folha de são paulo
OMBUDSMAN
Arena de debates
Ao trazer novos colunistas, o jornal não pode reproduzir a polarização estéril que reina na internet
A coluna publicada anteontem não destoa do que Reinaldo vem defendendo em seu blog no site da "Veja" nos últimos sete anos. "Eu sou mesmo um reacionário à moda antiga", escreveu o jornalista na quarta-feira, emendando que é "humanista e cristão", contra o aborto e contra a pena de morte. Dá para deduzir o que ele pensa dos governos Lula e Dilma pelo título do seu livro "O País dos Petralhas", uma corruptela de petistas e irmãos Metralha.
Sua volta à Folha, onde já havia trabalhado como editor-adjunto de política, suscitou reações fortes. O leitorado mais progressista viu a chegada do colunista como o coroamento de uma "guinada conservadora" do jornal. "Trata-se de uma pessoa que dissemina o ódio e não contribui com opiniões construtivas", escreveu a socióloga Mariana Souza, 35.
Poucos se manifestaram a favor de Reinaldo, mas isso não significa que não exista uma parcela considerável que esteja comemorando a sua vinda, já que ao ombudsman costumam recorrer os insatisfeitos. Ana Lúcia Konarzewski, 61, funcionária aposentada do IBGE, afirma que vai voltar a assinar o jornal por causa do novo colunista. "Não aguentava mais tanta gente defendendo o governo", disse.
A contratação de Reinaldo é coerente com o "saco de gatos" da Folha, que dá abrigo à ambientalista Marina Silva e à defensora do agronegócio Kátia Abreu, a dois filósofos tão díspares quanto Luiz Felipe Pondé e Vladimir Safatle, à contundente Barbara Gancia e ao delicado Antonio Prata.
Os novos nomes -além de Reinaldo, escreverão, no caderno "Poder", o geógrafo Demétrio Magnoli e o jornalista Ricardo Melo- vão engrossar o já extenso plantel de colunistas do jornal. São hoje 102, provavelmente um recorde mundial.
Não dá para fazer um censo ideológico de tanta gente. Do novo trio, Demétrio é também crítico entusiasmado do PT. Em sua estreia ontem, negou a tarja de direita e acusou os "lulo-petistas" de serem "conservadores, corporativistas e racialistas". Ricardo Melo, que foi um dirigente estudantil trotskista, deve fazer o contrapeso à esquerda.
A Secretaria de Redação diz que "o jornal não pensa em colunistas em termos de esquerda e direita, mas no que eles têm de original para dizer aos leitores e como podem reforçar o pluralismo da Folha".
No atual momento da mídia, em que boa parte do noticiário está de graça na internet e no qual falta dinheiro para expandir as equipes de reportagem, aumentar o espaço destinado à opinião tem sido uma forma de tentar diferenciar-se.
Com o movimento da semana passada, a Folha almeja tornar-se a principal arena de debate político em 2014, ano de campanha eleitoral. Para que o leitor seja de fato beneficiado por isso, será preciso garantir um bom nível de "conversa", à altura do que escrevem Janio de Freitas e Elio Gaspari, colunistas do mesmo espaço.
No impresso, espera-se mais argumento e menos estridência. Mais substância, menos espuma. Do contrário, a Folha estará apenas fazendo barulho e importando a selvageria que impera no ambiente conflagrado da internet.
E O PROBLEMA DO UOL?
Na semana passada, cerca de 60 mil usuários do UOL (de um total de 7 milhões) enfrentaram problemas ao acessar seus e-mails. A falha começou no último dia 17 e levou cinco dias para ser totalmente superada.Apesar de leitores terem avisado o jornal, nada foi publicado. Só uma nota, no site daFolha, avisava na segunda-feira que o e-mail estaria normalizado naquele dia.
O jornal deveria ter noticiado a falha no UOL, empresa que faz parte do Grupo Folha. Na quarta-feira passada, a interrupção do sinal da Net, durante a madrugada no Rio, virou nota na coluna "Outro Canal". Se é para defender o consumidor, não dá para abrir exceções. A Secretaria de Redação reconhece o erro.
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