domingo, 20 de outubro de 2013

Mauricio Stycer

folha de são paulo
Piada de publicitário
O que causa desconforto em 'Agora Sim!' é a tentativa de mimetizar uma sitcom americana
Em vigor desde setembro de 2012, a lei que obriga a exibição de conteúdo nacional na TV paga tem dado origem a diferentes experiências em matéria de seriados, algumas mambembes, nitidamente com o objetivo de apenas preencher a cota que a legislação exige, e outras bem-intencionadas, mas ainda em busca do formato ideal.
Nesta segunda categoria, um programa da safra recente que merece menção é "Agora Sim!", sitcom realizada pela produtora brasileira Mixer para o canal Sony sob a supervisão da matriz, em Los Angeles.
O seriado conta a história da Bitt Propaganda, uma agência de publicidade fracassada, cujo dono, o sorridente Maurílio Bittar (Fábio Herford), ignora o tamanho da própria mediocridade e vende entusiasmo para os seus comandados.
O primeiro episódio mostra a chegada da Bitt à nova sede, uma modesta casa térrea localizada em frente ao prédio de uma das maiores agências de publicidade do país. A ideia, explica Bittar à equipe, é buscar inspiração, quem sabe, respirando o mesmo ar da concorrência.
Em suas trapalhadas, o comandante da agência conta com a ajuda de tipos pouco originais, mas sempre úteis em comédias ambientadas dentro de um escritório: a dupla de criação nada criativa, a estagiária inteligente, a secretária gostosa, a diretora administrativa carente e o faz-tudo bajulador do chefe.
Criada por gente do meio publicitário (a ideia original é de Marcello Serpa, da AlmapBBDO), a série tem o grande mérito de rir do próprio mundo. "Minha primeira medalha: bronze na corrida de saco na gincana da escola", exibe Bittar, orgulhoso, aos funcionários.
Fábio Herford é um ótimo ator e está criando um tipo muito bom. O texto, ainda que irregular, é inteligente e provocador. No terceiro episódio, por exemplo, a agência precisa criar a campanha para uma linha de produtos de beleza. Depois de algumas trapalhadas, Bittar decide apostar em uma "ideia revolucionária": uma campanha de produtos de beleza destinada aos velhos.
O que causa maior desconforto em "Agora Sim!" (exibida às quintas-feiras, às 22h) é a sua tentativa de mimetizar uma sitcom americana --na maneira de filmar, enquadrar e editar a série. Quem vê o programa distraído pode achar que está assistindo a um produto estrangeiro dublado.
Num primeiro momento, "Agora Sim!" me lembrou muito "Vida de Estagiário", a boa série criada a partir das tiras de Allan Sieber, cartunista da Folha. O programa, exibido na TV Brasil e na Warner, também se passa em uma pequena agência de publicidade, a Almeida, Bronson & Lewis (AB&L), com personagens tão caricatos e engraçados quanto os da Bitt Propaganda. Uma das diferenças é o acabamento. Para o bem e para o mal, "Vida de Estagiário" não parece um seriado americano.
Falando em piada de publicitário, não poderia deixar de mencionar a novela "Sangue Bom", da Globo, que está chegando ao fim. Um dos melhores núcleos da trama é justamente o que trata, com irreverência e deboche, do universo da publicidade.
Por seis meses, a história de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari mostrou as aventuras de Natan (Bruno Garcia), um publicitário trapalhão, meio boçal, ladrão de ideias alheias (inclusive da própria mulher) e cujo maior sonho era virar cineasta. Um tipo e tanto.

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