terça-feira, 5 de novembro de 2013

Helio Schwartsman

folha de são paulo
Limites
SÃO PAULO - O retrato devastador que o repórter Fabiano Maisonnave traçou de algumas escolas médicas da Bolívia fala por si só. Não obstante, cerca de 25 mil estudantes brasileiros estão matriculados nessas instituições --o equivalente a 23% do total de alunos que fazem graduação em medicina por aqui.
Como a maioria não deve ter planos de migrar em definitivo para o país vizinho, esses jovens apostam que o mercado por médicos no Brasil seguirá atraente e que, em algum momento, conseguirão validar seus diplomas e voltar para casa. Os dados empíricos, porém, não recomendam otimismo. Em 2012, só 2,1% dos graduados na Bolívia passaram no Revalida, contra uma média de 8,7%.
Esse descompasso entre sonhos e competência mostra o que está acontecendo no setor. De um lado, faltam médicos no sistema público. As escalas de postos de saúde e hospitais aparecem com brancos. O envelhecimento da população também aponta para um mercado em expansão. O governo, portanto, tem interesse legítimo em ampliar a oferta de vagas em medicina e, emergencialmente, até em importar profissionais.
Há, é claro, um outro lado, que é o da qualidade. Garantir que todo brasileiro seja atendido sempre por um profissional preparado e atualizado exigiria mudanças fortes no processo de certificação, com a introdução de um exame de proficiência ao final da graduação, nos moldes da prova da OAB, e avaliações periódicas.
O problema é que esses dois objetivos são contraditórios. Se mais jovens cursarem medicina, iremos necessariamente recrutá-los entre candidatos menos preparados, o que fará com que a qualidade média dos graduados caia. E, se instituirmos testes mais rigorosos, formaremos ainda menos profissionais.
Uma alternativa seria redesenhar todo o sistema, reservando as visitas a médicos para casos mais graves. Mas esse é um assunto que todo o mundo prefere evitar.
helio@uol.com.br
    Médicos a granel
    Impressiona o enorme contingente de brasileiros que estudam medicina na Bolívia. São 25 mil, quase um quarto do total de alunos desse curso no Brasil.
    Mais incríveis ainda são as péssimas condições de ensino ali oferecidas, conforme mostrou reportagem desta Folha. Faltam hospitais associados às universidades, a carga teórica é baixa e os professores são pouco qualificados ou ministram aulas em disciplinas distantes de suas especialidades.
    Muitas instituições parecem pouco preocupadas com a qualidade dos médicos que formam; o que lhes importa é a quantidade de estudantes. Quanto mais alunos, mais dinheiro --sobretudo se brasileiros, com poder aquisitivo relativamente alto para aquele país.
    Os próprios professores lucram com a multiplicação estudantil. Comercializam notas por R$ 450, o equivalente a 41 horas de trabalho. Negociam diplomas falsificados. E vendem ossos humanos.
    A prática é proibida, mas corrente. Alunos compram ossos para estudar em casa, pois as universidades, com vagas ilimitadas, não dispõem de material para todos. Professores dão pontos adicionais a quem recorrer a fornecedores indicados por eles.
    Apesar dos problemas, a presença de brasileiros nas faculdades de medicina da Bolívia é antiga (pelo menos duas décadas) e crescente. Em Santa Cruz de la Sierra, o número de alunos dobrou em três anos, segundo estimativa do consulado do Brasil na cidade.
    O principal atrativo é o preço. Os cinco anos de curso podem sair por apenas R$ 10.500. No Brasil, onde a graduação leva seis anos, esse valor seria suficiente para pagar poucos meses de faculdade privada.
    Quando retornam ao país, os médicos formados na Bolívia têm dificuldade de trabalhar. No Revalida (exame para validação de diploma estrangeiro) passado, só 5 dos 244 inscritos passaram, ou 2% do total --o pior percentual em comparação com outras localidades.
    A precariedade do ensino é particularmente preocupante em época de Mais Médicos. O governo federal, como se sabe, pretende contar com até 13 mil profissionais no programa --menos para ampliar o atual contingente de 388 mil do que para levá-los às áreas mais desassistidas do país.
    Verdade que, pelas regras do programa, os bolivianos não podem ser admitidos, pois seu país tem proporção de médicos inferior à brasileira (1,2 por mil habitantes lá, 1,8 por mil aqui). Mas o governo deveria ter em mente esse tipo de situação ao fiscalizar os profissionais que tem atraído ao Brasil.

      Corrupção descarada

      EDITORIAIS folha de são paulo
      editoriais@uol.com.br
      Grupo de fiscais envolvido em escândalo esbanjava riqueza e imaginava-se intocável; investigação do caso não pode escolher alvos
      "Quem não gosta de jantar num restaurante caro e bom? Eu gosto." A pergunta retórica e a resposta são de Vanessa Caroline Alcântara, ex-companheira do fiscal Luis Alexandre Cardoso de Magalhães.
      Segundo Alcântara, o fiscal municipal costumava levá-la a restaurantes nobres de São Paulo, nos quais gostava de pedir o vinho mais caro da carta. O destino seguinte era um hotel dispendioso, cuja diária custava R$ 5.000. Era comum que a noite consumisse R$ 10 mil.
      Não é preciso esforço para notar a discrepância entre os hábitos faustosos e o salário de Magalhães. Como funcionário público, recebia cerca de R$ 14 mil por mês.
      Apelidado de "louco" por alguns colegas, o fiscal não fazia questão de disfarçar os sinais de uma riqueza incompatível com os seus vencimentos. Em seu nome ou no das empresas que controla estão 27 imóveis; seu patrimônio estimado é de R$ 18 milhões.
      Vem do Ministério Público a explicação para o descompasso: Magalhães e pelo menos outros três servidores são acusados de envolvimento num esquema de corrupção que impôs prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres municipais.
      Tratava-se de cobrar propina para reduzir o valor do ISS (Imposto sobre Serviços) a ser pago por determinada empresa. Os fiscais embolsavam até metade do montante devido; a prefeitura, quase nada.
      Calcula-se que o grupo tenha entesourado R$ 80 milhões. São 59 imóveis, nove quotas de participação em empresas, automóveis de luxo e uma lancha avaliada em R$ 1 milhão. Podem ser todos ingênuos ou inexperientes na arte de ocultar bens ilícitos, mas é ainda assim espantosa a desfaçatez. Imaginavam-se intocáveis.
      De acordo com a ex-companheira de Luis Magalhães, por exemplo, foi somente após saber-se investigado pela Controladoria Geral do Município que o fiscal tentou usá-la como laranja.
      O episódio suscita questões embaraçosas para o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Por que agiam com tamanha certeza de impunidade? Sobrava proteção a essas práticas ou faltava investigação por parte dos órgãos públicos?
      Tampouco está livre de questionamento o prefeito Fernando Haddad (PT). É que Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como chefe do esquema, foi nomeado diretor de finanças da SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal) na atual administração. Além disso, o nome de Antonio Donato, secretário de Governo do petista, já apareceu ligado a Magalhães em escuta autorizada pela Justiça.
      Espera-se que a promissora Controladoria Geral do Município não faça distinções políticas no exercício de seu dever.

        Para vencer editais e usar lei de incentivo, projetos precisam se adequar a critérios

        folha de são paulo
        Como ganhar um prêmio
        GUILHERME GENESTRETI
        DE SÃO PAULO
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        Nos últimos três anos, o coletivo Garapa, que faz trabalhos fotográficos e multimídia, lançou dois livros, ministrou cinco oficinas pelo Brasil e realizou três exposições --a última, sobre o rio Tietê, foi encerrada em agosto no Centro Cultural São Paulo.
        Em comum, todos os projetos conseguiram financiamento após serem formatados por uma mesma produtora cultural, especializada em enquadrar ações artísticas nos moldes das leis de incentivo e dos editais de patrocínio.
        "A gente tem ideias o tempo inteiro, mas não estamos acostumados a transformá-las em projetos com justificativa e objetivos", diz Paulo Fehlauer, 31, do Garapa.
        Divulgação
        Exposição 'A Margem', que ficou em cartaz no Centro Cultural São Paulo em 2013, usou leis de incentivo
        Exposição 'A Margem', que ficou em cartaz no Centro Cultural São Paulo em 2013, usou leis de incentivo
        É nesse nicho que há três anos atua a Frida, produtora paulistana que trabalha especialmente com fotógrafos como os membros do Garapa.
        "Muitos estão descobrindo editais e leis de incentivo, mas não têm ideia de como inscrever trabalhos", diz Ana Silvia Forgiarini, 43, sócia da Frida. "Ou usam uma linguagem muito acadêmica ou muito artística", diz a outra sócia, Mariane Goldberg, 31.
        Além de inscrever os projetos, a empresa também sugere os editais mais adequados a cada um e eventualmente gerencia os que são aprovados.
        A produtora modela ações de artistas em duas frentes: leis de incentivo e editais (ver quadro ao lado). Cobra cerca de R$ 3.000 para formatar projetos para a primeira modalidade, e metade disso para a segunda.
        CONTRAPARTIDAS
        "Para os artistas, é sempre um bicho de sete cabeças", conta Marina Gonzalez, 53, dona da Comg, empresa que presta esse tipo de serviço há 15 anos. Ela estima em cerca de 20 os projetos que elabora para as duas formas de financiamento por ano.
        "O segredo é que precisam ser objetivos. Há sempre um júri que vai ler o que foi inscrito e que vai se cansar com projetos muito longos", diz Roberta Martinho, 39, da Oiya Projetos Culturais. Ela afirma sair vencedora em um terço dos cerca de 30 editais aos quais concorre por ano.
        Sua atuação é diferente: é ela quem procura artistas com os quais gostaria de trabalhar, formata os projetos e depois trabalha na produção, caso saiam vencedores.
        O desenhista Alex Cerveny, 49, foi um de seus recentes parceiros. Suas ilustrações para o livro "As Aventuras de Pinóquio" (ed. Cosac Naify) ganharam o prêmio de R$ 150 mil do edital Marcantonio Vilaça, da Funarte (Fundação Nacional de Artes), para serem expostas no Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande. A produtora ficou com pouco mais de 10% do valor.
        Divulgação
        O artista paulistano Alex Cerveny ministra uma oficina de colagem para alunos em museu de Campo Grande (MS)
        O artista paulistano Alex Cerveny ministra uma oficina de colagem para alunos em museu de Campo Grande (MS)
        "A concepção foi minha, mas a Roberta sabia o que tornaria a proposta mais competitiva", diz o artista. No caso, uma oficina de colagem dada por Cerveny a alunos locais.
        O Ministério da Cultura e a Secretaria Estadual da Cultura não têm números sobre projetos formatados por agências.
        SAPOS E GARIMPEIROS
        "O intermediário nem sempre é bom", diz o cineasta e fotógrafo Jorge Bodanzky. "Mas é tanta complexidade que o artista não consegue concorrer sem um produtor."
        "Recorrer a isso é válido, o problema são as leis de incentivo. A coisa é tão burocrática que no final não importa o projeto, mas quem preencheu os requisitos."
        No caso dos editais, "injustiças eventualmente podem ocorrer", segundo o advogado Evaristo Martins de Azevedo, presidente da Comissão de Direito às Artes da OAB.
        "É tanto projeto para avaliar em pouco tempo que juízes escolhem os que melhor atendem o regulamento."
        As produtoras dizem que não interferem na concepção das obras. "Pode rolar uma conceituação em conjunto com o artista, mas a gente não muda o tema de ninguém", diz Goldberg, da Frida.
        Algumas adaptações, contudo, chegam a acontecer.
        Para concorrer a um edital de documentação do Brasil, a produtora sugeriu que um fotógrafo, especializado em retratos de garimpeiros, ampliasse o foco.
        "Falei que eu achava pouco só garimpeiros", diz Ana Silvia. "Então ele mesmo sugeriu fazer retratos de homens que trabalham com a terra em geral. Vai incluir agricultores se ganhar o edital."
        Marina Gonzalez, da Comg, também sugeriu algo parecido a um biólogo que queria escrever sobre sapos. "Falei que tinha que ter vertente cultural. Ele então vai falar também sobre a simbologia do sapo no folclore e na história."
        Um fotógrafo que não quis se identificar diz que também recebeu orientação de produtora para mudar seu projeto original. "Falaram que um site daria mais certo do que um livro, não só porque o orçamento seria menor, mas porque ajudaria a convencer os juízes do edital", conta.
        *
        ARTE PAGA
        Entenda as principais formas de financiamento
        Leis de incentivo
        Permitem que as ações artísticas aprovadas pelo Ministério da Cultura ou pelas secretarias de Cultura captem recursos com patrocinadores, que recebem em troca abatimento de impostos
        Ex: Lei Rouanet (federal) e Proac/ICMS (estadual)
        Editais de patrocínio
        Premiam com dinheiro projetos culturais ou artísticos que vencerem o concurso da instituição que abriu o edital
        Ex: Rumos, do Itaú Cultural; Prêmio Marc Ferrez de Fotografia; editais da Funarte, Proac e outras instituições
        *
        PRINCIPAIS DICAS PARA TER UM PROJETO APROVADO
        Faça um calendário com os editais para se programar
        Use linguagem objetiva: evite termos acadêmicos ou artísticos
        Faça um orçamento compatível: estimativas exorbitantes têm menos chances
        Proponha atividades complemen-tares: oficinas ou exibições itinerantes são pontos positivos
        Atenha-se à cultura: projetos exclusiva-mente comerciais, de fundo político ou que tratem de religiões específicas são barrados
        Leia todas as regras do edital: especifique o público-alvo e por que o projeto é relevante
        No caso de leis de incentivo, é ideal já ter um patrocinador antes da inscrição
        Fontes: Mariane Goldberg, Ana Silvia Forgiarini, produtoras culturais da Frida; Roberta Martinho, produtora cultural da Oiya

        José Simão

        folha de são paulo
        Ueba! Bieber parece chocalho!
        E saiu a nova biografia do Eike: 'Da Luma à lama'. Rarará! A lama deve ser praga da Luma!
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia: "Hoje me levantei, a minha coluna fez TREK, fiquei em pé e meu joelho fez TREK, olhei pro chão e o meu pescoço fez TREK. Além de gostoso, tô ficando crocante". Rarará!
        E o predestinado do ano! Sabe como é o nome do novo conselheiro da OGX do Eike? Adriano SALVATO SALVE! Rarará.
        É inacreditável! O Salvato Salve vai salvatex a Calotex do Eikex! O Eikex tá Fudidex!
        E saiu a nova biografia do Eike: "Da Luma à lama". Rarará! A lama deve ser praga da Luma!
        E o Justin Bieber? O Justin Bieber é como chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram!
        E como disse uma amiga: "Você percebe que tá ficando velho quando lê que o Justin Bieber tá frequentando puteiro no Rio". Foi nas Termas Centaurus! Matinê na Centaurus! Centaurus do verbo sentar? Centaurus no Bieber!
        E tem quenga kids?
        Eu acho que o Bieber ficou lambendo tampa de Danoninho! A quenga falou: "Se você ficar quietinho, eu deixo lamber a tampa do Danoninho". Rarará.
        E no show em São Paulo atiraram uma garrafa no Bieber. Foi uma BIEBERBLOCK! Castigo: uma semana sem Facebook, sem Instagram e sem sobremesa!
        E esse povo só vem pro Brasil pra comer: ou é churrasco ou é quenga! Rarará!
        E essa piada pronta: "Corinthians chega ao 15º empate contra o Vitória". O Tite comemorou o empate da vitória! Empatite! Empatibilidade aguda!
        E o futeboldadepressao revela a filosofia do Tite: "Só existem duas coisas certas na vida: a morte e o empate pro Corinthians". Gol deixa o Tite na mais cavernosa depressão!
        E diz que sábado foi Dia de Fináutico! E a manchete do Cornetafc: "Vasco vence e assusta torcedores". Enfarta a torcida! Ganhou do Coxa! Coxinha de bacalhau!
        Ganhou do Coxa, mas continua nas coxas! Rarará!
        É mole? É mole, mas sobe!
        O Brasil é Lúdico! Olha esse bar em Nilo Peçanha, Bahia: "Bar e Lanchonete Fofoca, o melhor meio de comunicação". E mais essa na Bahia, Estrada do Coco: "Frango Assado ao Vivo". Rarará! E esse classificado de sexo: "Livia Porsche, só para executivos". Rarará.
        Nóis sofre, mas nóis goza!
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

          Monica Bergamo

          folha de são paulo

          Propostas de Roberto Carlos sobre biografias não foram bem recebidas na Câmara

          DE SÃO PAULO
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          As propostas de Roberto Carlos e outros artistas levadas à Câmara dos Deputados para regular a lei das biografias não foram bem recebidas. Ao "abrir mão" da autorização prévia para a publicação dos livros, as celebridades queriam uma contrapartida: inserir no texto em discussão capítulo que dissesse que a intimidade era inviolável.
          SENTENÇA
          "É uma proposta inaceitável. O mundo todo reconhece que privacidade de celebridade não é absoluta pois elas escrevem a história", diz o deputado Newton Lima (PT-SP), autor do projeto que acaba com a autorização prévia às biografias. "A lei não pode dizer em momento algum quais assuntos são permitidos e quais são proibidos, ou sua ideia central de liberdade será ferida de morte."
          CALADO
          O fato de Caetano Veloso ter afirmado que o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, não fala pelo conjunto da Associação Procure Saber dificultou ainda mais o acolhimento das sugestões do grupo, do qual fazem parte, além de Roberto e Caetano, também Gilberto Gil e Chico Buarque. "Quem falava conosco era o Kakay. Entendemos agora que os artistas estão sem interlocutor", diz o deputado Lima.
          CALADA
          E, no serpentário que virou a Procure Saber, a iniciativa de Caetano, de desautorizar Kakay, advogado de Roberto Carlos, é tida por muitos como retaliação. Há algumas semanas, representantes de Roberto ajudaram a desautorizar Paula Lavigne, ex-mulher do cantor, de falar sobre o tema em nome da mesma associação.
          BARULHO
          A Controladoria-Geral de São Paulo está investigando pelo menos mais dois casos considerados "bombásticos" pela cúpula da administração de Fernando Haddad (PT-SP). No alvo, servidores que enriqueceram no cargo.
          NÚMERO EXATO
          André Passos
          Sabrina Sato, 32, diz que nunca gostou de "D.R.", ou a mania que casais têm de discutir a relação. Mas faz isso agora com o novo namorado, João Vicente de Castro, publicitário e idealizador do canal de vídeos Porta dos Fundos.
          *
          "Sempre guardei muito as coisas, para não desagradar. Isso vem da minha formação oriental. Estou aprendendo com ele a falar as coisas que me incomodam", afirma a apresentadora, que está na capa da edição de aniversário de 14 anos da revista "Gente", que será lançada hoje, com festa no Bar Número.
          VITROLA
          Karl Lagerfeld foi à Livraria da Vila dos Jardins, na semana passada, quando visitava a cidade. Três seguranças chegaram antes para dar uma olhada geral na loja. Só então ele entrou, de luvas brancas e óculos escuros e com mais três guarda-costas. Foi à seção de música brasileira. Comprou uns 20 CDs, entre eles de Marisa Monte, Chico Buarque, Rita Lee e Caetano. Queria livros sobre estilistas brasileiros, mas não achou nada.
          BATISMO
          O auditório Ibirapuera vai passar a se chamar Oscar Niemeyer, em homenagem ao arquiteto que o projetou. A mudança será oficializada hoje no local pelo prefeito Fernando Haddad, durante a entrega da Ordem do Mérito Cultural, do MinC.
          BEM-COMPORTADO
          O artista plástico inglês Eddie Peake, que levou atores nus para jogar futebol em Londres, irá expor pela primeira vez no Brasil. Vai trocar as performances eróticas por pinturas e videoinstalações na mostra "Caustic Communities", que chega à galeria White Cube, em São Paulo, em 20 de novembro.
          ESCONDIDO
          Letícia Spiller já está ensaiando para a estreia, em janeiro de 2014, do espetáculo "Ede Pop". A direção é de Marco André Nunes, com quem trabalhou em 2011 na peça "Outside", inspirada em David Bowie. "Minha diretora na novela vai me matar, porque ainda não contei pra ela. É que o ritmo dos ensaios ainda está leve", diz.
          DOÇURAS OU TRAVESSURAS
          As atrizes Giovanna Lancellotti e Milena Toscano foram a festa de Halloween na casa noturna Grand Metrópole, na República. O estilista Walério Araújo, o empresário Mario Velloso e a modelo Daiane Conterato também estiveram no evento.

          Giovanna Lancellotti vai a festa de Halloween

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          Zé Carlos Barretta/Folhapress
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          A atriz Giovanna Lancellotti esteve em festa de Halloween no Grand Metrópole, na sexta (1), na República
          CURTO-CIRCUITO
          A curadora Solange Farkas e o diretor do Sesc, Danilo Miranda, fazem hoje coquetel de abertura do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, no Sesc Pompeia, às 19h30.
          O florista Vic Meirelles inaugura hoje a instalação "Sonhos", às 18h, na Galeria Nacional, nos Jardins.
          O Esporte Clube Pinheiros recebe a Feira Escandinava, com produtos e comidas dos países nórdicos, hoje e amanhã.
          A Galeria Bergamin, nos Jardins, abre às 19h a mostra "Marcel Giró Moderno".
          Daniel Boaventura faz show hoje, no teatro Renault, às 21h. 14 anos.
          com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
          Mônica Bergamo
          Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

          João Pereira Coutinho

          folha de são paulo
          Atrações de feira
          Os filmes 'mainstream' que dominam as salas querem ser romances no espaço de um conto
          Espero escrever um dia sobre "The Wire", a série da HBO que me acompanha há vários meses.
          Digo "há vários meses" porque, apesar de ter apenas cinco temporadas, é a primeira vez na vida que assisto a uma série que exige repetição contínua do mesmo episódio. Só para saborear a carpintaria literária do produto; a complexidade de cada personagem; e os diálogos, meu Deus, capazes de transformar o calão rasteiro das ruas em duelos verbais dignos de um Edmond Rostand.
          O mundo imundo de Baltimore ganha em "The Wire" o mesmo estatuto épico que Victor Hugo concedeu a Paris; e Dickens, a Londres; e Dostoiévski, a São Petersburgo. Não estou a delirar.
          Mas estou a lamentar. Quando a TV surgiu em meados do século 20, alguns luditas modernos decretaram a morte do cinema. Enganaram-se, claro. Mas enganaram-se apenas por meio século. Como escreveu Michel Laub em excelente texto para a Folha("O ponto final do cinema", 25/10/2013), as séries de TV americanas sugaram o talento audiovisual que existe.
          Só discordo de Laub no otimismo dele: para o colunista, ainda há esperança para a sétima arte se ela conseguir superar o desafio do "ponto final" --contar em duas horas o que as séries contam em dois meses, dois anos, quem sabe duas décadas.
          Infelizmente, e para mim, o "ponto final" do cinema "mainstream" começa a ganhar contornos mais literais.
          Um bom exemplo é o filme do momento, "Gravidade", de Alfonso Cuarón. Acompanho as críticas. Confesso pasmo com tanto pasmo. Que o filme é um prodígio visual, ninguém nega: os primeiros 15 minutos em plano-sequência, quando a trilha sonora não arruína a beleza do silêncio, valem como experiência estética.
          Mas é a pobreza narrativa do filme que deprime, sobretudo para quem esteve nas ruas de Baltimore horas antes.
          No filme, um acidente sideral condena uma astronauta a ficar sozinha no espaço. Imaginar Sandra Bullock como astronauta já é abusar da nossa "suspensão da descrença".
          Mas o pior vem depois: precisamente para comprimir uma história plausível em menos de duas horas, "Gravidade" oferece todos os clichês em sucessão contínua.
          Sabemos que a astronauta perdeu uma filha na "mãe" Terra. E para quem tem esse prejuízo na biografia, surge o dilema: é melhor desistir e entregar-se ao esquecimento do espaço? Ou, apesar de todas as mágoas com o mundo "cá em baixo", tentar ainda regressar para ele e reaprender --literalmente-- a seguir em frente?
          Não sei como classificar esta simplificação adolescente que é apresentada com "gravitas" cósmica pelos roteiristas do filme. Sei apenas que em nenhum momento acreditamos no luto daquela mãe --um luto que surge do nada e se dissolve no nada. Sem falar do óbvio: uma mãe com semelhante cicatriz no cardápio dificilmente estaria em missão espacial.
          Para Michel Laub, o fato de o cinema exigir maior brevidade que uma série de TV pode ser um desafio criativo. Sim, pode e admito que nas mãos certas ainda seja. E também admito que o cinema de hoje poderia estar para o conto como as séries de TV para o romance.
          Que o mesmo é dizer: abandonando o desejo de "totalidade" que o romance (e a série de TV) encerra, o cinema ganharia em aprofundar os "fragmentos de realidade" que fizeram a grandeza de Tchékhov, Carver ou Pritchett.
          O problema é que os filmes "mainstream" que dominam as salas querem ser romances no espaço de um conto. Esquemáticos, nunca passam de esqueletos. Ou nem isso: apenas pretendem usar o texto como pretexto para qualquer prodígio formal.
          A redescoberta recente do 3D parece apontar esse caminho e "Gravidade" é novamente um exemplo: se a TV é narrativamente mais poderosa, pensam os estúdios, o cinema pode deslumbrar as plateias com a "experiência" visual só possível na grande tela.
          É uma forma de ver as coisas. Mas é também uma forma regressiva de ver o cinema: de "atração de feira" a expressão artística, o cinema estaria novamente condenado a ser "atração de feira" com a ambição explícita de maravilhar as plateias. Seria, no fundo, um retorno aos ilusionismos primitivos de Georges Méliès. Exagero?
          Acredito que sim e desejo que sim. Mas não deixa de ser melancólico que, nos alvores do século 21, exista mais grandeza na baixeza de Baltimore do que no espaço infinito de Sandra Bullock.

          Janio de Freitas

          folha de são paulo
          Coisas deles
          As gentilezas dos governos Dilma, Lula, Fernando Henrique e Sarney tiveram retribuição à americana
          Gentileza não gera gentileza, não. Se há pelo menos dez anos são conhecidas da contraespionagem brasileira as salas sem presença humana e com equipamentos de transmissão, alugadas em Brasília pela Embaixada dos Estados Unidos, temos aí outro caso exemplar de gentileza não correspondida. A qual permite supor que, entre suas consequências, estejam a intercepção e a retransmissão, à Agência de Segurança Nacional dos EUA, das comunicações de Dilma Rousseff e de outras autoridades brasileiras.
          O subterfúgio de instalações veladas está na essência da espionagem e das ações de sabotagem, mas tem mais de uma resposta eficaz. Não aplicar nem uma delas parece ser um vício brasileiro.
          Bem antes do golpe de 1964, militares do Exército constataram que uma agência de turismo na rua Santa Luzia, na Cinelândia, pertinho da embaixada americana ainda instalada no Rio, na verdade era cobertura para um posto da CIA. No mesmo quarteirão, mas na rua México, em frente ao lado da embaixada, descobriram que um curso para sargentos desejosos de fazer vestibular, ou galgar uma promoção, funcionava para cooptar e infiltrar novos agentes da CIA nos quartéis.
          A confiança em que o governo Jango nunca seria derrubado e o receio de um caso problemático com o governo americano sustaram qualquer reação. Houve, se houve mesmo, algum monitoramento, que se distingue das outras ações subterrâneas por se limitar à vigilância cautelosa.
          Aqueles e vários outros postos identificados estavam sujeitos, porém, a dois tipos de ação defensiva. Uma, política, de exigir que o governo americano desmontasse os postos e recambiasse os estrangeiros em ação neles (o chefe da agência de turismo era um estrangeiro de língua espanhola). Um aborrecimento diplomático, por certo.
          A outra ação possível, mais simples e terminante, seria estourar os postos a pretexto de indícios ou denúncias de contrabando, lavagem de dinheiro, funcionamento irregular, essas atividades que a polícia estoura dia a dia. "Ah, era coisa de vocês? Não sabíamos, agora não há mais nada a fazer."
          Salas em Brasília com equipamentos ativos dia e noite, e presença humana muito esporádica, só servem para "guardar equipamento como rádio walkie-talkie" no cinismo conveniente à espionagem --como foi na resposta dada ao excelente repórter que é Lucas Ferraz, revelador de documentos da Abin, a Agência Brasileira de Informação, sobre alguns monitoramentos seus.
          A soma das muitas e diferentes gentilezas do governo Jango foram retribuídas do modo que se sabe. As dos governos Lula e Dilma, e provavelmente Fernando Henrique e José Sarney, sabe-se apenas que também tiveram retribuição à americana. Sabe-se graças a Edward Snowden.
          VERDADES
          O múlti José Miguel Wisnik escreveu, a propósito da patética discórdia sobre biografias, que "a história não é da autoria de ninguém, embora da responsabilidade de cada um que escreve". Perfeito. Então, vamos lá.
          Chico Buarque, ao negar que dera entrevista ao biógrafo de Roberto Carlos, disse ser o "Última Hora" paulista "supostamente ligado a esquadrões da morte". O jornalista Paulo César Araújo provou a entrevista com a respectiva gravação.
          A acusação ao UH foi, porém, endossada por Wisnik, que colaborara no jornal. O dramaturgo Oswaldo Mendes rebateu a versão e seu reflexo sobre Samuel Wainer, com um adendo histórico: "ao voltar do exílio em 1974, Frias, em um gesto de civilidade", ofereceu a Samuel a direção do jornal que fora dele. Wisnik corrigiu-se quanto ao comprometimento do jornal, e manteve o endosso à volta de Samuel, que "voltou ao Brasil dez anos depois do golpe".
          Correção da correção da correção: Samuel Wainer esteve exilado três anos e meio e voltou ao Brasil em 1967. Reassumiu o UH do Rio, quebrou, e foi para SP. Por fim, lembro que nunca existiu "a Universidade Nacional (atual UFRJ)", citada no Globo pelo autor de "As universidades e o regime militar", professor Rodrigo Motta. Houve a longeva Universidade do Brasil.
          Aguardo correções às minhas correções.