Quem precisa de balada?
FOLHA DE SÃO PAULO
Muitos pais de adolescentes --mães, principalmente-- estão às voltas com a questão das baladas que os filhos dizem querer ir. E elas pagam muitos micos por conta disso, segundo as palavras de uma delas.
Elas vão pesquisar as baladas para saber se são consideradas boas ou se costumam apresentar problemas dos mais variados tipos, procuram saber se o clima é violento e quem costuma frequentar.
Aqui, elas procuram identificar grupos de determinadas escolas, bairros e até mesmo de classes sociais. Elas querem evitar que os filhos participem de grupos que elas consideram muito diferentes dos deles.
É que muitas delas consideram inevitável que o filho frequente as casas que produzem tais eventos e não sabem como evitar, mesmo quando elas mesmas percebem impedimentos. A idade, por exemplo.
É que muitas delas consideram inevitável que o filho frequente as casas que produzem tais eventos e não sabem como evitar, mesmo quando elas mesmas percebem impedimentos. A idade, por exemplo.
Muitas casas de baladas só permitem a entrada de maiores de 18 anos. Mas, sabemos que os jovens conseguem facilmente documentos falsificados para ter acesso à balada que ele diz tanto querer ir. E muitas mães não só sabem disso, como até colaboram para que os filhos consigam tais documentos.
O envolvimento dessas mães com o assunto "baladas" é tão intenso que parece ser caso de extrema necessidade o filho estar presente nesse tipo de festa. Será mesmo? Vamos pensar a esse respeito.
Primeiramente, vamos lembrar que os jovens, hoje, estão totalmente submetidos à ideologia do consumo. "Consumo, logo existo" tem sido uma máxima a nos guiar em nossas vidas. Logo, na deles também.
Frequentar baladas, ingerir bebida alcoólicas muitas vezes além do limite físico --e insisto no termo ingerir em lugar de beber, porque a maioria deles ainda não sabe desfrutar de uma bebida alcoólica--, repetir os mesmos programas que os colegas, ir a lugares para "ver e ser visto": estas e outras possibilidades parecem, aos adolescentes, escolhas que são deles.
Mal sabem eles que não são eles que escolhem e sim que são os escolhidos para consumir tudo isso.
Será que eles gostam tanto assim desses programas? Tenho cá minhas dúvidas, e eles também.
Muitos até dizem que é isso o que eles têm de fazer para se divertir, relaxar do estresse da vida, ter prazer ao ficar com garotas ou garotos.
Que eles não se conheçam bem, que não percebam que ir a uma balada não é uma programação vital, que não entendam criticamente o que se passa na cabeça deles e no mundo que os rodeia e tenham dificuldades para encontrar outros tipos de lazer é compreensível.
Mas, tentar entender as razões que muitas mães de adolescentes têm para se envolver com unhas e dentes com esse anseio dos filhos, já é mais complexo.
Sim, elas também estão submetidas ao consumo e aderiram à ideia de que os filhos precisam --precisam!-- ter seus momentos de diversão e que isso significa ir à balada.
E elas fazem de tudo para propiciar esses momentos aos filhos, mesmo que lá no fundo discordem do fato, tenham receios.
Desagradar o filho? Permitir que ele fique de fora do estilo de vida dos colegas próximos? Enfrentar a resistência dele ao não?
Para muitas, tem sido mais tranquilo atender ao pedido do filho, mesmo contra a vontade.
Mas, se elas soubessem que há coisas muito mais importantes rondando a cabeça desses jovens --como o futuro próximo, a dificuldade de amar e de se relacionar, por exemplo--, certamente elas não dariam a menor importância aos pedidos deles para ir à balada.
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Cotidiano".
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