sábado, 2 de novembro de 2013

Bridget Jones envelhece repetitiva e enfadonha

folha de são paulo
CRÍTICA - ROMANCE
'Louca pelo Garoto', nova trama da escritora Helen Fielding, tem fórmula desgastada e enredo subaproveitado
CLARA AVERBUCKESPECIAL PARA A FOLHAUma mulher de 50 anos que falha em fazer piadas consigo mesma e só pensa em como encaixar um namorado mais jovem em sua vida de viúva com dois filhos pequenos: foi isso que virou a destrambelhada e outrora sarcástica Bridget Jones, o grande sucesso da escritora Helen Fielding, neste último livro, "Louca pelo Garoto".
Seu marido morreu, ela se deprimiu, ficou anos sem sexo e quando encontrou um homem mais jovem que se interessou por ela, transformou o clichezão do "por que ele não me liga" em "por que ele não me manda mensagens de texto", o que, vamos combinar, dá na mesma e é extremamente cansativo (mas quem nunca, não é mesmo?).
NADA DE NOVO
Repetitivo, na mesma fórmula de diário com tópicos que evidentemente se desgastou e sem o ritmo dos livros anteriores, essa enervante sequência da bem-sucedida série não traz absolutamente nada de interessante, nenhum conflito relevante, nada, e as soluções da autora são tão óbvias que fariam qualquer ficcionista mais criativo corar.
A maternidade poderia ser um tema bacana, já que Bridget tem que se virar sozinha com seus dois filhos após a morte do perfeitinho Mr. Darcy, mas ela não consegue se aprofundar o suficiente nos filhos para torná-los uma parte interessante da trama.
Eles estão apenas lá, como dois coadjuvantes com a função de atrapalhar sua atabalhoada mamãe ainda mais na difícil função de viver e ainda ter que interagir com as enfadonhas e óbvias mães de seus coleguinhas.
PIOLHOS
Para não dizer que ela não tem ambições de carreira, Bridget passa parte do livro conflitando com o roteiro de um filme que escreveu, mas ela parece mais preocupada com a falta de uma roupa que impressione para vestir nas reuniões do que com o resultado do trabalho em si.
Oh, os piolhos em meus filhos, oh, estarei com piolhos e terei eu passado piolhos para meu jovem e gostoso namorado, oh, como faço para ser uma mãe tão boa quanto a babá parece ser para meus filhos, oh, estou gorda, oh, como demais, oh, preciso mudar, oh, preciso emagrecer e ter seguidores no Twitter (...).
Bridget parece ter 50 anos, mas estar aprisionada à ideia ultrapassada de popularidade dos 20, sempre falando com seus amigos que exalam frivolidade e não conseguem dar um bom conselho ou perspectiva.
Talvez (talvez!), quem acompanhou a série toda ainda consiga manter algum afeto pela personagem, mas não seria uma surpresa se os fãs das aventuras e desventuras de Bridget Jones preferissem que ela tivesse falecido ou sido deixada no ostracismo, o que, acredito, seria um final melhor do que esse.

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