sábado, 2 de novembro de 2013

Mônica Bergamo

folha de são paulo

Grupo Procure Saber deve acabar após racha envolvendo polêmica das biografias

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A Associação Procure Saber, que reúne estrelas como Roberto Carlos, Gilberto Gil, Chico Buarque e Caetano Veloso, pode estar com os dias contados. O racha entre os artistas por causa da condução do tema das biografias deve sepultar a entidade.
CAIXÃO E VELA PRETA
A dúvida é a data em que o "enterro" da Procure Saber, ao menos no formato atual, ocorrerá. É que, para participar da discussão das biografias no STF (Supremo Tribunal Federal), os artistas precisam ser representados por uma associação. De qualquer forma, o foco das estrelas agora é o Congresso, onde eles esperam emplacar suas principais teses.
POR DENTRO
A Procure Saber, na verdade, já nasceu rachada sobre o tema das biografias, conforme noticiou a coluna em junho. Na época, a discussão estava restrita aos bastidores e era tratada como grande segredo. A entidade, presidida por Paula Lavigne, chegou a desmentir que o tema estivesse em pauta.
CAIXA POSTAL
Cartas obtidas pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) mostram que a Eternit ofereceu festas, churrascos e cestas de Natal antes de propor acordos extrajudiciais a ex-funcionários contaminados por pó de amianto. A fabricante de telhas e caixas d'água, diz o órgão, "cortejou" antigos empregados.
CAIXA POSTAL 2
Entre uma festividade e outra, a multinacional, segundo o MPT, propunha indenizações de até R$ 10 mil, e também pedia que o ex-trabalhador se comprometesse a não recorrer à Justiça. O MPT pede indenização deR$ 1 bilhão por dano moral coletivo. A Eternit diz que a Justiça já entendeu, em outros processos, que a fábrica "observava as regras aplicáveis ao uso do amianto".
NO CORAÇÃO DO BRASIL
Fernando Henrique Cardoso e Lula fizeram questão de enviar mensagens para a homenagem que o Instituto Vladimir Herzog prestou anteontem a Henry Sobel, que está se despedindo do Brasil. Amanda e Alisha Sobel, mulher e filha do americano, foram à cerimônia, no Memorial da América Latina. O cardeal dom Odilo Scherer, o ex-ministro Celso Lafer e Ivo e Clarice Herzog aplaudiram o rabino.

Henry Sobel recebe homenagem

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Zé Carlos Barretta/Folhapress
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O rabino Henry Sobel, que está se despedindo do Brasil, recebeu homenagem do Instituto Vladimir Herzog no Memorial da América Latina, na quinta (31)
GRANDINHO
O publicitário Washington Olivetto será homenageado nesta quinta com o Prêmio O Que Eu Quero Ser Quando Crescer, dos alunos de publicidade da Faculdade Cásper Líbero. "Já ganhei todos os prêmios da história da minha profissão. Esse é especial porque vem de jovens", diz o diretor da WMcCann.
LÁ NO ALTO
Desembarca hoje no Brasil o fotógrafo Ben Canales, reconhecido mundialmente pelas imagens do céu registradas a partir de vários pontos do planeta.
*
O roteiro do profissional no país começa em SP, passando por Ilhabela e Juqueí.
TAPINHA NAS COSTAS
A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão (PC do B-SP), inicia neste sábado viagem de cinco dias a países da América Latina. Vai pedir a autoridades que votem na capital para sede da Expo 2020. "Estou em plena campanha", diz ela, que vai visitar Cuba, México e Paraguai. A eleição será no próximo dia 27, em Paris. Entre as concorrentes, Dubai (Emirados Árabes) é temida. "A campanha deles é agressiva", afirma Nádia.
PRIMEIRA FILA
A cantora Gaby Amarantos, o fotógrafo J. R. Duran e a empresária Fabiana Justus estiveram anteontem na São Paulo Fashion Week, no parque Villa-Lobos. A modelo Bruna Tenório desfilou para uma das grifes da programação do evento.

Gaby Amarantos vai a desfile

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Zanone Fraissat/Folhapress
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A cantora Gaby Amarantos foi uma das convidadas da SPFW na quinta (31), no parque Villa-Lobos
CURTO-CIRCUITO
A dupla Brothers of Brazil e a banda Vespas Mandarinas tocam hoje no Brothers Fest, na Clash Club, a partir das 18h. 16 anos.
O espetáculo "Huis Clos (Entre Quatro Paredes)", com Marcello Airoldi, estreia hoje, às 19h, no Sesc Bom Retiro. 14 anos.
A peça "Casal Palavrakis" encerra temporada hoje no teatro Studio Heleny Guariba, às 21h. 16 anos.
A cantora Juliana Valadares lança na segunda o DVD "Indecifrável", em show no Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena, às 20h. Grátis. Livre.
com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
Mônica Bergamo
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

Artista faz 'batalha ilustrada' entre São Paulo e Buenos Aires

folha de são paulo
FOCO
LÍGIA MESQUITADE BUENOS AIRESSinal da rivalidade e (ou) do amor entre Brasil e Argentina, as diferenças entre os países ganharam uma versão gráfica pelas mãos da ilustradora Vivian Mota, 32.
Seus desenhos, comparando Adoniran Barbosa e Carlos Gardel, Hebe e Evita, Messi e Neymar, brigadeiro e alfajor, as personagens Mônica e Mafalda, entre outros, se tornaram um hit na internet.
O site "Sampa versus Buenos" (sampaversusbuenos.tumblr.com), uma "batalha ilustrada" entre São Paulo e Buenos Aires, foi criado pela paulistana há um ano e tem 45 mil seguidores.
A ideia para os desenhos surgiu depois de ela passar uma semana em Buenos Aires e ver "muitas similaridades e diferenças interessantes". Inspirada no livro e blog "Paris versus New York", de Vahram Muratyan, resolveu criar a página com as duas cidades.
A cada semana ela cria um novo desenho. Na terça, ela postou um com os chefs Alex Atala e Fernando Trocca (do restaurante portenho Sucre).
Os desenhos mais trabalhosos, diz, são os que representam pontos turísticos. "Por causa dos detalhes da arquitetura. O mais difícil de fazer até agora foi o Museu do Ipiranga vs. Casa Rosada."

    Painel das Letras - Raquel Cozer

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    A bomba Bolshoi
    Se ficasse só na história de 2013 do balé Bolshoi, incluindo o ataque com ácido contra o diretor e as denúncias de corrupção e de prostituição de bailarinas, o americano Simon Morrison já teria um livro digno de atenção. Mas o professor da Universidade de Princeton resolveu investigar a maior companhia de dança do mundo desde sua criação, em 1776, para "Bolshoi Confidential", a ser concluído no ano que vem.
    A obra, com o subtítulo "Segredos do Balé Russo -- Do Domínio dos Czares à Era de Putin", pretende mostrar como a instituição se tornou instrumento político da Rússia. Vem atraindo editoras de vários países e teve, no Brasil, os direitos adquiridos pela Record.
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    // GOLPES DO PASSADO
    Mario Magalhães, vencedor do Jabuti de biografia por "Marighella", é o nome brasileiro da coletânewa "Crecer a Golpes: Cronicas y Ensayos de America Latina a 40 anos de Allende y Pinochet", que a editora C.A. Press, do Penguin Group, lança na semana que vem.
    Prevista ainda para o mercado de língua inglesa em 2014, a obra reúne textos inéditos de 13 autores, como Jon Lee Anderson e Leonardo Padura, sobre as últimas quatro décadas em vários países do continente. Magalhães representa o Brasil com "Juego de la Memoria", em que conta a história do país a partir da trajetória da seleção e de sua reverência de torcedor pelo "ídolo supremo" Zico.
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    TIMING Lou Reed, morto no domingo, é uma das estrelas de 'Dangerous Glitter - A História de como David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop Foram para o Inferno e Salvaram o Rock'n'Roll', que a Veneta lança neste mês
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    Policial Raphael Montes, 23, é o novo nome do catálogo nacional da Companhia das Letras. O autor de "Suicidas" (Benvirá), finalista do Prêmio SP de Literatura, publicará no ano que vem seu próximo thriller, "Dias Perfeitos", sobre um psicopata que sequestra a mulher que ama.
    Holocausto além-mar Após alcançar a marca de 50 mil cópias em cinco meses, "Holocausto Brasileiro" (Geração Editorial), de Daniela Arbex, sairá em Portugal. A Guerra & Paz publicará a obra sobre as 60 mil mortes nos anos 1960 e 1970 no Hospício de Barbacena (MG).
    Mudança Não foi tão pacífica a decisão de fechar a maior loja da Livraria da Vila, de 2.500 m², no shopping Cidade Jardim. Sem o interesse do centro comercial em mantê-la no espaço nobre, a loja chegou a recorrer ao Superior Tribunal de Justiça, mas não foi bem-sucedida.
    Mudança 2 A Vila corre o risco de passar o período de compras do Natal sem espaço no shopping, já que a nova loja, menor, está prevista para 2014. Shopping e livraria informam apenas que negociam a mudança de espaço.
    Planos A Matrix planeja para 2014 a Coleção Matrix para Ensino Médio, com clássicos da literatura nacional a serem oferecidos de graça a estudantes. O projeto dependerá de parceria com empresas para edição, impressão e distribuição das obras.
    Sem festa São Paulo ficará outra vez sem a Primavera dos Livros, evento organizado pela associação de editores independentes Libre e que no Rio acabou de ter sua 13ª edição anual, com 15 mil títulos com descontos. Prevista para o final deste mês, a edição paulistana de 2013 foi cancelada por falta de apoio.
    Sem festa 2 Neste ano, a Biblioteca Nacional não lançou seu edital de feiras, que em 2012 garantiu R$ 100 mil para o evento. Outro problema da feira paulistana, de periodicidade incerta, é a concorrência com a Festa do Livro da USP, no fim do ano.
    Sua atenção As estratégias das empresas do vale do Silício para ganhar o público são o tema do próximo livro de Tim Wu, autor de "Impérios da Comunicação". A Zahar garantiu os direitos de "Your Attention Please", previsto para o fim de 2014.

      Bridget Jones envelhece repetitiva e enfadonha

      folha de são paulo
      CRÍTICA - ROMANCE
      'Louca pelo Garoto', nova trama da escritora Helen Fielding, tem fórmula desgastada e enredo subaproveitado
      CLARA AVERBUCKESPECIAL PARA A FOLHAUma mulher de 50 anos que falha em fazer piadas consigo mesma e só pensa em como encaixar um namorado mais jovem em sua vida de viúva com dois filhos pequenos: foi isso que virou a destrambelhada e outrora sarcástica Bridget Jones, o grande sucesso da escritora Helen Fielding, neste último livro, "Louca pelo Garoto".
      Seu marido morreu, ela se deprimiu, ficou anos sem sexo e quando encontrou um homem mais jovem que se interessou por ela, transformou o clichezão do "por que ele não me liga" em "por que ele não me manda mensagens de texto", o que, vamos combinar, dá na mesma e é extremamente cansativo (mas quem nunca, não é mesmo?).
      NADA DE NOVO
      Repetitivo, na mesma fórmula de diário com tópicos que evidentemente se desgastou e sem o ritmo dos livros anteriores, essa enervante sequência da bem-sucedida série não traz absolutamente nada de interessante, nenhum conflito relevante, nada, e as soluções da autora são tão óbvias que fariam qualquer ficcionista mais criativo corar.
      A maternidade poderia ser um tema bacana, já que Bridget tem que se virar sozinha com seus dois filhos após a morte do perfeitinho Mr. Darcy, mas ela não consegue se aprofundar o suficiente nos filhos para torná-los uma parte interessante da trama.
      Eles estão apenas lá, como dois coadjuvantes com a função de atrapalhar sua atabalhoada mamãe ainda mais na difícil função de viver e ainda ter que interagir com as enfadonhas e óbvias mães de seus coleguinhas.
      PIOLHOS
      Para não dizer que ela não tem ambições de carreira, Bridget passa parte do livro conflitando com o roteiro de um filme que escreveu, mas ela parece mais preocupada com a falta de uma roupa que impressione para vestir nas reuniões do que com o resultado do trabalho em si.
      Oh, os piolhos em meus filhos, oh, estarei com piolhos e terei eu passado piolhos para meu jovem e gostoso namorado, oh, como faço para ser uma mãe tão boa quanto a babá parece ser para meus filhos, oh, estou gorda, oh, como demais, oh, preciso mudar, oh, preciso emagrecer e ter seguidores no Twitter (...).
      Bridget parece ter 50 anos, mas estar aprisionada à ideia ultrapassada de popularidade dos 20, sempre falando com seus amigos que exalam frivolidade e não conseguem dar um bom conselho ou perspectiva.
      Talvez (talvez!), quem acompanhou a série toda ainda consiga manter algum afeto pela personagem, mas não seria uma surpresa se os fãs das aventuras e desventuras de Bridget Jones preferissem que ela tivesse falecido ou sido deixada no ostracismo, o que, acredito, seria um final melhor do que esse.

        Drauzio Varella

        folha de são paulo
        Paixão arrebatadora
        Jamais sonhara com uma mulher daquelas, capaz de deixar um homem trêmulo, como ele, naquela hora
        Uílton e Julinho CDHU nasceram no mesmo dia e cresceram inseparáveis na mesma quebrada.
        Uílton vivia com dois irmãos, uma prima, a tia, a mãe e a avó, numa casinha mal-acabada. Guardava uma imagem vaga do pai, preso no ano em que ele nasceu e assassinado ao ganhar a liberdade. Julinho morava no terceiro andar do conjunto habitacional, com a mãe e duas irmãs.
        Na adolescência, a ocupação era a escola de manhã. As tardes, passavam em rodinhas ociosas, iguais a tantas que se espalham pela periferia para falar de moto, jeans de marca, óculos escuros da hora e das meninas da vizinhança.
        Aos 14 anos, começaram a fumar maconha e a faltar nas aulas. Aos 16, furtaram uma bicicleta, vendida na biqueira da rua de trás da CDHU.
        Depois desse roubo, Uílton virou assaltante e tomou rumo ignorado, Julinho hesitou seguir-lhe os passos, para poupar desgosto à mãe trabalhadora, intenção louvável que três anos mais tarde sucumbiria aos encantos de uma mulher: Marisa Quebra Salto, assim conhecida pelas sapatadas desferidas contra uma desafeta na boate em que trabalhavam.
        Julinho estava no ônibus, quando a morena entrou equilibrada no salto alto, saia curta e blusa com um nó acima do umbigo. Orou com tanta fé para que ela sentasse a seu lado, que Deus se apiedou dele.
        A abordagem não foi encorajadora:
        -- Aonde vai levar tanta beleza?
        -- Não é da tua conta.
        Jamais sonhara com uma mulher daquelas, capaz de deixar um homem trêmulo, como ele, naquela hora. Puxou todos os assuntos que lhe vieram à mente. A morena, muda, com o olhar fixo no para-brisa do coletivo.
        Quando Quebra Salto deu sinal para descer na avenida Rio Branco, ele tentou a cartada derradeira: alegou que o local era escuro e perigoso, estava decidido a acompanhá-la como cão de guarda. Ela achou engraçado.
        Com o salário de motoqueiro, Julinho sentiu que não teria chance com a mulher, que não lhe saía da cabeça. Começou a transportar droga para o pessoal da biqueira.
        Uma noite, apareceu na boate de tênis fosforescente, colar de ouro para fora da camisa e um envelope com dez cápsulas lotadas de cocaína.
        No mês seguinte, alugaram um quarto e sala de fundos, no Capão Redondo. Ele no tráfico, ela em casa, aprisionada pelos ciúmes do companheiro.
        Julinho caiu num flagrante. No Cadeião de Pinheiros, encontrou o amigo de infância que aguardava transferência para o semiaberto, depois de cumprir seis anos no fechado. Membro da facção que comandava o presídio, Uílton recomendou o companheiro para os superiores.
        As facilidades que a proteção do Partido proporcionaram a Julinho não lhe amenizaram a dor da separação da mulher, martírio daqueles dias idênticos.
        O semiaberto de Uílton cantou em 15 dias. Receoso de que a penúria forçasse Marisa a voltar à vida noturna, Julinho pediu ao amigo o favor de entregar a ela R$ 3.000 que o pessoal da biqueira lhe devia.
        Quando Uílton bateu na porta da casa de fundos, Marisa apareceu na janela, de cabelo molhado. Pela grade, ele explicou quem era, deixou o dinheiro e saiu sem aceitar o café.
        Dias depois, recebeu um telefonema do amigo preso, que lhe pedia para entregar pessoalmente a cesta básica que a facção encaminharia para Marisa todos os meses. Achou desculpa para fugir do compromisso, mas o amigo foi insistente, não confiava em outra pessoa.
        Durante seis meses, as cestas foram levadas sem que ele cruzasse a soleira da porta. Na sétima entrega, chovia. Marisa pediu que entrasse. Na sala, tirou-lhe a camisa molhada, jogou-a sobre a tábua de passar roupa e começou a enxugá-lo com a toalha de banho.
        Deus é testemunha do suplício que Uílton havia enfrentado para resistir à paixão que afinal veio à luz naquela noite de chuva. Paixão na verdade despertada no instante em que a viu pela primeira vez, na janela, com o cabelo molhado.
        Num domingo, a quadrilha planejou assaltar um posto de gasolina, serviço fácil, com o vigia mancomunado. Combinaram encontrar-se às 11 da noite num bar da vizinhança.
        Quando Uílton chegou o bar estava fechado. Esperou na porta. Dez minutos depois, dois vultos cruzaram a rua. Levou cinco tiros. Caído, ouviu um deles deles dizer: "Não leva a mal parceiro".

        sexta-feira, 1 de novembro de 2013

        Estilo de vida vegano ganha adeptos

        folha de são paulo
        DA DEUTSCHE WELLE
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        Em 1º de novembro, é comemorado o Dia Mundial do Veganismo. Na Alemanha, há mais de 600 mil adeptos à alimentação livre de derivados de animais. Para muitos, a opção alimentar é também uma questão política.
        A pequena loja de comida vegana no centro de Colônia chama pouca atenção. Alguns refrigeradores, estantes simples e um balcão compõem a estrutura da Goldenen Zeiten (Tempos Dourados, em tradução livre). O pequeno local oferece desde no cheez (sem queijo) e cowgirl steak (bife vegetariano) até comida vegana para gatos e cachorros, que a proprietária, Annette Klietz, vende como "especialidades veganas".
        Mesmo que o local seja pequeno, ele oferece hoje bem mais do que no começo. "Há dez anos era muito difícil encontrar comida vegana. Eu tinha apenas dois minirrefrigeradores e quatro estantes. Toda minha oferta cabia aí", relembra a proprietária. Hoje a situação é outra: estima-se que haja 600 mil veganos em toda a Alemanha.
        Klietz conta que abriu o negócio por falta de opções no mercado. "Para mim, como consumidora, era difícil encontrar comida vegana. E como sempre gostei de trabalhar no comércio, essa foi a solução mais simples", explica Annette. Ela conta que adotou este estilo de vida por razões éticas, e não de saúde. "Eu sou um exemplo de vegana que se alimenta de modo insalubre, nunca gostei da alimentação saudável. Para mim, a satisfação é o mais o importante".
        PRATOS VEGANOS "DISFARÇADOS"
        Já para o cardápio do ECCO, a saúde é prioridade. O local, também em Colônia, é um dos muitos restaurantes em cidades alemãs que oferecem um cardápio vegano. Localizado em uma parte movimentada da cidade, ele atrai uma ampla variedade de clientes. Duas idosas conversam enquanto tomam água e café, ao lado de algumas jovens mães com filhos pequenos tomam café.
        Colegas de trabalho, casais e senhores lendo jornais dividem a sala espaçosa. Uma televisão de tela plana atrás do bar mostra uma reportagem sobre animais enquanto música Jazz-Pop flui dos alto-falantes embutidos nas paredes. Nicole Löhnert, a proprietária, também se aventura como cozinheira. "O mais divertido é fazer pratos que normalmente são de origem animal, mas à moda vegana, como filés, assados, salsichas", diz a vegana por convicção.
        Os clientes que como ela não comem alimentos de origem animal apreciam as ofertas do cardápio, enquanto outros, desavisados, os ingerem sem saber. "Eu substituo muitos ingredientes, mas não digo nada. Quando fazemos uma maionese, é sempre vegana, assim como nossas saladas. Quando vêm os veganos, eu posso recomendar outros pratos. Mas sem fazer alarde, porque muitas outras pessoas não iriam comê-los", explica Nicole. Seu objetivo é utilizar cada vez mais ingredientes que não sejam de origem animal.
        ESPÍRITO COMUNITÁRIO
        Na vizinha cidade de Bonn, fica a Casa Oscar Romero, um centro de projetos sociais, onde uma vez ao mês são servidas refeições veganas como forma de arrecadar doações. Muitas pessoas apoiam a iniciativa. Um dos cozinheiros serve de trás do balcão um ensopado e salada de macarrão. Para a sobremesa, frutas. Cerca de 50 pessoas conversam entre si acomodados em cadeiras e bancos. Na maioria, têm entre 20 e 40 anos, moram ali perto e vêm com regularidade.
        Uma rápida pesquisa entre os presentes deixa claro que o que os une é o sentimento de comunidade. "Acho ótimo, nós nos juntamos, comemos e temos uma noite agradável, independentemente do dinheiro", afirma um deles.
        A comida é de baixo custo porque é doada. Geralmente são alimentos com prazo vencido e por isso descartados pelos supermercados das redondezas. Muitos dos convidados não comem comida vegana diariamente. A não violência e a sustentabilidade são os princípios éticos dessa comunidade. Quem traz novos tópicos para discussão é ouvido. E a comida vegana é um deles.

        Exame evita biópsia de próstata desnecessária

        FOLHA DE SÃO PAULO
        MARIANA VERSOLATO
        EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
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        Um novo aparelho que é posicionado entre as pernas do paciente pode evitar biópsias desnecessárias na próstata, segundo um estudo do A.C. Camargo Cancer Center.
        O hospital em São Paulo é o primeiro do país a usar esse exame na prática clínica.
        O teste com o equipamento pode ser feito por homens com suspeita de câncer de próstata que já se submeteram aos exames de toque e de sangue (PSA) e têm indicação para fazer uma biópsia.
        O objetivo é definir quem realmente deve ser submetido à biópsia, um procedimento invasivo que pode causar ansiedade e efeitos como dores e sangramento na urina e na ejaculação.
        Na biópsia, uma agulha inserida no reto colhe fragmentos da próstata do paciente. A anestesia pode ser local (com sedação) ou geral.
        Mas apenas de 30% a 40% das biópsias são positivas para câncer --ou seja, a maioria dos homens com suspeita da doença passa pelo procedimento invasivo desnecessariamente porque o exame de toque e o PSA dão margem para incertezas.
        Nos Estados Unidos, estudos mostram que há cerca de 750 mil biópsias de próstata desnecessárias por ano.
        O A.C. Camargo avaliou o equipamento em 150 homens durante 18 meses e comparou os resultados do novo teste com os da biópsia.
        Resultado: o exame não invasivo teve acurácia de 90% em prever quem não precisaria ter passado pelas agulhas.
        Esses dados serão apresentados no Congresso Brasileiro de Urologia, que acontece neste mês em Natal.
        Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
        COMPLEMENTAR
        Gustavo Cardoso Guimarães, cirurgião oncologista e diretor do Núcleo de Urologia do A.C. Camargo, lembra que o novo equipamento não substitui a avaliação clínica e o exame de toque retal nem faz diagnóstico de câncer, mas funciona como um instrumento complementar na investigação da doença.
        "O exame de toque ainda é mais barato, simples e indispensável para detectar outras anomalias da próstata."
        O equipamento emite ondas eletromagnéticas que indicam uma alteração na proximidade de um tumor.
        A engenhoca foi descoberta por acaso pelo italiano Clarbruno Vedruccio, que desenvolvia um detector de minas terrestres na década de 90. Como ele tinha gastrite, percebeu uma queda no sinal quando o aparelho se aproximava de tecidos doentes.
        Segundo Guimarães, o exame também pode ser indicado para quem teve câncer anal e não pode fazer exame de toque retal.
        Para Lucas Nogueira, diretor do Departamento de Uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia, a tecnologia é promissora, mas mais estudos precisam demonstrar sua eficácia.
        "Ainda faltam evidências de que esse teste seja superior aos já existentes", diz. Há outra ressalva: o aparelho custa R$ 450 mil.
        Hoje, uma alternativa para filtrar melhor quem deve fazer uma biópsia é a ressonância magnética, mas nem sempre a visualização da próstata é satisfatória.
        Há também o PCA3, um exame de urina feito após massagem na próstata --ainda mais incômodo que o exame de toque.