terça-feira, 29 de outubro de 2013

Helio Schwartsman

folha de são paulo
Memórias
SÃO PAULO - Roberto Carlos, o rei, que bloqueou na Justiça a circulação de um livro sobre a sua vida, agora diz que é a favor de biografias não autorizadas e informa que está escrevendo suas memórias. Qual das duas obras é mais confiável?
Obviamente, essa não é uma questão que possa ser respondida "a priori", mas temos boas razões para desconfiar das autobiografias. E não porque candidatos a ídolo sejam todos mentirosos compulsivos. O problema é que nossas memórias, embora nos pareçam vívidas a ponto de as julgarmos uma espécie de fotografia do passado, são mais bem descritas como uma fantasia de nossas psiques.
O que o cérebro guarda são registros hipertaquigráficos a partir dos quais nossa mente reconstrói o episódio cada vez que nos lembramos dele. Esse processo é distorcido pelo que estamos sentindo ou pensando quando acionamos a memória. Algumas lembranças ficam estáveis por décadas, outras são sutilmente modificadas e há as que sofrem transformações profundas. Elas são indistinguíveis em nossas cabeças.
Essas mudanças não ocorrem ao sabor do acaso. A memória não evoluiu para promover a verdade, mas para nos fazer viver vidas melhores. Ela não deve ser uma alucinação tão tresloucada que nos leve a cometer erros fatais, mas, se as distorções forem no sentido de nos tornar mais seguros e confiantes, são mais do que bem-vindas. Nós nos lembramos muito mais daquilo com o que podemos viver do que daquilo que efetivamente vivemos.
A notável exceção são as pessoas clinicamente deprimidas, que fazem uma avaliação surpreendentemente realistas de si mesmas. Não se sabe se é a depressão que leva à percepção mais acurada ou se é a visão mais realista que provoca os pensamentos deprimentes. De todo modo, o excesso de realismo não é muito saudável.
Se você é um leitor em busca de verdades, só compre autobiografias de depressivos notórios.
helio@uol.com.br

    Janio de Freitas

    folha de são paulo
    Desunidos pela união
    Nenhum programa autêntico sairá dos encontros feitos pelas cúpulas dos dois PSB, tamanhas são as diferenças
    Mais do que "discutir um programa em conjunto", a reunião de 120 integrantes autênticos do PSB e informais do quase-Rede da Marina Silva inicia uma tentativa de convivência entre os dois contingentes. Esse artifício é, por si só, demonstração clara da extrema dificuldade, para não dizer da impossibilidade, de integração efetiva das duas correntes. Ao menos, agora para dizer alguma coisa positiva, enquanto não estiver decidido, de fato, quem será o candidato do partido à Presidência.
    Nenhum programa autêntico sairá desses encontros planejados pelas cúpulas dos dois PSB, tamanhas são as diferenças de propostas. O que podem fazer é acrescentar mais um mal à artificialidade partidária brasileira, com outra contrafação de programa. Só o propósito da Rede de suscitar um enfrentamento com o agronegócio, por exemplo, basta para impossibilitar entrosamento autêntico com o PSB de Eduardo Campos, que tem todo o interesse no entendimento com a riqueza e a força política desse setor.
    Em sua oração pela unidade, diz a deputada Luiza Erundina que "Marina se juntou ao PSB para construir um caminho comum às duas forças, mas cada uma delas mantendo as identidades e os compromissos". Uma beleza. Mas, primeiro, Marina Silva juntou-se ao PSB para assegurar-se uma perspectiva que o seu frustrado partido não pôde dar. Se houvesse identificação com o PSB, "para construir um caminho comum", Marina não precisaria "concentrar-se sozinha" para escolher sua adesão, uma vez negada a existência ao seu partido.
    Além disso, as duas correntes "mantendo as identidades e os compromissos" é justamente o que as impedirá de serem "algo novo" como partido, ainda no dizer de Erundina. Ou "um jeito novo de fazer política", nas palavras de Marina.
    A franqueza é um jeito velho, mas ainda é melhor.
    O PAGADOR
    Presidente da Alstom quando a empresa fechou ricos contratos com governos do PSDB em São Paulo, José Luiz Alquéres diz que, se houve corrupção, os pagamentos de suborno foram por conta do lobista Arthur Teixeira e que a este, portanto, cabe "arcar com as consequências perante a Justiça".
    O argumento é forte. Ou será, quando e se Alquéres explicar por que um lobista, contratado por sugestão do próprio Alquéres, daria dinheiro a integrantes do governo se os negócios não eram para ele.
    MAU SINAL
    O "recall", quando fabricantes chamam consumidores para reparo de um defeito de fabricação, é mal visto por equívoco. Trata-se de um avanço na relação fabricante/vendedor/consumidores. Mas, no Brasil, precisa de regulamentação rigorosa. Ou, com frequência, não passa de farsa para dar cobertura ao fabricante em caso de processo.
    De vez em quando é transmitido um "recall" de carros Audi deliberadamente incompreensível. Lidos com mal intencionada velocidade, os números de série dos carros, com dezenas de algarismos e letras, não podem ser memorizados nem no mínimo necessário. A explicação do "recall" segue o mesmo truque de publicidade indesejada. O defeito é grave, porém. É no sistema de alimentação de combustível e implica até risco de incêndio.
    Se o "recall" não considera a gravidade do problema, subordinando-se à imagem do produto, não cumpre a sua função. Em vez de louvor, merece punição legal. E assim são eles com frequência, na indústria automobilística.

    De Perdizes a Cachoeirinha, perfil de 'black blocs' presos é variado

    folha de são paulo
    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO
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    Entre os presos em São Paulo na sexta-feira sob suspeita de participar de atos violentos promovidos por adeptos da tática "black bloc" há jovens de diferentes perfis, moradores de áreas nobres e da periferia.
    Eles foram presos durante protesto organizado pelo MPL (Movimento Passe Livre), na região central de São Paulo.
    Ao todo, 92 pessoas foram levadas para distritos policiais da região, 81 foram liberadas após serem registradas.
    Os oito adultos que continuavam presos até a noite de ontem foram indiciados sob suspeita de crimes como danos ao patrimônio, formação de quadrilha, uso de explosivo e tentativa de homicídio.
    Três menores de idade também foram apreendidos e encaminhados à Fundação Casa (antiga Febem).
    O mais velho do grupo tem 23 anos. Cinco têm menos de 20 anos, excluindo os adolescentes (todos de 16 anos), segundo os boletins de ocorrência consultados pelaFolha.
    Eles são moradores de bairros como Perdizes, Vila Mariana, Limão, Parque São Rafael, Cachoeirinha, Jardim Helena e Vila Alpina.
    Metade deles é da capital. Apenas um não é paulista.
    Entre os que continuam presos está Paulo Henrique Santiago dos Santos, 22, estudante de classe média que mora em Perdizes (zona oeste).
    O rapaz foi indiciado sob suspeita de tentativa de homicídio, por supostamente ter participado do espancamento do coronel da PM Reynaldo Simões Rossi.
    O policial militar Márcio Yukio Yoshino, que ajudou a salvar o oficial das agressões do grupo, aponta Santos como um dos autores da agressão. O rapaz nega.
    Os outros suspeitos são apontados pelos policiais como integrantes do grupo que participou da depredação do terminal Parque D. Pedro.
    ESCOLARIDADE
    Entre os manifestantes que continuavam presos ontem, apenas Santos é estudante universitário. Cinco pessoas concluíram o ensino médio e dois apenas o fundamental.
    Parte deles diz estar trabalhando. Na lista das ocupações estão: ajudante de cozinheiro, conferente, vendedor, comerciário e fotógrafo. Um deles disse estar desempregado.
    Procurado pela Folha, o advogado André Luiz Zanardo, um dos defensores dos presos, não quis se manifestar ontem.
    A Secretaria da Segurança não soube informar se algum dos presos deles tem antecedentes criminais.
    De acordo com a polícia, um inquérito foi instaurado para tentar apurar a participação dos outros suspeitos. O objetivo é "individualizar a conduta de cada um".
    Após a prisão dos suspeitos, o delegado Domingos Paulo Neto afirmou, durante o final de semana, que os outros estão sendo investigados.
    "É preciso ter muita cautela. Aqueles que forem surpreendidos em flagrante, com a conduta individualizada, são recolhidos ao cárcere."

    segunda-feira, 28 de outubro de 2013

    Luli Radfahrer

    O perigoso fascínio dos infográficos



    Você já deve ter visto vários deles hoje. Da previsão do tempo à guerra da Síria, toda informação parece ter uma versão gráfica, gerando aquelas imagens em que até o dado mais banal se transforma em um belo cartaz a circular pela rede.
    O Pinterest está cheio deles, o Slideshare criou uma área específica para compartilhá-los e novas redes como o Visual.ly se dedicam exclusivamente a esse tipo de informação. Para quem não tem habilidades de ilustrador, serviços automáticos como o Piktochart dão uma força. Se o seu currículo precisa de um banho de loja, Visual CVRe.vu ou Kinzaa dão conta do recado.
    A popularidade dos infográficos não causa surpresa. Mesmo que não sejam animações 3D, interativos ou dinâmicos, são certamente mais atrativos, acessíveis e envolventes do que tabelas e textos. Pesquisas mostram que as pessoas tendem a seguir melhor instruções acompanhadas de imagens, o que talvez explique porque as embalagens de produtos japoneses tenham tantos desenhos.
    A visão é um dos sentidos mais explorados e desenvolvidos pela cultura contemporânea, e boa parte da atividade cerebral está concentrada na interpretação de imagens. A percepção visual também é mais rápida do que a leitura. Ao contrário de um texto escrito, não se vê pedaços de uma imagem que, aos poucos, compõem um todo. Elementos parecidos são instintivamente agrupados, gerando padrões.
    Se bem representada, uma informação visual pode ser compreendida em frações de segundo. O cérebro humano tem uma capacidade de manipular metáforas visuais de forma muito mais versátil do que seria possível fazer com os dados e conceitos que elas representam. Como blocos de montar, é fácil espremê-las, empilhá-las, reorganizá-las e superpô-las até que um padrão surja, levando a novas descobertas.
    Há céticos que acham os infográficos um excesso de firulas, acreditando que poderiam ser substituídos por um parágrafo bem escrito. Mas é só levar em conta a Tabela Periódica ou qualquer Atlas do corpo humano para se perceber que um diagrama bem feito pode ajudar a compreender relações bastante complexas.
    A Ciência é uma busca por padrões, e poucas linguagens tem a capacidade de mostrá-los tão bem quanto a visual. Uma tomografia ou a imagem proveniente de um radiotelescópio mostram como a informação visual é útil até para profissionais extremamente qualificados e bem treinados. A atividade cerebral não tem todas aquelas cores e as imagens de estrelas distantes estão fora do alcance da visão.
    A sedução das histórias visuais pode ser, entretanto, enganadora. Qualquer diagrama é uma interpretação sujeita a distorções. Como o mapa-múndi, por exemplo. Criado por Gerardus Mercator em 1569, ele projeta o globo em um cilindro, transformando paralelos e meridianos em linhas retas e perpendiculares, o que leva a um inevitável "esticamento" do mapa no sentido leste-oeste.
    Usado até hoje pelos maiores serviços de mapeamento digitais (Bing Maps,OpenStreetMapGoogle MapsMapQuest e Yahoo Maps, entre outros) esse diagrama exagera regiões próximas aos polos, representando a Groenlândia do tamanho da África, mesmo sendo 14 vezes menor. O mesmo acontece com o Alasca, que fica quase do tamanho do Brasil. Mesmo com essas distorções, a projeção de Mercator é tão conhecida que parece ser a única possível. Comparada com ela, uma representação mais adequada, como a Gall-Peters, parece esticada.
    Em Infográficos, o meio é, literalmente, a mensagem. Por isso é muito importante examiná-los. Não é porque algo é bonito que é necessariamente verdadeiro ou relevante. Como em qualquer estatística, é preciso verificar a fonte e a correlação entre os dados, que pode estar escondida ou camuflada por recursos gráficos.
    Um mundo com infográficos pode ser tão rico em pensamento metafórico e reconhecimento de padrões como pode ser limitado e sintético, apresentando ideias complexas na forma de gibis. A única forma de garantir a reflexão é desenvolver a consciência de que qualquer conteúdo apresentado não é finito, mas parte de uma história a ser desenvolvida enquanto houver interesse.
    Afinal, como sempre disse a Filosofia, o importante não é a resposta, mas a próxima pergunta.
    Luli Radfahrer
    Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas na versão impressa de "Tec" e no site da Folha.

    Ronaldo lemos

    Cientista decodifica a linguagem dos bebês


    Aconteceu nos EUA na semana passada o encontro dos membros do MIT Media Lab, o laboratório de mídia do Massachusetts Institute of Technology. É um evento anual, em que são apresentadas as pesquisas mais recentes na fronteira entre design, genética, indústria e arte.
    Uma das pesquisas mais interessantes foi apresentada por Deb Roy, cientista-chefe do Twitter. Ele instalou 11 câmeras, 14 microfones e uma rede digital dentro da própria casa. O objetivo: monitorar todas as conversas e interações entre ele, sua mulher, assistentes domésticos e o filho, então recém-nascido.
    Desse modo, conseguiu entender como, quando e onde o bebê aprendia cada palavra. Por exemplo, a palavra "bola" foi aprendida com 12 meses, enquanto "treinador" só com 20.
    As descobertas da pesquisa são ambiciosas. Palavras são aprendidas em função da frequência em que são faladas e da facilidade de pronúncia. Aí vem a parte mais interessante: o contexto também é importante. Se a criança escuta uma palavra quando está interagindo com um objeto, uma pessoa, ou realizando atividade física, isso faz diferença no aprendizado.
    A pesquisa tem múltiplos impactos. Quer ampliar o campo semiótico para incluir também o estudo de eventos "não-linguísticos". Tem implicações também para o estudo do consumo de mídia.
    O contexto em que uma mídia é consumida faz toda a diferença no seu impacto cognitivo. Se o jornal era antes lido na mesa da sala e agora é lido no ônibus, isso faz toda a diferença. As aplicações futuras terão impacto da pedagogia à publicidade. É mais um passo para decodificar nosso "software" mental. E para ensinar as máquinas a interpretar quem somos.
    *
    JÁ ERA
    Games só como diversão
    JÁ É
    Jogos que ajudam em seleções de emprego, como o "Balloon Brigade"
    JÁ VEM
    Jogos para tratar ataques de pânico, como o Flowygame.com
    ronaldo lemos
    Ronaldo Lemos é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e do Creative Commons no Brasil. É professor de Propriedade Intelectual da Faculdade de Direito da UERJ e pesquisador do MIT Media Lab. Foi professor visitante da Universidade de Princeton. Mestre em direito por Harvard e doutor em direito pela USP, é autor de livros como "Tecnobrega: o Pará Reiventando o Negócio da Música" (Aeroplano) e "Futuros Possíveis" (Ed. Sulina). Escreve às segundas na versão impressa do "Tec".

    Daniel Pellizzari

    folha de são paulo
    Documentos, por favor
    Como devedores vão para a cadeia, fui deixando todos morrerem. Meu tio, minha sogra, minha mulher
    Novembro terminou tão bem. A guerra com a Kolechia chegou ao fim após seis anos e nossa gloriosa nação de Arstotzka retomou os controles de fronteira em Grestin. No dia do sorteio nacional para inspetor da imigração, quase não acreditamos: fui escolhido. Deixei para trás Mirsk, minha aldeia no interior, e segui com a família para Grestin, onde ganhamos um apartamento estatal. Dezembro estava chegando e em seguida 1983, que prometia ser o melhor ano das nossas vidas: país em paz, emprego estável, cidade grande.
    Logo nos primeiros dias comecei a ficar um pouco confuso. Confesso ter imaginado que meu dia a dia seria fácil. Conferir passaportes, aplicar carimbos e mais nada. Que inocência. Não só havia uma grande quantidade de detalhes aos quais atentar, mas as regras mudavam de um dia para o outro. Novos documentos exigidos, novas habilidades a serem aprendidas. Bater impressões digitais, atestar a veracidade de selos, operar o raio-X. Todos os dias, diante da imensa fila, a primeira tarefa era decorar as novas diretrizes.
    E a tensão? Qualquer erro depunha contra mim. Primeiro só advertências, que logo se traduziam em perdas financeiras. Para cada engano, um desconto. Se eu não tivesse como falar com quem se aproximava do guichê, seria mais fácil. Lidaria apenas com documentos, permitiria ou negaria a entrada e chamaria o próximo. Mas as pessoas falavam. Contavam histórias. Pediam favores. Imploravam. Viravam gente em vez de papéis. E às vezes eu não resistia e ajudava. Mas ao mesmo tempo ganhava um dinheiro extra prendendo imigrantes por motivos fúteis.
    Os sujeitos da tal Ordem de EZIC tentavam me aliciar, mentindo que Arstotzka era uma ditadura e que vivíamos oprimidos. Nunca consegui denunciar nenhum deles, e em seguida começaram os atentados terroristas na fronteira. Ganhei acesso a armas para abater os inimigos da Mãe Pátria. Para me acalmar, pendurei na parede o desenho que meu filho fez para mim com os gizes de cera que ganhou de aniversário.
    Porque tínhamos sobrado só nós dois, meu filho e eu. Com os descontos no pagamento, ficou impraticável sustentar aluguel, comida e aquecimento para todos, que adoeceram. Como devedores vão para a cadeia, precisei fazer uma escolha. Fui deixando todos morrerem aos poucos. Meu tio, minha sogra, minha mulher. Todos, menos meu filho. Uma questão de responsabilidade fiscal. Assim pudemos nos mudar para um apartamento melhor. Todo mundo tem direito a isso em nosso país. Basta usar a cabeça.
    Mas foi também esse desenho que me colocou aqui na cadeia. O inspetor me deu voz de prisão por ter mantido o desenho na parede mesmo após receber uma advertência. E ele tinha razão, cometi um erro. Fui insubmisso. Agora meu filho está num orfanato. Confio no meu país e no meu regime. Sei que estão sendo bem cuidados. Sei que mereço a punição por não ter seguido as regras. Quando cumprir a pena e sair daqui, me reencontro com meu pequeno e tudo vai ficar bem de novo. Glória à Arstotzka!

    Fundação de Bill Gates concede US$ 100 mil a três pesquisadores brasileiros

    FABIO BRISOLLA
    DO RIO
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    Um projeto para acelerar a produção de medicamentos para parasitoses ainda comuns no Brasil e na África e dois para facilitar o plantio com técnicas de baixo custo receberão financiamento da fundação do bilionário Bill Gates, da Microsoft.
    Cada um dos três pesquisadores brasileiros responsáveis pelos planos vai ganhar um patrocínio de US$ 100 mil (R$ 219 mil) que pode ser estendido a US$ 1 milhão (R$ 2,19 milhões) se a execução da ideia for bem-sucedida.
    A indicação deles será anunciada em uma conferência promovida pela Fundação Bill e Melinda Gates, que começa hoje no Rio.
    O encontro, realizado pela primeira vez no país, vai até quarta (30) e promete reunir mais de 600 pesquisadores já contemplados com o apoio financeiro dos programas batizados de Grand Challenges (grandes desafios), criados pela organização de Gates.
    De 2.700 inscritos, 80 foram selecionados, entre eles o farmacêutico carioca Floriano Paes Silva Júnior, o engenheiro agrônomo paulista Mateus Marrafon e o engenheiro mecânico mineiro Ricardo Capúcio de Resende.
    "O projeto vai ajudar na produção de medicamentos para doenças causadas por parasitas, como esquistossomose e filariose", disse Silva Júnior, 35, que trabalha na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio.
    Daniel Marenco/Folhapress
    O farmacêutico Floriano Paes Silva Júnior, 35, da Fiocruz, que receberá financiamento para pesquisas sobre parasitoses
    O farmacêutico Floriano Paes Silva Júnior, 35, da Fiocruz, que receberá financiamento para pesquisas sobre parasitoses
    O farmacêutico propôs o desenvolvimento de um software capaz de interpretar imagens de parasitas feitas com microscópio para avaliar quais medicamentos já existentes podem ser úteis para combatê-los. Essa análise automatizada da reação do parasita à substância poderia ajudar até a dizer qual será a dose ideal para matá-lo.
    Até agora, essa avaliação se dá por meio da observação e da interpretação, feitas por um pesquisador, das características do causador da doença, o que leva a conclusões nem sempre consistentes. "Hoje o método é manual e subjetivo", disse Silva Júnior.
    Mateus Marrafon, 29, pesquisador do Instituto Kairós, desenvolveu protótipos de uma fita biodegradável que envolve as sementes selecionadas para uma determinada plantação. Dentro da fita, que é enterrada no solo, as sementes são distribuídas de acordo com o espaçamento ideal para o crescimento.
    "As máquinas agrícolas que distribuem sementes com o espaçamento adequado são caras. A fita é uma opção de baixo custo que vai ajudar o pequeno agricultor", disse Marrafon, que começou a pensar no projeto em 2006, quando estava na faculdade.
    "Tentei de todas as formas buscar parceiros para desenvolver meu projeto, mas não consegui. Foi preciso recorrer a uma instituição de fora do Brasil para levar minha ideia adiante."
    Ricardo Resende, 47, da Universidade Federal de Viçosa, também pensou em uma ferramenta que ajudasse no plantio. Projetou uma máquina com duas rodas, capaz de criar buracos no solo e, simultaneamente, lançar sementes. Seria a opção artesanal às semeadoras automatizadas usadas em grandes propriedades.
    "É como um carrinho de mão que pode ser usado inclusive pelas mulheres, uma ferramenta ideal para a agricultura familiar."
    A Fundação Bill e Melinda Gates também firmou parceria com o governo brasileiro. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, deve ir hoje à abertura da conferência para formalizar um acordo entre a Fiocruz e a instituição americana para a produção de um vacina dupla viral contra sarampo e rubéola.
    Segundo a fundação, a vacina deverá ser exportada para países africanos.