terça-feira, 19 de novembro de 2013

Bilhete mensal vai valer em ônibus de Haddad e no metrô de Alckmin

folha de são paulo
Governo do Estado adere à promessa de campanha do prefeito; tarifa deve ser definida hoje
Cartão emitido pela prefeitura dará direito a viagens ilimitadas em um mês tanto em ônibus como em trens
DE SÃO PAULO
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu aderir ao Bilhete Único Mensal, uma das principais promessas de campanha do prefeito paulistano Fernando Haddad (PT).
Com o acordo, o cartão emitido pela prefeitura poderá ser utilizado tanto nos ônibus municipais quanto no metrô e nos trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Por uma tarifa única, o passageiro terá direito a quantas viagens quiser em um mês.
O valor, que para uso apenas nos ônibus foi estabelecido pela prefeitura em R$ 140, deverá aumentar.
A decisão do governo tucano foi informada a Haddad ontem pelos secretários Edson Aparecido (Governo) e Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos).
Na reunião, foram apresentados dados sobre o impacto financeiro da medida, prevista inicialmente para começar no dia 30 de novembro.
Desde abril, quando começou o cadastro de interessados no novo bilhete, o Estado dizia aguardar estudos para tomar uma decisão.
IMPACTO
O bilhete mensal deverá aumentar os gastos públicos com transporte, em um contexto de queda nas receitas devido ao congelamento das tarifas após os protestos de junho.
Só a prefeitura estima um aumento de R$ 400 milhões por ano em subsídios.
As equipes voltarão a se reunir hoje para acertar pontos do acordo, entre eles o valor que será cobrado.
Em nota, o governo estadual informou querer criar também um "Bilhete Mensal dos Trilhos", que valeria apenas no metrô e nos trens.
"Os valores dos novos bilhetes e detalhes sobre seu funcionamento estão em fase final de definição e serão anunciados na quinta-feira", afirmou o governo estadual.
Já Haddad disse que estão sendo feitas "as últimas contas". "A parte técnica tem um pequeno detalhe, a parte tarifária tem um pequeno detalhe. Diria que estamos às vésperas, talvez, de um anúncio positivo para acidade", disse.
A adesão do governo do Estado vai na contramão das críticas feitas pelo PSDB durante a campanha eleitoral.
Em 2012, o então candidato tucano José Serra classificou o bilhete mensal, que existe em outros países, como uma "enganação".
A expectativa é que o número de cadastrados no bilhete, hoje em 120 mil, aumente com a entrada do metrô.

Rosely Sayão

folha de são paulo
A batalha do sono
Assim que nasce um bebê, os pais já sabem o que lhes espera: ter de acordar durante a noite
Ah, temos feito tantas confusões com os mais novos! Ensinamos a eles o que eles ainda não precisam saber ou o que ainda não têm condições de entender, e não permitimos que aprendam e experimentem muitas coisas que deveriam ter a chance de conhecer, por exemplo.
Vamos tomar um exemplo bem simples que trata de bebês ou de crianças bem pequenas: o sono. São poucos os pais com filhos com até cinco anos, mais ou menos, que não travam verdadeiras batalhas por causa do sono, ou melhor, da falta de sono das crianças.
Sono picado, pesadelo, fome, desejo de ficar ao lado do pai ou da mãe etc.: tudo conspira para que os pais não consigam dormir a noite inteira e arquem com cansaço, irritação, estresse e outros males no dia seguinte. Vamos conversar sobre o sono das crianças, então.
Assim que nasce um bebê, os pais já sabem o que lhes espera: ter de acordar durante a noite. E, no início, acordam sem reclamar porque sabem que isso faz parte do pacote de ter um filho. O bebê quer mamar, a fralda suja o incomoda ou outra coisa qualquer é motivo para o bebê chorar. Chamar quem o atenda.
E, em geral, a mãe o atende de pronto. É que, nesse início de uma nova vida familiar --não importa se é o primeiro filho ou não-- a vida é um turbilhão de trabalho braçal e de intensas emoções. "Será que o bebê está bem? Será esse choro de dor ou de fome? Acho que esse bebê é manhoso. Devo pegar no colo ou vou deixá-lo mal-acostumado?"
Todos os dias, as mães se fazem essas e outras dezenas de perguntas. Elas estão aprendendo a interpretar o choro do bebê e não têm certeza de nada. Têm receios, angústias, inseguranças. E delícias também, é claro. E é por isso, principalmente, que atendem ao chamado do bebê imediatamente.
Acontece que também o bebê está aprendendo a viver num mundo bem diferente do que viveu anteriormente, totalmente protegido e assistido sem ter de nada fazer. Ele está aprendendo, inclusive, a se conhecer. Não do modo que nos conhecemos, é claro, mas é o início de um autoconhecimento.
E é assim, sendo atendido sempre de imediato quando chora, que ele aprende, por exemplo, que precisa da mãe sempre que acordar. Mas ele nem sempre precisa. Por isso, é bom lembrar que criança, mesmo ainda bebê, não é de cristal. Ele não vai se quebrar com o próprio choro ou grito.
Deixar o bebê chorar um pouco antes de atendê-lo não faz mal: permite que ele volte a dormir, se for o caso, ou que continue a chamar pela mãe até que ela apareça. E isso faz com que o bebê não perca sua autonomia de sono, que perceba que pode acordar e dormir sem precisar de ajuda. Quantos de nós acordamos no meio da noite e voltamos a dormir em seguida? Isso pode acontecer com o bebê também.
Claro que isso não significa abandonar o bebê ou a criança um pouco maior chorando desesperadamente, como recomendam alguns manuais. Essa conduta vale para crianças que já aprenderam a ir para a cama dos pais no meio da noite.
Mesmo assim, mães e pais com crianças pequenas precisam lembrar que o sono nos primeiros anos de vida é inconstante mesmo: o filho pode voltar a acordar no meio da noite a qualquer momento. A boa notícia é que os filhos crescem e, portanto, as questões que os pais precisam enfrentar mudam.

    'Romeu e Julieta', 1º espetáculo narrativo da São Paulo Cia. de Dança, estreia nesta quinta

    folha de são paulo

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    IARA BIDERMAN
    DE SÃO PAULO
    A versão mais trágica e clássica do amor chega na ponta dos pés em São Paulo. Estará no palco do Teatro Sérgio Cardoso no dia 21.
    É a estreia do balé "Romeu e Julieta", primeira obra narrativa da São Paulo Companhia de Dança.
    O grupo comemora cinco anos de vida com o balé musicado pelo compositor russo Serguei Prokofiev (1891-1953). A coreografia foi criada especialmente para a companhia pelo italiano Giovanni Di Palma, professor do ArchiTanz Ballet Studio, de Tóquio.

    Romeu e Julieta

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    Zé Carlos Barretta/Folhapress
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    Os bailarinos Nielson Souza e Aline Campos da São Paulo Companhia de Dança durante ensaio da peça 'Romeu e Julieta'
    Criada para ser um núcleo de dança de base clássica que abarca também a produção contemporânea, a São Paulo Companhia de Dança já produziu 27 obras, mas ainda não tinha montado esse tipo de coreografia, que narra uma história.
    "A gente se perguntava quando seria a estreia desse grande balé clássico", conta Inês Bogéa, diretora do grupo desde sua criação.
    A hora chegou. Além de marcar meia década de vida da companhia, o balé inspirado na tragédia de Shakespeare (1564-1616) tem tudo a ver com o tema escolhido para nortear os trabalhos de 2013: amor, vida e morte.
    Por coincidência, no mundo todo começam as produções para celebrar o autor inglês, por conta do aniversário dos 450 anos de seu nascimento, em abril do ano que vem. Mas não foram os preparativos para o ano shakespeariano que determinaram a escolha da peça.
    "O mais importante era descobrir que obra a companhia estava pronta para fazer nesse momento. Tem relação com a maturidade cênica dos bailarinos", afirma Bogéa.
    A montagem, além das exigências técnicas de praxe no balé, enfatiza as emoções embutidas na trama. Por isso, foram incluídas aulas de dramaturgia e interpretação nas seis horas diárias de treinos e ensaios dos bailarinos.
    "Quando temos a possibilidade de dançar 'Romeu e Julieta', somos o que não poderíamos ser", diz Di Palma, referindo-se ao preparo dos bailarinos, que incluiu também aulas de esgrima.
    Tudo isso sem perder de vista a base do trabalho, o balé: "A técnica clássica é como uma ioga: ajuda a focalizar um caminho".
    O coreógrafo e bailarino italiano, que já interpretou vários balés baseados em Shakespeare, afirma que os textos do autor são perfeitos para a dança.
    "Quando ele cria protagonistas que têm que expressar continuamente: 'Eu te amo, não posso te amar', isso já é um movimento."
    O desafio, segundo Bogéa, foi conseguir expressar cada emoção tratada na história em um gesto universal.
    "Toda vez que você refaz um balé clássico, ele acaba sendo do tempo presente. As pessoas estão com todas as emoções em seu corpo e vão representá-las por meio da dança. O coreógrafo vai captar essa atmosfera e colocar no espetáculo", diz Di Palma.
    Ao mesmo tempo, ele quis, na montagem, ser claro, contar bem uma história para qualquer audiência entender. "Não tem que complicar, 'Romeu e Julieta' não precisa de uma interpretação do tipo freudiana nem de ser circo. O desafio atual da dança é recuperar a sua pureza."
    ROMEU E JULIETA
    QUANDO de 21 a 24/11 e de 28/11 a 1º/12; quintas e sábados, às 21h; sextas, às 21h30; domingos, às 18h
    ONDE Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 0/xx/11/3288-0136)
    QUANTO R$ 12,50 e R$ 25
    CLASSIFICAÇÃO livre
    *
    APRESENTAÇÕES HISTÓRICAS
    *Versões famosas do balé musicado pelo compositor russo Serguei Prokofiev (1891-1953) *
    1940
    A obra foi montada pelo Kirov Ballet, com coreografia de Leonid Lavrosky e Galina Ulanova no papel de Julieta
    1962
    A coreografia de John Cranko para o Stuttgart Ballet deu fama internacional à companhia alemã
    1965
    Rudolf Nureyev e Margot Fontain estreiam a versão do coreógrafo Sir Kenneth MacMillan na Royal Opera House, de Londres
    1984
    O Joffrey Ballet, de Chicago, apresenta a primeira produção americana de 'Romeu e Julieta'
    2008
    O Mark Morris Dance Group, de Nova York, estreia a coreografia baseada na obra original de Prokofiev, reconstituída pelo musicólogo Simon Morrison a partir de documentos dos arquivos de Moscou

    José Simão

    folha de são paulo
    Ueba! Pizzolato vira pizzaiolo!
    O Dirceu não fugiu porque, com aquele sotaque de Mazzaropi, seria reconhecido em qualquer lugar do mundo
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Predestinado do mensalão: Jacinto Lamas. Fizeram o mapa astral dele antes de batizar. A mãe deve ter gritado na maternidade: Jacinto Lamas! Rarará!
    Piada Pronta do mensalão: "Pizzolato fugiu pra Itália". Fugiu não, voltou pro habitat. Deve tá em Nápoles! Disfarçado de meia calabresa, meia margherita!
    E a sacanagem do mensalão, Lula pros mensaleiros: "Estamos juntos". Ele aproveitando o feriadão e os três sentadinhos, putos da vida, num banco de cimento da cela! Rarará!
    E diz que o Zé Dirceu é dez. Pegou dez anos, dez meses e dez dias. Tirou dez em tudo! Rarará!
    E um leitor me disse: "Tô com dó dos presos. Dos OUTROS presos". Rarará!
    E o Delúbio tá com a cara do Saddam Hussein quando saiu do buraco! E o Genoino? Com o braço levantado e capa de lençol! É o Superman...salão! O Supermensalão! E isso é surreal: o Genoino é um dos políticos mais pobres do Brasil e tá preso!
    Eu acho que o Genoino entrou de gaiato no navio! Transfere a pena dele pro Zé Dirceu! Acrescenta! E o Dirceu? O Papudo na Papuda.
    O Dirceu não fugiu porque, com aquele sotaque de Mazzaropi, seria reconhecido em qualquer lugar do mundo: "Fecha a poooorrrrrta". "Close the dooorrrr."
    E eu já disse que o culpado de tudo é o Gabeira, que trocou o embaixador americano pelo Zé Dirceu! Rarará!
    E o mensalão virou esculhambação: os condenados andaram de avião, van, ônibus, só faltou lancha!
    Loucademia de Polícia: prenderam, mas não sabiam onde colocar os presos! Sabe avião quando não tem teto no aeroporto e fica rodando, rodando? Parecia isso!
    E agora só falta julgar o mensalão mineiro dos tucanos, o metrozão paulista e o kassabão dos fiscais! Tem que pegar todo mundo! Não tem virgem na zona! E o Joaquim Barbosa parece a minha sogra: ranzinza, não deixa ninguém falar e os outros estão sempre errados! Rarará!
    É mole? É mole, mas sobe!
    O Brasil é lúdico! Olha essa placa no supermercado Mambo: "Contrafilé FRIBOY". FRIBOY? Chama o Tony Ramos! Rarará!
    E o feriadão? A Engarrafolia! Feriadão: parado na estrada tomando banho de sol no braço. Rarará!
    Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã.
    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

      João Pereira Coutinho

      folha de são paulo
      Escritores e pedófilos
      Julgar qualquer obra com as falhas de conduta do criador seria inaugurar uma 'caça às bruxas'
      Um dia perguntaram a Gore Vidal se ele gostaria de mudar alguma coisa na sua biografia. O escritor respondeu: "A minha mãe".
      Em três palavras, Vidal "vintage": uma mistura de ironia e crueldade. E de presciência, talvez: se é verdade que todas as famílias felizes são iguais, então cada família ressentida é ressentida à sua maneira.
      O verniz da família Vidal estalou recentemente depois de o escritor, morto em 2012, ter deixado o seu patrimônio (tradução: US$ 37 milhões, cerca de R$ 84 milhões) à Universidade Harvard.
      A família respondeu com um livro no qual alega que Vidal teria vivido anos de terror com a possibilidade de William Buckley, seu fiel inimigo, o denunciar como pedófilo. Buckley teria provas de vários crimes sobre menores. Infelizmente, os descendentes de Buckley confessam que o "dossiê Vidal" foi jogado fora depois da morte do patrono. Como quem joga uma roupa velha.
      Perfeito. Não há provas. Apenas uma mancha: Vidal era pedófilo e não se fala mais do assunto.
      Uma mancha dessas não é apenas destrutiva de uma reputação. É destrutiva e macabra porque Vidal já não está entre os vivos para responder. Se bater em gente indefesa é sinal de covardia, o que será bater em gente morta?
      Mas o "caso Vidal", que agitou as águas literárias, coloca uma questão mais séria: será que o comportamento pessoal de um artista, e mesmo o comportamento alegadamente criminal dele, diminui ou altera a qualidade da sua obra?
      O jornalista Mark Lawson, que analisou o caso no jornal "The Guardian", diz que não. E relembra vários exemplos de condutas privadas reprováveis que nem por isso desqualificam o autor. O antissemitismo de Richard Wagner não deve ser um impedimento para apreciar a sua música.
      E, claro, convém não esquecer Roman Polanski, que abusou de uma menor nos Estados Unidos e, por causa disso, nunca mais lá regressou. O crime de Polanski desqualifica os filmes que ele fez?
      A minha resposta também é negativa: existe uma autonomia na criação estética que não se confunde com a biografia ética. Admito apenas uma exceção a essa regra (já irei a ela), mas pretender julgar qualquer obra com as falhas de conduta do criador seria inaugurar uma "caça às bruxas" que deixaria os nossos museus e as nossas bibliotecas irremediavelmente mais pobres.
      O antissemitismo de Céline não retira uma vírgula à grandeza romanesca da sua obra. Martin Heidegger merece ser lido, e bem lido, independentemente dos entusiasmos pelo nazismo.
      E, para recuarmos na história, não passa pela cabeça de ninguém condenar a pintura de Caravaggio simplesmente porque ele era um delinquente e um provável homicida.
      Exceções à regra? Apenas uma: quando o próprio autor não respeita a separação entre a ética e a estética, usando a segunda para esconder a primeira. A misantropia de Evelyn Waugh não me incomoda porque os seus romances não procuram sublimar ou ocultar o ser intratável que ele era.
      Mas confesso algumas dificuldades em levar a sério o humanismo moralista de Arthur Miller quando sei que esse humanismo não era praticado pelo próprio em relação ao filho com síndrome de Down, que ele abandonou no asilo e conscientemente rasurou da sua biografia.
      Repito: não espero que um artista seja um santo. Mas também não tolero que ele se faça passar por santo. E, sobretudo, que faça sermões aos outros exigindo essa santidade.
      Finalmente, a separação entre a conduta ética e a autonomia estética funciona para ambos os lados. A violação de Polanski não retira qualidade aos seus filmes. Mas a qualidade dos filmes não o absolve da violação (e da fuga), mesmo sabendo que a vítima já o perdoou publicamente.
      Acreditar que a vida estética está cima da lei é apenas repetir o mesmo tipo de "diletantismo ético" que produziu horrores mil na história moderna. Se Polanski regressar aos Estados Unidos, a Justiça que trate do que é da Justiça. Os filmes bastam-se e bastam-me.
      E Gore Vidal? Começo e acabo com o óbvio: no século 20 americano, não encontro maior ensaísta. Nem melhor escola de estilo para qualquer candidato ao "métier".
      O que Vidal fazia nas horas livres não é da minha conta. E, perante a ausência de provas (e de vítimas), não é da conta de ninguém.

        Nuvens sobre Varsóvia [Editorial Folha]

        folha de são paulo
        É sob o impacto de más notícias que se inicia hoje, em Varsóvia, a fase decisiva de mais uma reunião sobre a mudança do clima global --a COP-19, ou 19ª conferência dos países signatários da Convenção do Clima da ONU (1992). As delegações ganham o reforço de ministros de Estado, mas é improvável que eles consigam desatar os muitos nós que travam a negociação.
        As tratativas para diminuir a produção de gases do efeito estufa vêm em crise pelo menos desde o fracasso da conferência de Copenhague (2009). Um acordo parece agora mais distante do que nunca, com o anúncio de que Japão e Austrália recuaram de compromissos anteriormente assumidos de cortar suas emissões de carbono.
        A recente crise econômico-financeira sem dúvida contribuiu para tirar prioridade da questão climática no cenário mundial. No caso específico do Japão, somou-se a ela o recuo na geração de eletricidade de fonte nuclear, após o desastre de Fukushima em 2011.
        A outra má notícia partiu do Brasil. Com o repique de 28% na área desmatada na Amazônia, em relação aos 12 meses anteriores, o país vê enfraquecer-se seu maior trunfo nos encontros sobre o clima.
        De 2004 a 2012, a taxa de desmatamento havia caído 84%. O bastante para tirar da floresta a condição de maior contribuidor brasileiro para o aquecimento global e tornar plausível a meta de reduzir entre 36% e 39% as emissões do país até 2020. A queda drástica do desmatamento mais que compensava o aumento de gases do efeito estufa por outros setores nacionais, como energia (21,4%, de 2005 a 2010) e indústria (5,3%).
        Embora os 5.843 km² desmatados entre agosto de 2012 e julho de 2013 suscitem preocupação, estão longe dos recordes de 2004 (27,7 mil km²) e 1995 (29 mil km²). De todo modo, a reversão de sinal na tendência deixa o Brasil em condição menos favorável na negociação.
        É pena, porque o país tem uma boa proposta a defender: que um futuro acordo do clima leve em conta a "responsabilidade histórica" de cada nação sobre o aquecimento global. Vale dizer, que países desenvolvidos, os grandes poluidores do passado, contribuam mais e proporcionalmente para combater a mudança do clima.
        Verdade que a China já se tornou o maior emissor de carbono do planeta, tendo ultrapassado os EUA. Não se conseguirá conter o aumento da poluição sem compromissos do país asiático e de outros emergentes, como Índia e Brasil, mas é uma questão de equidade que as nações ricas contribuam mais no pagamento dessa conta.

          Raposas no galinheiro [Editorial Folha]

          folha de são paulo

          Raposas no galinheiro
          Esquema de propina em São Paulo reforça importância de autonomia nas investigações e maior transparência na atuação dos auditores fiscais
          "Quando os auditores foram depor, eles eram vistos como profissionais respeitados. Nunca se imaginou esses esquemas de corrupção", declarou à Folha o ex-vereador Cláudio Fonseca (PPS), que integrou a CPI do IPTU em 2009 na Câmara Municipal de São Paulo.
          Soa irônico que os "profissionais respeitados" fossem Ronilson Bezerra Rodrigues e Eduardo Horle Barcellos, hoje apontados como membros da chamada máfia do ISS (Imposto sobre Serviços).
          Mas não pode ser encarado como simples troça o fato de especialistas em arrecadação na mais rica cidade do país participarem de uma quadrilha que, segundo investigações do Ministério Público e da Controladoria Geral do Município, acumulou patrimônio ilegal de R$ 80 milhões.
          A CPI do IPTU, comandada por Antonio Donato (PT) e Aurélio Miguel (PR), em tese ajudou a elucidar falhas na arrecadação de impostos em São Paulo. Não rendeu --agora parece óbvio o porquê-- pistas de corrupção nesse setor.
          Corrupção havia, mas os fiscais convidados a auxiliar a CPI eram os grandes interessados em ocultar os desvios. Sua atuação na máfia do ISS remontaria a 2007, gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), e o esquema de cobrança de propina em troca de alívio tributário teria provocado prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres públicos.
          À luz das notícias recentes, é difícil aceitar como mera coincidência que Miguel e Donato tenham presidido e relatado aquela comissão parlamentar. De acordo com depoimentos ao Ministério Público, ambos receberam dinheiro dos fiscais --os vereadores Nelo Rodolfo (PMDB) e Paulo Fiorilo (PT) também foram citados.
          Embora nada tenha sido comprovado contra esses políticos, as suspeitas são graves. Assim como é grave que Mauro Ricardo, secretário de Finanças nas gestões de José Serra (PSDB) e Kassab, tenha omitido da corregedoria a denúncia anônima que recebeu, em 2012, sobre os fiscais, seus subordinados.
          Com muito atraso, São Paulo começa a descobrir que os órgãos de investigação precisam de autonomia para executar seu trabalho. Pouco adianta iniciar apurações se seus caminhos podem ser obstruídos com facilidade --mas é precisamente o que costuma acontecer.
          A Controladoria Geral do Município, criada pelo prefeito Fernando Haddad (PT), indica uma mudança importante, que mereceria ser replicada em outras cidades.
          É imperioso, além disso, usar tecnologias há muito existentes para tornar mais transparente a atuação dos fiscais. Somente escusos interesses suprapartidários explicam que tenham muito poder e poucas contas a prestar.