quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Painel Vera Magalhães

folha de são paulo
Como está fica
O ministro Marco Aurélio Mello vai propor na sessão de hoje do STF o adiamento da análise do processo sobre a correção das cadernetas de poupança pelos planos econômicos dos anos 80 e 90. Terá o apoio de Gilmar Mendes e de outros ministros, que entendem que não haverá tempo hábil de a corte concluir a análise da matéria até o dia 18 de dezembro, última sessão do ano. O adiamento atende o desejo do Palácio do Planalto, que teme o impacto da correção na economia.
Afago 1 Guido Mantega (Fazenda) garantiu diante dos 27 presidentes de federações industriais reunidos ontem na CNI (Confederação Nacional da Indústria) que os investimentos vão aumentar nos próximos anos e que o setor é prioridade do governo.
Afago 2 Segundo o ministro, a injeção de R$ 500 bilhões nos programas de concessões de obras de infraestrutura fará com que o investimento aumente para 24,1% do PIB em 2022. Atualmente, ele representa 18% do total.
Campo minado A CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, presidida pelo petista Lindbergh Farias (RJ), convidou secretários da Fazenda de São Paulo e de Pernambuco para debater crise da Federação, tema que Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) usam para fustigar Dilma Rousseff.
Digitais 1 A Justiça Eleitoral do Paraná suspendeu um perfil fake no Facebook batizado de "Gleisi não", com ataques à ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT ao governo do Estado, e determinou a identificação dos responsáveis pela página.
Digitais 2 A quebra de sigilo mostrou que o responsável por bancar links patrocinados no perfil falso era José Gilberto Maciel, jornalista da Agência Estadual de Notícias do Paraná. Gleisi Hoffmann vai processar o responsável e pedir para averiguar se os endereços de IP usados eram do governo Beto Richa (PSDB).
Classe econômica Apesar do pedido feito pelo PTB a Dilma ontem para ocupar a Integração Nacional na reforma ministerial, o Palácio do Planalto trabalha com a ideia de abrigar o partido no Turismo. O mais cotado para a primeira pasta ainda é o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).
Suíte master Do ex-petista Domingos Dutra (SDD-MA) sobre o futuro emprego de José Dirceu, contratado por R$ 20 mil para ser gerente de um hotel em Brasília: "Só falta o Joaquim Barbosa se hospedar lá e ser atendido pelo comandante Dirceu".
Lavoura Duarte Nogueira (PSDB-SP) e Xico Graziano (iFHC) organizam encontros de Aécio Neves com expoentes do agronegócio, para se contrapor à aproximação de Eduardo Campos (PSB) com ruralistas. Os tucanos pretendem realizar um evento com o setor ainda em dezembro.
Muro No almoço com Paulinho da Força (SDD-SP), Aécio foi questionado se, uma vez eleito, manteria o reajuste do salário mínimo pela variação do PIB de dois anos anteriores mais a correção da inflação pelo INPC do ano anterior. O tucano preferiu não adiantar sua posição.
Café Para tentar acelerar o apoio do PSB à sua reeleição, Geraldo Alckmin quer se reunir com Campos e Marina Silva separadamente. Pretende se encontrar primeiro com a ex-senadora, que resiste à aliança. A ponte é o ex-deputado Fábio Feldmann.
No escuro A Rede reclama que não teve acesso às diretrizes programáticas que serão anunciadas por Campos e Marina amanhã. "Seremos surpreendidos com o texto assim como fomos com a filiação dela ao PSB", queixa-se um marineiro.
TIROTEIO
"Com tamanha romaria na prisão, só falta liberarem a entrada de Romanée-Conti e charuto cubano para a cela dos mensaleiros."
DO DEPUTADO RUBENS BUENO, líder do PPS na Câmara, sobre os privilégios recebidos por políticos para as visitas aos condenados do mensalão na Papuda.
CONTRAPONTO
Laços de família
Ao recomendar em discurso no interior do Estado que sua plateia evitasse dirigir depois de ingerir bebidas alcoólicas, Geraldo Alckmin (PSDB) relatou sua passagem por um bar no início do dia.
-- Estávamos em Buri, eram oito e meia da manhã, já tinha uma turma mandando bala.
Disse, então, que se aproximou e foi saudado:
-- O cara veio e perguntou se eu sabia seu nome. Eu respondi que eu era primo dele. Ele se espantou: "Mas como o senhor sabe que eu sou seu primo?". Eu emendei: "É que eu sou Alckmin, e você é álcool em mim, não é?".

Ministro lamenta 'disputa eleitoral' do caso Cartel da Siemens

folha de são paulo
DE BRASÍLIAEm resposta às acusações do PSDB, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) atacou os tucanos e lamentou "que uma investigação séria tenha se transformado numa disputa política e eleitoral".
"Acho muito ruim que investigações sejam transformadas em disputa política. Todos são iguais perante a lei, só em mentalidades aristocráticas, elitistas e ditatoriais que prevalece ideia de que conosco, não'", disse.
"Se há denúncias, não importa contra quem seja, o ministro tem que pedir investigação. Senão é prevaricação".
Cardozo reafirmou que recebeu documentos das mãos do secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo, o petista Simão Pedro, em maio. E negou mais uma vez que tenha recebido as denúncias do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Segundo ele, Simão foi até sua casa em São Paulo, num domingo, para lhe entregar o material. A denúncia, com tabelas, planilhas e nomes de tucanos, foi repassada pessoalmente ao chefe da Polícia Federal, Leandro Daiello.
"Não vou mandar pelos escaninhos do MJ [Ministério da Justiça]. Não que não confie nos funcionários, mas são muitas mãos. A tramitação oficial foi feita na PF", justificou, negando qualquer ilegalidade no procedimento.
Ele nega qualquer tentativa de proteger o Cade. Disse que foi um "equívoco" da PF afirmar que os papéis foram encaminhados pelo órgão.
Como prova de que o Cade nada sabia, Cardozo citou um depoimento à PF de Rubem Accioly Pires, coordenador de inteligência e operações do conselho, negando conhecer esses documentos.
As declarações foram feitas em julho, dois dias antes da busca e apreensão na Siemens, que fez acordo com o Cade para colaborar na apuração sobre formação de cartel. Afirmou ainda que essa papelada não foi parar no Cade depois dessa ocasião.
"Pode ter absoluta certeza que esses órgãos [PF e Cade], da mesma forma que não perseguem, não se intimidam", afirmou o ministro.
    ENTENDA O CASO O CARTEL DA SIEMENS
    O ACORDO
    Em julho, a Folha revelou que a Siemens fez um acordo com o Cade no qual informou ter integrado cartéis para fraudar licitações de trens e metrô em SP e DF de 1998 a 2008
    AS IRREGULARIDADES
    O Cade examinou centenas de documentos apresentados pela Siemens e concluiu que houve irregularidades em seis licitações realizadas, sendo cinco delas em São Paulo
    AÇÃO NA JUSTIÇA
    Em agosto, Alckmin anunciou que iria processar a Siemens. Em novembro, a Justiça mandou o governo refazer a ação e incluir as outras empresas do cartel
    CASO ALSTOM
    Justiça manda sequestrar R$ 57 milhões de ex-diretores da CPTM, entre eles João Roberto Zaniboni, e do consultor Arthur Gomes Teixeira, acusados de fraudes
    INDICIAMENTO
    Em novembro, a PF indiciou Teixeira e Zaniboni por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Eles negam irregularidades
    CARTA
    Em 21.nov, foi divulgada carta na qual o ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer diz ao Cade que esquema de corrupção envolveu governos tucanos em SP e financiou caixa 2 de DEM e PSDB
    REAÇÃO
    Os tucanos acusados ameaçam processar Rheinheimer, que nega ter feito as acusações. O deputado licenciado Simão Pedro (PT) diz ter enviado os documentos ao governo
    AÉCIO
    Com Aécio Neves à frente, a cúpula do PSDB acusa o governo federal de reeditar o "escândalo dos aloprados" para minimizar o impacto das prisões do mensalão
    CARDOZO
    Em resposta, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse que "se há denúncias, não importa contra quem seja, o ministro tem que ser pedir investigação"
      PSDB acusa Cardozo de politizar investigação
      Aécio Neves defende que ministro da Justiça se afaste da apuração sobre fraude em licitações nas gestões tucanas em SP
      José Aníbal pede a demissão de Cardozo: 'Ou demite o ministro ou é cúmplice desse dossiê de aloprados'
      RANIER BRAGONDE BRASÍLIACom fortes críticas ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a cúpula do PSDB acusou ontem o governo de usar as investigações sobre a existência de um cartel nas licitações de metrô e trens durante os governos do PSDB em São Paulo para minimizar o impacto político das prisões do mensalão.
      Tendo à frente o senador Aécio Neves (MG), provável candidato à Presidência, o PSDB defendeu que Cardozo se afaste das investigações sobre o cartel revelado pela multinacional alemã Siemens ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
      "A tentativa de fazer com que os outros possam parecer iguais não terá êxito, porque nós não somos iguais. Prezamos e praticamos a ética na vida pública", afirmou Aécio, acrescentando que o governo "manipula" as instituições do Estado para "enxovalhar" adversários.
      Segundo ele, as acusações contra tucanos vieram a público para encobrir os desdobramentos do escândalo do mensalão, cujos condenados, parte deles do PT, começaram a ser presos no último dia 15.
      Para Aécio e outros tucanos, é uma reedição do caso dos "aloprados", que começou com a prisão de petistas em 2006 com dinheiro que, segundo o Ministério Público, seria usado para comprar um dossiê contra José Serra, então candidato do PSDB ao governo de São Paulo.
      Acompanhavam Aécio, na sede do PSDB em Brasília, os líderes na Câmara (Carlos Sampaio) e no Senado (Aloysio Nunes Ferreira), além dos secretários paulistas Edson Aparecido (Casa Civil) e José Aníbal (Energia).
      As acusações contra tucanos apareceram num suposto depoimento do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, que apontava pagamento de propina em São Paulo durante os governos do PSDB. Ele negou, depois, ser o autor da denúncia.
      Apontando diferenças entre esse material e outro que Rheinheimer encaminhou à Siemens em 2008, os tucanos acusaram petistas de forjar documentos.
      DEMISSÃO
      Embora dois delegados da Polícia Federal tenham dito que receberam as acusações do próprio Cade, o ministro da Justiça afirmou que recebeu o depoimento das mãos do secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo, o petista Simão Pedro.
      Simão negou que o documento enviado tenha sido alterado para acusar o PSDB: "Não alterei documento nenhum. Só encaminhei ao ministro. Essa acusação do PSDB é uma bobagem".
      Os tucanos ainda pediram a demissão do presidente do Cade, Vinicius Carvalho, que foi chefe de gabinete de Simão. "Se a presidente não sabia desse episódio, agora sabe. Ou demite o ministro ou é cúmplice desse dossiê de aloprados", disse Aníbal.
      Já Aécio foi menos enfático. "Eu acho que ele perdeu as condições de ser o coordenador dessas investigações, como ministro da Justiça. Obviamente que a decisão de nomear e de demitir ministro cabe à presidente", disse.
      O PSDB disse que pretende aprovar a convocação de Cardozo para dar explicações no Congresso e representar contra ele na Comissão de Ética Pública e no Ministério Público.

        Protecionismo cultural

        folha de são paulo
        Protecionismo cultural
        O decreto número 8.124, assinado há pouco mais de um mês pela presidente Dilma Rousseff, tem despertado justificadas apreensões no setor das artes.
        O diploma regulamenta duas leis de 2009, uma que instituiu o Estatuto de Museus e outra que criou o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Seu objetivo primordial é definir parâmetros para a preservação e o controle, por parte do poder público, dos bens culturais que já integram o patrimônio de museus e daqueles que seriam passíveis de "museologização".
        Lamentavelmente, o decreto segue um padrão conhecido na legislação brasileira, em que as boas intenções se perdem num emaranhado de regras protecionistas e burocráticas --algumas de difícil execução, outras que projetam sobre a atividade privada a sombra da intervenção estatal.
        Seu aspecto mais controverso diz respeito à possibilidade de o poder público declarar de interesse nacional uma ampla gama de bens "móveis e imóveis, de natureza material ou imaterial, considerados individualmente ou em conjunto, portadores de referência ao ambiente natural, à identidade, à cultura e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira".
        Praticamente tudo --do artesanato à arte, passando por trajes, registros musicais e receitas culinárias-- pode se enquadrar no conceito adotado pelo texto. Os bens assim considerados passam a ser monitorados pelo Estado, que torna obrigatória, para acervos públicos e privados, a apresentação de relatórios anuais sobre suas condições de conservação.
        Mais que isso, o decreto garante ao Ibram a preferência em caso de venda de peças, o direito de restringir suas transferências ao exterior e até a função de autorizar intervenções nos bens culturais. Natural, portanto, que o mercado das artes sinta-se violado.
        Não há dúvida de que o país precisa zelar por seu patrimônio cultural e contar com museus qualificados. Para isso, contudo, seria recomendável um pouco mais de realismo e menos ameaças à atuação dos agentes privados, que têm desempenhado papel crucial na promoção e preservação da arte brasileira --seja em território nacional, seja no exterior.
        Não é demais lembrar, ainda, que diversas instituições ligadas ao Estado --que se arroga o posto de guardião dos bens culturais-- vivem às traças, muitas vezes sem os recursos para cumprir seus objetivos mais básicos.

          Construtoras são 'sócias' da máfia do ISS, afirma Donato

          folha de são paulo
          MÁFIA DO ISS
          Donato volta à Câmara, chora e ataca construtoras
          Para ex-secretário de Haddad, empresas são 'sócias' de 'esquema criminoso'
          Petista insinua contato de auditor fiscal suspeito com Alckmin durante campanha em 2008; tucano nega
          GIBA BERGAMIM JR.DE SÃO PAULOEx-homem forte da gestão Fernando Haddad (PT), Antonio Donato (PT) chorou ontem em sua volta à Câmara e atacou as construtoras. Cerca de 150 militantes petistas ouviram o discurso do vereador.
          Donato deixou a Secretaria de Governo após a Folha mostrar que ele empregou em seu gabinete Eduardo Horle Barcellos, um dos quatro fiscais acusados de integrar a máfia do ISS --a quadrilha cobrava propina de empreiteiras para dar descontos no imposto.
          Depois, Barcellos prestou depoimento dizendo que pagava mesada de R$ 20 mil a Donato de 2011 a 2012. O petista afirma ser mentira.
          Ontem, o vereador chorou após falar de seus antepassados: sua avó, uma índia, e seu avô, um camponês italiano.
          Sem citar nomes, chamou donos e presidentes de construtoras de "tubarões do mercado imobiliário" e os acusou de participação no esquema de sonegação de ISS em troca de propina.
          Também criticou a imprensa ao dizer que os nomes de empresas que supostamente pagam propina não são citados em reportagens.
          "Mas e os corruptores? Onde estão aqueles que se beneficiaram de sonegar R$ 500 milhões? Cadê o rosto dos presidentes das grandes incorporadoras citadas no início deste escândalo?" A resposta de Donato: "Nas colunas sociais".
          "Essas empresas e indivíduos não são vítimas dos fiscais. São sócias majoritárias desse esquema criminoso."
          Haddad já disse haver ao menos 15 construtoras suspeitas no esquema, mas sempre se negou a revelar quais.
          A Promotoria divulgou os nomes de seis empresas citadas em depoimentos: BKO, Tarjab, Tecnisa, Trisul, Alimonti e Brookfield.
          Donato também disse que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) teve contato com Ronilson Rodrigues, suspeito de chefiar a máfia, quando foi candidato à prefeitura.
          Ao falar sobre como o conheceu, o vereador disse que o fiscal o procurou em 2008, apresentando-se como "técnico apartidário" que poderia auxiliar na campanha da então candidata Marta Suplicy (PT).
          "Mais tarde, fiquei sabendo que o mesmo Ronilson chegou a se reunir, naquela eleição, com o então candidato a prefeito pelo PSDB, Geraldo Alckmin, para prestar informações semelhantes."
          Donato confirma conhecer parte dos acusados no esquema. Mas disse que "nunca, em momento algum, pedi a qualquer um deles recursos para a campanha e tampouco recebi apoio financeiros".
          A assessoria do governador afirmou que Ronilson "não participou nem prestou qualquer contribuição ou ajuda à campanha eleitoral de 2008 do então candidato a prefeito e atual governador".
          "Também não compõe a lista dos 451 participantes das discussões do programa de governo nem consta dos registros das pessoas recebidas pelo então candidato", diz.
          O Secovi (sindicato de construtoras) não se manifestou até a conclusão desta edição. Em ocasiões anteriores, disse que está colaborando com as investigações da Promotoria.

            Helio Schwartsman

            folha de são paulo
            Enem, 1001 utilidades
            SÃO PAULO - Em 2009, o MEC reformulou o Enem, introduzindo uma nova metodologia para elaborá-lo --a TRI-- e passou a utilizá-lo como um vestibular nacional para as universidades federais.
            Foram mudanças importantes. A TRI, acrônimo para Teoria da Resposta ao Item, trouxe um pouco de ciência para as avaliações. Seus modelos matemáticos permitem comparar alunos submetidos a provas diferentes e o desempenho de um mesmo estudante ao longo do tempo. A unificação do processo seletivo, com o advento do Sisu, um leilão eletrônico para alocar vagas segundo o desempenho de cada candidato, permite um aproveitamento muito melhor da rede de instituições federais.
            Temo, porém, que o MEC tenha ido com muita sede ao pote e tenha empurrado para o Enem mais funções do que o exame é capaz de suportar. Além do mencionado, a prova vem sendo usada para certificar a conclusão do ensino médio (a antiga madureza), para alocar bolsas do ProUni, para avaliar escolas públicas e privadas e até para decidir quem vai passar uma temporada no exterior no Ciência sem Fronteiras.
            É difícil pôr no mesmo teste aquilo que é necessário para desempatar dois candidatos ultrapreparados que disputam uma vaga no curso de medicina, por exemplo, e os conhecimentos básicos que se exigem do sujeito que só quer o diploma do ensino médio. O resultado são provas ultralongas que prejudicam os estudantes pelo cansaço a que os submetem.
            Pior ainda quando o mesmo exame é usado também para avaliar instituições. Aí as incompatibilidades não são apenas de nível como de filosofia. Uma coisa é medir as competências do aluno e outra muito diferente aferir a qualidade da escola, objetivo que fica ainda mais difícil quando se considera que só fazem o teste os alunos que o desejam.
            Ao contrário da palha de aço, devemos desconfiar de uma prova que proclame ter 1001 utilidades.
            helio@uol.com.br

              Ruy Castro

              folha de são paulo
              Dirá você
              RIO DE JANEIRO - A implosão que derrubou a primeira parte do elevado da Perimetral, domingo, no Rio, não interessa só aos cariocas. Refere-se a um conceito de urbanismo e transporte que, tido como ideal nos anos 50, estabeleceu-se como inevitável e é aplicado até hoje no Brasil. Consiste em asfixiar as cidades com viadutos para que os carros rodem por cima. Quem paga por esse modelo? A memória e o cidadão.
              Ao sair do papel, em 1958, a Perimetral passou o rodo em quase 200 anos de história do Rio. Derrubou o hotel Pharoux (mostrado na primeira foto tirada no Brasil, em 1849). Pôs no chão prédios coloniais. Arrasou o Mercado Municipal --poupou apenas o pavilhão do restaurante Albamar e gerou um terreno baldio que se tornou estacionamento. Isolou a zona portuária do centro da cidade, provocando seu despovoamento e degradação. E, afinal, não resolveu o problema da ligação entre as zonas norte e sul.
              À Perimetral deve-se creditar o abandono, por décadas, da praça XV e arredores. Até hoje muitos não se dão conta de que aquelas "casinhas brancas" pelas quais passam a 10 metros de altura e a 120 por hora são o Paço Imperial, o Museu Histórico, a Casa França-Brasil, igrejas, mosteiros, arsenais, velhos hotéis e o que sobrou da avenida Central. Em breve, tudo isso se levantará dos escombros da Perimetral, guarnecido por um longo passeio público, como nas zonas portuárias de Nova York, Lisboa, Buenos Aires.
              E o trânsito, como fica? --dirá você. Os carros terão vias expressas, túneis e mergulhões, mas haverá também trens, VLTs e BRTs. Seria bom que as pessoas se habituassem a partilhar caronas, e espera-se que os futuros moradores da região adiram à bicicleta ou ao pisante.
              Há 30 anos que sonho com o fim da Perimetral. Esse sonho se transfere agora para outra excrescência --o elevado Paulo de Frontin.

                'The Voice Brasil' vira hit na TV e na web; produtores criticam estilo pasteurizado

                folha de são paulo

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                ISABELLE MOREIRA LIMA
                DE SÃO PAULO

                O fenômeno se repete há quase dois meses. Se é noite de quinta-feira, a internet para: é dia de "The Voice Brasil", programa em que calouros são treinados, julgados e eliminados pelos cantores Claudia Leitte, Carlinhos Brown, Daniel e Lulu Santos.
                Do microfone, saem clássicos do cancioneiro popular entoados por vozes afinadas e impostadas, que, por usar de artifícios como técnicas do R&B à la Whitney Houston mesmo em sambas de João Gilberto, soam iguais.
                O vencedor leva R$ 500 mil e um contrato com uma gravadora. Até a final, assiste-se às performances entremeadas por relatos de histórias de superação e muitas lágrimas. Nesta quinta, um adicional: começa a fase ao vivo.
                Editoria de Arte/Folhapress
                O programa, uma franquia americana que tem sua segunda temporada brasileira transmitida pela TV Globo desde 3 de outubro, virou uma febre nacional.
                Desde 1º de outubro até ontem, foram publicados 1,1 milhão de tuítes sobre o programa, de acordo com a Tribatics, serviço de análise do microblog. O primeiro dia do "The Voice Brasil" teve o maior pico de tuítes por minuto (TPM), com 7,5 mil, contra uma média de 2,8 mil da final da primeira edição.
                Dados do Ibope confirmam que "The Voice" é um hit.
                Na semana de 4 a 10 deste mês, teve o terceiro maior público da emissora em SP, com 26 pontos (cada ponto equivale a 62 mil domicílios da Grande SP), média que mantém desde a estreia, atrás de "Amor à Vida" (37) e à frente do "Jornal Nacional" (25).
                O "Big Brother Brasil 13" teve média de 24 pontos.
                O programa não traz um formato novo, uma vez que shows de calouros vêm sendo reeditados desde os primórdios da TV brasileira. Então, o que explica a febre?
                "[São] tantos bons artistas. A banda e os produtores musicais são excelentes, [há] um superpalco com estrutura de cenário e luz. Está ocupando o lugar dos saudosos festivais", diz Ellen Oléria, vencedora da primeira edição.
                Oléria gravou um álbum neste ano e mantém uma agenda de shows que inclui o eixo Rio-SP, além de cidades do Piauí e do Maranhão. "'The Voice' foi um portal mágico que se abriu para mim."
                Como Oléria, outros ex-calouros seguiram carreira. No Brasil, Thiaguinho, ex-Exaltasamba e ex-"Fama" (Globo), talvez seja o exemplo mais marcante. A maioria, no entanto, não deslancha.
                PASTEURIZAÇÃO
                O produtor musical Carlos Eduardo Miranda diz que a escolha majoritária por um estilo exagerado é o maior complicador das carreiras.
                "Não é errado, é característico desse tipo de programa. Mas é um tipo de canto que não tem muito espaço no mercado. No Brasil, não se canta desse jeito em lugar nenhum. Talvez, na igreja", diz.
                Para ele, o estilo que se vê na TV é como um solo de guitarra: "Ninguém aguenta o dia todo no rádio".
                Nelson Motta, produtor e escritor, afirma que a popularização do R&B se dá pelo exibicionismo: as firulas, o fraseado sinuoso e os vibratos funcionam para "mostrar serviço com a voz".

                The Voice Brasil - 2ª temporada

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                Divulgação/TV Globo
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                Carlinhos Brown, Claudia Leitte, Daniel e Lulu Santos
                "Se alguém vai cantar uma bossa nova seca ali, gilbertiana, não vai dar certo."
                Para ele, cantoras como Nara Leão e Fernanda Takai não passariam no programa.
                Para ele, é preciso de muito mais que a voz para dar certo --a equipe com quem se trabalha, o repertório e as escolhas importam muito.
                Mas, segundo a Globo, nada além da voz conta --nem o perfil, nem a biografia. "Tudo é decidido apenas pela qualidade vocal. Em nenhum momento analisamos o candidato por qualquer outro fator", diz o diretor Boninho.
                O problema aí ocorre quando calouros adotam um mesmo estilo e todas as vozes passam a soar iguais.
                Sam Alves, participante desta edição do programa, rebate a tese e diz acreditar na individualidade dos participantes. "Podemos ter as mesmas influências, mas cada um tem algo diferente", diz.
                Para André Midani, lenda da produção musical que presidiu a Warner nos áureos tempos da indústria fonográfica, esse é justamente o X da questão. "A força imitadora nunca se superpõe a força criativa. Eles são imitadores de imenso talento."
                Versões de calouros ficam entre as mais vendidas pelo iTunes
                GIULIANA DE TOLEDODE SÃO PAULOQuem não assiste a "The Voice Brasil" se espanta ao ver a lista das faixas mais vendidas na iTunes Store brasileira desde o início de outubro, quando a segunda edição do programa começou.
                Ilustres desconhecidos como Sam Alves e Marcela Bueno por vezes até superam os Justin Biebers da vida.
                "Temos uma média diária de três faixas no top 10", conta Danillo Ambrosano, diretor de novos negócios da Universal Music, gravadora que detém os direitos das versões.
                Na última sexta à tarde, o iTunes mostrava que 6 das 10 mais compradas eram do programa, a maior proporção atingida. Entre as 20, eram 11.
                Nem a gravadora nem a Apple revelam o volume total ou as cifras das vendas. O ranking semanal, porém, mostra que covers já chegaram a superar originais.
                Entre 14 e 20 de outubro, por exemplo, a versão do cearense Sam Alves para "When I Was Your Man", de Bruno Mars, ficou em terceiro lugar, deixando o americano em quinto.
                A venda dos covers --novidade no Brasil-- é feita a US$ 0,99 (R$ 2,28) cada um, contra os US$ 1,29 (R$ 2,95) cobrados por artistas consagrados. A prática já é comum em países como México e EUA, onde o número de downloads vira nota para os calouros.
                O áudio é um registro da apresentação. Com isso, para competir contra versões piratas, a regra é começar a venda em até duas horas após o fim do programa, nas quintas à noite. Sexta-feira é o dia de maior procura.
                "A estratégia é chegar antes nos serviços legais e com preço baixo", diz Ambrosano. O bom resultado fez com que a Universal lançasse um álbum com 20 músicas da atração na última semana.