domingo, 13 de outubro de 2013

Pão e Circo - Paula Cesarino Costa

folha de são paulo
Pão e Circo
RIO DE JANEIRO - A farra era total sob a tenda montada no verão carioca de 1982. Um grupo de jovens, magros e animados, inventou um jeito diferente de levar ao público teatro, circo, música, dança.
O documentário "A Farra do Circo", de Roberto Berliner e Pedro Bronz, não pretende contar a história definitiva do Circo Voador e da geração capitaneada por Perfeito Fortuna. Mas, ao mostrar parte dela, revela como, há 31 anos, um grupo de malucos beleza decidiu erguer uma lona no Arpoador e criar um espaço cultural onde, de dia, 300 jovens eram funcionários, professores e praticantes das mais diversas artes.
A ideia era boa, mas durou pouco. O poder público apontou irregularidades e fechou o lugar. Atrapalhou o que se construía. A lona foi para a Lapa, região degradada do centro.
Premiado no Festival do Rio e programado para a Mostra de Cinema de São Paulo, "A Farra do Circo" mostra como a originalidade artística pode dar vigor a uma cidade. No caso, como o Circo Voador deu início à revitalização (que ainda iria demorar) da Lapa, hoje lotada e moda entre cariocas e turistas.
Só com imagens de arquivo, algumas precárias, o documentário --sem usar o corte para o close de alguém careca, gordo ou ressentido contando como era ser cabeludo, magro e sonhador-- registra como uma trupe desorganizada, sem dinheiro e quase sem patrocínio mudou o panorama da cultura carioca.
Ali surgiu o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone --que trouxe uma lufada de novidade num país sob o efeito dos anos de ditadura--, com gente como Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Evandro Mesquita, Deborah Colker, Gringo Cardia e Chacal.
O filme tem o mérito de lembrar que cultura é arma de transformação. O Circo Voador parecia um projeto de desbunde de quem ganhava dinheiro para o pão de cada dia, mas foi uma ação política efetiva.

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