folha de são paulo
ANÁLISE
DARIO CALDASESPECIAL PARA A FOLHAFutebol, cultura celta, romantismo retrô, silhueta "new look" ou releitura do moletom: mais uma vez, é hora da moda reativar o seu carrossel de tendências na fashion week. No entanto, o clima de festa permanente nos corredores e backstages parece ter ficado para trás.Um certo incômodo paira no ar, na semana de moda paulistana, a despeito dos desfiles concorridos e das celebridades: no meio da passarela, sentou-se um enorme elefante cinzento que responde pelo nome genérico de crise.
É claro que negá-la com veemência faz parte do marketing positivo do evento. Bem mais difícil é negar que há uma crise de gestão das marcas, abaladas pelos inviáveis custos de produção brasileiros.
Na ponta da indústria, faz anos que o tema crise de competitividade frequenta reuniões do setor e páginas da mídia. É difícil manter o sistema da moda funcionando sem um aparelho produtivo vigoroso.
Os países que conseguiram já tinham uma posição forte em ativos imateriais --marcas, marketing, etc.--, quando inventaram a terceirização na Ásia (e o caminho de volta para casa, aliás, já começou).
É incontornável, enfim, a sensação de que a semana de moda anda algo deslocada por fatores que vão das mudanças de local e de calendário à diminuição do número de desfiles, além da percepção de que os preços praticados por algumas marcas, eles sim, estão completamente fora do lugar.
Não deixa de ser paradoxal, de certo modo frustrante, que isso aconteça no momento em que o Brasil seja efetivamente percebido como país de moda e design, no cenário internacional.
Se serve de consolo, o momento de fraqueza da moda é global. O consumidor parece ter-se cansado de ver roupas que não vai usar.
"Eles não entendem", lamentam-se estilistas e fashionistas. "Não é isso que queremos", reafirmam os consumidores, em franca desconexão com as passarelas --e cada vez mais sintonizados com o estilo acessível e democrático do grande varejo, que é onde a festa, por enquanto, continua.
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