Em 2012, foram 1.209 ocorrências registradas pelos serviços estadual e federal responsáveis pela anotação desses dados
Abuso e exploração sexual, maus-tratos, abandono, violência psicológica e física estão entre ocorrências
São casos de maus-tratos, abandono, violência psicológica, violência física, abuso e exploração sexual, além de apropriação de recursos financeiros dos deficientes.
Em 2011, quando o serviço federal Disque 100 começou a recolher esse tipo de denúncia, 208 relatos foram registrados pelos atendentes.
O número, que se refere apenas ao Estado de São Paulo, saltou para 558 em 2012. Se somado aos registros do 181, o Disque Denúncia estadual, em funcionamento desde 2012, o total de ocorrências é de 1.209.
Diante dos dados, uma ação integrada de prevenção e combate à violência contra pessoas com deficiência foi lançada no começo do mês.
Seis secretarias de Estado (Saúde, Direitos das Pessoa com Deficiência, Segurança Pública, Justiça e Cidadania, Educação e Assistência Social), além da Defensoria Pública e do Ministério Público, trabalharão em conjunto.
AÇÕES
Serão 23 ações que envolvem: aperfeiçoar o sistema de notificação e aumentar os canais de denúncia; informar e treinar servidores públicos sobre o que é deficiência, como identificá-la e qual encaminhamento deve ser feito quando ocorre, além de prevenção e atendimento.
Também estão previstas campanhas de conscientização pública, oferta de apoio psicológico e encaminhamento de vítimas, familiares e até de agressores a cursos profissionalizantes ou programas de geração de renda.
INVISIBILIDADE
"Ainda é muito grande a invisibilidade dessa situação de violência para a sociedade. É preciso mostrar que ela existe para poder combatê-la, a exemplo do que foi feito para a proteção da mulher, da criança", afirma Linamara Rizzo Batisttella, secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
O levantamento revelou que, em 72% dos casos, o agressor é um membro da família da vítima. Já em 14% das ocorrências, ele é um agente público. Em 11% das denúncias, a violência foi cometida por uma pessoa sem relação com o deficiente.
DIFÍCIL DE DENUNCIAR
"Os dados mexem com a humanidade de qualquer um e, infelizmente, ainda são subnotificados. Um surdo que queira fazer uma denúncia vai ter muita dificuldade, assim como alguém com deficiência intelectual. Isso terá de ser mudado, e rapidamente", diz a secretária Linamara Rizzo Battistella.
Psicóloga diz sofrer violência dentro e fora de sua casa
DE SÃO PAULO
Desde o aneurisma que afetou os movimentos de todo o lado esquerdo de seu corpo, a psicóloga Fátima (nome fictício), 56, afirma que vem sofrendo diversos tipos de violência, tanto fora como dentro de sua própria casa.
"À medida que fui saindo para o espaço público, fui ficando mais exposta à agressão tanto provocada pelas barreiras físicas como pelas barreiras de atitude das pessoas", diz a psicóloga.
Fátima convive com a deficiência física que resultou do aneurisma há nove anos.
A última situação enfrentada por ela foi em uma estação de metrô. O elevador do prédio estava quebrado e Fátima pediu apoio da equipe da estação para subir a escada rolante, o que ela não conseguiria fazer sozinha.
"Pedi uma cadeira de rodas, porque não conseguiria andar até um ponto de táxi só com o apoio da minha bengala. Fui ignorada, mas insisti, até entrar em conflito com a segurança."
O caso acabou parando na delegacia e está sendo apurado pelo Metrô.
A psicóloga afirma ter sido agredida, não compreendida e desrespeitada.
TAPA NA CARA
A mobilidade reduzida também acabou gerando um episódio de conflito para Fátima durante uma situação familiar rotineira.
"Após reclamar que, ao final de um almoço, deixaram toda a louça suja para eu lavar, acabei levando um tapa no rosto de meu marido", conta a psicóloga.
"Hoje percebo que qualquer reação de uma pessoa com deficiência vira, para os outros, sinônimo de loucura", diz Fátima. (JM)
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