Minha prima Stacey, de San Francisco, ligou recentemente. Não conversávamos desde que ela me visitou, no mês passado, e eu já estava com saudades dela, mesmo. Quando o telefone tocou, eu estava no escritório, lendo e-mails e acompanhando minha conta do Twitter --de maneira alguma ocupada demais para conversar.
Mas eu vi o telefonema chegar e não peguei o celular. Tampouco ouvi a mensagem de voz que ela deixou. Em vez disso, disparei uma mensagem de texto. Pedi desculpas por estar ocupada demais para atender e propus combinarmos uma hora para conversar no dia seguinte.
Por que mentir? Eu tinha tempo para conversar. Tinha privacidade e o silêncio que raramente encontro em minha casa repleta de crianças pequenas e de caos entusiástico com afazeres.
Algumas das melhores conversas que tive na vida foram com Stacey. Mas meu reflexo instantâneo foi não atender o telefonema dela.
Algumas das melhores conversas que tive na vida foram com Stacey. Mas meu reflexo instantâneo foi não atender o telefonema dela.
Hoje em dia, raramente atendo telefonemas. Meus contatos por telefone são conduzidos via mensagens de texto e mídia social. No caso dessas mídias, respondo muito rápido. Cada sininho que anuncia a chegada de um SMS ou notificação de mensagem no Twitter me faz sentir como se tivesse um pequeno presente me esperando.
O toque do telefone, por outro lado, é como uma potencial demanda de tempo e paciência que não sei se quero despender. O telefonema de Stacey se enquadrou justamente nessa descrição.
Ela está passando por momentos difíceis. O namoro dela está chegando ao fim, depois de cinco anos, e ela está desempregada há 18 meses. Embora não suporte passar nem mais um minuto com seu quase ex, lhe falta dinheiro para arriscar uma incursão solitária no exorbitante mercado de habitação que existe em San Francisco.
Stacey não respondeu à minha mensagem de texto, mas isso não me preocupou. Nós logo colocaríamos a conversa em dia, como sempre.
Uma semana mais tarde, ela me enviou uma mensagem de texto perguntando se podíamos falar ao telefone no dia seguinte, às 9h15 ou às 14h. Eu estaria ocupada, naquele dia, preparando um evento para minha empresa no começo da noite. Mas o fato de que Stacey enviou uma mensagem antes de ligar me fez sentir uma mudança. Um tom mais leve. Menos intrusivo. Respondi que ligaria para ela às 14h.
Quando enfim conversamos, ela perguntou: "Você não ouviu minha mensagem da semana passada, ouviu?"
"Uhn...", murmurei.
"Eu sei", ela suspirou. "Você nunca ouve as mensagens Pode apagar. Está tudo bem".
Conversamos por uma hora, no geral sobre seu relacionamento moribundo e sua situação de moradia, como eu imaginava. Mas foi uma conversa fácil. Ela havia acabado de conseguir aprovação para alugar um pequeno apartamento. A perspectiva de ser solteira de novo começava a oferecer vislumbres de possibilidades novas, em lugar de apenas solidão.
Mais tarde, ouvi a mensagem que ela havia deixado uma semana antes. O choro era tão forte que eu mal conseguia entender sua voz. Ela estava no fundo do poço, desesperada com sua vida, com a situação geral que vivia e não com algum problema específico. Para ela, era como se estivesse sendo atacada de todas as direções. E Stacey precisava que eu lhe fizesse companhia ao telefone, e dissesse que tudo ficaria bem.
Ouvir a mensagem me encheu de culpa. Quando eu me tornei uma pessoa que prefere o que é mais conveniente em termos emocionais, e deixa de lado as necessidades das pessoas mais próximas?
Porque é isso que evitar telefonemas significa, na verdade: postergar o envolvimento direto que o contato com uma vez humana requer.
Eu tinha simplesmente adotado por comodismo uma nova norma: se ninguém mais atende telefonemas, por que eu atenderia?
Tendo aprendido a lição, resolvi que mudaria. A menos que estivesse realmente ocupada, prometi que começaria a atender telefonemas sempre que eles surgissem, apesar das perturbações que a conversa pudesse causar. Estava decidida a me tornar uma amiga mais espontânea e generosa do que fora.
Mencionei esse propósito, de passagem, a muita gente, nas semanas posteriores à mensagem de Stacey, inclusive a ela. "Adivinhe! Agora vou atender todos os telefonemas. Pode ligar para ver."
Mas quase ninguém testou minha disposição. Meu celular continua ocupado por alertas de mensagens de texto, e-mails e notificações do Twitter, mas dias inteiros passam sem que toque.
Minha disposição de me recondicionar chegou tarde demais. Meus amigos e família já haviam se acostumado a viver sob as novas regras. Ligar só se for absolutamente necessário. Envie uma mensagem de texto primeiro.
Como resultado, o desejo de mudar que senti tão intensamente depois do telefonema de Stacey está se extinguindo. Minha preferência instintiva, como a de muita gente que conheço, é pelo baixo risco emocional da comunicação via texto em uma tela de computador ou do meu smartphone.
Hoje em dia eu posso até me forçar a atender telefonemas. Mas, confesso, sempre hesitarei primeiro.
Caeli Wolfson Widger é escritora em Santa Monica, Califórnia. Seu romance "Real Happy Family" sai no ano que vem pela Amazon Publishing.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Nenhum comentário:
Postar um comentário