domingo, 27 de outubro de 2013

Elio Gaspari

folha de são paulo
O mundo encantado da Doutora Dilma
As fantasias do governo produzem uma euforia que desemboca na síndrome do sítio: estão todos contra nós
No Brasil encantado em que vive o Planalto, as obras do trem-bala estariam adiantadas e ele rodaria em 2016, para a Olimpíada. Felizmente, continua no papel. Depois do Enem deste fim de semana haveria outro (ou já houvera). Infelizmente, foi só promessa da doutora Dilma e do ministro Fernando Haddad. Seu substituto, o comissário Mercadante disse que prefere gastar construindo creches. Por falar em creche, durante a campanha eleitoral a doutora prometeu mais seis mil (quatro por dia). Em abril ela disse o seguinte: "Queremos mais, muito mais. (...) Vamos chegar a 8.685 creches." A repórter Maria Lima fez a conta e mostrou que seria necessário entregar 31 novas unidades a cada dia até julho do ano que vem (13 por dia até o fim do governo). A doutora zangou-se: "Minha meta é 6.000 creches. Quem foi que aumentou para 8.000?" Ela.
Sua conta era a seguinte: em abril, havia 612 creches prontas, 2.568 em obras e 2.117 contratadas. Somando, chegava-se a 5.397. Se obras em andamento e contratadas são obras concluídas, 2010 foi um grande ano. Terminaram-se as obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e as águas do rio São Francisco foram transpostas. Promessas.
Para ficar na conta da meta de campanha, admitindo-se que a doutora já entregou 3.000 creches, até o fim do seu mandato precisa entregar pelo menos oito por dia.
O mundo encantado do Planalto desencadeia uma compulsão mistificadora. Se o governo terminar só 4.000 creches, atire a primeira pedra quem acha esse programa um fracasso. Será um grande resultado, que partiu de uma promessa exagerada. Trocando o mundo real (a obra entregue) pelo virtual (a promessa, ou o contrato), o comissariado intoxica-se numa euforia que desemboca na irritação. A última bruxaria do encantamento partiu da doutora Magda Chambrard, diretora da Agência Nacional do Petróleo. Ela anunciou que nos próximos 30 anos o campo de Libra renderá R$ 1 trilhão. Em maio passado a mesma doutora disse que "gostaria de ter mais Eikes" no setor petrolífero. Uma semana depois, começou o inferno astral de Eike Batista e de quem acreditou nele.
O encantamento desenvolve nos governantes uma síndrome de sítio, como se o mundo estivesse contra ele. De onde Maria Lima tirou a referencia às 8.000 creches? De uma fala da doutora.
AVISO AMIGO
Há sinais de que será necessária uma chacoalhada de pessoas e políticas na condução da economia.
Depois da repercussão dos leilões aguados e das dificuldades de Eike Batista, dividem-se os empresários em dois grupos: um torce por um novo quadro, outro quer que fique tudo como está, para continuar tirando fatias do presunto de um governo atrás de credibilidade.
ALSTOM
Ou o tucanato paulista tem uma estratégia capaz de causar inveja ao comissariado petista que pretende livrar seus caciques das penitenciárias pelo mensalão, ou está numa tática suicida, jogando o escândalo do propinoduto denunciado pela Siemens para dentro da campanha eleitoral do ano que vem.
Pelas provas, depoimentos e cifras, esse caso ultrapassa, de longe, o mensalão. Ali não há domínio do fato, o que há são fatos dominantes.
EM SILÊNCIO
A Arquidiocese do Rio tirou a sorte grande por trabalhar em silêncio. Há cinco anos ela fez uma faxina nas suas contas, afastou um padre que administrava seus bens e transferiu para uma casa em São José dos Campos o cardeal Eusébio Scheid, substituído por d. Orani Tempesta. Scheid deixou o apartamento de 500 metros quadrados (R$ 2,2 milhões) que fora comprado no Flamengo. O administrador, padre Edvino Steckel, foi acusado de ter gasto R$ 14 milhões em móveis, carros e enfeites. Em 2010 seu substituto foi detido no Galeão quando embarcava para Portugal com 52 mil euros nas roupas e nas malas.
Agora o papa Francisco detonou publicamente o bispo da Diocese alemã de Limburg, que torrou 31 milhões de euros num palácio episcopal.
JOHN KENNEDY
Começa na semana que vem a avalanche dos 50 anos da morte, no dia 22 de novembro, do presidente americano John Kennedy. Juntando mito e mistério, girará em torno de dois grandes temas: foi Lee Oswald, sozinho, quem o matou? E se ele não tivesse ido a Dallas, como ficariam os Estados Unidos?
O mistério do crime prosseguirá e metade dos americanos continuarão acreditando que houve uma conspiração. Chegará às livrarias a tradução de "11/22/1963", de Stephen King. (Na rede, em inglês, sai por US$ 12,38.) Conta a história de um sujeito que viajava no tempo e foi a Dallas para impedir que Oswald atirasse. Seu melhor momento está na conclusão, escrita com a ajuda de Richard Goodwin, que foi assessor de Kennedy. Ele especula como ficaria o país se a viagem a Dallas tivesse sido cancelada.
Existem 40 mil livros sobre o presidente. Os melhores estão mais para o estilo Roberto Carlos, e a maioria é ruim. Muito acima da média, está na rede por US$ 15,20 o "Camelot's Court - Inside the Kennedy White House" (A Corte de Camelot - Por dentro da Casa Branca de Kennedy"), de Robert Dallek.
Dallek, um moderado devoto da tese segundo a qual os tiros vieram de Lee Oswald, acrescenta mais um "se".
Kennedy teria sobrevivido "se" não estivesse com o colete ortopédico que mantinha-o com o tronco erecto. Por quê? Porque, ao levar o primeiro tiro, que entrou pelas costas e saiu pelo nó da gravata, teria se curvado e o novo tiro não lhe explodiria o crânio.
UMA AULA DE FHC PARA OS COMISSÁRIOS
Em agosto de 1995, na mesma arapuca em que caiu a doutora Dilma, o programa "Café com o Presidente", Fernando Henrique Cardoso disse o seguinte:
"Passados seis meses de governo, eu quero anunciar os primeiros resultados positivos dos esforços que nós estamos realizando para combater uma triste realidade brasileira: a mortalidade infantil. E quero começar falando do município de Jaramataia, que fica lá no interior do Estado de Alagoas. Até o ano passado, 333 crianças, de cada mil que nasciam, morriam antes de completar um ano de idade. De janeiro para cá, este número caiu para 3. Vou repetir, é isso mesmo, caiu para 3 crianças em cada mil."
Lorota do mundo encantado. Três crianças mortas para mil nascidas vivas, nem na Suíça. Esse era o número de mortes por diarreia em Jaramataia, onde a mortalidade caíra de 333 para 249. Quando a fraude foi revelada, a máquina do encantamento mobilizou-se, e uma médica recebeu um telefonema intimando-a a "não deixar o presidente passar por mentiroso".
FHC paralisou a máquina, dizendo mais ou menos o seguinte: "O número estava errado? Então estava errado, e nós não temos que responder à crítica".
No caso da doutora Dilma, o Planalto explicou que entre as 8.685 creches mencionadas por ela havia obras contratadas por Lula. Fica combinado assim.

    Tchau, sessão da tarde - keila Jimenez

    folha de são paulo
    Tchau, sessão da tarde
    No ar desde 1974, atração da Globo está ameaçada de extinção; filmes em TV aberta perdem público
    KEILA JIMENEZCOLUNISTA DA FOLHAQuantas tardes de ócio você passou sonhando em matar aula em grande estilo, como o protagonista de "Curtindo a Vida Adoidado"?
    Pois está para acabar uma das poucas certezas que temos na TV: a de que mais dia, menos dia veremos de novo Matthew Broderick colocando Chicago para dançar ao som de "Twist and Shout".
    Os pacotes de filmes devem perder espaço na programação das emissoras abertas.
    Alvos da concorrência da TV paga, da pirataria e dos serviços de vídeo sob demanda, sessões de filmes da Globo, da Record e do SBT perderam quase a metade de seu público de 2006 para cá.
    A média da "Tela Quente" da Globo era de 34,1 pontos em 2006. Neste ano, a sessão de filme da segunda-feira acumula média de 19,8 pontos. Cada ponto equivale a 62 mil domicílios na Grande SP.
    Mas o inquilino pronto para ser despejado da grade da Globo é a "Sessão da Tarde". A faixa vespertina do canal é a que mais perdeu telespectadores nos últimos dez anos.
    É cada vez maior o coro, na Globo, para que o sanduíche "Vídeo Show", "Vale a Pena Ver de Novo" e "Sessão da Tarde" ganhe outro recheio.
    Além de alterar o "Vídeo Show", que a partir de novembro terá Zeca Camargo no comando, a Globo estuda tirar a "Sessão Tarde" do ar. Ao ser perguntada, a emissora não nega e diz que "analisa sua grade de forma permanente". Um outro horário de reprises de novelas e uma atração ao vivo são cotados para a faixa.
    A rede, que tem contratos com as distribuidoras Fox, Disney, Paramount e Sony, afirma que os filmes representam hoje 10% de sua programação e atribui a queda de audiência ao aumento de renda das famílias brasileiras, o que permite mais idas ao cinema e acesso a serviços pagos que oferecem filmes.
    Outro que pode abandonar um curinga é o SBT. Dono de um dos melhores pacotes entre os canais abertos, pretende não renovar o contrato de exclusividade dos filmes e desenhos da Warner Bros.
    Silvio Santos, que tem acordo com a produtora americana há 14 anos, já negocia um pacote mais em conta e menor. A Warner quer R$ 40 milhões anuais pelo seu conteúdo, que alimenta as principais sessões de filmes do SBT. Dele é que vem a série de longas do Harry Potter.
    Não há mágica que salve a audiência dos filmes. O SBT viu seu "Cine Espetacular" passar de 11,7 pontos em 2006 para 6,7 em 2013.
    Na Record, nem o investimento pesado em blockbusters como "Avatar" salvou o ibope da "Tela Máxima". Em 2006, o horário de filmes marcou média de 10 pontos. Neste ano, está na casa dos 5,6.
    Para Helios Alvarez, diretor de vendas da Sony, filmes ainda têm relevância na TV aberta e é preciso analisar a queda de audiência em outros programas também.
    "Apesar do crescimento da TV paga no país, 70% dos domicílios não a tem. Toda vez que surge um negócio novo, falam que o outro vai acabar. Não é assim", diz Ricardo Rubini, vice-presidente de distribuição da 20th Century Fox. Segundo ele, as emissoras não estão comprando menos pacotes de filmes ou preferindo pacotes mais baratos. "Elas estão mais seletivas, porque nem tudo funciona em termos de audiência como antigamente".
      ANÁLISE
      Bom mesmo era não ter nada para fazer depois do almoço
      'Sessão da Tarde' distraiu seguidas gerações adolescentes jogadas no sofá
      THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA""Sessão da Tarde" não é simplesmente um filme passando na TV. É também você jogado no sofá, um litro de Nescau batido no liquidificador, a chuvinha que se escuta lá fora e o cachorro que ronca no tapete. E, às vezes, uma soneca, porque o filme não é lá essas coisas, ou até pode ser legal, mas você já viu umas 17 vezes.
      Cada um tem sua lembrança particular da "Sessão da Tarde". É uma questão de idade. Em comum, aquela boa sensação adolescente de não ter muito mais para fazer entre o almoço e o jantar.
      Quem tem hoje 50 anos viveu seu período mais intenso de prostração televisiva nos anos 1970. Conhece todas as comédias de Jerry Lewis e provavelmente acha que "O Terror das Mulheres", "Ou Vai ou Racha" e "Errado pra Cachorro" são as melhores.
      Sabe quem são Poca Cuca e Eric Von Zíper, que eram os tipos divertidos da turma da praia de "Como Rechear um Biquíni", "Quanto Mais Músculos Melhor" e outros clássicos. E chorou com "A História de Elza", a leoa criada feito pet pelos zoólogos bacanas.
      Já aqueles que entram agora na casa dos 30 passaram tardes dos anos 1990 vendo filmes da década anterior --é bom ressaltar que na época os lançamentos de cinema levavam muito tempo até chegar à TV, primeiro em horário nobre e, alguns anos depois, nas reprises vespertinas.
      A programação da memória afetiva dos trintões tem "Goonies", "De Volta Para o Futuro" e "Quero Ser Grande".
      Para não parecer que o mundo da "Sessão da Tarde" era só fofura, naquela época também apareciam na TV depois do almoço os anabolizados Chuck Norris, Schwarzenegger, Van Damme e Sylvester Stallone --este alternava suas cicatrizes, concentradas no rosto de Rocky Balboa ou espalhadas pelo corpo de John Rambo.
      Quem mal passou dos 20 se lembra de filmes recentes que ainda não podem pleitear status de clássicos. No máximo, são lembrados pela presença de Lindsay Lohan no elenco, ainda menininha e antes de sua fase rehab.
      Não ver mais a "Sessão da Tarde" provoca uma melancolia que pode não ter relação com os filmes, sejam eles de qualquer geração.
      As pessoas sentem falta de um tempo em que não passavam a tarde em escritórios, lidando com colegas que puxam seus tapetes, cartões de crédito que insistem em estourar, índices de colesterol e uma dor chata nas costas.
      É a saudade do sofá.

        José Simão

        folha de são paulo
        Ueba! Ceni grita: 'Fica, Pato!'
        E o IPTU do Haddad? Avisa pro Malddad que IPTU quer dizer Impossível Pagar Tudo Isso!
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Vulgo Translumbrante Guru! Classificados de sexo! Ajudem uma quenga a comprar o PlayStation 4: "Thaís linda, pernas grossas, bumbum grande, cintura fina, R$ 800 a noite toda. Não está caro, vale a pena. Tenho que comprar o meu PlayStation 4!". Com o PlayStation 4 a R$ 4.000, ela vai ter que dar cinco vezes pra jogar um videogame. E se depender de mim, ela não compra nem um Atari! Rarará!
        E outro: "Procura-se garota de programa evangélica. Tratar com Cida". Com Cida, Feliciano e Malafaia! Rarará. Programa com dízimo incluso!
        E o leilão do pré-sal? Leilão xingling. Ganharam os chineses! Um panda. Petropanda!
        A Dilma ia chamar o Aquaman, mas ganhou o Kung Fu Panda!
        E sabe por que os chineses arremataram? Porque o pré-sal é tão fundo que eles vão extrair lá da China mesmo! Os chineses vão vender petróleo no Stand Center da Paulista! Petlóleo Pilata!
        Um amigo meu foi comprar um aparelho de som no Stand Center e perguntou: "As caixinhas surround vêm junto?". E a chinesa: "Caxinha sulaund paga sepalado". E o meu amigo: "Então enfia na peleleca". Rarará.
        E o chargista Aroeira conta como foi o leilão com o ministro Lobão, com cara de porteiro de necrotério: "Dou-lhe uma! Dou-lhe duas! Vendido pra dentuça da primeira fila". Rarará. E a Dilma na TV tava parecendo um barril. De petróleo! Dilma Barrilsef!
        E a definição de partilha: "Partilha é uma privatização que não saiu do armário". Enrustida!
        E o IPTU do Haddad? Avisa pro Malddad que IPTU quer dizer Impossível Pagar Tudo Isso!
        E o Haddad devia ser prefeito de Bollywood! Com aquela cara de galã indiano! E eu vou pagar o IPN, Imposto sobre Porra Nenhuma! E o Haddad encheu a cidade de haddares! Rarará!
        E essa piada pronta: "José Serra usa o termo cartel para criticar leilão de Libra". De cartel, os tucanos entendem. Alcksiemens e Serralstom! Rarará!
        É mole? É mole, mas sobe!
        E a manchete do Piauí Herald: "Para voltar à mídia, Aécio adota 12 beagles". Todas fêmeas!
        E o Ceni tá comemorando até agora o pênalti do Pato: "Fica, Pato!". Rarará.
        Nóis sofre, mas nóis goza!
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

          Mônica Bergamo

          folha de são paulo

          Após diagnóstico errado de bipolaridade, Cássia Kis tenta largar remédios

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          "Cadê você?, que saco! P., menina!", gritava Cássia Kis Magro perto dos seguranças da entrada do Tuca, teatro da PUC-SP. A peça "Tribos", de seu colega Antônio Fagundes, começaria em dez minutos e a atriz esperava aflita pela repórter Ana Krepp.

          Atriz está escrevendo sua autobiografia

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          Zanone Fraissat/Folhapress
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          Cássia Kis no restaurante Spot, um de seus preferidos em SP, fazendo graça com seu figurino "típico de carioca" no frio paulistano
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          Os espectadores ainda chegavam ao teatro. Cássia empurrava alguns deles para entrar o mais rápido possível. "Ninguém conhece o Fagundes como eu, ele vai mandar fechar as portas já, já", ia falando, enquanto ultrapassava as pessoas. Sentada, recobrou a placidez.
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          Há oito anos, no consultório de um psiquiatra, foi diagnosticada com transtorno bipolar. Começou a tomar três remédios. "Um que te nocauteia, te faz dormir 15 horas por dia; um que te levanta um pouquinho. E outro que te faz sorrir. Daí, lógico que eu melhorei. Você vira um pássaro, só falta voar."
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          Ao assumir publicamente a bipolaridade, começou a receber convites para estrelar campanhas publicitárias. "Fui convidada por entidades de psiquiatria e fabricantes de remédios. Eu sacaneei. Pedi R$ 3 milhões. As farmácias são trilhardárias. Se eu for vender isso, vão ganhar R$ 200 milhões. Essa indústria é f.. O medicamento que eu tomo é caríssimo."
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          Virou referência, uma espécie de confessionário para os bipolares que queriam dividir suas experiências. "Eu via as pessoas que se aproximavam de mim e pensava: eu sou assim? Não, eu não sou!" Cinco anos depois de conviver com a ideia de que tinha o transtorno, procurou outro psiquiatra. Que garantiu: ela não era bipolar. Não precisava de medicação controlada.
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          "Tive um diagnóstico errado, feio. Os médicos fazem uma cirurgia falando da 'trepada' que deram no dia anterior, que 'comeram' a enfermeira. Esquecem espuma, instrumento dentro de você, porque ficam voando. É muito grave eu sair de uma consulta com três receitas. Quem vai pagar o dano? São bulas enormes, dobradas em mil."
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          A atriz está agora escrevendo uma autobiografia. Nela, relatará as consequências do equívoco médico.
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          Ainda hoje tenta se livrar de remédios. A meditação é a aliada sugerida pela atual psiquiatra, que a auxilia a diminuir as doses de medicação. "Sentando a bunda meia hora de manhã e à noite, tiro qualquer remédio barra pesada. Meditação cura tudo."
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          No ano passado, outra crise: dez dias antes do início das gravações, ela desistiu de interpretar a enfermeira Ordália, de "Amor à Vida", papel que Eliane Giardini acabou assumindo. "Eu não tinha condição emocional, não podia trabalhar naquele momento. Meu único caminho foi me recolher."
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          As informações de que teve desentendimentos com o autor da trama, Walcyr Carrasco, e a atriz Susana Vieira são falsas, diz. "Sou funcionária da Globo. Se me chamarem para assobiar e chupar cana, eu vou. Mas, pela primeira vez em 30 anos, senti que não ia dar conta. Uma hora ia dar uma m.. Era melhor sair antes de começar."
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          Cássia guarda as minúcias para o livro, que planeja lançar até 2015. "Não vou te contar tudo, tá louca? Eu quero é vender biografia."
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          Num passeio em uma livraria, comprou "As Quatro Nobres Verdades do Budismo" e deu de presente para a repórter. "Meu marido [o psicanalista João Magro], que é o salvador da pátria, me deu esse livro. Foi a minha luz."
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          Adotou dieta saudável quando percebeu, aos 15 anos, que arroz integral colocava seu intestino em pleno funcionamento. Já testou dietas e jejuns e hoje acredita na cura pela alimentação. Mas sem radicalizar. Até comeu pão no almoço, por exemplo.
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          Nunca fez plástica. "Você vai tirar pelanca do olho. Quem te garante que não vai ficar de olho aberto, sem fechar nunca mais? Prefiro rugas do que a orelha fora do lugar. Por que não se discute isso? Porque tudo é mercado."
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          Interpretou Maria, mãe de Jesus, na Jornada Mundial da Juventude. "Foi uma polêmica do cão, os jovens me perguntavam: 'Você é católica?', 'Quem é você para viver Maria?'. Acabei me considerando muito mais católica que muita gente que tava ali."
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          Cássia Kis, 55, interrompeu uma gravidez aos 30 anos. Hoje, integra o movimento católico Pró-Vida, radicalmente contra a descriminalização do aborto. "Carrego não uma culpa, mas a história de uma vida que eu tirei. Sou dona do meu destino, mas não posso ser dona do destino de outro ser." Participa de passeatas ao lado de Elba Ramalho.
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          Mãe de quatro filhos --de 9, 11, 16 e 18 anos-- de dois casamentos anteriores, faz questão de reunir todos à mesa para o jantar. "Cuidar talvez seja a palavra mais importante da minha vida. Aprendi sobretudo depois de me casar com o João. Ele pegou esse verbo e fez assim, ó [como se marca gado], na minha pele."
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          "Se existe uma guerra de verdade, é dentro da família. Filho matando mãe, mãe matando filho. É a historia da humanidade", afirma, ao falar dos projetos profissionais para os próximos anos, todos sobre dilemas familiares. Em março, estreia a peça "Deus Salve a Rainha", no Rio. E, no ano que vem, atuará no longa "Juliano Pavollini", dirigido por Caio Blat.
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          Uma vez por semana, os filhos dormem em seu quarto. "Todo mundo puxa o colchão, parece um acampamento." O caçula, que mamou até os quatro anos, ainda tem mimo especial: é levado até lá no colo de Cássia.
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          Está levando a mãe, Piedade, com quem deixou de conviver aos 15, quando saiu de casa, para morar com ela. "Fiz uma suíte com tanto amor. Moro numa casa bárbara, em frente à praia." Preparou o cenário e vislumbra as melhores cenas. "Ela vai ter os netos por perto. Vou poder dizer pra meus filhos: 'Maria, vá dar o 'remedinho' pra sua avó'; 'Joaquim, prepara o mingau dela'."
          Mônica Bergamo
          Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

          Mauricio Stycer

          folha de são paulo
          Vendo TV na sala
          O Twitter permite partilhar opiniões sobre programas, mas é ameaçado por novas tecnologias
          Na capa de sua mais recente edição impressa, a "Forbes" americana meio que afirma, perguntando: "Como o Twitter vai salvar a TV (e como a TV vai salvar o Twitter)". O pretexto para a reportagem é a oferta pública inicial de ações da empresa, que deve ocorrer em meados de novembro.
          A questão diz muito a respeito das possibilidades e dificuldades que tanto o mundo da televisão quanto o Twitter enfrentam neste momento. Enquanto a primeira não sabe o que fazer para impedir o derretimento da sua audiência, o segundo busca superar o ceticismo do mercado e demonstrar que é um negócio viável.
          A "Ilustrada" tratou do assunto, no último domingo, ao detalhar algumas iniciativas deste "namoro entre telas". "Para sobreviver, a TV olha esperançosamente para Twitter e Facebook, a segunda tela'. As duas redes sociais olham de volta, interessadas principalmente nas transmissões ao vivo", escreveu Nelson de Sá.
          Como não faço ideia de até onde vai a familiaridade dos leitores com esta relação entre Twitter e TV, tomo a liberdade de fazer um breve relato pessoal. Abri a minha conta na rede social no segundo semestre de 2008, há pouco mais de cinco anos.
          Fui levado ao Twitter, inicialmente, pela vontade de promover os textos que escrevia no blog. Era (e ainda é) uma oportunidade de mostrar o meu trabalho a uma audiência que não o conhecia. Rapidamente, porém, entendi que esta era uma função secundária da rede social.
          Não foi difícil perceber, como usuário, algo muito parecido ao que Dick Costolo, CEO do Twitter, constatou: "À medida que crescemos, ficou cada vez mais claro que as características que distinguem o Twitter --público, em tempo real e bom para conversar-- fazem dele um complemento perfeito para a televisão."
          Seguindo e sendo seguido por pessoas com gostos mais ou menos semelhantes, o Twitter oferece a oportunidade de transformar a experiência de ver um determinado programa num bate-papo animado. É como se estivessem todos na sala, trocando ideias, discutindo e, frequentemente, brigando por conta de opiniões mais fortes, digamos, a respeito da falta de sutileza de Walcyr Carrasco ou da atuação do juiz no Maracanã.
          Esta situação, como se já viu, é possível basicamente em dois tipos de situação: nas transmissões ao vivo (de um show ou de uma partida de futebol) e durante a exibição de programas previamente anunciados na grade das emissoras.
          O americano, segundo o instituto Nielsen, ainda assiste a cinco horas por dia, em média, de programas. O problema, e aí retorno à capa da "Forbes", é que cada vez mais o espectador tem optado por ver televisão de outras formas.
          Uma pesquisa citada diz que um terço dos espectadores veem os seus programas preferidos em laptops, smartphones e tablets. Assistindo a programas gravados anteriormente ou em serviços que o oferecem "on demand", você não apenas salta os anúncios comerciais: você escolhe a hora em que quer ver.
          Esta experiência mais contemporânea bate de frente com aquela outra, que o Twitter oferece. É possível conversar com quem está assistindo à novela ou ao seriado na hora em que ele passa na TV, mas não com quem resolve vê-lo no momento em que bem entender. O Twitter, de alguma forma, resgata uma sociabilidade antiga, mas é ameaçado por tecnologias mais modernas do que ele.

          Ferreira Gullar

          Folha de São Paulo
          Tanto barulho por nada
          Embora seja ilegal fazer barulho atordoante em área residencial, isso ocorre sem qualquer reação da polícia
          Não faz muito tempo, um cidadão de mais de 60 anos invadiu o apartamento acima do seu, aqui no Rio, e matou a tiros o casal que morava ali; em seguida, suicidou-se. E qual foi a causa dessa tragédia? Barulho, excesso de barulho.
          Esse é, sem dúvida, um caso extremo, mas não deixa de ser indicativo do alto nível de barulhos de todo tipo que atormenta os cariocas.
          O Rio, aliás, é uma cidade particularmente barulhenta. O barulho parece fazer parte de sua cultura, talvez pela tradição dos batuques que estão na origem mesma da cidade, tornada a capital do Carnaval. Nas favelas, originalmente, tornou-se natural promover batuques que atravessavam as noites. Isso se consolidou com o crescimento das escolas de samba, realizando seus ensaios, que mais tarde desceram dos morros e se alastraram por vários bairros da cidade.
          Pode ser que me engane, mas a verdade é que, dada essa tradição, todo mundo se sente no direito de fazer festa em cada esquina. Um simples boteco, de apenas uma porta, toma a calçada em frente com mesas e cadeiras para vender chopes e batidas. E, para que a alegria seja completa, põe caixas de som num carro e toca música até altas horas da noite. Os moradores dos apartamentos próximos que se mudem.
          E o que mais espanta é que, embora seja ilegal ocupar calçadas e fazer barulho atordoante em área residencial, isso ocorre sem qualquer reação da polícia ou dos órgãos oficiais. Acham engraçado, é o espírito festivo do carioca.
          Em alguns casos, paga-se o guarda. Suborno é coisa comum, mas é outro assunto. Fiquemos na poluição sonora que é o tema desta crônica, o que é bastante porque, como já diz aqui, barulho faz parte da cultura carioca. E quem reclama é, no mínimo, um chato.
          E tanto isso é verdade, ou seja, que o barulho é parte de nossa cultura, que os órgãos oficiais não apenas se omitem no combate à poluição sonora, como, pelo contrário, ajudam a poluir. Quer um exemplo? As sirenes dos carros de bombeiros e dos carros de polícia. Quando qualquer um desses veículos passa em frente a minha casa, corro e fecho as janelas, além de tampar os ouvidos. São sirenes absurdamente estridentes, que soam numa altura alucinante e sem necessidade, sem razão plausível.
          A finalidade dessas sirenes é abrir caminho, no trânsito, para esses veículos. Ou seja, basta que os motoristas que estão à frente do carro da polícia a ouçam para que ela cumpra sua função. Não é necessário que todas as pessoas num raio de centenas de metros tenham de ser atordoadas por tais sirenes, nem quem está a várias quadras de distância nem muito menos quem está em seu apartamento, vendo televisão, conversando ou dormindo.
          Certa vez, estava no meu carro, em meio ao tráfego engarrafado, quando um desses carros oficiais subitamente disparou sua sirene atordoante: levei um susto e quase joguei meu carro sobre o veículo que estava a meu lado. Cabe perguntar: não é função do governo combater a poluição, como, então, em vez disso, polui mais que todos? Ou estamos naquela de que ao governo tudo é permitido? Não apenas os chefes, o pequeno funcionário também pensa assim, quanto mais se trata de alguém que zela pela segurança pública. A ele, claro, tudo é permitido.
          Mas se fossem só os carros oficiais, já me daria por feliz. Somos, sem dúvida alguma, um povo do barulho. Não por acaso, inventaram de algum tempo para cá, que todo mundo adora música e quer ouvi-la 24 horas por dia.
          O resultado disso é que onde você entra há música (ruim) tocando e irritantemente alta: seja no supermercado, na loja de eletrodomésticos e até em algumas farmácias.
          Ainda fiquei surpreso ao entrar numa loja de frutas e legumes e me deparar com um fundo musical atordoante. Fugi de lá na mesma hora. E nos restaurantes, há música também, claro. Aliás, em alguns deles, a moda agora é pôr numa altura que permite todo mundo ver uma televisão ligada o tempo todo, no pior programa e para todo o mundo ver e ouvir.
          Isso sem falar no pessoal que fala berrando no telefone celular. Como disse um amigo meu: é que eles não sabem que já inventaram o telefone.

          Suzana Singer - Folha Ombudsman

          folha de são paulo 
          OMBUDSMAN
          Arena de debates
          Ao trazer novos colunistas, o jornal não pode reproduzir a polarização estéril que reina na internet
          Na semana em que o assunto foram os simpáticos beagles, a Folha anunciou a contratação de um rottweiler. O feroz Reinaldo Azevedo estreou disparando contra os que protestam nas ruas, contra PT/PSDB/PSOL, o Facebook, o ministro Luiz Fux e sobrou ainda para os defensores dos animais.
          A coluna publicada anteontem não destoa do que Reinaldo vem defendendo em seu blog no site da "Veja" nos últimos sete anos. "Eu sou mesmo um reacionário à moda antiga", escreveu o jornalista na quarta-feira, emendando que é "humanista e cristão", contra o aborto e contra a pena de morte. Dá para deduzir o que ele pensa dos governos Lula e Dilma pelo título do seu livro "O País dos Petralhas", uma corruptela de petistas e irmãos Metralha.
          Sua volta à Folha, onde já havia trabalhado como editor-adjunto de política, suscitou reações fortes. O leitorado mais progressista viu a chegada do colunista como o coroamento de uma "guinada conservadora" do jornal. "Trata-se de uma pessoa que dissemina o ódio e não contribui com opiniões construtivas", escreveu a socióloga Mariana Souza, 35.
          Poucos se manifestaram a favor de Reinaldo, mas isso não significa que não exista uma parcela considerável que esteja comemorando a sua vinda, já que ao ombudsman costumam recorrer os insatisfeitos. Ana Lúcia Konarzewski, 61, funcionária aposentada do IBGE, afirma que vai voltar a assinar o jornal por causa do novo colunista. "Não aguentava mais tanta gente defendendo o governo", disse.
          A contratação de Reinaldo é coerente com o "saco de gatos" da Folha, que dá abrigo à ambientalista Marina Silva e à defensora do agronegócio Kátia Abreu, a dois filósofos tão díspares quanto Luiz Felipe Pondé e Vladimir Safatle, à contundente Barbara Gancia e ao delicado Antonio Prata.
          Os novos nomes -além de Reinaldo, escreverão, no caderno "Poder", o geógrafo Demétrio Magnoli e o jornalista Ricardo Melo- vão engrossar o já extenso plantel de colunistas do jornal. São hoje 102, provavelmente um recorde mundial.
          Não dá para fazer um censo ideológico de tanta gente. Do novo trio, Demétrio é também crítico entusiasmado do PT. Em sua estreia ontem, negou a tarja de direita e acusou os "lulo-petistas" de serem "conservadores, corporativistas e racialistas". Ricardo Melo, que foi um dirigente estudantil trotskista, deve fazer o contrapeso à esquerda.
          A Secretaria de Redação diz que "o jornal não pensa em colunistas em termos de esquerda e direita, mas no que eles têm de original para dizer aos leitores e como podem reforçar o pluralismo da Folha".
          No atual momento da mídia, em que boa parte do noticiário está de graça na internet e no qual falta dinheiro para expandir as equipes de reportagem, aumentar o espaço destinado à opinião tem sido uma forma de tentar diferenciar-se.
          Com o movimento da semana passada, a Folha almeja tornar-se a principal arena de debate político em 2014, ano de campanha eleitoral. Para que o leitor seja de fato beneficiado por isso, será preciso garantir um bom nível de "conversa", à altura do que escrevem Janio de Freitas e Elio Gaspari, colunistas do mesmo espaço.
          No impresso, espera-se mais argumento e menos estridência. Mais substância, menos espuma. Do contrário, a Folha estará apenas fazendo barulho e importando a selvageria que impera no ambiente conflagrado da internet.
          E O PROBLEMA DO UOL?
          Na semana passada, cerca de 60 mil usuários do UOL (de um total de 7 milhões) enfrentaram problemas ao acessar seus e-mails. A falha começou no último dia 17 e levou cinco dias para ser totalmente superada.
          Apesar de leitores terem avisado o jornal, nada foi publicado. Só uma nota, no site daFolha, avisava na segunda-feira que o e-mail estaria normalizado naquele dia.
          O jornal deveria ter noticiado a falha no UOL, empresa que faz parte do Grupo Folha. Na quarta-feira passada, a interrupção do sinal da Net, durante a madrugada no Rio, virou nota na coluna "Outro Canal". Se é para defender o consumidor, não dá para abrir exceções. A Secretaria de Redação reconhece o erro.