coteminas em 1994

      O assunto é: O marco civil da internet - Frank Larue e Eduardo Cunha

      folha de são paulo
      FRANK LARUE
      TENDÊNCIAS/DEBATES
      O ASSUNTO É: O MARCO CIVIL DA INTERNET
      Pela liberdade da rede
      Aceitar que o acesso à internet de baixa qualidade seja o único oferecido para quem possa pagar menos trará um impacto profundo na conectividade
      No ano passado, países adotaram por unanimidade na ONU a primeira resolução sobre direitos humanos e internet. O texto é direto: "Os mesmos direitos que as pessoas têm fora da internet devem ser protegidos dentro dela, em particular a liberdade de expressão". Se a formulação é clara, sua implementação na prática é um desafio permanente.
      Se liberdade de expressão e privacidade são reconhecidos faz tempo como direitos humanos fundamentais, qualquer proposta de regulação para a internet deve sempre levar em conta a necessidade primordial de promovê-los. No entanto, por todo o mundo, leis inconsistentes abrem espaço para iniciativas que terminam por violá-los.
      O Brasil tem tido um papel de liderança nesse tema. Na abertura da Assembleia Geral da ONU em setembro, a presidenta brasileira, reagindo às revelações sobre a espionagem norte-americana, listou com precisão pontos fundamentais que deveriam nortear qualquer debate sobre como regular a internet. Em primeiro lugar, ela mencionou a importância de garantir a liberdade de expressão e a privacidade.
      Neste momento, o Congresso Nacional brasileiro debate a adoção do projeto de Marco Civil da Internet. O projeto de lei, já pela sua elaboração participativa, vinha sendo usado no mundo como um exemplo interessante de regulação da internet. Se algumas qualidades fundamentais do texto original forem mantidas pelos congressistas, o Brasil poderá oferecer ao mundo uma referência. Mas se tais qualidades forem perdidas, a regulação poderá ser ineficaz ou até danosa.
      Garantir a neutralidade da rede significa que toda medida que regule o tráfego e o acesso de informações on-line seja ancorada pelos princípios fundamentais da igualdade e não discriminação.
      Assegurar à população, sem discriminação, acesso seguro e de qualidade às novas tecnologias de comunicação é elementar para a consolidação da democracia. Num país marcado por desigualdades econômicas como o Brasil, aceitar que o acesso de baixa qualidade seja o único oferecido para quem possa pagar menos trará um impacto profundo na conectividade de uma vasta parcela da população.
      Garantias como os dispositivos que determinam que provedores de serviços na internet só poderão ser responsabilizados por não cumprir uma ordem judicial que os obrigue a remover ou bloquear o acesso a conteúdo de terceiros são também importantes para evitar que se crie um ambiente jurídico hostil à livre circulação de ideias. Nesse sentido, preocupam sugestões recentes para incluir exceções nos casos de violação aos direitos autorais.
      O projeto de lei original reafirma a proteção da privacidade, sendo a identificação de dados de comunicação somente aceitável com autorização judicial para casos específicos. No entanto, a proposição obrigando a armazenagem de dados da comunicação em território nacional parece ser tecnicamente inócua.
      Sem exageros, promover o livre e seguro acesso à internet é hoje uma das chaves para a consolidação da vida democrática. Assim que é preciso olhar com atenção para qualquer regulação que desconheça o papel crucial da proteção da liberdade. Os debates no Brasil interessam ao mundo, e muito.

      EDUARDO CUNHA
      TENDÊNCIAS/DEBATES
      O ASSUNTO É: O MARCO CIVIL DA INTERNET
      Interesses de fundo
      Da forma como está escrito, o projeto é o sonho do Google e dos grupos de mídia e o pesadelo para você, usuário, que pagará a conta
      Muito vem sendo dito e escrito, na maioria das vezes sob uma desenfreada carga ideológica, sobre o Marco Civil da Internet.
      Chegaram a me posicionar, de forma lamentavelmente despropositada e inverídica, como "defensor da teles". Não há veracidade nessa tese, somente má-fé para tentar constranger-me. Mas há alguns pontos que precisam ser definitivamente esclarecidos para que prevaleça o bom senso.
      Concordamos, inicialmente, que se tenha uma neutralidade, que não se impeça ninguém de transitar seu conteúdo pela rede, independentemente de que o provedor do seu conteúdo seja diferente do seu provedor de conexão. Concordamos que ninguém seja privilegiado, que ninguém filtre, que ninguém monitore, que se tenha controle da privacidade. Somos a favor da neutralidade de conteúdo.
      Mas não há dúvidas de que, caso o projeto seja aprovado como querem alguns, o preço da internet subirá. Queremos neutralidade sim, mas sem aumentar o custo para o usuário. Ou pensa o leitor que obrigar o provedor a fornecer infraestrutura melhor não encarecerá a conta? Será que todos nós queremos uma infraestrutura de conexão ainda mais precária?
      O mesmo vale para a neutralidade comercial. Imaginemos se pagássemos pelo custo de pacote com capacidade para atender qualquer demanda. Por que não fazem isso também com a conta de luz? Imagine a pessoa usar o ar-condicionado o dia inteiro e pagar conta idêntica à de quem só acende uma luz de vez em quando. Será mesmo que haverá investidor que comprometa seus recursos em cenário tão desfavorável?
      Seria uma péssima sinalização para o mercado internacional, que já considera a postura brasileira intervencionista, pouco atraente.
      Congestionaria ainda mais a telefonia celular, já que, na banda larga --por meio dos celulares e dos smartphones--, usa-se os mesmos meios de interconexão. Esse mercado sofreria com aumento da demanda que esse tipo de oferta ilimitada de utilização de espaço provocará. Na medida em que todos serão iguais, pagarão no mesmo patamar e mais caro, um congestionamento monstruoso será estimulado.
      É de se perguntar: o projeto original do governo previa a neutralidade com posterior regulamentação. Por que agora querem mudar?
      É, contudo, viável estimular a implantação dos datacenters no Brasil. Claro que todos nós queremos, na medida do possível, ter todos os dados armazenados no Brasil, em datacenters locais, que, obviamente, vão gerar empregos e investimentos no desenvolvimento tecnológico. Mas impor, por lei, que o usuário armazene seus dados em servidores nacionais, impedindo-o de buscar centros de dados internacionais (alguns até mais baratos e eficientes que os daqui) é, no mínimo, andar na contramão do mundo.
      O relatório do Marco Civil da Internet, do jeito que está escrito, é o sonho do Google e dos grupos de mídia e o pesadelo para você, usuário, que será quem vai pagar a conta, caso a íntegra da proposta seja aprovada na Câmara Federal.
      A internet poderá acabar com o pré-pago, com o pobre subsidiando o rico. A aritmética, grosso modo, é simples: 20% dos usuários consomem 80% da rede e 80% dos usuários consomem 20% da rede. Quem perde com esse cenário?
      O conceito que tentam impor nada tem a ver com neutralidade. Afirmar que neutralidade é o mesmo que ofertar infraestrutura ilimitada para estimular e atender o consumo de quem quer que seja é uma tentativa lastimável para desorientar a opinião pública. Com esse debate, não coadunamos. A bancada do PMDB votará a favor do usuário e para que a internet não pese, ainda mais, no bolso do consumidor brasileiro.

      Valdo Cruz

      folha de são paulo
      Bandeira arriada
      BRASÍLIA - Uma das bandeiras eleitorais da presidente Dilma Rousseff caminha para ser arriada, frustrando sua estratégia de usá-la na campanha da reeleição como uma de suas grandes conquistas.
      Falo da meta estabelecida pela petista de derrubar a taxa de juros durante seu mandato. Nesta semana, ela deve voltar à casa dos dois dígitos, batendo em 10% ao ano.
      Pior. O cenário de incertezas na economia mundial pode levá-la aos 11% ainda no primeiro semestre do próximo ano, acima dos 10,75% herdados do ex-presidente Lula.
      Em outras palavras, Dilma não só falhou no seu objetivo, como pode terminar seu mandato com juros mais altos do que recebeu.
      Seu equívoco foi criar uma meta de taxa de juros, quando ela é instrumento para atingir a que de fato importa, a de inflação. Resultado, as duas ficaram comprometidas, quando uma deveria levar à outra.
      Dilma poderia ter logrado mais sucesso. Em outubro de 2012, os juros caíram para seu patamar mais baixo, 7,25%. Uma maravilha. Só que se esqueceram da outra ponta, a que poderia sustentá-la.
      Depois de um primeiro ano de forte ajuste fiscal, o governo se entregou às manobras contábeis para esconder sua gastança exatamente quando derrubava os juros. Deu no que deu, mais inflação, que forçou o BC a voltar a subir a taxa Selic.
      Hoje, o governo busca recuperar a credibilidade perdida na área fiscal para tentar segurar a inflação e reduzir a dose dos juros. Tarefa difícil diante de sua ambiguidade.
      Dilma e sua equipe têm até se esforçado para mostrar maior rigor fiscal, mas não assumem publicamente compromisso com uma meta fixa, realista, de economia de gastos para pagamento da dívida pública.
      Prometem apenas algo vago ou inatingível. Sinal de que não bancam suas próprias metas. Aí, fica difícil pedir que acreditemos neles. Afinal, discurso não convence mais ninguém. É preciso entregar.

        Vinicius Mota

        folha de são paulo
        Caracas, Teerã
        SÃO PAULO - Não é trivial governar uma sociedade populosa cuja renda provenha sobretudo da exploração de um só produto. O bem-estar das pessoas condiciona-se a quanto as outras nações pagam pela mercadoria ali abundante. Fica sujeito a variações colossais e repentinas.
        A face política da economia circunscrita a uma atividade costuma ser governo forte e centralizador. De sua atuação depende decisivamente a distribuição da renda, originada de modo concentrado.
        A regra vale menos para países pouco habitados, na comparação com sua riqueza territorial. Mas duplique, leitor, a população do organizado Chile, menor que a da Grande São Paulo, troque o cobre pelo petróleo e terá ideia do problema da Venezuela. Dobre de novo o número de habitantes e chegará perto do desafio do Irã.
        Teerã e Caracas vivem hoje a ressaca deixada pelo fim de uma década de bonança na cotação do petróleo. A renda do petróleo não compra mais a quantidade de bens e serviços suficiente para manter o progresso material da sociedade.
        Os governos fazem o que podem para mitigar o empobrecimento relativo da população, o que parece inevitável. Ampliam gastos e dívida, manipulam a moeda local e saqueiam as receitas das estatais petrolíferas.
        Mas podem pouco. O PIB se desacelera, e os preços ao consumidor arrancam. O custo de vida sobe 40% ao ano. No Irã, o boicote internacional agrava o desabastecimento interno. Na Venezuela, os decretos para baixar preços o vão exacerbar.
        Ao Irã ainda restam a moeda de seu programa nuclear --cuja desaceleração temporária acaba de pactuar com o Ocidente-- e o enraizamento do regime islâmico. A Venezuela não tem nada disso.
        O Brasil se prepare para uma crise no vizinho. O socialismo começa com discursos gloriosos e braços erguidos, mas acaba em filas e penúria econômica.

          Ciência básica - Editorial FolhaSP

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          Ciência básica
          Até fazia sentido, uma década atrás, concentrar em português e matemática os esforços para estancar a perda de qualidade nas redes públicas de educação no Brasil. São pré-requisitos básicos, inclusive para o aprendizado de ciências --o que não implica dizer que estas sejam menos fundamentais.
          Não são. A complexidade crescente na esfera da produção, mesmo no setor agrícola, exige hoje de cada trabalhador uma familiaridade com a verificação de dados e com o método hipotético-dedutivo que só um bom ensino de ciências pode prover.
          Um primeiro passo para pôr a educação científica no radar foi dado na semana passada. Como informou o jornal "O Globo", quase 85 mil alunos dos níveis fundamental e médio realizaram um exame de ciências como parte da Prova Brasil e da Avaliação Nacional da Educação Básica, além da tradicional avaliação nas áreas de matemática e leitura.
          Claro está que o fato de aquilatar o nível de proficiência dos estudantes na matéria não terá o poder, sozinho, de induzir o progresso desejado. Sem conhecer o estado real das deficiências, contudo, tanto do ponto de vista de conteúdos quanto da incidência regional e local, será difícil traçar um diagnóstico preciso e um plano de ação eficaz.
          Trata-se ainda de uma fase experimental, pois só 1,7% dos alunos foram incluídos nesse teste, que abrange 26 questões de ciências naturais e 26 de ciências humanas. Já se fala em generalizar o procedimento em 2014 ou 2015 --quanto antes, melhor.
          Toda a dificuldade enfrentada para melhorar a educação pública no Brasil, nas duas últimas décadas, tornou evidente que avaliações são condição necessária para elevar seu nível, mas insuficiente. Sem medidas estruturais, como a requalificação dos professores e a valorização da carreira docente (aliando ganhos salariais, bônus e cobrança de desempenho), o país nunca dará o salto necessário.
          É na formação de professores de ciências, de resto, que desponta a crise mais grave. Só de física e química a educação básica tem deficit de 100 mil docentes com formação específica (quase 90% dão aulas nessas disciplinas sem diploma na área).
          A avaliação em ciências vai revelar com maior clareza as fraquezas dos estudantes brasileiros nessas matérias. O passo seguinte, e necessário, será eliminá-las.

            Ruy Castro

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            Uma vez rato

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            RIO DE JANEIRO - Mickey, o rato, está fazendo 85 anos. Os EUA comemoram isso com estardalhaço e, como sempre, intimam o mundo a soprar velinhas para um personagem que só a eles diz respeito. Mickey representa os americanos como eles se veem: adultos, justos, responsáveis, gentis, inatacáveis. Mas não é assim que o mundo enxerga os americanos.
            Para mim, muito mais representativo no cânone de Walt Disney é o inimigo de Mickey, João Bafodeonça, criado em 1925 --três anos antes do próprio Mickey, cinco antes de Pluto, sete antes do Pateta e nove antes de Donald. Mas era típico de Walt que um maravilhoso vilão como João Bafodeonça, em ação até hoje, nunca passasse de coadjuvante, destinado a perder todas para o rato.
            Rato este que não tinha nada de santo ao nascer. Logo em seu primeiro desenho, "Steamboat Willie" (1928), Mickey tortura um gato, roda-o pela cauda e o atira dentro do rio. E cometeu outras ignomínias com animais nos desenhos seguintes, até que Disney ordenou a sua desratização e conversão em algo parecido com um ser humano.
            Mas, uma vez rato, sempre rato, e não é por acaso o ódio de Walt aos gatos, evidente em toda a sua produção. Em "Pinóquio" (1940), o gato Gedeão é um malandro odioso e repulsivo. Em "Cinderela" (1950), o gato Lúcifer, gordo e perverso, é uma constante ameaça para dois ratos esqueléticos, Gus e Jaq. Em "Alice no País das Maravilhas" (1951), o Gato é lógico, frio e insensível. Em "A Dama e o Vagabundo" (1955), os siameses Si e Ão destroem as cortinas, atacam o canário e afogam o peixinho dourado. E mesmo em "As Aristogatas" (1970), um filme que se imagina pró-gatos, há um bando de gatos vadios e desprezíveis, e o herói é um rato chamado Roquefort.
            Daí ser inevitável que Walt um dia fizesse a Disney World --a maior ratoeira humana já construída por um rato.

            Mônica Bergamo

            folha de são paulo

            Igreja Católica é condenada a pagar indenização em caso de pedofilia no Paraná

            DE SÃO PAULO
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            A Igreja Católica foi condenada a pagar indenização em um caso de pedofilia no Paraná. A ministra Nancy Andrighi, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), negou recurso da Diocese de Umuarama e determinou a responsabilidade solidária da entidade eclesiástica em ação movida contra o padre José Cipriano da Silva.
            PUNIÇÃO
            A igreja e o sacerdote vão pagar R$ 100 mil (metade cada um), de forma solidária, pelos danos morais decorrentes do delito. A vítima tinha 14 anos em 2002. "A igreja não pode ser indiferente --em especial no plano da responsabilidade civil, frise-se-- aos atos praticados por quem age em seu nome ou em proveito da função religiosa, sob pena de trair a confiança que nela própria depositam os fiéis", declarou a ministra em seu voto.
            PUNIÇÃO 2
            A Mitra Diocesana de Umuarama vai recorrer da decisão. "O ato da pessoa física, em suas atividades privadas, nada tem a ver com o ofício do sacerdócio e não pode ser creditado à instituição", entende Hugo Cysneiros, advogado da diocese.
            PUNIÇÃO 3
            Em seu voto, a ministra rebate os argumentos da defesa: "Mais do que simples relação de subordinação, o ministro ordenado é para os fiéis a própria personificação da Igreja Católica, no qual depositam justas expectativas de retidão moral". E diz que a instituição não pode ser indiferente ao crime praticado pelo sacerdote que "convencia as vítimas a pernoitarem na casa paroquial para praticar atos libidinosos".
            NA PRORROGAÇÃO
            O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Marco Aurélio Mello, prevê que a minirreforma eleitoral criará a mesma celeuma da Lei da Ficha Limpa. Segundo o ministro, as regras recém-aprovadas pelo Senado não podem vigorar no pleito de 2014. Pelo princípio da anuidade previsto na Constituição, a lei passa a vigorar de imediato, mas não vale para a eleição do ano seguinte. As regras só vão incidir sobre as eleições municipais em 2016.
            PARA A PLATEIA
            "Os parlamentares têm o tempo todo para promulgar leis, mas deixam para fazer em cima da hora para dar uma satisfação vã à sociedade", critica o novo presidente do TSE.
            HELLO
            Cat Stevens ligou para Eduardo Suplicy (PT-SP) na quinta-feira passada. Pediu desculpas por não poder ter recebido o senador e os filhos, no dia 17, após show em SP. O cantor, que mudou o nome para Yusuf, confirmou ter recebido o exemplar de "Renda de Cidadania - A Saída É pela Porta", enviado pelo político com dedicatória em inglês. Na conversa, Suplicy revelou ao britânico a vontade dos filhos Supla e João, os Brothers of Brazil, de tocar com ele "em algum lugar da Terra".
            BOB SINCLAIR EM SÃO PAULO
            Leonardo Soares/Folhapress
            BO DJ francês em suíte no hotel Tivoli, em São Paulo
            BO DJ francês em suíte no hotel Tivoli, em São Paulo
            Com uma intensa relação com o Brasil, o DJ francês Bob Sinclar, 44, já pensa até em gravar com o músico Gusttavo Lima. Em sua passagem por São Paulo para apresentação em uma festa da Pirelli, no embalo da Fórmula 1, ele falou à coluna.
            *
            Folha - Você já se sente em casa tocando tanto no Brasil?
            Bob Sinclar - Desde que "Love Generation" ficou em primeiro lugar no Brasil e o apresentador Luciano Huck começou a tocá-la em seu programa, fui ficando mais conhecido. As pessoas não sabiam quem eu era, mas conheciam a música. Comecei a vir no Carnaval. Me sinto mais confortável tocando aqui do que na França. Os brasileiros têm música nas veias.
            Mas não cansa tocar "Love Generation" sempre?
            Temos que ter orgulho do nosso trabalho e tocá-lo quanto for necessário. Uma música boa é uma música boa. Dura pra sempre. Mas procuro atualizar minhas faixas.
            Você escuta música brasileira?
            Tenho escutado muito Seu Jorge, Maria Gadú. Queria muito gravar com o Gusttavo Lima. Entrei em contato para fazermos algo juntos e ele topou, mas ainda estou esperando uma data na agenda. Ele é bastante ocupado.
            Todo mundo hoje se diz DJ?
            Hoje a tecnologia é evoluída, por isso todo mundo pode ser DJ. Você viu "Ratatouille"? Nesse filme um dos personagens diz que todo mundo pode cozinhar, mas nem todo mundo pode ser um chef de cozinha. Pra ser um bom DJ, aquilo tem que estar em você. Muitos não entendem que a energia vem do público. Prestar atenção nisso faz um bom DJ.
            MAR À VISTA
            T. Costa
            A estilista Fernanda de Goeye exibiu a boa forma para divulgar a coleção de alto verão de Adriana Degreas em um ensaio caseiro entre amigas
            A estilista Fernanda de Goeye exibiu a boa forma para divulgar a coleção de alto verão de Adriana Degreas em um ensaio caseiro entre amigas
            GAROTA-PROPAGANDA
            Livro de estreia da atriz Fernanda Torres, "Fim" terá divulgação digna de grande lançamento. Andrucha Waddington, marido da colunista da Folha, dirige os vídeos da campanha, criada pela agência WMcCann.
            ÁLBUM
            O Museu do Futebol abre exposição no sábado com objetos que fazem parte da memória impressa do esporte. Além de figurinhas e postais, "Futebol de Papel" exibe itens como os ingressos de todas as Copas do Mundo.
            SEM CHORO
            Gustavo Rosa, que morreu no dia 12, será homenageado nos espetáculos "Mover-se" e "Entrelaços", da companhia Cinque Sensi. Obras do artista plástico farão parte do cenário e um vídeo sobre ele será exibido, nesta sexta, no teatro Anhembi Morumbi.
            AU AU AU
            A atriz Larissa Manoela, 12, vai festejar os dois anos de sua cachorrinha, Guilhermina, no bufê Mega Magic, em SP, nesta quarta. A yorkshire da estrela de "Carrossel" tem dez fã-clubes.
            HISTÓRIA CONSTRUÍDA
            Os arquitetos e sócios Fernando Vidal, Luiz Fernando Rocco e Douglas Tolaine lançaram o livro "Rocco Vidal", sobre o escritório que comandam. Felipe Aflalo e Kiko Salomão, também arquitetos, estiveram no evento, no Museu da Casa Brasileira.

            Lançamento de livro no Museu da Casa Brasileira

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            Divulgação
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            Fernando Vidal, Luiz Fernando Rocco e Douglas Toulaine, sócios do escritório Rocco Vidal, foram ao lançamento do livro "Rocco Vidal", do escritório Rocco Vidal P+W, no Museu da Casa Brasileira
            BRILHA MUITO
            O joalheiro Jack Vartanian e o artista plástico Kleber Matheus receberam convidados na inauguração da exposição "Variação sobre Pedras", nos Jardins. A empresária Karina Motta, a estilista Juliana Jabour e a mulher de Jack, Cassia Avila, foram à abertura da mostra.

            Jack Vartanian abre exposição

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            Flavio Teperman
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            O joalheiro Jack Vartanian e o artista plástico Kleber Matheus receberam convidados na inauguração da exposição "Variação sobre Pedras", na terça (19), em sua loja no Jardins
            CURTO-CIRCUITO
            Luiz Felipe d'Avila lança o livro "Caráter & Liderança: Nove Estadistas que Construíram a Democracia Brasileira". Amanhã, às 18h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
            A blogueira Lala Rudge vai assinar coleção para a marca de sapatos Schutz.
            Nizan Guanaes oferece jantar hoje, nos Jardins, em homenagem ao publicitário PJ Pereira, que lança "O Livro do Silêncio".
            Rubens Barrichello comanda leilão de artigos esportivos hoje, no Noite do Bem, evento beneficente no Grand Hyatt.
            mônica bergamo
            Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.