terça-feira, 19 de novembro de 2013

Rosely Sayão

folha de são paulo
A batalha do sono
Assim que nasce um bebê, os pais já sabem o que lhes espera: ter de acordar durante a noite
Ah, temos feito tantas confusões com os mais novos! Ensinamos a eles o que eles ainda não precisam saber ou o que ainda não têm condições de entender, e não permitimos que aprendam e experimentem muitas coisas que deveriam ter a chance de conhecer, por exemplo.
Vamos tomar um exemplo bem simples que trata de bebês ou de crianças bem pequenas: o sono. São poucos os pais com filhos com até cinco anos, mais ou menos, que não travam verdadeiras batalhas por causa do sono, ou melhor, da falta de sono das crianças.
Sono picado, pesadelo, fome, desejo de ficar ao lado do pai ou da mãe etc.: tudo conspira para que os pais não consigam dormir a noite inteira e arquem com cansaço, irritação, estresse e outros males no dia seguinte. Vamos conversar sobre o sono das crianças, então.
Assim que nasce um bebê, os pais já sabem o que lhes espera: ter de acordar durante a noite. E, no início, acordam sem reclamar porque sabem que isso faz parte do pacote de ter um filho. O bebê quer mamar, a fralda suja o incomoda ou outra coisa qualquer é motivo para o bebê chorar. Chamar quem o atenda.
E, em geral, a mãe o atende de pronto. É que, nesse início de uma nova vida familiar --não importa se é o primeiro filho ou não-- a vida é um turbilhão de trabalho braçal e de intensas emoções. "Será que o bebê está bem? Será esse choro de dor ou de fome? Acho que esse bebê é manhoso. Devo pegar no colo ou vou deixá-lo mal-acostumado?"
Todos os dias, as mães se fazem essas e outras dezenas de perguntas. Elas estão aprendendo a interpretar o choro do bebê e não têm certeza de nada. Têm receios, angústias, inseguranças. E delícias também, é claro. E é por isso, principalmente, que atendem ao chamado do bebê imediatamente.
Acontece que também o bebê está aprendendo a viver num mundo bem diferente do que viveu anteriormente, totalmente protegido e assistido sem ter de nada fazer. Ele está aprendendo, inclusive, a se conhecer. Não do modo que nos conhecemos, é claro, mas é o início de um autoconhecimento.
E é assim, sendo atendido sempre de imediato quando chora, que ele aprende, por exemplo, que precisa da mãe sempre que acordar. Mas ele nem sempre precisa. Por isso, é bom lembrar que criança, mesmo ainda bebê, não é de cristal. Ele não vai se quebrar com o próprio choro ou grito.
Deixar o bebê chorar um pouco antes de atendê-lo não faz mal: permite que ele volte a dormir, se for o caso, ou que continue a chamar pela mãe até que ela apareça. E isso faz com que o bebê não perca sua autonomia de sono, que perceba que pode acordar e dormir sem precisar de ajuda. Quantos de nós acordamos no meio da noite e voltamos a dormir em seguida? Isso pode acontecer com o bebê também.
Claro que isso não significa abandonar o bebê ou a criança um pouco maior chorando desesperadamente, como recomendam alguns manuais. Essa conduta vale para crianças que já aprenderam a ir para a cama dos pais no meio da noite.
Mesmo assim, mães e pais com crianças pequenas precisam lembrar que o sono nos primeiros anos de vida é inconstante mesmo: o filho pode voltar a acordar no meio da noite a qualquer momento. A boa notícia é que os filhos crescem e, portanto, as questões que os pais precisam enfrentar mudam.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário