Ao sabor de uns poucos
RIO DE JANEIRO - Longe do Brasil há um mês, e sem celular, internet, Facebook, Twitter ou telepatia, dependi de amigos para saber a quantas íamos. A imprensa europeia não nos acusa em seu radar, e o total de notícias que li sobre o país foi perto de zero --sinal, pelo menos, de que estávamos livres de tufões, tsunamis, terrorismo e tráfico de criancinhas louras.
Já a Alemanha, por onde andei nesse período, completou sua ocupação do noticiário internacional com o estrilo de sua primeira-ministra, Angela Merkel, ao saber-se espionada pelos americanos --a mesma denúncia que a presidente Dilma fizera há pouco, sem repercussão. Mas não é só nos diferentes pesos de Merkel e Dilma que os dois países podem ser comparados.
Berlim, por exemplo, continua esmagadora em sua oferta de museus, teatros, bibliotecas, centros culturais e salas de concerto --que outra cidade tem três óperas? Sem falar na presença da história em suas ruas, na forma de mausoléus, monumentos, placas e exposições ao ar livre, por toda parte. A ninguém é permitido ignorar os 12 anos de ocupação pelo nazismo e mais de 40 pelo comunismo, e tudo que de horrível aconteceu neles. É uma expiação cruel, mas, enquanto durar, Berlim será um bastião da liberdade.
A história reina também na Dussmann, uma livraria de fazer cair o queixo, em que as biografias, prós, contras ou neutras, autorizadas ou não, tomam paredes inteiras --de políticos, militares, escritores, atletas, cientistas, artistas, vivos ou mortos. Lá é assim: se a vida de alguém vale minimamente a pena, os alemães têm o direito de aprender sobre e com ela.
De volta ao Brasil, o sentimento é de vergonha e frustração ao ver que, aqui, esse direito continua ao sabor de uns poucos que, ciosos de uma vaga privacidade, não se importam de obstruir a história e consolidar nosso atraso.
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