No andar das passeatas
Por que a Polícia Militar do Rio não se empenha em prender os ativos da violência, não se sabe
A sucessão de passeatas de professores seguidas de violência caótica no Rio tem muito de estranho.A frequência das manifestações desses professores já as tornou sem efeito e sem sentido. Continuam, no entanto. Essa movimentação e sua liderança nem enfraquecem o governo municipal nem levam a negociações com perspectiva de acordo.
A liderança desse segmento de professores municipais é exercida pelo Sepe, que já teve posta em dúvida, além da sua dimensão representativa, a condição de plena validade como Sindicato Estadual de Professores de Ensino. Há outro sindicato, não comprometido com a sucessão de passeatas. Por mais de uma vez, o comando dessa movimentação declarou apoio à ação "black bloc". Nas vésperas da passeata de anteontem, o Sepe conferiu à turma do "black bloc" a condição de vanguarda do professorado municipal em greve há dois meses.
Mais do que o aproveitamento circunstancial de tais passeatas pela violência "black bloc", portanto, há uma identificação que permite a suspeita de ser, de fato, coordenação. E, sendo assim, a possibilidade de ser um motivo a mais para a exacerbação da resistência a negociações promissoras para o fim da greve.
O capítulo das reivindicações e ofertas não é menos sugestivo. O pedido inicial do Sepe levaria os professores a um vencimento mensal, no fim da carreira, que hoje seria superior a R$ 124 mil. A leviandade da proposta ficou reconhecida pelo próprio Sepe, ao admitir o erro de suas contas. Mas a irresponsabilidade só encolheu, não desapareceu, porque a nova tabela leva a R$ 62 mil.
O plano de carreira e vencimentos proposto pelo município, aprovado pelos vereadores e posto em suspenso pelo Judiciário, está longe de empolgante. Mas não é ruim. Só o fato de reconhecer uma carreira aos professores, com a escalada por tempo de serviço e atrações para o regime de 40 horas semanais, já é um avanço importante. Mas o Sepe exige que, em vez de chegar a R$ 9 mil e tanto, entre vencimento e benefícios no último grau da escala, chegue a R$ 24 mil e tanto, irrealidade útil só como obstáculo atual.
No outro extremo do observável está a conduta da polícia. Quando a baderna arrefeceu, a PM enfim dispôs-se a usar soldados em número suficiente para fazer um cerco e prisões, dadas como seis dezenas. Mas de pessoas que há dias estavam acampadas diante da Câmara Municipal, em cujas escadas sentavam-se ao serem detidas. Não era gente da ação "black bloc". Dessa, se houve prisão, foi em número insignificante.
Por que a PM não se empenha em prender os ativos da violência, não se sabe. A eles é que interessaria prender para saber de quem se trata, de onde veem, a quem seguem e por que a sanha de destruir sinalizações urbanas, monumentos, partes de prédios públicos, portanto, bens da cidade. Presos foram os acampados que emporcalham, eles mesmos emporcalhados, mas lá estavam por dias e dias de tolerável passividade.
Não para completar, que faltam muitas, mas, para apimentar as estranhezas, apareceu agora a primeira referência a tiros na agitação, anteontem no Rio. Os disparos vistos na imagem são dirigidos, não contra o nível de pessoas na rua, nem para o alto propriamente, mas para o que poderia ser a altura da copa de árvore urbana. Dois atiradores agitados, na imagem fugaz, em lugar não reconhecível. E, depois, um jovem com braços quebrados, dizendo-se vítima de tiro às 8 da noite na manifestação, mas só se apresentando a um hospital às 11 da noite.
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