sábado, 23 de novembro de 2013

Rapper afegã participa de festa literária em comunidade do Rio

folha de são paulo
Paradise Sorouri, que denuncia a misoginia em suas canções, faz debate e show na Flupp
A dupla 143Band, com seu noivo, o cantor Diverse, fala hoje em mesa com poeta afegão e se apresenta amanhã
MARCO AURÉLIO CANÔNICODO RIONão há profissão fácil na República Islâmica do Afeganistão, um dos países mais pobres e mais perigosos do mundo, mas decidir ser cantora, de um gênero ocidental (rap/hip hop), com letras feministas, é tornar-se pária.
"O que mais me incomoda é ver que mesmo as mulheres me xingam por algo que estou fazendo para elas. Sendo assim, o que esperar dos homens?", diz Paradise Sorouri, 28, rapper afegã que ganhou destaque internacional por suas canções que denunciam a misoginia do país.
Ela veio ao Rio acompanhada do noivo, o também rapper Ahmad Marwi, 27, para participar da Festa Literária das Unidades de Polícia Pacificadora (Flupp), que acontece na comunidade de Vigário Geral, na zona norte.
Ao lado do poeta afegão Suhrab Sirat, eles participam da mesa "Occupy Afeganistão", hoje, às 11h, e fazem o show de encerramento, amanhã, às 20h45.
Filhos de afegãos que se refugiaram no Irã durante os conflitos políticos da década de 1970, Paradise e Ahmad --que usa o nome artístico Diverse-- nasceram no país persa, mas sempre mantiveram laços com o Afeganistão, para onde se mudaram em 2007.
O casal se conheceu no ano seguinte, na Universidade de Herat, onde Diverse era professor de informática e Paradise, secretária.
"Começamos a namorar, o que era estritamente proibido em Herat, e formamos a 143Band", diz Diverse, que conversou por e-mail com a Folha, como sua noiva.
Cantando em persa --e em sua variante afegã, o dari--, o duo foi investindo suas economias na carreira.
O estilo e o visual do casal são claramente inspirados no modelo americano de hip-hop, o que é comprovado pelas influências que eles citam: Eminem, Jay Z, Tupac.
Paradise sentiu desde o início o perigo de se lançar na carreira artística num país onde a presença do Taliban ainda tem força: por questões de segurança, foi obrigada a desistir da universidade e se mudar para o Tadjiquistão.
"Eles me xingavam de puta' quando estava no palco, me olhavam feio, como se eu estivesse fazendo algo errado. Me tratavam muito mal."
Foi no país vizinho que gravou a canção "Faryade Zan" ("O Grito de Uma Mulher"), cujo vídeo mostra a rapper sendo sequestrada e torturada --algo que, felizmente, não chegou a acontecer.
"Já recebi muitas ameaças e fui agredida nas ruas, mas ainda não chegou a isso. Mas é algo que acontece com muitas mulheres no país, que são até vendidas", diz ela, que voltou ao Afeganistão após três anos e vive em Cabul.
Do Brasil, terceiro país em que se apresentam, não conhecem nada além de "futebol" e "selva", mas se dizem surpresos com o convite e felizes por "representar internacionalmente o Afeganistão".

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