segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Metade dos brasileiros segue off-line; veja depoimentos de 'desconectados'

folha de são paulo

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YURI GONZAGA
DE SÃO PAULO

O PNBL (Programa Nacional de Banda Larga), do governo federal, determina que todas as cidades do Brasil tenham conexão com velocidade de 1 Mbps oferecida a R$ 35 até o fim de 2014.
"A gente sabe que, no mundo de hoje, isso não basta: as aplicações com maior potencial socioeconômico, como assistir a uma aula, estão relacionadas a uma velocidade superior", diz o gerente de banda larga do Ministério das Comunicações, Pedro Lucas da Cruz Araújo.
A UIT (União Internacional de Telecomunicações) chama de banda larga as conexões com 1,5 Mbps ou mais.
Mas a velocidade não é o maior dos problemas.
Vivem sem Google, sem Facebook e sem Wikipédia 86 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais, ou 49,1% de um total de 169 milhões de pessoas nessa faixa etária, segundo dados do IBGE do fim do ano passado.
São pessoas pobres, "analfabetos digitais" ou que vivem em lugares isolados. "A exclusão digital segue a mesma lógica da exclusão social", diz a secretária de inclusão digital do Ministério das Comunicações, Lygia Pupatto. "Temos deficit maior nas classes C, D e E, e as regiões com maior demanda são Norte e Nordeste."
É entre esses grupos que o crescimento vem sendo mais acelerado, segundo Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE. "Também avançaram [em acesso à internet] as pessoas com mais de 60 anos."
Em 2011, a parcela dos que já estavam on-line era de 46,7%, o que significa que o país pode ter mais da metade conectada. Segundo a UIT, a fatia é de 95% na Noruega, de 81% nos EUA, de 56% na Argentina e de 42% na China.
Das 5.564 cidades que existiam quando foi criado o PNBL (hoje há outras seis), em 2011, 3.214 são atendidas.
Editoria de arte/Folhapress
NÃO QUERO
Mas nem todos estão desconectados só por não ter condição financeira necessária. "Não suporto internet, celular, essas coisas", diz o motorista Jorge Feitosa, 59. "Ali, você pode ser roubado, falta sigilo. Não tenho medo, mas para mim não encaixa. Meu negócio é cartão no orelhão", conta. Ele diz que, apesar de ser contra, comprou um computador para seu filho.
A dona de casa Cristiane Gradinar, 38, diz que já chegou a procurar emprego on-line, mas que não tem interesse em se conectar de novo. "Também não uso porque sou evangélica", diz. A igreja que frequenta não proíbe internet, "mas tem muita coisa [on-line] que não é permitida", diz.
NÃO POSSO
Com suas horas divididas entre a escola e a venda de bebidas na praça da Sé, o menino Marcelo Silva, 15, diz que nunca teve a oportunidade de usar a internet. "Até quero, mas ninguém na minha casa compra, então não tenho como usar", conta.
Ele diz que tentará usar a rede no SESC Carmo, que fica na rua onde mora, na capital paulista (veja lista de locais de acesso grátis).
Já a dona de casa Maria Lúcia Mendonça, 65, diz que já tentou usar o PC --tarefa que, quando precisa, pede à filha--, mas não conseguiu. "Só para escrever meu nome, levava uma eternidade. Não tenho paciência", diz, contando que tem medo de perder dinheiro usando a internet, por causa da falta de segurança.
O corretor imobiliário Eduardo Fernandes, 56, precisa enviar e-mails a clientes, mas onde vive, uma chácara no limite entre São Paulo e Itapecerica da Serra, não chega a conexão a cabo --ele recorre a lan houses. "Também uso no Poupatempo, mas é muito devagar", reclama.
ALÉM DA INCLUSÃO
Para o Ministério das Comunicações, o maior problema ainda é a infraestrutura, já que há muitos lugares desinteressantes do ponto de vista econômico para as operadoras --e é delas a decisão de prover ou não o acesso.
Mas a gigantesca tarefa de universalizar o acesso é só um primeiro passo. "Acho que uma coisa é a pessoa saber usar a internet", diz Pupatto. "A outra, que é o nosso desafio, é ela se apropriar dela, abrindo possibilidades que realmente mudam a vida, como educação à distância e projetos culturais."
Para Alexandre Fernandes Barbosa, um dos coordenadores do CGI (Comitê Gestor da Internet), "não basta um cidadão da periferia usar a lan house e acessar o Facebook se não souber fazer outra coisa. O desenvolvimento de habilidades é fundamental."

Internet nos ares

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John Schenk/Divulgação/Efe
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Balão do projeto Loon, do Google, na Nova Zelândia Leia mais
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O QUE DIZEM OS DESCONECTADOS
"Ainda quero aprender, fazer o básico, coisas para meu trabalho. Já aprendi a dirigir, por que não usar o computador?"
MOACIR CARLOS DE MENEZES, 48
Construtor civil autônomo
"Sou da geração do papel. Até tenho celular, mas coisas de internet é com minha mulher"
LINÉSIO PEREIRA, 49
Vendedor
"Não uso hoje porque estou sem computador. Você fica meio isolado... a gente fica vegetando sem internet"
FLAVIANO FONSECA FILHO, 40
Tosador de cachorros e rapper
"Até quero, mas ninguém na minha casa compra, então não tenho como usar"
MARCELO SILVA, 15
Estudante e vendedor informal
"Só para escrever meu nome, levava uma eternidade. Não tenho paciência"
MARIA LÚCIA MENDONÇA, 65
Dona de casa
"Não suporto internet. Meu negócio é cartão no orelhão"
JORGE FEITOSA, 59
Motorista
"Não uso porque sou evangélica. Há muita coisa [on-line] que a igreja não permite"
CRISTIANE GRADINAR, 38
Dona de casa
+ LIVRARIA

Festival em SP debate o uso de games na educação e na saúde

folha de são paulo

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ALEXANDRE ORRICO
DE SÃO PAULO

Como utilizar games em sala de aula para facilitar o aprendizado? Exames médicos podem se tornar mais aprazíveis se apresentados em forma de jogos?
Estas são duas das perguntas que tentarão ser respondidas durante o evento Games for Change, que debate a aplicação de jogos na educação, saúde e outros setores. São Paulo recebe, neste fim de semana, a edição latino-americana do festival.
"Usar videogames só para diversão é explorar apenas uma fração do que é possível fazer com eles", diz Asi Burak, desenvolvedor e presidente global do festival G4C.
"Já é visível em vários países que os games são uma força transformadora de hábitos, de políticas públicas, de apoio à inovação tecnológica e de práticas educacionais", completa.
Burak é o criador um game no gênero, "Peace Maker", sobre o conflito árabe-israelense, e virá ao Brasil para a terceira edição do Festival na USP.
Estão previstas palestras, debates, oficinas e teste de games como "Ludwig", sobre energia e sustentabilidade, e "Conflitos Globais".
A programação inclui ainda uma "game jam", maratona em que desenvolvedores vão encarar ao longo de três dias o desafio de produzir games que tenham impacto na universidade, transformando a relação entre a maior e melhor universidade brasileira e a sociedade.


Por que não atendo sua ligação, mesmo que esteja livre

folha de são paulo

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CAELI WOLFSON WIDGER
DO "NEW YORK TIMES"
The New York Times
Minha prima Stacey, de San Francisco, ligou recentemente. Não conversávamos desde que ela me visitou, no mês passado, e eu já estava com saudades dela, mesmo. Quando o telefone tocou, eu estava no escritório, lendo e-mails e acompanhando minha conta do Twitter --de maneira alguma ocupada demais para conversar.
Mas eu vi o telefonema chegar e não peguei o celular. Tampouco ouvi a mensagem de voz que ela deixou. Em vez disso, disparei uma mensagem de texto. Pedi desculpas por estar ocupada demais para atender e propus combinarmos uma hora para conversar no dia seguinte.
Por que mentir? Eu tinha tempo para conversar. Tinha privacidade e o silêncio que raramente encontro em minha casa repleta de crianças pequenas e de caos entusiástico com afazeres.
Algumas das melhores conversas que tive na vida foram com Stacey. Mas meu reflexo instantâneo foi não atender o telefonema dela.
Hoje em dia, raramente atendo telefonemas. Meus contatos por telefone são conduzidos via mensagens de texto e mídia social. No caso dessas mídias, respondo muito rápido. Cada sininho que anuncia a chegada de um SMS ou notificação de mensagem no Twitter me faz sentir como se tivesse um pequeno presente me esperando.
O toque do telefone, por outro lado, é como uma potencial demanda de tempo e paciência que não sei se quero despender. O telefonema de Stacey se enquadrou justamente nessa descrição.
Ela está passando por momentos difíceis. O namoro dela está chegando ao fim, depois de cinco anos, e ela está desempregada há 18 meses. Embora não suporte passar nem mais um minuto com seu quase ex, lhe falta dinheiro para arriscar uma incursão solitária no exorbitante mercado de habitação que existe em San Francisco.
Stacey não respondeu à minha mensagem de texto, mas isso não me preocupou. Nós logo colocaríamos a conversa em dia, como sempre.
Uma semana mais tarde, ela me enviou uma mensagem de texto perguntando se podíamos falar ao telefone no dia seguinte, às 9h15 ou às 14h. Eu estaria ocupada, naquele dia, preparando um evento para minha empresa no começo da noite. Mas o fato de que Stacey enviou uma mensagem antes de ligar me fez sentir uma mudança. Um tom mais leve. Menos intrusivo. Respondi que ligaria para ela às 14h.
Quando enfim conversamos, ela perguntou: "Você não ouviu minha mensagem da semana passada, ouviu?"
"Uhn...", murmurei.
"Eu sei", ela suspirou. "Você nunca ouve as mensagens Pode apagar. Está tudo bem".
Conversamos por uma hora, no geral sobre seu relacionamento moribundo e sua situação de moradia, como eu imaginava. Mas foi uma conversa fácil. Ela havia acabado de conseguir aprovação para alugar um pequeno apartamento. A perspectiva de ser solteira de novo começava a oferecer vislumbres de possibilidades novas, em lugar de apenas solidão.
Mais tarde, ouvi a mensagem que ela havia deixado uma semana antes. O choro era tão forte que eu mal conseguia entender sua voz. Ela estava no fundo do poço, desesperada com sua vida, com a situação geral que vivia e não com algum problema específico. Para ela, era como se estivesse sendo atacada de todas as direções. E Stacey precisava que eu lhe fizesse companhia ao telefone, e dissesse que tudo ficaria bem.
Ouvir a mensagem me encheu de culpa. Quando eu me tornei uma pessoa que prefere o que é mais conveniente em termos emocionais, e deixa de lado as necessidades das pessoas mais próximas?
Porque é isso que evitar telefonemas significa, na verdade: postergar o envolvimento direto que o contato com uma vez humana requer.
Eu tinha simplesmente adotado por comodismo uma nova norma: se ninguém mais atende telefonemas, por que eu atenderia?
Tendo aprendido a lição, resolvi que mudaria. A menos que estivesse realmente ocupada, prometi que começaria a atender telefonemas sempre que eles surgissem, apesar das perturbações que a conversa pudesse causar. Estava decidida a me tornar uma amiga mais espontânea e generosa do que fora.
Mencionei esse propósito, de passagem, a muita gente, nas semanas posteriores à mensagem de Stacey, inclusive a ela. "Adivinhe! Agora vou atender todos os telefonemas. Pode ligar para ver."
Mas quase ninguém testou minha disposição. Meu celular continua ocupado por alertas de mensagens de texto, e-mails e notificações do Twitter, mas dias inteiros passam sem que toque.
Minha disposição de me recondicionar chegou tarde demais. Meus amigos e família já haviam se acostumado a viver sob as novas regras. Ligar só se for absolutamente necessário. Envie uma mensagem de texto primeiro.
Como resultado, o desejo de mudar que senti tão intensamente depois do telefonema de Stacey está se extinguindo. Minha preferência instintiva, como a de muita gente que conheço, é pelo baixo risco emocional da comunicação via texto em uma tela de computador ou do meu smartphone.
Hoje em dia eu posso até me forçar a atender telefonemas. Mas, confesso, sempre hesitarei primeiro.
Caeli Wolfson Widger é escritora em Santa Monica, Califórnia. Seu romance "Real Happy Family" sai no ano que vem pela Amazon Publishing.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Daniel Pellizzari

folha de são paulo
Gastando os beiços
Em jogos estranhos, o fascínio nasce da interação entre o que não poderia ser e o que poderia ter sido
Existem jogos estranhos, jogos imperfeitos, jogos estranhos e imperfeitos e existe "Chulip". Em jogos estranhos e imperfeitos, o fascínio nasce da interação entre aquilo que não poderia ser (mas está bem ali na tela) e aquilo que poderia ter sido (mas escapou aos desenvolvedores).
Isso está presente em "Chulip", que poderia ser um dos melhores exemplos da categoria se não fosse único a ponto de se tornar inclassificável. Criação de Yoshiro Kimura, o jogo foi desenvolvido pela Punchline e lançado para o PS2 em 2002.
Apesar da leve esquisitice da cena de abertura, o ar bucólico do início do jogo engana. Os primeiros momentos do jovem protagonista, recém-chegado na Cidade da Vida Longa, sugerem uma espécie de "Animal Crossing" no interior do Japão dos anos 1960, com cenários mais realistas e personagens humanos no lugar dos animais da franquia da Nintendo.
Quando levamos nosso anti-herói para explorar a cidade com mais cuidado, vestido de quepe e uniforme cinza de estudante, surgem indícios da mistura de fofo, sombrio e demente que caracteriza o universo de "Chulip". Num desses passeios ele encontra a garota com quem sonha na abertura, e que beija diante da Árvore dos Amantes.
Mas no mundo real ele é rejeitado por ser um pobretão desconhecido. Decidido a conquistar a menina com uma carta de amor, descobre que seu material de escritório foi roubado. Parte então em uma jornada para recuperar os itens perdidos, missão que também exige cair nas graças dos moradores locais. E em "Chulip" isso se faz com beijos.
Não é simples. Os beijos não podem ser roubados, e cada personagem --de moradores comuns, divididos entre quem mora na superfície e os habitantes subterrâneos, até alienígenas-- tem suas idiossincrasias. É preciso descobrir o que fazer para deixar cada um deles animado a ponto de permitir o beijo.
Depois de muita exploração meticulosa, diálogos absurdos (nem sempre propositais: a tradução é problemática) e fracassos em acertar o momento exato de realizar certas ações, a sensação de vitória é genuína quando uma tentativa de beijo enfim dá certo. Esse alívio é reforçado pela adorável tosquice da celebração: ao som da música-tema quase sinistra, por uns segundos somos lançados no espaço sideral enquanto a câmera gira ao redor dos beijoqueiros e fogos de artifício explodem.
Tanta dificuldade é uma das imperfeições do jogo. Na maioria das vezes não há indicação alguma do que deve ser feito para ganhar a simpatia de um personagem. Como "Chulip" se divide em períodos de 24 horas, há apenas uma chance por dia, o que não combina com uma mecânica baseada em tentativa e erro. Na edição americana, de 2007, o manual reconhece esse problema e traz um passo-a-passo.
"Chulip" vendeu mal mesmo no Japão, e nunca entendi como acabou lançado no Ocidente. Mas o jogo tem seus fãs, e prova disso é ter sido relançado na PSN em 2012. Jamais entraria em listas de melhores de todos os tempos, mas quem passou horas matutando estratégias para beijar um dinossauro cinéfilo não esquece a experiência.

Por que o game 'Candy Crush' é tão viciante?

folha de são paulo
INTERNETS
RONALDO LEMOS - @lemos_ronaldo
Um dos maiores sorvedouros de tempo de hoje é o game "Candy Crush". Se por um lado ele popularizou ainda mais o universo dos jogos "casuais", por outro o jogo é cuidadosamente desenhado para ser o mais viciante possível.
As razões são muitas. A revista "Time" fez uma boa matéria explorando os elementos do "vício" (veja aqui: ti.me/18bvpow). Cobriu boa parte dos motivos. Mas não o principal. A reportagem fala, por exemplo, que o jogo apela a instintos infantis. Ele se passa em um universo de balas e doces. E fica o tempo todo dando "parabéns" para o jogador ("delicioso", "divino" etc.).
Um dos aspectos mais diabólicos é que ele faz o jogador ter de esperar para jogar mais, bem no momento em que ele fica mais vidrado. O usuário tem cinco vidas. Quando perde todas, tem de aguardar 30 minutos para jogar novamente. Para quem fica impaciente a única solução é comprar mais vidas, com dinheiro. Com esse modelo, o jogo (que em si é gratuito) gera mais de US$ 800 mil por dia. "Angry Birds", outro game de sucesso, gera US$ 6.000 diários.
O que a matéria da "Time" não fala é que o jogo opera uma espécie de condicionamento mental do jogador. Ao impor ações repetitivas, que geram ou não recompensas, o jogador fica compelido a continuar tentando. É o mesmo sistema da chamada caixa de Skinner: se um ratinho tem de puxar uma alavanca em troca de comida, mas a comida só aparece ocasionalmente, ele passa a puxar a alavanca sem parar. Substitua o ratinho pelo jogador e a alavanca por docinhos coloridos e está revelado o segredo de "Candy Crush".

READER
JÁ ERA Todo e-mail ou mensagem ficar armazenada por quem recebe
JÁ É Snapchat, aplicativo em que fotos enviadas são destruídas depois de alguns segundos
JÁ VEM Secretink.co, um "Snapchat" para e-mails

    Penas do mensalão serão executadas por novo juiz

    folha de são paulo
    Substituído tinha histórico de conflitos com o presidente do Supremo
    Recuperado, Genoino deixa hospital e espera em casa de parente decisão do STF sobre regime domiciliar
    SEVERINO MOTAFERNANDO RODRIGUESDE BRASÍLIAO juiz titular da Vara de Execuções Penais de Brasília, Ademar Vasconcelos, não é mais o responsável pelo processo do mensalão. O caso será administrado pelo juiz substituto Bruno André Silva Ribeiro, que ontem já coordenou a transferência do ex-presidente do PT José Genoino de um hospital de Brasília para a casa de um familiar.
    Genoino, que recebeu alta do IC-DF (Instituto de Cardiologia do Distrito Federal), onde estava desde quinta-feira, deverá seguir em prisão domiciliar até que a junta médica formada a pedido do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, dê um parecer sobre seu quadro de saúde.
    Com o laudo, Barbosa definirá se Genoino, que sofre de problemas cardíacos e passou por uma cirurgia em julho, cumprirá sua pena no complexo penitenciário da Papuda ou em casa.
    Conforme a Folha apurou, o despacho de Ribeiro que autorizou a ida de Genoino para casa de um parente em Brasília impôs algumas limitações ao ex-presidente do PT. Ele poderá receber visitas, mas não poderá sair nem dar entrevistas. Além disso, terá que manter relatórios médicos atualizados e atender as autoridades judiciárias sempre que solicitado.
    Boletim divulgado ontem pelo hospital informou que o deputado licenciado "apresentou melhora dos níveis de pressão arterial e dos parâmetros de coagulação sanguínea".
    O TJ-DF (Tribunal de Justiça do Distrito Federal) não explicou oficialmente a substituição de Vasconcelos nem esclareceu se ela será temporária ou permanente.
    A relação do juiz com o presidente do Supremo, no entanto, foi marcada por conflitos desde antes do início da fase de execução das prisões dos condenados no mensalão.
    Para começar, não foi Vasconcelos quem recebeu de Barbosa a documentação necessária para a execução penal. No dia anterior à expedição dos mandados, o presidente do Supremo falou justamente com o juiz Ribeiro e lhe enviou o material.
    Como estava em férias, Ribeiro tentou entregar a documentação para Vasconcelos. AFolha apurou que ele se negou a receber os documentos, o que teria criado um mal-estar dentro do TJ-DF.
    Na ocasião, Vasconcelos deu entrevistas dizendo que não havia recebido o material e por diversas vezes destacou que o mensalão não era um caso seu, mas sim do STF.
    As declarações contrariaram Barbosa e foi preciso que o presidente do TJ-DF, Dácio Vieira, entrasse no circuito para que Vasconcelos iniciasse os procedimentos relativos à execução penal dos condenados.
    No STF, a expectativa é que Ribeiro seja mais rígido que Vasconcelos no comando da execução penal. Quando o empresário Carlinhos Cachoeira esteve preso em Brasília, por exemplo, ele negou diversos pedidos de entrevistas.
    REDES SOCIAIS
    Ribeiro, que tem 34 anos, é filho do ex-deputado distrital do PSDB Raimundo Ribeiro e de Luci Rosane Ribeiro. Sua mãe, em redes sociais, já divulgou uma foto do presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, com a seguinte frase inserida na imagem: "Eu me matando para julgar o mensalão e você vota no PT? Francamente!".

      Entrevista da 2ª - Josué Gomes da Silva

      folha de são paulo
      ENTREVISTA DA 2ª - JOSUÉ GOMES DA SILVA
      Faltam previsibilidade e transparência na economia
      COTADO PARA MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, FILHO DE JOSÉ ALENCAR DIZ QUE AJUDA MAIS FORA DO GOVERNO
      MARINA DIASDE SÃO PAULORecém-filiado ao PMDB, principal partido aliado dos petistas, o empresário Josué Gomes da Silva, 49, diz que a "falta de previsibilidade e transparência" no campo dos negócios é o maior problema da política econômica do governo Dilma.
      Para o mineiro, que defende a presidente enquanto sugere "falhas na comunicação" do ministro da Fazenda, Guido Mantega, os equívocos estão na "forma" e não na "direção" das medidas. "A hiperatividade no campo macroeconômico deixa o empresariado desconfiado", explica.
      Filho do ex-vice-presidente da República José Alencar Gomes da Silva, o presidente da Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas) tornou-se uma das apostas do Palácio do Planalto para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de para acalmar o ânimo dos colegas empresários.
      Mas Josué descarta a possibilidade. "Acho que ajudo mais fora de um ministério."
      A seguir, os principais trechos da entrevista.
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      Folha - O senhor foi sondado pelo senador Aécio Neves para ser candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB. Por que optou pelo PMDB e pela aliança com a presidente Dilma Rousseff?
      Josué Gomes da Silva - Sempre manifestei que tenho um lado, o do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff. E é natural que essa seja minha opção, afinal papai fez parte desse projeto que me parece ter inúmeros acertos. Conheço o senador Aécio, mas nunca houve sondagem.
      Qual foi a participação de Lula na sua filiação ao PMDB?
      Nunca poderia deixar de ouvi-lo. Ele sempre teve um carinho muito grande no período de convalescência do papai e sempre respeitou o papai, as opiniões do papai, dando absoluta liberdade para que o papai se manifestasse. Lula é um democrata, dá sugestões e opinião, mas não impõe nada. Ele é um grande conhecedor da política e fez sua recomendação.
      O ex-presidente Lula e o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), defendem seu nome para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O senhor está disposto a assumir o cargo?
      Só posso me sentir honrado, mas não significa que eu concorde que essa seja a melhor alternativa para o projeto, para a candidatura [da presidente Dilma]. Não houve convite. Seria honroso, mas, sinceramente, acho que ajudo mais fora de um ministério. Não me parece o melhor momento.
      O setor empresarial está descontente com o governo federal e sua nomeação no ministério poderia ser importante para a interlocução com o PIB.
      Já tem um diálogo entre o setor empresarial e o governo Dilma, não precisa de outra pessoa para ampliar isso. Não nego que o setor empresarial esteja descontente. Mas não acho que seja com o governo. Aquele espírito animal de investidor está apagado, adormecido, por causa do conjunto de circunstâncias.
      Quais circunstâncias?
      Nosso governo não foi suficientemente claro na comunicação das últimas medidas econômicas. Os empresários precisam de previsibilidade. Uma das razões de o setor estar com o instinto de investimento adormecido é porque não tem clima de transparência. Me parece que o governo está atento e não houve descontrole fiscal. Tem que focar na inflação e nas contas públicas e é o que está fazendo.
      Como é possível recuperar a confiança na economia?
      Tem que dar mostras de que é absolutamente zeloso com a inflação e com as contas públicas. Agora é melhorar a previsibilidade. Hiperatividade no campo macroeconômico deixa o empresariado desconfiado. Diminuir a volatilidade é condição essencial para que voltemos a graus de investimento necessários para o crescimento de 4% a 5%, que é o que acredito ser o potencial brasileiro.
      Como o senhor avalia a política econômica do governo?
      Tem mais acertos do que erros e, normalmente, só erra quem faz. Talvez na vontade de fazer muito, alguns erros tenham sido cometidos, mas o mais importante é se dar conta e corrigir a rota.
      Empresários dizem que a política econômica do governo Dilma causou um desequilíbrio fiscal que atingiu o pior resultado para o mês em 17 anos. O senhor concorda?
      O mundo vê um aumento das despesas públicas desde 2008. Em todos os países há expansionismo fiscal. O Brasil, que tem uma dívida pública líquida sobre o PIB da ordem de 35%, não precisava mais gerar superavit primário da magnitude anterior. Ao diminuir o superavit primário, o governo reduz a carga tributária sobre o PIB. Pode-se questionar a forma. O governo não anunciou de forma clara e aí anuncia uma meta um pouco inviável. Depois tenta fechar as contas de maneira legal, mas parecem maneiras arbitrárias e uma certa contabilidade criativa.
      Alguns empresários têm se aproximado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que deve concorrer à Presidência em 2014. Em que medida isso deve preocupar o governo e por que seus colegas parecem atraídos por ele?
      O novo desperta curiosidade, ainda que Campos seja um político conhecido que tem feito um governo admirável. Com apoio do governo federal, é verdade. Acho que ele vai travar um bom debate.
      Acha que Dilma será candidata em qualquer circunstância?
      Sim. A presidenta tem todos os méritos e vai se eleger.
      Não vê nenhum cenário em que Lula seria o candidato?
      Acho que não. Claramente o presidente Lula está trabalhando com afinco pela candidatura de Dilma e Temer.
      Um segundo governo Dilma seria diferente do primeiro?
      A marca desses onze anos é desenvolvimento com distribuição de renda e justiça social. Isso melhora a qualificação da população. Por isso o Brasil está crescendo e é nesse projeto que eu acredito.
      O senhor disse contribuir mais para a candidatura de Dilma fora do ministério. Seria como candidato em Minas Gerais? Como conciliar atividade empresarial e atuação política?
      Não vejo incompatibilidade entre as atividades porque minha militância política é como cidadão. Minha defesa desse modelo, estando fora do governo, é mais legítima. Não estou buscando cargo. Obviamente não falo que não disputarei cargos, mas nunca tratei nem pensei nisto. Estou na política porque acredito.
      Sua entrada no PMDB envolve algum tipo de compromisso com o financiamento dos candidatos do partido em 2014?
      Nunca foi discutido candidatura, imagina se foi discutido algum aspecto financeiro para a campanha. Nunca.
      É a favor do financiamento exclusivamente público para campanhas? Acha que isso inibiria o caixa dois, como dizem os defensores da ideia?
      O caixa dois não deveria existir com financiamento público nem privado. Se o cidadão está disposto legitimamente a participar da política, pode contribuir com um partido. Não podemos admitir abuso de poder econômico, ou seja, financiamento de grandes empresas que tenham interesses específicos.
      O que achou do julgamento do mensalão? E as prisões?
      Não conheço os autos do processo, então, qualquer opinião acabaria tendo um filtro de ideias preconcebidas e prefiro evitar equívocos.
      Ficou demonstrado no julgamento que o antigo PL, partido do seu pai, recebeu R$ 9 milhões após a aliança com o PT. Não há evidência de que seu pai tenha participado das negociações, mas seria razoável supor que ele tenha se interessado em saber o que houve. Vocês conversaram sobre isso?
      Papai deu declarações públicas sobre isso. Na aliança entre PT e PL, com o PT na cabeça de chapa, ficou combinado a distribuição de recursos da arrecadação de maneira a permitir que o PL financiasse seus candidatos a deputado. Não era troca de dinheiro. Agora, como foi arrecadado, distribuído e o que foi feito com o dinheiro, isso não cabia ao presidente Lula nem ao papai como candidatos, cabia aos tesoureiros.
        RAIO-X - JOSUÉ GOMES DA SILVA
        Empresário, 49 anos
        NASCIMENTO
        25 de dezembro de 1963 em Ubá, Minas Gerais
        FORMAÇÃO ACADÊMICA
        Engenharia civil na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e direito na Faculdade Milton Campos. MBA na Universidade de Vanderbilt, no Tennessee
        CARREIRA
        Funcionário de carreira, assumiu a presidência da Coteminas em 1994