domingo, 13 de outubro de 2013

Pão e Circo - Paula Cesarino Costa

folha de são paulo
Pão e Circo
RIO DE JANEIRO - A farra era total sob a tenda montada no verão carioca de 1982. Um grupo de jovens, magros e animados, inventou um jeito diferente de levar ao público teatro, circo, música, dança.
O documentário "A Farra do Circo", de Roberto Berliner e Pedro Bronz, não pretende contar a história definitiva do Circo Voador e da geração capitaneada por Perfeito Fortuna. Mas, ao mostrar parte dela, revela como, há 31 anos, um grupo de malucos beleza decidiu erguer uma lona no Arpoador e criar um espaço cultural onde, de dia, 300 jovens eram funcionários, professores e praticantes das mais diversas artes.
A ideia era boa, mas durou pouco. O poder público apontou irregularidades e fechou o lugar. Atrapalhou o que se construía. A lona foi para a Lapa, região degradada do centro.
Premiado no Festival do Rio e programado para a Mostra de Cinema de São Paulo, "A Farra do Circo" mostra como a originalidade artística pode dar vigor a uma cidade. No caso, como o Circo Voador deu início à revitalização (que ainda iria demorar) da Lapa, hoje lotada e moda entre cariocas e turistas.
Só com imagens de arquivo, algumas precárias, o documentário --sem usar o corte para o close de alguém careca, gordo ou ressentido contando como era ser cabeludo, magro e sonhador-- registra como uma trupe desorganizada, sem dinheiro e quase sem patrocínio mudou o panorama da cultura carioca.
Ali surgiu o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone --que trouxe uma lufada de novidade num país sob o efeito dos anos de ditadura--, com gente como Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Evandro Mesquita, Deborah Colker, Gringo Cardia e Chacal.
O filme tem o mérito de lembrar que cultura é arma de transformação. O Circo Voador parecia um projeto de desbunde de quem ganhava dinheiro para o pão de cada dia, mas foi uma ação política efetiva.

    Helio Schwartsman

    folha de são paulo
    Imaginando biografias
    SÃO PAULO - Que me perdoem os músicos que defendem a necessidade de autorização do retratado para a publicação de biografias, mas essa é uma posição insustentável. Ela contraria não só o ordenamento constitucional como também princípios elementares da razoabilidade. Alguns experimentos mentais mostram isso com clareza.
    Imagine um vilão bem malvado, tipo Hitler ou Stálin. Imagine ainda que ele esteja vivo e morando no Brasil. Pelo artigo 20 do Código Civil, ninguém pode escrever e comercializar uma biografia desse personagem sem seu aval. E será que um retrato de Hitler que contasse com sua aprovação poderia ser fiel à história?
    O problema, obviamente, não está restrito a biografias. Imagine que um historiador tenha redigido uma obra sobre acontecimentos recentes do país e, de passagem, ele tenha citado um político que, por alguma razão, não tenha ficado bem na foto. Bem, pelo nosso Código Civil, esse representante do povo, se julgasse que sua honra, boa fama ou respeitabilidade foram atingidos, poderia pleitear e obter da Justiça a proibição do texto. E isso mesmo que ele não seja o fulcro da obra e os fatos relatados sejam rigorosamente verdadeiros.
    Vamos agora dar asas à imaginação. Suponha que alguém decida publicar um índice de todas as condenações judiciais sofridas por um homem público que não goza do favor da mídia, com hiperlink para as sentenças. Obviamente, a vítima dessa biografia tecnológica poderia considerar que sua reputação foi prejudicada e recorrer aos sempre justos magistrados. O que eles deveriam fazer? Deveriam censurar uma publicação que remete a documentos oficiais?
    Não tenho nada contra o biografado abocanhar parte dos lucros. Mecanismos de mercado já incentivam acordos, uma vez que é muito mais fácil escrever esse tipo de obra com a ajuda da pessoa retratada. Resta óbvio, porém, que a regra vigente, na forma em que está, é absurda.
    helio@uol.com.br

      Agora falando sério - Suzana Singer Folha Ombudsman

      OMBUDSMAN
      Agora falando sério
      Polêmica sobre biografias está desequilibrada, com muito espaço para críticas aos ídolos da MPB, que se esquivam ao debate público
      A polêmica sobre as biografias pegou fogo. O estopim foi a capa da "Ilustrada" que noticiava a adesão de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque à cruzada contra a liberação das biografias (5/10).
      Os compositores, aliados a Roberto Carlos e seu antigo parceiro Erasmo, Milton Nascimento e Djavan, formaram a associação Procure Saber para defender interesses de classe e também os direitos do biografado e de seus herdeiros.
      A legislação preserva a liberdade de expressão, mas, ao mesmo tempo, permite que uma celebridade proíba uma obra que "lhe atinja a honra, a boa fama, a respeitabilidade ou que se destine a fins comerciais". Foi o que fez Roberto Carlos ao impedir a circulação de um livro sobre sua vida há seis anos.
      A Associação Nacional dos Editores de Livros, com o apoio de dezenas de intelectuais, tenta mudar a situação atual através de uma ação no Supremo Tribunal Federal. Também há um projeto de lei tramitando na Câmara.
      Para rebater a acusação de que seria a favor da censura, o Procure Saber afirma que não quer proibir nada, mas discutir formas de preservar a privacidade dos famosos.
      Os artistas não aceitam o argumento de que quem se sentir incomodado por uma biografia pode entrar na Justiça pleiteando indenização. Dizem que, no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, as penas do Judiciário não são altas a ponto de terem um caráter punitivo ou compensatório.
      Do lado dos que defendem a liberdade de expressão dos escritores, não falta gente querendo falar. Na quarta-feira, a "Ilustrada" publicou uma longa carta aberta a Caetano Veloso, escrita pelo americano Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector. Ele defendeu que a liberdade ou é absoluta ou não existe, comparou Caetano a um "velho coronel" e o incitou a voltar para o "lado do bem".
      Em discurso na Feira de Frankfurt, o escritor Laurentino Gomes disse que impor restrições a biografias é "engessar a História e tirar dela o seu componente mais encantador: a complexidade e a incerteza que envolvem seus personagens".
      Desde 2007, a Folha já publicou sete editoriais sobre o tema, sempre defendendo a mudança na lei. "É ainda curioso --e triste-- que artistas censurados e críticos desse modus operandi' típico das ditaduras pretendam, em plena democracia, tornar-se censores", acusa editorial de terça-feira.
      O difícil é encontrar porta-vozes do outro lado, entre os que defendem a manutenção da legislação. Até sexta-feira, dos sete grandes do Procure Saber, só Djavan tinha dado uma declaração. Em nota enviada ao "Globo", diz ser a favor da liberdade de expressão, mas afirma não ser justo que "editores e biógrafos ganhem fortunas enquanto aos biografados reste o ônus do sofrimento e da indignação".
      Coube à empresária e produtora Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano, o duro papel de explicar a posição dos músicos. Foi a partir de uma entrevista dela à "Ilustrada" que a controvérsia começou.
      Paula acusa a Folha de distorcer suas declarações, que foram dadas por escrito e complementadas por telefone. Estaria errado traduzir a posição do Procure Saber simplesmente como defesa da censura às biografias, porque o que a associação propõe é que "direitos e obrigações sejam equânimes".
      Não fica claro o que isso quer dizer, mas o debate está obviamente desequilibrado. Há muito mais espaço para a crítica aos artistas, chamados de traidores, censores, obscurantistas e mercenários.
      A culpa pela assimetria não é do jornal. A Folha abriu espaço para quem quisesse defender opinião oposta à sua, mas os ídolos da música popular preferiram o silêncio.
      Procurei a assessoria de todos ao longo da semana. Chico Buarque está escrevendo um livro em Paris. Gil foi para a Itália, Djavan também viaja. Caetano prefere escrever a respeito na sua coluna do "Globo". Milton Nascimento não quis falar. Erasmo Carlos grava um novo álbum. E o "rei" Roberto Carlos não respondeu ao pedido de entrevista.
      Esquivando-se ao debate público, os artistas permitem que se pergunte "o que será que será/ que andam sussurrando/ em versos e trovas?/que andam combinando/ no breu das tocas?".

        Dilma fica com maior parte dos votos se Marina desistir

        folha de são paulo

        Se a ex-ministra não disputar, petista é a que mais ganha, mostra Datafolha
        Metade dos eleitores ignora a filiação de Marina ao PSB; para 37%, ela agiu bem ao aderir à sigla de Campos
        (RICARDO MENDONÇA)DE SÃO PAULOQuem ficaria com a maior parte dos votos de Marina Silva (PSB), a mais competitiva adversária da favorita Dilma Rousseff, caso a ex-ministra realmente não concorra à Presidência no ano que vem? Resposta: Dilma Rousseff.
        A constatação pode ser feita a partir do cruzamento de dados da pesquisa Datafolha realizada na sexta-feira.
        Segundo a apuração do instituto, 42% dos eleitores que declaram voto em Marina passam a votar em Dilma num dos cenários em que a ex-ministra não consta como opção.
        O senador Aécio Neves (PSDB) herda 21% dos votos marineiros. E o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) --aquele que teria o apoio formal de Marina na hipótese de sua ausência--, fica com 15%.
        Aécio e Campos são considerados hoje os mais prováveis adversários de Dilma no ano que vem, já que têm interesse em concorrer e controlam seus respectivos partidos.
        Numa disputa com esses dois nomes, Dilma seria reeleita presidente no primeiro turno com 42% dos votos totais. Aécio alcançaria 21%, Campos marcaria 15%.
        Nas duas simulações feitas pelo Datafolha em que Marina aparece na disputa, a eleição iria para o segundo turno. Com até 29% das intenções de voto, ela é a rival mais forte de Dilma até o momento.
        Marina, porém, fracassou ao tentar montar seu próprio partido a tempo de disputar a eleição de 2014. Sem a Rede Sustentabilidade apta, acabou filiando-se ao PSB de Campos, movimento considerado o mais surpreendente da cena política em 2013.
        O Datafolha também investigou para onde vão os votos de Marina caso a disputa fique entre Dilma, Campos e o ex-governador de São Paulo José Serra, eventual candidato do PSDB no lugar de Aécio.
        O padrão de migração dos votos marineiros nesse caso é parecido com o do cenário anterior. Dilma herda 40%; Serra, 25%; Campos, 15%.
        Para chegar a esses números, o Datafolha ouviu 2.517 eleitores em 154 municípios do país, o que resulta numa margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
        REPERCUSSÃO
        Apesar de ter dominado o noticiário político dos últimos dias, a filiação de Marina Silva ao PSB é ignorada por mais da metade dos brasileiros.
        Segundo o Datafolha, 48% dizem que ficaram sabendo do assunto. Só 14%, porém, afirmam estar bem informados a respeito. Outros 23% declaram-se mais ou menos informados. E 11% ouviram falar, mas admitem que estão mal informados.
        Com isso, o maior grupo de eleitores (47%) não se sente capaz de avaliar se Marina Silva agiu bem ou mal ao aderir ao partido de Campos. Mesmo assim, muitos opinaram. Para 37%, Marina agiu bem; 17% acham que agiu mal.
        A aprovação à nova filiação de Marina foi bem maior entre os homens do que entre as mulheres. Para 43% deles, Marina agiu bem. Entre elas, a aprovação foi de 31%.
        Apesar do bom desempenho em intenções de voto, Marina tem baixa capacidade de transferência, na comparação com o ex-presidente Lula. Apenas 11% dos eleitores do Brasil dizem que votariam "com certeza" num candidato apoiado por Marina. Lula é o campeão absoluto por esse critério, com 38%.
        Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também conseguem resultados melhores que o de Marina nesse ponto. Há 15% que votariam com certeza em alguém apoiado por Serra. E 12% no caso de FHC.
        Aécio, porém, não deve se animar com isso. O motivo é a rejeição que os dois tucanos podem carregar. Quase 60% afirmam que não votariam num nome apoiado por FHC. Com Serra, o índice é de 54%.

          Elio Gaspari

          folha de são paulo
          O xerife da Receita preferiu ir embora
          Cândido incomodou-se com o que chamou de "influências externas divorciadas do melhor interesse" da Viúva
          Não há lembrança de um subsecretário de Fiscalização da Receita Federal, o segundo homem da instituição, que tenha pedido o chapéu informando aos colegas que "há algum tempo estava incomodado com a influência externa em algumas decisões" envolvendo "posições menos técnicas e divorciadas do melhor interesse". Caio Cândido estava no cargo desde 2011. Atribuir a decisão a um "natural desgaste", como fez o secretário da Receita, doutor Carlos Alberto Barreto, é tática bolchevique. Vale o que está escrito na carta do servidor.
          O subsecretário Caio Cândido pediu demissão porque incomodou-se com a "influência externa". Não foi específico, mas foi claro. Em 2009 a secretária Lina Vieira foi demitida pelo ministro Guido Mantega num episódio que passava pelo Palácio do Planalto. A Receita fizera autuações bilionárias contra a Ford e o Banco Santander. A secretária foi substituída por administrações que, para o bem ou para o mal, tentam controlar a máquina da fiscalização, sem grande sucesso. (O caso do Santander morreu no Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda.)
          O comissariado petista e o ministro Guido Mantega conseguiram ter uma secretária e um subsecretário de Fiscalização denunciando aquilo que, no mínimo, são pressões "divorciadas do melhor interesse" da Viúva.
          PISTA LIVRE
          Saiu do STF uma mensagem críptica aos mensaleiros petistas que temem ir para o Tremembé.
          Decifrada, resultou no seguinte: Fiquem quietos, tudo acabará bem para vocês.
          PORTA GIRATÓRIA
          Em 2011 a Fiocruz entregou a diretoria-executiva do seu plano de saúde a José Antonio Diniz. O FioSaúde atende os 5.000 funcionários e familiares da veneranda instituição médica e, desde sua fundação, era dirigido por servidores da Casa. Diniz vinha da Axismed, do ramo privado de gestão de planos. Em janeiro deste ano ele rescindiu o contrato com a empresa que geria o plano da FioSaúde. Tudo bem.
          Noticiado aqui que a Axismed ficaria com a gestão do plano da FioSaúde, o doutor Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, prontamente desmentiu a informação. O que havia era apenas uma proposta específica da empresa onde trabalhara o novo diretor-executivo. Numa apresentação intitulada "Plano de Trabalho 2013", apresentada à FioSaúde, a Axismed usara um texto onde se lia: "Nós até podemos escolher o que semear, mas necessariamente vamos colher o que plantamos".
          Começaram a colher. A súmula da reunião de 21 de agosto da diretoria da Caixa de Assistência Oswaldo Cruz informa que decidiu colocar "em andamento" a seguinte decisão do seu conselho deliberativo:
          "Deverá ser contratado inicialmente o serviço de Acompanhamento de Pacientes Internados e Orientação Médica por Telefone (AxisLine) para os 2.200 beneficiados elegíveis." A AxisLine é um serviço da Axismed.
          AVISO AMIGO
          O editorial do "New York Times" louvando os avanços sociais brasileiros e pedindo mais pulso nas obras de infraestrutura e na educação é um sinal de alerta para o comissariado. Ao contrário da "Economist" e do "Wall Street Journal", o "Times" reflete um pensamento liberal.
          Dois editoriais do jornal relacionados com um momento importante da vida brasileira tiveram macumbas.
          No dia 28 de março de 1964, um grupo de mandarins reuniu-se na Casa Branca para discutir o futuro do governo de João Goulart. (O embaixador Lincoln Gordon pedia um desembarque clandestino de armas no litoral paulista.) Um dos participantes sugeriu que se cabalassem dois editoriais "apropriados", um no "Times" e outro no "Washington Post".
          No dia 31 de março, o "Times" circulou com um editorial dizendo que a situação estava "próxima do caos". Estava. No dia 3 de abril, depois da deposição de Goulart, outro editorial chamou-o de "incompetente" e "irresponsável". Era. Seu autor provavelmente foi o o editorialista Herbert Mathews, eterno quindim da esquerda pela ajuda que deu a Fidel Castro em 1957, quando ele estava na Sierra Maestra e era dado por morto pelo governo cubano.
          EREMILDO, O IDIOTA
          Eremildo é um idiota e acredita em tudo que o governo diz. Soube que o prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, passou a andar de ônibus e que o governador Geraldo Alckmin anunciou que usará trens e o metrô.
          O idiota acha que eles devem andar de Rolls-Royce, desde que os transportes públicos funcionem.
          UM GRANDE RETRATO DO PAPA FRANCISCO
          Quantos pares de sapatos o cardeal Jorge Bergoglio levou para Roma em março? Um, preto e velho, o único que tinha. Para quem quiser entender o que vem por aí, saiu um livraço nos Estados Unidos --é "Pope Francis - Untying the knots" ("Papa Francisco - Desatando os nós"), do jornalista inglês Paul Valelly. Está na rede por US$ 9,99.
          Ele conta que, no conclave de 2005, Bergoglio chegou à terceira votação com 40 votos, mas o cardeal Ratzinger teve 72. Faltariam cinco para que atingisse os dois terços, e seus aliados avisaram que iriam até o 34º escrutínio, no qual bastaria a maioria absoluta, que já tinham. A demora exporia uma igreja dividida, e Bergoglio desistiu. Como arcebispo de Buenos Aires, a Cúria deu-lhe para comer o pão de Asmodeu. Rejeitavam suas indicações para bispados.
          O livro explica como um personagem tradicionalista na doutrina e reformador em questões da Igreja, tendo sido um algoz da esquerda católica dos anos 70, tornou-se um mensageiro dos pobres. Bergoglio apoiou a ditadura argentina que matou dez mil pessoas, inclusive um bispo. Ajudou-a ao ponto do arrependimento. Exagerando, fez um percurso semelhante ao de d. Hélder Câmara, fascista nos anos 30, herói de letra de samba a partir dos 50.
          O simpaticão da avenida Atlântica é um homem reservado, de poucos amigos, meditador solitário. Cozinhava suas refeições, mas comia sozinho. Quando tem de resolver uma questão, começa perguntando-se o que não deve fazer. Quando decide, medita de novo.
          O mérito do livro de Vallely está na busca da alma de Francisco. Ele vai do par de sapatos para explicações muito mais complexas e documentadas. É uma biografia simpática, talvez passasse pelo crivo de Roberto Carlos.
          No conclave de março, d. Odilo Scherer, o cardeal de São Paulo apresentado como um nome do Terceiro Mundo, era na realidade uma aposta da Cúria. Foi pouco votado no primeiro escrutínio, no qual Bergoglio teve 20 votos, e o favorito da imprensa italiana, o cardeal Scola, arcebispo de Milão, teve 35.
          Na segunda votação os aliados de Scherer foram para Bergoglio. Scola entalou e, no quarto escrutínio, o argentino ultrapassou-o. No quinto foi eleito.
          Em La Plata, o bispo Héctor Aguer, seu adversário na Argentina, proibiu o tradicional dobre de sinos.

            Janio de Freitas

            folha de são paulo
            Entre ceder e conceder
            Leilões para concessão de aeroportos correm risco de juntar-se à história moral das privatizações de FHC
            Por falta de batalha não será, mas pode ser por falta de firmeza para a palavra decisiva. Por que tal falta, não está claro. O fato é que os leilões para concessão dos aeroportos do Galeão e de Confins (região metropolitana de Belo Horizonte), a julgar pela preocupação do próprio grupo central do governo, estão em risco iminente de juntar-se à história moral das privatizações das teles e da Vale no governo Fernando Henrique.
            Embora, fique ressalvado desde logo, essa integração se desse com inversão dos papéis representados nas privatizações anteriores e nas previstas para o próximo 22 de novembro. Ou seja, naquelas foi o núcleo poderoso do governo a entortar as concorrências e dirigi-las previamente para determinados resultados. Agora, o grupo central do governo pressente o dirigismo, faz investidas contra ele, mas só ganha batalhas, não a guerra.
            Como de praxe nas licitações, as exigências a serem preenchidas pelos concorrentes são a chave. Tanto para a incomum preservação de condições limpas e igualitárias entre os pretendentes, como para selecionar os concorrentes pela eliminação antecipada de alguns, enfraquecimento mortal de outros e consagração do sobrevivente.
            Aqui mesmo foi revelada, há tempos, a fraudulência de uma concorrência em que os pretendentes, para habilitar-se, precisavam comprovar a experiência de colocar 20.000 m² de piso de granito. Ora, quem sabe colocar 10m² sabe fazer o mesmo ao infinito. Mas a exigência tinha finalidade precisa: só a empreiteira Andrade Gutierrez podia comprovar a colocação da metragem pedida, que fez ao construir o aeroporto de Confins.
            As grandes empreiteiras estão todas interessadas nas privatizações de agora. É apenas habitual, portanto, que já nos primeiros estudos aparecessem exigências exóticas. E se sucedessem, ou ressurgissem, à medida em que a Casa Civil da Presidência da República as derrubava. O que foi feito, parcialmente, também pelo Tribunal de Contas da União. Mas dois fatos esquisitos deram-se nos últimos dias.
            Um deles, a viagem da relatora do assunto no TCU e o parecer do relator-substituto, em nova revisão das exigências, protegendo a adoção de cláusulas que a Casa Civil da Presidência considerara impeditivas de concorrência aberta, ampla e igualitária para todos os possíveis interessados. Além disso, a preocupação no governo continua se agravando. Ainda na sexta-feira, o jornalista Lauro Jardim informava pela internet que a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, tivera mais uma dura reunião com Moreira Franco, da Secretaria da Aviação Civil, onde se prepara a concessão dos dois aeroportos. Aloizio Mercadante e Fernando Pimentel, que integram o núcleo da Presidência, são outros dois ministros inquietos com os rumos das concorrências.
            Mas o ministério e a Presidência são as instâncias mais altas de responsabilidade sobre os aeroportos e sobre o processo de concessões. É seu o dever administrativo, jurídico e moral de dizer como deve ser o processo. Que poder impede a eliminação completa e definitiva dos indícios de restrições para dirigismo dos resultados, eis o que falta esclarecer.
            O PMDB tem participação nisso, ao lado de grandes empreiteiras. Quem confundirá, ou não, ceder com conceder, será o governo. A história das privatizações aguarda.

              sábado, 12 de outubro de 2013

              José Simão

              folha de são paulo
              Ueba! Marina e Campos: MACA!
              Dilma vai dar uma declaração: "Crianças, vou dar uma voadora se sua mãe não vier trabalhar"
              Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Hoje! Dia da Padroeira e Dia das Crianças. E eu acordei deprimido porque não sou mais criança! E a Nossa Senhora da Aparecida que me perdoe, mas a padroeira do Brasil é a Ladroeira. Nossa Senhora da Ladroeira!
              E como esse ano não tem eleição, não tem político na Basílica. Só o Alckmin. Que é barata de igreja. O Serra Vampiro Anêmico não pode ir. Quando o padre joga água benta, ele dissolve. Rarará!
              E vampiro não tem medo de crucifixo? Não, o crucifixo que tem medo do Serra!
              E a Dilma quando foi pela primeira vez na Basílica, gritou: "Que lindo! Parece uma padaria!". Rarará! E eu disse que vai ter um programa de ajuda ao Eike: Bolsa Famíliax. Todos com xis no nome terão direito. Xisleine, Xisvaldo, Xana e Xuxa!
              Gente, e o discurso da Marina? Uma amiga me disse que a Marina tá parecendo a Menina Pastora Louca! Rarará. E essa fusão Campos-Marina devia ser CAMA! Não tem rede, deita na cama. Se não der certo, a CAMA vira MACA! Rarará! Eu acho que a Marina vai dar uma rasteira e roubar o partido do Eduardo Campos. Que com aquele olho esbugalhado parece o Jack Nicholson em "O Iluminado"! A Menina Pastora Louca e O Iluminado!
              E Dia da Criança! Diz que a Dilma vai dar uma declaração: "Crianças do meu Brasil: a Fadinha do Dente não existe, coelho não bota ovo e eu vou dar uma voadora na sua mãe se ela não vier trabalhar hoje".
              E como disse o chargista Marco Aurélio: criança é a pessoa mais requisitada da casa. "Filho, o Macintosh não deleta." "Filho, dá uma olhada no iPhone da mamãe?" "Netinho, como ligo o celular?" E o filho de um amigo meu pediu de presente: "Um 1x1 com cabo HDMI e um MP3 com 64 GB". E ele não entendeu nada. E a filha duma amiga minha perguntou: "Mãe, o que é orgasmo?". "Não sei, pergunta pro seu pai!" Rarará. É mole? É mole, mas sobe!
              O Brasil é Lúdico! E essa placa no supermercado: "Rabo Salgado, R$ 7,99!". Deviam botar embaixo: "Não recomendado para hipertensos!". Rarará. E olha esse outdoor em Petrolina, Pernambuco: "Governo Federal. Brasil. País Rico é País Sem POPREZA". Rarará! O Brasil acabou com a "popreza". E com a língua portuguesa! Brasileiro escreve tudo errado, mas todo mundo se entende! Nóis sofre, mas nóis goza!
              Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!