sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo
Pela televisão
RIO DE JANEIRO - Há apenas 70 dias, o treinador Mano Menezes pediu demissão do Flamengo. Ao sair, com um B.O. de nove vitórias --jamais duas seguidas--, seis empates e sete derrotas, deixou o clube às portas do rebaixamento no Brasileiro e sem moral para seguir na luta pela Copa do Brasil. Devido ao adiantado da hora, o Flamengo substituiu-o pelo auxiliar técnico Jayme de Almeida, funcionário fixo de seus quadros.
Para justificar a saída, Mano Menezes alegou que não conseguira transmitir aos jogadores "aquilo que pensava de futebol". Para todos os efeitos, entre dar zero a si próprio por não saber ensinar ou a cada um de seus pupilos por eles não conseguirem aprender, optou pela segunda hipótese. Reprovou a classe inteira, pegou sua beca e seu capelo, e se mandou. Na sequência, seu substituto deu um novo caráter ao Flamengo, livrou-o do fantasma do rebaixamento e levou-o à conquista da Copa do Brasil --e, em consequência, à disputa da Libertadores em 2014.
O Flamengo não foi o primeiro fiasco de Mano Menezes que outro treinador precisou retificar. Há um ano, depois de um currículo pífio à frente da seleção brasileira, Mano Menezes já tinha sido substituído por Luiz Felipe Scolari --que não apenas tem levado a seleção a vencer como devolveu-lhe uma alegria de jogar que contamina até seus torcedores mais recalcitrantes, entre os quais eu.
Cada vez mais me convenço de que a humanidade se divide em duas categorias: as pessoas que fingem que se levam a sério e as que fingem que não se levam a sério. Mano Menezes está, decididamente, no primeiro grupo. Prova disso é a notícia recente, de que, ao pedir demissão em setembro, já tinha um novo emprego garantido.
Foi melhor para todo mundo. Boa sorte para Mano Menezes, e que lhe sobre tempo em 2014 para assistir à Libertadores pela televisão.

    Mônica Bergamo

    folha de são paulo

    'Só porque sou branquinha?', pergunta Fernanda Lima sobre polêmica da Copa

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    Fernanda Lima virou alvo nesta semana, depois que a Fifa a confirmou para ser mestre de cerimônias do sorteio dos grupos da Copa de 2014. Ela e o marido, Rodrigo Hilbert, teriam entrado no lugar dos atores negros Camila Pitanga e Lázaro Ramos. A troca gerou debates na internet sobre um suposto racismo da entidade do futebol. A apresentadora falou à coluna, anteontem, na inauguração da loja da Riachuelo na rua Oscar Freire, em SP.
    Bruno Poletti/Folhapress
    Fernanda Lima, apresentadora - Coquetel de inauguração da loja Riachuelo, com talk Show de Fernanda Lima. Inauguração da loja da rua Oscar Freire
    Coquetel de inauguração da loja Riachuelo, com talk Show de Fernanda Lima. Inauguração da loja da rua Oscar Freire
    Folha - Como tem lidado com a polêmica?
    Fernanda Lima - Não estou lidando. Na verdade, eu venho trabalhando com a Fifa já há alguns anos. E fui chamada para esse trabalho há mais de seis meses. Mas a gente não fala essas coisas, né? Acompanhei esse bochicho todo que saiu na imprensa. Mas eu sou funcionária, uma comunicadora. Fui convocada e como tal aceitei e vou fazer o meu trabalho. O que eu tenho a ver com isso? Só porque eu sou branquinha?
    Os comentários te magoaram?
    Talvez eles me magoassem há dez anos. Hoje eu tô descolada. Eu durmo tranquila. Minhas contas estão pagas em dia, pago meus impostos. Sou uma cidadã, crio meus filhos da maneira que acho correta, prezo a educação, o respeito ao próximo, não discrimino ninguém. Também não levanto bandeiras. Simplesmente acho que a gente tem que ser respeitado, sem violência. Eu não alimento esse tipo de coisa.
    Você gosta de futebol?
    Gosto, mas não sou entendedora. Nesse caso estou como apresentadora. Não acredito que eu vá lidar com as minúcias do futebol ali. Vou ser apenas uma mestre de cerimônias. E pretendo ir aos jogos. Meus filhos e o Rodrigo são loucos por futebol.
    Acha que há uma tendência de tudo virar polêmica?
    Por conta dos anônimos, né? Os anônimos agora ganharam voz, qualquer coisa que eles falam, botam no vento e os outros vão inventando. O jornalismo perde credibilidade, né? Os jornalistas não estão indo mais na fonte. Eu fiz jornalismo e me lembro dessa aula: vá à fonte, não pegue de uma outra fonte. Isso se perdeu. Todo mundo acredita no tal jornalista, só que ele inventa. E aí?

    Oscar Freire ganha loja da Riachuelo

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    Bruno Poletti/Folhapress
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    O apresentador Luciano Huck com o empresário Flávio Rocha, que inaugurou loja da Riachuelo na rua Oscar Freire, na quarta (27)
    REGISTRO GERAL
    O italiano Cesare Battisti está pedindo ao Ministério da Justiça a emissão de seu registro nacional de estrangeiro. O documento de identidade oficializará a permanência dele no Brasil como asilado político.
    REGISTRO 2
    Battisti não obteve até hoje o documento porque o Ministério Público Federal move ação em que contesta a concessão de visto para ele. O escritório Bottini & Tamasauskas, que passou a representar o italiano há alguns dias, alega que a ação não pode impedir a emissão do registro de estrangeiro.
    REGISTRO 3
    Com a fuga de Henrique Pizolatto para a Itália para escapar da prisão no caso do mensalão, surgiram rumores, não confirmados, de que o país europeu poderia tentar negociar com o Brasil uma "troca" de condenados. Cesare Battisti é acusado de terrorismo na Itália.
    ROTINA
    José Dirceu deve receber hoje a visita do irmão, Luís Eduardo, do filho Zeca Dirceu, da namorada, Simone Tristão, e de uma das filhas. Na fila está também o jornalista Breno Altman, entre outros amigos. A expectativa é a de que, passada a movimentação dos primeiros dias na prisão, o ânimo do petista já não seja o mesmo.
    TROPA DE CHOQUE
    O plano de combate à violência nas manifestações de rua preparado pelo governo federal será discutido hoje no Ministério da Justiça com as secretarias de Segurança de SP e Rio, OAB, Ministério Público e Conselho Nacional de Justiça. A intenção é anunciar as primeiras medidas nas próximas semanas.
    TROPA DE CHOQUE 2
    As propostas incluem criação de plantões para resolver detenções e fixação de regras para a atuação das polícias nas duas capitais. "A ideia é garantir a liberdade de manifestação. A violência, da parte de quem protesta ou do Estado, inibe quem quer ir para as ruas pacificamente", diz Marivaldo Pereira, secretário de assuntos legislativos do ministério.
    SOZINHA...
    Reclusa desde 2010, a atriz Ana Paula Arósio não participará do lançamento do longa "Anita e Garibaldi", protagonizado por ela e pelo ator Gabriel Braga Nunes. Segundo Rubens Gennaro, produtor do filme, ela nem chegou a ver a versão final da obra. "As questões patológicas, digo, psicológicas dela apareceram já no fim das filmagens, mas sua participação foi maravilhosa", disse.
    ...MAS NEM TANTO
    A ausência da estrela traz prejuízos à divulgação. "Me fez perder dinheiro, mas eu respeito", diz Gennaro. "Espero que essa paixão valha a pena!", afirma, referindo-se ao casamento da atriz com o arquiteto Henrique Pinheiro. Ana Paula Arósio vive em seu sítio no interior de São Paulo. A assessoria da atriz informa que ela quer permanecer longe dos holofotes.
    DECORANDO
    Angelo Derenze fez o lançamento da edição 2014 da Casa Cor, anteontem, no Jockey Club de São Paulo. Os arquitetos Sig Bergamin, Murilo Lomas e Camila Klein estavam entre os convidados que passaram por lá para saber as novidades da mostra.

    Casa Cor lança edição de 2014

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    Bruno Poletti/Folhapress
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    Angelo Derenze, presidente da Casa Cor, fez o lançamento da edição 2014 da mostra, no Jockey Club de São Paulo, na quarta (27)
    CURTO-CIRCUITO
    O balé "O Quebra-Nozes", estrelado por bailarinos cegos, será apresentado hoje, às 20h30, no Auditório Ibirapuera. Livre.
    O MDA (Movimento de Defesa da Advocacia) faz almoço de fim de ano hoje na Sociedade Harmonia de Tênis, nos Jardins.
    Gustavo Rosa será homenageado hoje no espetáculo "Mover-se", no teatro WTC, às 21h. 12 anos.
    A loja Topshop será inaugurada hoje, às 18h, no shopping Market Place.
    E a marca Tufi Duek agora está também no shopping Pátio Higienópolis.
    A artista plástica Izabel Litieri participa da Bienal de Florença, que começa amanhã, na Itália.
    com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
    mônica bergamo
    Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

    Fernanda Torres

    folha de são paulo
    Buquê
    Que mistura acentuaria o buquê de aromas terrosos, o retrogosto de calcário harmonizado?
    T. é amigo de meus enteados, tem 23 anos e faz o estilo Jesus Cristo Superstar. É bonito, selvagem, boa-praça e popular entre as mulheres. O mais experiente entre os seus, já levou à lona uma coroa de 32.
    T. arrumou uma namorada fixa, também bela, interessante, inteligente. M. é uma garota sagaz que acaba de terminar uma relação de um ano com um homem mais velho. M. trata T. como um ogro adorável, quer criá-lo para si, talvez como o outro fez com ela.
    Era um fim de festa em minha casa, sobraram os adolescentes já não tão adolescentes e eu, para lá de balzaca. T., como quem revela uma angústia a um amigo, me confessou num aparte:
    -- Minha namorada me proíbe de tomar Coca-Cola e comer chocolate.
    Por solidariedade ao gênero, e fiel às tendências orgânicas, dei razão à moça, argumentando em prol de uma dieta saudável; T. me interrompeu brusco.
    -- Você não entendeu, ela grita comigo --disse.
    A mesa ouviu e refletiu calada.
    -- Vocês acham certo isso? Ela gritar por causa de uma Coca-Cola? --perguntou, impotente.
    Jesus Cristo não sabia, mas começava para ele um noviciado. T. estava sendo introduzido no ardiloso mundo da histeria feminina. Parecia assustado e tinha motivos para tanto.
    As mulheres têm o dom de surtar. A fragilidade atávica lhes permite perder a cabeça, chorar além do suportável, entrar no túnel, sofrer até sair da pele. Aos homens, resta o recuo, a obrigação do amparo. A posição de vítima é, por conquista, da mulher.
    Apesar do aspecto irracional, todo descabelamento feminino é fundamentado em uma razão concreta, um direito não atendido. É o que as salva da loucura.
    -- Ela grita? --perguntei.
    -- Grita --ele disse.
    -- Por uma Coca-Cola?
    T. confirmou dúbio, baixou os olhos e, depois de uma demorada pausa, fez a revelação.
    -- Ela se irrita porque... porque ela diz que muda o gosto...
    Ia falar da porra, mas teve pudor por minha causa.
    -- Do gozo --concluiu formal.
    A mesa reagiu estupefata. Ninguém havia relacionado o cardápio ao sexo, tratava-se de uma surpreendente guinada.
    -- Isso existe? --perguntou ele, surpreso.
    M. tinha razões para vociferar. Anos de feminismo desaguaram nela, no direito de temperar os fluidos do companheiro.
    Discretamente, a plateia passou em revista os alimentos que poderiam justificar a indignação de M.: fast food, acarajé, cebola, mostarda, agrião, cítricos. Que influência teriam no sêmen? Que mistura acentuaria o buquê de aromas terrosos, o retrogosto de calcário harmonizado, a estrutura firme, a adstringência clássica e os taninos de consistência ácida?
    Perdida no devaneio e querendo honrar o posto de anciã, lembrei-me de um amigo de Nova York, gay militante, que repetia categórico: "Forget aspargus!". Richard conhecia os dois lados da balança e não tenderia nem para M. e nem para T..
    -- Meus queridos, --eu disse-- esqueçam o aspargo!
    Os moleques respiraram aliviados, não gostavam de aspargo. Não seria nenhum sacrifício abrir mão dele, não se tratava de um polenguinho, um cheese tudo, ou um balde de refrigerante. R., o menor, que só recentemente concluíra a puberdade tardia, sorriu satisfeito.
    -- Ainda bem que eu me alimento direito --disse, com uma placidez invejável.
    Tive uma pena colossal, um carinho imenso pela inocência dele.
    Já T. não parecia tão seguro. Percebia a gravidade da situação.
    M., afinal, tinha direitos sobre as secreções dele. Bastava olhar o súbito interesse culinário dos presentes. Tal prerrogativa dava à garota a liberdade de soltar os cachorros sobre ele quando bem entendesse, de ser dona de tudo, de se apossar geral, de moldá-lo ao seu bel-prazer.
    Entre o chocolate e a carícia íntima, quem há de negar que a segunda supera a primeira no que concerne o interesse do casal. M. zelava pelos dois, era a boa, a pura, a santa. O egoísta era ele.
    T. acabou a noite com um sorriso inconformado no rosto. Pelo bem da união, via-se, agora, como parte de uma engrenagem sexo-digestiva. A fábrica de excrementos do Mimi, o Metalúrgico. O rapaz refletia se sobreviveria em tais condições.
    O mais provável é que T. desenvolva a surdez seletiva às lamúrias dela, na esperança de que M. canse ou se conforme com o seu sabor adocicado.

      quinta-feira, 28 de novembro de 2013

      Máfia do ISS - Fraude ocorre há 14 anos, diz ex-mulher de auditor

      MÁFIA DO ISS
      folha de são paulo
      Fraude ocorre há 14 anos, diz ex-mulher de auditor
      Vanessa Ferreira prestou depoimento de cinco horas ao Ministério Público
      Testemunha afirma que fiscal Luís Magalhães lhe contou que esquema já existia quando ele ingressou na prefeitura
      DE SÃO PAULOO esquema de fraudes na cobrança de ISS (Imposto Sobre Serviços) na Prefeitura de São Paulo começou há 14 anos, afirmou ontem a testemunha Vanessa Caroline Ferreira, ex-mulher do auditor fiscal Luis Alexandre Cardoso de Magalhães.
      Ela prestou depoimento de cinco horas ao Ministério Público para dar mais detalhes de como funcionava a máfia do ISS, que pode ter causado rombo de R$ 500 milhões nos cofres públicos. Os promotores vinham investigando o sistema de propina a partir de 2005.
      Ao deixar a Promotoria, ela disse que Magalhães lhe contou sobre quando podem ter começado as fraudes.
      "O esquema de corrupção --o que o Luis contou para mim-- vem desde quando ele entrou na prefeitura. Tem no mínimo 14 anos. Quando ele ingressou, aprendeu o achaque. Não era um crime organizado, que nem [depois, quando] eles formaram a quadrilha", afirmou.
      Os promotores questionavam Vanessa, segundo ela, sobre pontos ainda obscuros no caso. "O depoimento foi mais voltado ao enriquecimento ilícito e detalhes que eu conhecia dessas pessoas, a vida cotidiana, quem vendia joias para quem."
      A testemunha ainda afirmou que os promotores enfrentam dificuldades para avaliar as provas apreendidas. "Disse onde eles iriam encontrar alguns arquivos. Há uma quantidade enorme de informações que eles não estão conseguindo desdobrar."
      Ela ainda reafirmou que Magalhães lhe revelou ter colaborado na campanha para vereador, em 2008, do ex-secretário de Governo Antonio Donato (PT). Donato nega ter recebido dinheiro do auditor.
      "Eu não tenho por que mentir. O Luis foi claro comigo quando falou: O Donato, dei dinheiro na campanha passada dele, espero que ele lembre de mim'."
      Vanessa disse também que pessoas ligadas a ela vêm sofrendo ameaças. "Já houve três ameaças contra pessoas próximas a mim. Nesta semana foi ameaçada a mulher do meu advogado. Ela saiu do Estado, ele está apavorado."

        Haddad, em verso e prosa

        folha de são paulo
        Atribui-se a Mario Cuomo, governador de Nova York de 1983 a 1994, a ideia de que campanhas se fazem em poesia, mas mandatos são cumpridos em prosa.
        A lição é valiosa para o prefeito Fernando Haddad (PT). Na seara retórico-eleitoral, esforça-se por deixar em primeiro plano promessas de investimentos e melhorias no transporte público municipal.
        No campo prático, contudo, parece esperar que suas promessas se materializem por encanto, tantas são as falhas de gestão nas medidas que tem adotado.
        Nesta semana, o jornal "Agora" mostrou que um dos projetos da Prefeitura de São Paulo incluiu a instalação de um ponto de ônibus provisório em uma rua onde não há circulação de coletivos.
        Não se trata de simples ponto fora da curva, por assim dizer, mas de exemplo eloquente de inépcia administrativa e de falhas tão frequentes que se tornaram a regra.
        Tome-se a implantação das faixas exclusivas de ônibus, até aqui a principal marca do governo Haddad. Após notar apoio da opinião pública à medida, ou pelo menos à prioridade dada aos transportes públicos, o prefeito decidiu ampliar sua proposta inicial, que previa a construção de 150 km de vias para coletivos até 2016, para 300 km até o fim deste ano.
        Baseada em critérios políticos, e não técnicos, a decisão padece de planejamento. No afã de cumprir a nova meta, a administração municipal se vê impelida a pintar faixas até em trechos de pequena circulação --inócuas, portanto.
        Além disso, a criação de espaços de circulação expressa, na maior parte dos casos, não veio acompanhada da necessária reorganização das linhas de ônibus em função da demanda. Mesmo onde isso ocorreu, porém, a pressa da prefeitura deixou passageiros desinformados, e terminais, lotados.
        Sem que tenha avançado nas prometidas obras de construção de 150 km de corredores --mais caros, mas mais eficientes--, a prefeitura ainda trata com incúria aqueles que estão em funcionamento.
        A degradação dos corredores e a desorganização na distribuição de linhas faz com que registrem média de velocidade inferior à das faixas exclusivas --um absurdo, como a própria prefeitura reconhece.
        Para Haddad, as medidas adotadas "sinalizam à população que o dirigente está agindo". Lirismo à parte, não basta agir; é preciso fazê-lo da forma mais adequada aos objetivos que pretende alcançar.

          Pesquisa traz à tona trabalhos perdidos do artista Flávio de Carvalho

          folha de são paulo

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          SILAS MARTÍ
          DE SÃO PAULO

          Mais do que artista plástico, Flávio de Carvalho, morto aos 73 há 40 anos, foi engenheiro, arquiteto, cenógrafo, diretor teatral, performer, designer e cineasta frustrado. Também acabou sendo vítima dessa pluralidade estonteante, já que parte de sua obra acabou espalhada --às vezes esquecida-- em arquivos e depósitos públicos.
          Ele tentou refundar os costumes, revendo a moda europeia no clima tropical, reinventando a ideia de moradia ao construir uma vila modernista na alameda Lorena, em São Paulo, e pregando uma arquitetura "nua e lisa". Agora, tem uma parte de sua história desenterrada.

          Um garimpo feito no Theatro Municipal, em salas da biblioteca Mário de Andrade e até em fundos de gaveta do Arquivo Histórico trouxe à tona uma série de trabalhos até agora dados como perdidos. A pesquisa foi feita nos últimos meses pela equipe do Museu da Cidade, responsável pelo acervo municipal.

          Flávio de Carvalho

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          Danilo Verpa/Folhapress
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          Criação de Flávio de Carvalho para o balé 'O Cangaceiro'
          Entre as obras estão 12 figurinos do balé "O Cangaceiro", encenado por Carvalho nas comemorações dos 400 anos de São Paulo, em 1954, e as primeiras plantas das obras na alameda Lorena.
          O Museu da Cidade tentará integrar agora esses itens à coleção de arte de São Paulo, fazendo saltar de quatro para cerca de 40 o número de obras de Carvalho catalogadas no acervo público.
          Esse conjunto recém-descoberto também será o ponto forte da ocupação da Oca pela coleção da cidade a partir de janeiro do ano que vem, que estreia com uma grande mostra dedicada ao artista.
          "Estamos tomando o caso do Flávio de Carvalho como referência para pensar os objetos na coleção", diz Afonso Luz, diretor do Museu da Cidade. "Essas peças são documentos vivos da história."
          Mas, segundo Luz, o esquecimento delas se deu por causa do "olhar conservador sobre seu significado estético".
          "Temos o desafio de organizar milhares de bens culturais guardados em inúmeros depósitos e reservas técnicas espalhadas pela cidade", afirma. "Um dos motivos dessa dispersão é que o conceito corrente de artes visuais é de objetos de parede, obras que funcionam como decoração."
          ELO PERDIDO
          Os vestidos desenhados por Carvalho para "O Cangaceiro" representam uma espécie de elo perdido na trajetória do artista --um contraponto aos experimentos com moda nas performances que ele orquestrou.
          Enquanto Carvalho trouxe aspectos femininos ao guarda-roupa do homem em 1956, quando caminhou de saia e meia arrastão pelo centro da cidade na ação "Experiência nº 3", os vestidos de seu balé eram masculinizados, algo entre o sensual e a robustez de jagunços.
          Também têm grande ressonância agora as plantas originais da alameda Lorena. Com as casas hoje em grande parte descaracterizadas, algumas funcionando como lojas, os documentos podem servir de base para um restauro das construções que Carvalho criou nos anos 1930 como "máquinas de morar".
          *
          ARTISTA CRIOU 17 CASAS NOS JARDINS, EM SP
          O desenho reproduzido abaixo é uma das plantas originais feitas por Flávio de Carvalho para as 17 casas que construiu na alameda Lorena, em São Paulo. As plantas podem ajudar a restaurar as construções, datadas de 1936.
          Eduardo Anizelli/Folhapress
          Flávio de Carvalho é tema de mostra e documentário
          Nos 40 anos de sua morte, modernista tem pinturas exibidas na Faap
          Plural, artista também tentou fazer cinema; sua iniciativa de rodar um longa na Amazônia é analisada em filme
          DE SÃO PAULOEnquanto a Oca deve receber em janeiro um recorte expandido da produção de Flávio de Carvalho, que vai da arquitetura aos figurinos, uma mostra em cartaz agora no Museu de Arte Brasileira da Faap reúne a ala mais tradicional de sua obra, com retratos de gente como os maestros brasileiros Eleazar de Carvalho (1912-1996) e Camargo Guarnieri (1907-1993).
          Tudo, aliás, está interligado nessa história, já que Guarnieri, retratado por Carvalho, compôs "O Cangaceiro", balé que teve os figurinos criados pelo artista plástico.
          Maria Izabel Branco Ribeiro, diretora do museu da Faap, não dá a mesma ênfase aos projetos de Carvalho para além da pintura.
          "Dizer que a obra dele como figurinista é tão significativa quanto a obra de pintor e de arquiteto é uma afirmação desequilibrada", diz Branco Ribeiro. "Ele não tem uma preocupação com moda. Vejo as atitudes dele como de alguém que contraria regras, um iconoclasta."
          'DEUSA BRANCA'
          Iconoclasta ou só inquieto, Carvalho também tentou ser cineasta. Sua iniciativa de rodar um filme na Amazônia, para onde levou duas loiras esbeltas e dispostas a encarnar sua "Deusa Branca", virou alvo de um documentário lançado no Itaú Cultural e que deve entrar no circuito de festivais em 2014.
          No filme, o diretor Alceu Braga destrincha os bastidores de uma expedição do artista à selva em 1958.
          Sem roteiro, Carvalho pretendia gravar o embate de sua trupe com uma perigosa tribo de canibais, os xirianãs.
          Mas sua desgraça não veio pelas mãos dos índios, que serviram até banquete de macacos assados à equipe, e sim por ter se apaixonado por uma atriz, que conquistara também o capitão da expedição. Irritado, Carvalho até trocou tiros com o rival, embora nenhum tenha se ferido.
          A expedição fracassada sepultou a incursão cinematográfica do artista.

            Mortes nas arenas - Juca Kfouri

            folha de são paulo

            Mortes nas arenas

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            As arenas começam a justificar o novo modo de nomear os estádios.
            Como palcos de sangue de mais duas vítimas que agora se somam às duas nas arenas de Brasília e de Manaus, assim como a mais outras duas nas do Grêmio e do Palmeiras, não destinadas à Copa.
            Mortes são mais comuns do que gostaríamos nas obras de grande porte. No caso da arena corintiana, põem por terra a satisfação de seus construtores que se orgulhavam até ontem por não haver registros nem de acidentes nem de greves em suas obras, ocorrências frequentes nas demais arenas para a Copa.
            De fato, impressionava o ambiente alegre movido a churrascos aos sábados no campo alvinegro.
            José Afonso de Oliveira Rodrigues, morto no Mané Garrincha, em junho do ano passado, Raimundo Nonato Lima, em abril deste ano no estádio de Amazonas e Fábio Luiz Pereira e Ronaldo Oliveira dos Santos agora, são as vítimas fatais das obras nas 12 sedes espalhadas pelo país afora.
            A hora se presta para demagogias as mais diversas, seja por parte dos responsáveis, seja por quem se solidariza com as vítimas.
            Questões como o ritmo acelarado para cumprir os prazos se impõem, embora a tragédia em Itaquera tenha sido causada por uma operação idêntica à que havia sido feita na semana passada, do outro lado da construção e com estrutura menos pesada.
            Talvez o guindaste alemão, o maior em operação no país, não tenha sido suficientemente calçado no último passo que faltava. Dois técnicos embarcaram ontem para o Brasil para investigar.
            Nada mais corintiano.
            O ano de 2013 que começou marcado pela morte em Oruro é desses para serem esquecidos na mais que centenária trajetória do Corinthians, o contraponto proporcional ao que foi a brilhante temporada de 2012, típico mesmo de quem sempre se diz sofredor.
            Seja como for, Afonso, Raimundo, Fábio e Ronaldo não verão a Copa que ajudaram a fazer e suas famílias a viverão enlutadas, algo que não cabe no já famoso padrão Fifa.
            Ou, ao menos, não deveria caber. Como estará o clima no Sauípe, para o sorteio do dia 6?
            FIM DA ENCICLOPÉDIA
            Morreu Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol.
            A quarta-feira 27 de novembro marcará indelevelmente a história do futebol no Brasil.
            À dor da morte de dois trabalhadores da Copa se soma a do melhor lateral-esquerdo de todos os tempos, craque de apenas duas camisas, a alvinegra do Botafogo e a amarela da seleção.
            No time da velha CBD esteve em quatro Copas, como reserva na de 1950 e como titular nas três subsequentes, bicampeão em 1958/62.
            Quem o viu botar pontas-direitas endiabrados no bolso e a jogar, ainda nos anos 50, como se fosse um ala, não o tirará da memória jamais.
            Memória que Nilton Santos perdeu nos últimos de seus 88 anos de vida.
            juca kfouri
            Juca Kfouri é formado em ciências sociais pela USP. Com mais de 40 anos de profissão, dirigiu as revistas "Placar" e "Playboy". Escreve às segundas, quintas e domingos na versão impressa de "Esporte".