sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo
Jabuticabas jurídicas
RIO DE JANEIRO - Nos últimos 20 anos, fui convidado --pelas próprias pessoas ou por seus herdeiros-- a escrever a biografia de pelo menos quatro divas do teatro, vários compositores e músicos, um poeta, um costureiro, um cineasta, dois cartunistas, uma lenda da televisão, atletas, empresários, políticos, dois banqueiros e até a saga de duas fascinantes famílias.
Todos eles, grandes nomes (talvez os maiores em seus ramos) e, com uma ou duas exceções, dignos de admiração --suas vidas e realizações poderiam render livros importantes. E houve casos em que a oferta de dinheiro pelo trabalho era quase irresistível. Agradeci e recusei delicadamente todas as propostas.
Aleguei que, por serem encomendas, não teria liberdade para trabalhar --condição que sempre estabeleci para mim. Mas, como achava que suas histórias mereciam ser contadas, podia sugerir-lhes profissionais que dariam conta do recado. Alguns desses grandes nomes aceitaram minhas sugestões, e suas biografias --autorizadíssimas-- foram publicadas, para gáudio de seus amigos e de poucos mais.
A biografia autorizada é um fato. Sempre existiu e ninguém pode ser proibido de contratar uma pena de aluguel para compor rapsódias a seu respeito. Mas ela serve mais à vaidade pessoal de seu objeto do que para o verdadeiro conhecimento do dito objeto. Para uma nação, reduzir o estudo de sua história a esse tipo de instrumento viciado é cometer suicídio cultural.
Os verdadeiros biógrafos trabalham de forma diferente. Exigem independência, sem a qual nenhum rigor na apuração das informações será possível. No Brasil, essa independência está à mercê dos poderes competentes. Contra ela, buscam-se jabuticabas jurídicas --filigranas inéditas em outros países--, na forma de "ajustes" ou "meios-termos", para no fundo deixar tudo como está.

    Mônica Bergamo

    Após operação contra fiscais, controlador-geral de SP anda de carro blindado e com seguranças

    folha de são paulo
    ALÔ BRASÍLIA
    Uma das primeiras providências do prefeito Fernando Haddad (PT-SP) depois de deflagrada a operação que prendeu a chefia de arrecadação da gestão de Gilberto Kassab (PSD-SP) foi telefonar para o Palácio do Planalto.
    LEITOR
    Ciente do potencial explosivo dos fatos, já que Kassab apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o prefeito queria explicar que a investigação foi "técnica". Em conversa com a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, afirmou que soube dos detalhes "pelos jornais".
    EM BREVE
    Questionado se a CGM (Controladoria-Geral do Município) segue realizando investigações da mesma dimensão, Haddad diz que elas "estão acontecendo, na medida das possibilidades da estrutura" do órgão. "Tem desde a coisa miúda até esquemas mais profundos."
    REFORÇO
    O prefeito estuda criar uma carreira própria para a CGM, abrindo concurso para preencher os cargos.
    REFORÇO 2
    O controlador-geral Mario Vinicius Spinelli está andando de carro blindado e com seguranças.
    LEGALMENTE LOIRAS
    As modelos Yasmin Brunet e Candice Swanepoel e a atriz Fiorella Mattheis foram alguns dos destaques nas passarelas da São Paulo Fashion Week anteontem. A apresentadora Ellen Jabour, as atrizes Tatá Werneck e Letícia Spiller e a empresária Val Marchiori estiveram no evento.

    Yasmin Brunet e Fiorella Matheis na SPFW

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    Zanone Fraissat/Folhapress
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    Yasmin Brunet desfilou para a grife Triton no terceiro dia da São Paulo Fashion Week, no parque Villa-Lobos, na quarta (30)
    SEGURO
    Quatro ex-governadores de SP prestigiaram o secretário da Segurança, Fernando Grella, em homenagem que ele recebeu anteontem no Ministério Público do Estado de SP, no qual fez carreira. Estavam lá José Maria Marin, Luiz Antonio Fleury Filho, José Serra e Claudio Lembo. Ausência notada: Geraldo Alckmin, atual governador e "chefe" de Grella.
    À PROVA DE BALA
    Foram blindados 4.769 veículos no país no primeiro semestre do ano, um aumento de 11,55% em relação ao mesmo período de 2012. Os dados são da Abrablin, associação do setor. A estimativa é que outros 10 mil carros sejam protegidos até dezembro. Em 2012, o segmento chegou ao recorde de 8.384 automóveis blindados.
    À PROVA DE BALA 2
    Para o presidente da Abrablin, Laudenir Bracciali, "a sensação de insegurança segue sendo o fator determinante". São Paulo, com 70% da produção, lidera o ranking, seguido do Rio (12%), Pernambuco (4%), Amazonas (3%) e Pará (2%). "A blindagem se descentraliza do eixo Rio-SP", diz ele.
    À PROVA DE BALA 3
    A clientela é composta de 57,5% de homens e 42,5% de mulheres.
    TRAGÉDIA NA PAULISTA
    A atriz Débora Duboc recebeu convidados na estreia da peça "Jocasta" anteontem, no teatro Eva Herz, na avenida Paulista. O estilista Fause Haten, criador do figurino, e o cineasta Toni Venturi, marido da protagonista, estiveram na plateia.

    Débora Duboc estreia "Jocasta"

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    Zé Carlos Barretta/Folhapress
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    A atriz Débora Duboc recebeu convidados na estreia da peça "Jocasta", no teatro Eva Herz, na quarta (30)
    CASA CHEIA
    A exposição sobre o cineasta Stanley Kubrick levou o MIS (Museu da Imagem e do Som) a bater nesta semana recorde de visitação para uma terça-feira: 1.045 pessoas.
    *
    "Está sendo surpreendente", diz André Sturm, diretor da instituição. "Foram mais de 15 mil visitantes desde a abertura, há três semanas."
    OS GATOS...
    Tatá Werneck acaba de comprar uma casa no Itanhangá, local preferido das jovens celebridades do Rio. Antes disso, ela adquiriu um espaço no interior do Estado para servir de abrigo a cães e gatos de rua que adotou. "Na quarta, uma gatinha entrou na frente do meu carro. Desci e levei ela embora comigo", diz a atriz.
    ...E O RATO
    O ritmo das gravações para a TV e o cinema não tem deixado a atriz descansar. No ano que vem, Tatá terá apenas dez dias de folga. Passará cinco deles na Disney, na companhia de amigos, em fevereiro. Nos outros cinco, pensa em se ocupar para trabalhar em mais um filme. A atriz já tem participação confirmada em três longas e terá um programa de TV com Fábio Porchat no Multishow.
    CURTO-CIRCUITO
    Marco Nanini faz pré-estreia para convidados do espetáculo "A Arte e a Maneira de Abordar Seu Chefe para Pedir um Aumento", hoje, no Sesc Vila Mariana. 12 anos.
    A festa Ausländer Halloween Party é hoje, a partir das 23h, no Grand Metrópole, na República. Fantasia é traje obrigatório. 18 anos.
    Gero Camilo reestreia hoje três peças da carreira. "Casa Amarela", "Cleide Eló e as Peras" e "Aldeotas" serão encenadas de sexta a domingo. 12 anos.
    com ELIANE TRINDADEJOELMIR TAVARESANA KREPP e MARCELA PAES
    Mônica Bergamo
    Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

    José Simão

    folha de são paulo
    Ueba! Eike lança a Calotex!
    Sonia Abrão brinca de Halloween nas redes sociais e posta uma foto fantasiada de bruxa! O capeta existe!
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: os servidores do Kassab deixaram a Cidade Limpa mesmo. Limparam R$ 500 milhões! Levaram ao pé da letra o slogan do Kassab: Cidade Limpa! Limpa tudo! Rarará!
    E o Malddad disse que o IPTU é o condomínio da cidade. Então troca o síndico. Chama o Tim Maia! Rarará!
    E fantasma pra assustar não grita mais "ÚÚÚ", agora grita "IPTÚÚÚ"!
    E atenção! HALLOWEEN! Medo! Susto! Pânico! Sonia Abrão brinca de Halloween nas redes sociais". E posta uma foto dela fantasiada de bruxa! O capeta existe! Rarará!
    E como disse o outro: "Mas ela já faz isso diariamente". E outro: "Prefiro a Sonia Abrão de bruxa que de maiô!". Rarará! Bate qualquer filme de terror! Sônia Macabrão assusta o Halloween! Rarará!
    E adorei a charge do Sponholz com a Dilma abrindo a reunião ministerial: "Gostosuras ou travessuras?". E os ministros: "Travessuras!".
    E a minha sogra foi comprar uma máscara de Halloween e só deram o elástico! Rarará!
    E o chargista Flavio revela que o Eike vai lançar uma nova empresa: CALOTEX. O Eike desmoralizou tanto a letra x' que até a Xuxa vai mudar de nome pra Chucha!
    E o Eike vai entrar pra Bolsa Familiax. Junto com os dois rebentos: Olin e Thor. Rebentos porque arrebentam qualquer patrimônio. Rarará!
    E mais duas piada prontas! "Ex-militar acusado de tráfico é preso ao sair do cinema". Qual era o filme? "Meu Passado me Condena". Rarará!
    E mais outra: "Cliente de banco diz ter sido obrigado a tirar gesso para assinar transferência". Como é o nome dele? Paulo Saldo! Rarará!
    E mais essa: "Maduro vê Chávez em túnel do metrô". Rarará!
    E a procuradoria em São Paulo é assim: "Chegou pedido de investigação da Justiça suíça no caso Alstom". "Coloca na pasta errada e esquece!". "Chegou pedido de investigação do mensalão". "Coloca na pasta certa". Rarará!
    Trensalão tucano, pasta errada. Mensalão petista, pasta certa!
    É mole? É mole, mas sobe!
    Os Predestinados! Tecnologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): Mario Eugênio SATURNO! E gerente de relacionamento do Banco do Brasil: Leonardo Ouro! Rarará!
    Nóis sofre, mas nós goza!.
    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

      Fernanda Torres

      folha de são paulo
      O drible
      A imprensa se mantém alerta para qualquer movimento que interfira em direitos conquistados
      Lanço um romance agora em novembro. Chama-se "Fim".
      Saindo de uma reunião na editora, parei para observar a estante de lançamentos e fui convidada a escolher alguns títulos. Interessei-me pela biografia de Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trotsky, do Leminski, botei o exemplar no bolso e me dirigi à porta.
      Meu editor veio atrás com "O Drible", de Sérgio Rodrigues, nas mãos. Perguntou se eu não queria levar. Sérgio foi um dos que tiveram a pachorra de ler e escrever o blurb, palavra odienta, uma pequena resenha na contracapa do meu "Fim". Agradeci a lembrança, encabulada por não ter partido de mim o impulso.
      A vergonha me fez atacar o livro de bate-pronto e descobrir um escritor finíssimo, mineiro radicado no Rio. Sérgio se vale de um péssimo pai, cronista de futebol aposentado, que, desenganado, decide reatar relações com o filho, para compor uma tragédia burguesa que atravessa os últimos 70 anos da nossa história.
      Através da paixão poética do pai pelo esporte bretão, Sérgio explora a geração que conviveu com Nelson Rodrigues e Mário Filho, que viu Nilton Santos, Garrincha e Pelé em campo, que testemunhou o apogeu e queda do futebol arte. Murilo desenha paralelos entre o jogo e o país, enquanto o filho, nascido junto com o golpe de 64, cresce em uma sociedade utilitária, movida a autoajuda, embalado pelo saudosismo dos seriados americanos da infância, o rock de 80 e as caixas de farmácia que come pelo caminho.
      O "Drible" é primo-irmão do "Fim". Melhor, é claro, mais sórdido, mais macho, mas primo. O Rio de Janeiro é o seu palco. O hedonismo libertário, vazio, a decadência da corte, o desprezo por qualquer grande ato e a natureza imperiosa.
      A diferença é que Sérgio é das Gerais, seus personagens sobem a BR-040, a mesma que dá em Minas, para se esconderem na umidade do Rocio; possuem a doença do interior, são abatidos pelo oculto, pela insanidade, arquitetam crimes.
      Infelizmente, de nada vale o elogio. O Sérgio acaba de me prestar um grande favor e, em prol da isenção crítica, a ética literária condena troca-trocas desse tipo. Como amadora, me permito a heresia, o autor merece.
      Por falar em boa escrita, o Procure Saber foi obrigado a rever a sua posição com respeito às leis que regem a publicação de biografias.
      A liberdade de expressão está sob ameaça em muitos países latino-americanos. No Brasil, a imprensa se mantém alerta para qualquer movimento que interfira em direitos conquistados. É um tema sagrado para os meios de comunicação e entendo o porquê de a contenda ter tomado contornos tão radicais.
      Sou a favor da liberação. O "sem fins lucrativos" beneficia a internet e a versão chapa-branca da história; a informação duvidosa, sem fontes seguras. A má-fé existe, o mau gosto também, e não só em Gutenberg. Talvez menos em Gutenberg.
      Por outro lado, alguns limites merecem atenção.
      Não é justo que um criminoso lucre com o crime que cometeu. Nos Estados Unidos e na França esse direito é negado, aqui, não há lei para isso.
      Estranha também que a reparação a um dano físico, ou moral, seja calculada com base nos dividendos da pessoa lesada. Quem ganha pouco, recebe pouco, quem ganha muito, recebe muito.
      E não acho certo a veiculação de fotos de crianças sem a autorização dos pais. Tem muito louco nesse mundo e eu gostaria de ter o direito, ou não, de expor meus filhos ao Coliseu.
      Caso seja aprovada a nova versão do artigo 20 do Código Civil, uma coisa permanecerá imutável, a sua frágil redação. Ficaria assim:
      "A mera ausência de autorização não impede a divulgação de imagens, escritos e informações com finalidade biográfica de pessoa cuja trajetória pessoal, artística ou profissional tenha dimensão pública ou esteja inserida em acontecimentos de interesse da coletividade."
      É a liberdade irrestrita, mas preocupa o uso de um termo tão ambíguo quanto divulgação no enunciado. Divulgar é promover, um verbo que abre espaço para a comercialização indevida. Não tem nada a ver com o livre pensar ou a memória da história. Não é publicar e nem transmitir.
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      quinta-feira, 31 de outubro de 2013

      Coreografia aérea e festivais levam dança contemporânea a SP, Rio e Minas

      Chuva de bailarino
      Uma coreografia aérea e três festivais colocam a dança contemporânea em palcos paulistas, mineiros e cariocas
      folha de são paulo
      IARA BIDERMAN
      DE SÃO PAULO
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      Nesta e nas próximas semanas, tanto os fãs de carteirinha quanto os que não têm a menor ideia do que seja dança contemporânea vão poder mergulhar nas suas várias vertentes, das mais pop às mais "cabeça".
      A linha acrobática, com bailarinos suspensos no ar e movimentos atléticos, é uma das mais populares. Está representada na produção "Ilusões - O Amor na Mesa Vertical de Tarô", do Grupo Ares, que estreia amanhã no Memorial da América Latina, em São Paulo.
      Os bailarinos dançam presos a uma parede de 13 metros de altura montada na praça de eventos do memorial. Apesar das peripécias aéreas, o protagonista (o ator e acrobata Guto Vasconcelos) afirma que o espetáculo é despretensioso:"É para ser um alento de 30 minutos na noite de São Paulo".

      Dança nas alturas

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      Bruno Poletti/Folhapress
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      Ensaio da dança aérea "Ilusões - O Amor na Mesa Vertical do Tarô", que estreia no Memorial da América Latina, em São Paulo
      A concepção do espetáculo, da coreógrafa goiana Monica Ala, junta circo e ideias do psicoterapeuta Carl Jung (1875-1961) para contar a "jornada do herói", no caso um executivo que pensa em se matar representado por Vasconcelos.
      "Tem a parte conceitual, mas o foco é mais lúdico. Realizamos uma fantasia impossível: dançar no ar", afirma Monica Ala.
      Para quem quer conhecer o que a vertente mais "conceitual" está fazendo, o Festival Contemporâneo de Dança, que começa hoje em São Paulo, é a oportunidade.
      A sexta edição do evento terá menos grupos e artistas do que as anteriores, mas cada coreografia ficará mais tempo em cartaz.
      Até o dia 24, serão apresentados seis espetáculos de artistas que estão despontando no cenário nacional e internacional, segundo Adriana Grechi, diretora artística do festival. "São trabalhos solo, de duplas e de trios que usam o corpo para estimular a reflexão", diz Grechi.
      Na abertura, hoje à noite, os portugueses Sofia Dias e Vítor Roriz apresentam "Um Gesto que Não Passa de uma Ameaça", experimentação que parte da repetição de palavras faladas e da transformação de seus sentidos.
      MITOS FUNDADORES
      No Rio, o Festival Panorama rola com oito horas diárias de programação. Um dos maiores da área no país, abarca várias linhas da dança contemporânea. Uma é a volta às raízes de sua própria (e recente) história.
      Espetáculos retomam mitos fundadores da dança feita hoje, como releituras da "Sagração da Primavera", que fez cem anos.
      Em uma delas, o catalão Roger Bernart faz do público o intérprete da coreografia. Aí entra também outra característica da produção atual, a interação com a plateia.
      Neste fim de semana, a francesa Olivia Grandville leva ao Rio "Cabaré Discrepante", manifesto dançado sobre arte, e a americana Lois Weaver chama o público a debater na instalação "The Long Table", no Parque Lage.
      ILUSÕES - GRUPO ARES
      QUANDO de amanhã a domingo, às 20h
      ONDE Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, São Paulo)
      QUANTO grátis
      FESTIVAL CONTEMPORÂNEO DE DANÇA (SP)
      QUANDO de hoje até 24/11
      festivalcontemporaneodedanca.com
      QUANTO grátis
      FESTIVAL PANORAMA (Rio)
      QUANDO até 10/11
      panoramafestival.com
      QUANTO de R$ 4 a R$ 20
      Espetáculos com apelo crítico dão o tom de festival em Minas
      LUCIANA PAREJA NORBIATOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAQuem acha que dança é a arte do movimento harmônico pode se espantar ao assistir o coletivo português Bomba Suicida e o coreógrafo Benoît Lachambre, do grupo canadense Par B.L.Eux. Ambos produzem em seus espetáculos um estranhamento que joga para os ares o virtuosismo, colocando em xeque a ideia vigente de normalidade.
      Não à toa, o Bomba Suicida foi o escolhido para abrir o FID (Fórum Internacional da Dança) nesta sexta, em Belo Horizonte. "De 1996 para cá, acabamos fazendo concessões, o que diminuiu o apelo político do evento. Neste ano, resolvemos voltar às origens e usar toda a potência crítica da dança", diz Adriana Banana, organizadora do evento com Carla Lobo.
      Na estreia, o Bomba Suicida apresenta "Paraíso - Colecção Privada", uma visão ácida do céu e do inferno. O coleti vo traz ainda ao FID "A Primeira Dança de Urizen" e "Guintche".
      Outra atração do festival mineiro, o grupo candense Lachambre vai também apresentar seu último trabalho, "Snakeskins", em São Paulo, nos dias 14 e 15.

        Alguma coisa está fora da moda nesta temporada

        folha de são paulo
        ANÁLISE
        DARIO CALDASESPECIAL PARA A FOLHAFutebol, cultura celta, romantismo retrô, silhueta "new look" ou releitura do moletom: mais uma vez, é hora da moda reativar o seu carrossel de tendências na fashion week. No entanto, o clima de festa permanente nos corredores e backstages parece ter ficado para trás.
        Um certo incômodo paira no ar, na semana de moda paulistana, a despeito dos desfiles concorridos e das celebridades: no meio da passarela, sentou-se um enorme elefante cinzento que responde pelo nome genérico de crise.
        É claro que negá-la com veemência faz parte do marketing positivo do evento. Bem mais difícil é negar que há uma crise de gestão das marcas, abaladas pelos inviáveis custos de produção brasileiros.
        Na ponta da indústria, faz anos que o tema crise de competitividade frequenta reuniões do setor e páginas da mídia. É difícil manter o sistema da moda funcionando sem um aparelho produtivo vigoroso.
        Os países que conseguiram já tinham uma posição forte em ativos imateriais --marcas, marketing, etc.--, quando inventaram a terceirização na Ásia (e o caminho de volta para casa, aliás, já começou).
        É incontornável, enfim, a sensação de que a semana de moda anda algo deslocada por fatores que vão das mudanças de local e de calendário à diminuição do número de desfiles, além da percepção de que os preços praticados por algumas marcas, eles sim, estão completamente fora do lugar.
        Não deixa de ser paradoxal, de certo modo frustrante, que isso aconteça no momento em que o Brasil seja efetivamente percebido como país de moda e design, no cenário internacional.
        Se serve de consolo, o momento de fraqueza da moda é global. O consumidor parece ter-se cansado de ver roupas que não vai usar.
        "Eles não entendem", lamentam-se estilistas e fashionistas. "Não é isso que queremos", reafirmam os consumidores, em franca desconexão com as passarelas --e cada vez mais sintonizados com o estilo acessível e democrático do grande varejo, que é onde a festa, por enquanto, continua.

          'Superanticorpo' contra HIV controla infecção em macacos

          folha de são paulo

          Tratamento desenvolvido nos EUA com participação de pesquisador brasileiro será testado em humanos em 2014
          Anticorpos neutralizam capacidade do HIV de se ligar às células, reduzindo a carga viral a níveis indetectáveis
          DÉBORA MISMETTIEDITORA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"Nem todo mundo se defende contra o HIV da mesma forma: algumas pessoas produzem tipos raros de "superanticorpos" contra o vírus. A eficácia de uma terapia que usa esses anticorpos para controlar um vírus similar ao HIV em macacos é relatada em dois estudos publicados hoje na "Nature".
          Infusões dos "superanticorpos" clonados a partir do material colhido de humanos conseguiram reduzir, em uma semana, a carga de HIV a níveis indetectáveis em um grupo de macacos resos.
          Esse controle da carga viral, no entanto, não foi duradouro na maioria deles: dois meses após a aplicação da terapia, em média, o número de vírus em circulação voltou a crescer na maioria dos macacos. O controle só permaneceu nos que já tinham uma carga viral mais baixa desde o início do estudo, o que sugere uma ação conjunta do sistema imune dos animais e dos "superanticorpos".
          EM HUMANOS
          Segundo Michel Nussenzweig, pesquisador brasileiro que é um dos líderes do grupo responsável por esses trabalhos, o tratamento será testado em humanos no início de 2014, nos EUA. Serão 75 voluntários, e os primeiros resultados devem ser obtidos em julho ou agosto.
          A existência desses anticorpos poderosos já é conhecida há anos pelos pesquisadores. Eles se tornaram o objeto de estudo do brasileiro especialista em imunologia.
          "Eu sabia que algumas pessoas conseguiam fazer anticorpos poderosos, mas não havia como cloná-los. Desenvolvi um método para isso que é muito eficaz."
          Nussenzweig, 58, é pesquisador da Universidade Rockefeller, nos EUA. Filho de cientistas que se dedicam a estudos sobre malária, Victor e Ruth Nussenzweig, Michel mora nos EUA desde 1964, quando seus pais foram para a Universidade de Nova York.
          Em 2012, ele publicou, também na "Nature", um estudo demonstrando a eficácia do uso desses "superanticorpos" em roedores geneticamente modificados.
          Agora, após levantar US$ 10 milhões (a maior parte com a Fundação Bill e Melinda Gates), Nussenzweig aguarda o início dos testes em humanos.
          COMO FUNCIONA
          Segundo o pesquisador, os anticorpos atacam o vírus exatamente na região da sua superfície que permite sua ligação com as células CD4. Essa ligação é que permite que o vírus invada a célula e se multiplique.
          "O anticorpo bloqueia a capacidade do vírus de entrar na célula", disse Nussenzweig àFolha, por telefone, do Rio. Ele participou, nesta semana, de uma conferência da fundação Gates no Brasil.
          A ação dos "superanticorpos" é, portanto, diferente do mecanismo das drogas antirretrovirais usadas hoje. Elas agem quando o vírus já está dentro da célula, impedindo sua replicação.
          Mas uma coisa os "superanticorpos" e os antirretrovirais têm em comum: é mais vantajoso usar mais de um tipo de cada um deles para evitar que o vírus, que tem grande capacidade de mutação, se torne resistente e drible os ataques.
          Hoje, o coquetel anti-HIV usa três drogas. Os testes com macacos usaram um ou dois tipos de "superanticorpos".
          De acordo com Esper Kallás, professor de imunologia clínica e alergia da Faculdade de Medicina da USP (não envolvido com o estudo), esse tratamento pode vir a ser usado em associação com os antirretrovirais atuais em pacientes com resistência aos remédios, por exemplo.
          Outra opção seria usar os anticorpos em momentos-chave, como na hora do parto ou logo após um contato acidental com o vírus, como um estupro. A grande desvantagem é o custo: o anticorpo é muito mais caro do que os antirretrovirais.
          "Se desse para induzir o organismo a produzir esses anticorpos continuamente, você teria uma vacina."
          Segundo Nussenzweig, descobrir como algumas pessoas produzem esses "superanticorpos" poderá dar um mapa aos cientistas para produzir uma imunização.
          "Todas as vacinas que temos até hoje foram feitas copiando a natureza. No caso do HIV, ainda não conseguimos fazer isso, porque não sabemos como esses anticorpos são feitos."
            Ainda não há opção a macaco, dizem cientistas
            DA EDITORA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"Até agora, não há alternativa aos uso dos macacos para checar se novos tratamentos contra o HIV são seguros o suficiente para serem testados em humanos, segundo Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP.
            Em breve, uma vacina contra o HIV desenvolvida no Brasil começará a ser aplicada em macacos resos no Instituto Butantan.
            Michel Nussenzweig, da Universidade Rockefeller, que usa macacos resos em seus estudos, afirma que animais não devem ser usados em pesquisas quando há alternativas.
            "Não acho que animais devam ser usados para testar cosméticos. Só quando não houver escolha e quando a pesquisa tem a chance de beneficiar as pessoas."
            O roubo de 178 beagles do Instituto Royal, em São Roque, há quase duas semanas, trouxe o tema da pesquisa em animais à tona. O laboratório usava as cobaias para estudos com medicamentos contra câncer, entre outros.
            "Infelizmente, não teria outra forma de fazer esse estudo [sobre HIV] sem os macacos. Levo isso muito a sério. Não podemos abusar dos animais. Tentamos criar as condições mais humanas possíveis durante os testes."
            Segundo Kallás, pesquisador nenhum gosta de sacrificar animais, mas é preciso pesar custo e benefício.
            "São 35 milhões de pessoas com HIV no mundo. Até hoje, quantos macacos foram usados em pesquisas? Um número infinitamente menor. Ninguém gosta de testar macaco. Mas quais são as prioridades da saúde pública brasileira e mundial?"
            O professor de imunologia da USP, que realiza pesquisas com seres humanos, afirma que a regulamentação brasileira já é bem rigorosa para os testes com animais e com pessoas.
            Para ele, a demora na aprovação dos testes clínicos chega a ser excessiva. "O rigor aqui é maior do que lá fora. Acabamos sofrendo com isso, demoro um ano e meio para aprovar um teste clínico."
            Kallás afirma que quem faz pesquisa no Brasil hoje está "esmagado" entre o debate da sociedade sobre o uso de cobaias e a burocracia necessária para aprovar os testes.
            "Esses movimentos [contra pesquisa em animais] já aconteceram na Europa e nos EUA há 20 anos. Sempre tem alguém que acha que salvar um coelho é mais importante do que salvar uma pessoa."