sexta-feira, 22 de novembro de 2013

ONGs abandonam conferência do clima

folha de são paulo
É a primeira vez que as principais organizações ambientalistas deixam a reunião da ONU, realizada há 19 anos
Insatisfação com ritmo de negociações e com recuos de metas de corte de emissões de CO2 motiva protesto
GIULIANA MIRANDAENVIADA ESPECIAL A VARSÓVIAPela primeira vez nos 19 anos de realização das conferências mundiais do clima da ONU, as principais ONGs ambientalistas abandonaram o encontro, que deve acabar na noite de hoje em Varsóvia.
O maior objetivo da conferência é delinear um esboço para um acordo sobre redução de emissões de gases-estufa a ser fechado em 2015.
As ONGs, como Greenpeace, Oxfam e WWF, se dizem insatisfeitas com o ritmo das negociações e com países que voltaram atrás em compromissos ambientais.
Os articuladores estimam que 800 pessoas tenham abandonado a cúpula.
A ausência dos ambientalistas foi rapidamente percebida no Estádio Nacional de Varsóvia, onde acontecem as negociações. Além dos stands vazios, os corredores estavam em silêncio.
"Os governos deram um tapa na cara dos que sofrem com os perigosos impactos das mudanças climáticas", disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace.
"Chegamos a um ponto tão difícil, com as coisas tão empacadas, que não havia outra solução. Não estamos abandonando o movimento, apenas essa conferência, que chegou a uma situação insustentável", disse André Nahur, da WWF-Brasil.
A saída acontece após uma semana considerada de reveses pelos ambientalistas. O Japão anunciou que não vai cumprir suas metas de redução de emissões de gases-estufa e outros países ricos estão relutantes em destinar mais dinheiro à redução dos danos causados pela mudança climática. Na quarta-feira, o presidente da COP-19, Marcin Korolec, perdeu seu emprego como ministro do Meio Ambiente da Polônia.
Ele divulgou uma nota na qual lamenta a saída das ONGs. "Observadores não governamentais sempre mobilizaram os negociadores para maiores ambições."
A decisão de abandonar as negociações não foi unanimidade. Após a saída do estádio, alguns manifestantes discretamente evitaram entregar seus crachás. "Quero voltar, o ato foi mais uma coisa simbólica", disse uma ambientalista brasileira.
Enquanto ONGs e diplomatas mantiveram o tom pessimista ontem, o presidente da COP-19 enviou uma declaração à imprensa dizendo que as negociações avançaram.
"Após negociações que duraram a noite toda, atingimos um progresso considerável em financiamento climático. As conversas sobre a forma de um novo acordo global também entraram noite adentro. Estamos chegando perto do sucesso final."
    Meta de emissões virá na hora certa, diz embaixador
    DA ENVIADA A VARSÓVIA
    Os negociadores brasileiros subiram o tom em relação a boatos que circulam na COP-19. Algumas ONGs internacionais diziam que Brasil estaria liderando um bloco para atrasar e esvaziar o próximo acordo mundial do clima, a ser fechado em 2015.
    Questionado sobre quando o Brasil apresentaria suas novas metas de redução de gases-estufa, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, que chegou ontem a Varsóvia, disse que os números "virão na hora certa", quando o país sentir que as condições de negociação são adequadas.
    "Antes de termos os números, é preciso saber com clareza quais vão ser as condições. Não temos pressa para apresentar um número que não significa nada", disse Figueiredo.
    O negociador-chefe do Brasil, José Antônio Marcondes de Carvalho, disse que o país não foi a Varsóvia para "escolher culpados", mas cobrou transparência nas negociações.
    Os negociadores brasileiros dizem que os resultados da conferência ainda estão incertos. As reuniões têm se estendido pela madrugada.

    Gilberto Dimenstein

    folha de são paulo

    Maior bilionário brasileiro faz escola no Google

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    Duas máquinas de ganhar dinheiro. Muito dinheiro. De um lado, o maior bilionário brasileiro (Jorge Paulo Lemman) e, de outro, o Google.
    O que poderia resultar dessa parceria?
    Vimos ontem o que resultou. Resultou numa escola digital, capaz de ajudar milhares de jovens a aprender. E sem gastar um único centavo. É algo que pode (e deve) ser replicado em qualquer país.
    Professores fizeram uma seleção dos melhores vídeos gratuitos na internet com aulas - tudo em português. A novidade aqui é selecionar o que existe de melhor no mar de vídeos do YouTube, tirando o lixo (a maior parte) de lado.
    A seleção tentou combinar a atratividade do vídeo com a precisão. Daí se criou um canal que serve como uma escola inteira de ensino médio.
    Nada disso substitui a boa escola. Mas é uma ajuda de extrema relevância, servindo para disseminar o conhecimento e avançar no nível de aprendizado.
    Lembremos que, pela internet, estão surgindo plataformas que os alunos são ajudados a aprender sozinhos, com programas que simulam um professor particular. Ela necessitam de material de qualidade e acessível.
    Para conhecer mais detalhes dessa inovação, clique.
    gilberto dimenstein
    Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

    Longa ausência - Andre Singer

    folha de são paulo

    Longa ausência

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    Em livro de memórias ("Da Tribuna ao Exílio"), o ex-ministro Almino Affonso conta os últimos momentos de João Goulart na capital da República. Decidido a instalar o governo no Rio Grande do Sul, onde supostamente teria sustentação de setores das Forças Armadas contra o golpe que havia começado em Minas Gerais, Jango resolveu embarcar em um Coronado da antiga Varig (Viação Aérea Rio-Grandense), acompanhado dos ministros. Era a noite de 1º de abril de 1964.
    Antes de sair, o mandatário deixou orientações aos parlamentares aliados: "Eles vão tentar o impeachment; resistam o quanto possam... em 48 horas estarei de volta". A disposição de permanecer no cargo é corroborada por depoimento do jornalista Flávio Tavares (no livro "O Dia em que Getúlio Matou Allende"), que, com outros dois colegas, havia visto Jango no Planalto na tarde daquele dia. Lá, o jovem presidente aparentava tranquilidade.
    Despedidas oficiais feitas, a comitiva subiu as escadas do avião e aguardou a partida. Parada na pista, entretanto, a aeronave não se movia. Alegava-se uma pane. Passado um tempo longo, Almino, que estava junto com Tancredo Neves e outros na Base Aérea de Brasília, chega à conclusão que havia sabotagem no ar.
    Ao que consta, a companhia aérea gaúcha teria mudado de lado, como vinha ocorrendo de maneira sistemática desde que, 24 horas antes, o general Olímpio Mourão Filho começara a deslocar tropas em direção ao Rio, dando início ao movimento militar para derrubar o populismo. Jango, então, trocou de avião, indo para um Avro da FAB, que decolou para o Sul.
    Pouco depois, enquanto Jango cruzava os céus do país em busca de apoio, o presidente do Senado chamou sessão extraordinária do Congresso. Era a madrugada de 2 de abril. Parecia a prevista tentativa de impedimento, mas não. Aproveitando-se de Jango estar ausente da capital, o senador faz manobra mais dura: "O senhor presidente da República deixou a sede do governo. Deixou a nação acéfala. (...). Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República", afirmou da tribuna. Começava a ditadura.
    O ex-presidente, um conciliador nato que esperava retornar em dois dias, demorou quase meio século para desembarcar outra vez em Brasília. Trazido pela mesma FAB que o levou, foi preciso não só que morresse, mas também que viesse um período político que, de algum modo, retoma o seu, para que pudesse reassumir, na quinta-feira passada, o lugar que lhe cabe como antigo chefe de Estado.
    Como diria Elio Gaspari, no céu deve estar contente, ao lado de Juscelino, fazendo votos para que, daqui por diante, o ódio que qualquer mudança desperta no Brasil fique sempre contido nos limites das instituições democráticas.
    andré singer
    André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.

    Em estudo, camundongo sem cromossomo Y gera filhotes

    folha de são paulo
    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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    Um fato básico da biologia que todo adolescente aprende na escola --o de que fêmeas de mamíferos possuem dois cromossomos X em seu DNA, e machos, um cromossomo X e um Y-- está se mostrando algo relativo.
    Estudo liderado pela pesquisadora polonesa Monika Ward, da Universidade do Havaí, criou camundongos machos sem cromossomo Y, que tornaram-se pais com técnicas de reprodução in vitro.
    Para conseguir o feito, descrito em artigo publicado hoje na "Science", Ward e seus colegas adicionaram só dois genes do cromossomo Y --dos 86 genes presentes nele normalmente-- a camundongos geneticamente modificados para serem "X0", ou seja, para possuírem só um dos cromossomos sexuais.
    Um desses genes, conhecido pela sigla SRY, já era conhecido por levar à formação de testículos em camundongos "X0" mesmo sem o resto do cromossomo de origem.
    Esses testículos até produziam as fases iniciais do desenvolvimento de espermatozoides, mas o processo não ia adiante, deixando os "pseudomachos" estéreis.
    Ao adicionar um segundo gene à receita, o sistema de produção de espermatozoides dos bichos ficou um pouco mais eficiente. Mas a maioria das células sexuais masculinas era capenga, com excesso de cópias de DNA. Mesmo as melhores precisaram ser injetadas em óvulos para gerar os filhotes --muitos dos quais eram férteis.
    No artigo, Ward diz que, no futuro, seria possível eliminar totalmente genes do cromossomo Y do processo. "Os mecanismos que operam durante a determinação do sexo e a geração de espermatozoide não são simples, não se trata de um gene fazendo tudo. Um gene pode iniciar uma cascata de processos, que envolve vários genes, e muitos têm funções redundantes", explicou ela à Folha.
    MISTURA IMPROVÁVEL
    Ward diz que a pesquisa deve ajudar a entender causas de infertilidade em homens, em especial para os que têm problemas genéticos que atrapalham a formação de espermatozoides. Por enquanto, não seria possível fazer com que mulheres gerassem espermatozoides e tivessem filhos com parceiras do mesmo sexo, por exemplo.
    Um problema sério é o fato de que muitos genes vêm com "etiquetas de origem", mostrando que vieram do pai ou da mãe. Criar gametas dessa forma poderia trazer problemas de desenvolvimento para a prole. Mesmo assim, a possibilidade parece sair cada vez mais do campo da ficção científica.
    "O trabalho da Dra. Ward é muito interessante", diz Richard Behringer, da Universidade do Texas. Em 2011, ele obteve camundongos com dois "pais". Coisa parecida já tinha sido feita com fêmeas em 2004.


    Editoria de Arte/Folhapress

    Prêmio Empreendedor Social 2013

    folha de são paulo

    Para ganhadores, prêmio Empreendedor Social aumenta responsabilidade

    DE SÃO PAULO
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    Os vencedores do prêmio Empreendedor Social e Folha Empreendedor Social de Futuro destacaram a responsabilidade que essa chancela traz às organizações.
    A ganhadora do prêmio Empreendedor Social, Merula Steagall, da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e da Abrasta (Associação Brasileira de Talassemia), lidera organizações que fomentam políticas públicas, disseminam informações e dão suporte a pessoas com doenças graves no sangue. Ela destacou que "isso vai aumentar a responsabilidade de todos, dos apoiadores, da diretoria, dos colaboradores". E emendou: "se a gente recebeu esse voto de confiança, a gente tem que abraçar mais".
    Os jovens da Asid (Ação Social para Igualdade das Diferenças), Alexandre Amorim, Diego Moreira e Luiz Ribas, foram os vencedores da categoria Folha Empreendedor Social de Futuro e da "Escolha do Leitor". Entre pulos e abraços de amigos, afirmaram que o trabalho realizado por eles se deve muito a outro, aquele feito por escolas especiais que se dedicam a formar pessoas com deficiência.

    Prêmio Empreendedor Social 2013

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    Rogerio Cassimiro/Folhapress
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    Candidatos ao prêmio 'Empreendedor Social 2013' participam de evento para convidados no Masp, em São Paulo
    "Com o prêmio, teremos oportunidade de fazer muitos treinamentos. Aperfeiçoar nossa metodologia e participar da fase final de outros proêmios. E, mais importante de tudo, fazer parte da Rede Folha, que é composta por pessoas excelentes, e contribuir para o crescimento das instituições", disse Ribas.
    Moreira destacou que o título mostra que eles têm muito potencial e amplia o papel da Asid. "Vai dar para expandir o trabalho para o Brasil inteiro."
    O economista José Dias, coordenador do CEPFS (Centro de Educação Popular e Formação Social), foi homenageado com a Menção Honrosa. A categoria, que teve sua estreia neste ano, em uma parceria da Folha com a Fundação Humanitare, visa dar destaque a projetos que mais se alinham à temática do Ano Internacional de Cooperação pela Água, adotado pela ONU em 2013.
    Dias foi o ganhador da categoria pela dedicação de sua organização à luta contra a seca no semiárido nordestino. Ele fez um discurso em que se lembrou das dificuldades do início, mas também de como é enriquecedor verificar que as pessoas beneficiadas por ele cresceram e melhoraram de vida.
    "É um reconhecimento importante. Primeiro, por passar pelos jurados, por ser um projeto com chancela da ONU. E, sem dúvida, vai mostrar para as famílias o nosso papel. O mérito maior é das famílias que atendemos", afirmou Dias.

    José Aníbal

    folha de são paulo
    O anjo da história
    Se hoje algo retoma, de algum modo, os tempos de Jango, é certo recurso retórico a um populismo fácil, de sínteses pretensiosas e rasas
    Em meados dos anos 1970, exilado em Paris, tive a oportunidade de conversar com o general Euryale de Jesus Zerbini, defensor da legalidade durante o golpe de 1964, em seguida isolado, preso e reformado.
    Entre outros episódios, Euryale de Jesus Zerbini contou que, no início do golpe militar, o presidente João Goulart lhe telefonou para saber como estava a estratégica unidade do Exército de Caçapava, então comandada pelo general.
    Zerbini reiterou sua lealdade e sua determinação de acatar as ordens do presidente. Jango agradeceu e encerrou a conversa dizendo que ligaria novamente para instruí-lo. Com nostalgia, o general arrematou: "Estou esperando o telefonema até hoje".
    Lembrei-me desse episódio ao ler o estimulante artigo de André Singer,"Longa ausência" , publicado na Folha de sábado passado, 16 de novembro ("Opinião"). Singer menciona um episódio do livro de memórias do notável Almino Affonso ("Da Tribuna ao Exílio") sobre os últimos momentos de João Goulart em Brasília, em 1º de abril de 1964.
    Nesse caso, a "vilania dos traidores", para usar a expressão de Salvador Allende, refere-se à sabotagem da Varig, cujo avião, que deveria levar Jango para o Sul, ficou em solo. Jango embarcou em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e esperava voltar a Brasília em 48 horas. Assim como o telefonema ao general Zerbini, Jango não retornou.
    Então, outra vilania, esta do presidente do Senado, que declarou vaga a Presidência da República. O então presidente levou quase meio século para voltar a Brasília, pela mesma FAB que o levou embora.
    Segundo Singer, Jango teve de esperar não apenas a morte, "mas também que viesse um período político que, de algum modo, retoma o seu, para que pudesse reassumir, na quinta-feira anterior [14 de novembro], o lugar que lhe cabe como antigo chefe de Estado".
    Todos os brasileiros --todos nós que lutamos contra a ditadura, todos nós que reconhecemos na democracia um valor universal-- "reassumimos" junto com o presidente João Goulart durante a homenagem da semana passada.
    O Brasil amadureceu, passeou por todo o espectro ideológico em mais de 20 anos de democracia, sempre com transições republicanas --mesmo no impeachment de Collor. Jango não teve a mesma sorte. Nem o Brasil. Onde a similitude entre a época de Jango e a atual?
    No governo FHC, a tutela militar sobre o poder civil, com a criação do Ministério da Defesa, esvaiu-se. Assim como a violência política e qualquer tentativa de desestabilização por agentes internacionais.
    Nos propósitos e nas circunstâncias, mas sobretudo pela postura institucional de temperança e austeridade, nada poderia estar mais distante de João Goulart do que o momento presente, tanto nas virtudes quanto nos defeitos.
    Se é o reformismo de Jango que o emparelha aos governos do PT, haja viseira ideológica. Apesar do patente desejo da sociedade por mudanças, nada tem sido mais antirreformista do que o PT no poder.
    A última das descomposturas, o mensalão, mal esfriou e nem assim procuraram uma tranca para a porta arrombada. O sistema político, como de resto o governo, anda para trás. Reforma, que é bom, nenhuma.
    Discursos exaltados, abusando de rede nacional, não tangenciam questões políticas relevantes. Deixam mais insatisfação do que esperança de mudança.
    Se algo retoma, de algum modo, aquele tempo, é certo recurso retórico a um populismo fácil, de sínteses pretensiosas e rasas, que se apropria da história confundindo a ênfase com o fato.
    Singer, como um anjo da história, observa os homens de longe, fora do tempo e acima das coisas.

    Marina Silva

    folha de são paulo
    Palavras são palavras
    Nos debates sobre o Código Florestal, duas linhas opostas de argumentação se formaram. Os movimentos sociais e ambientais diziam que a anistia aos desmatadores e a redução das áreas de proteção induziriam a novos desmatamentos. Parlamentares e governantes garantiam que o "novo código" não só reduziria como poderia até chegar ao sonhado desmatamento zero.
    A coisa vem de longe. Em abril de 2008, o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), informou que apresentaria projeto de lei para o desmatamento zero na Amazônia, pois considerava possível triplicar a produção sem desmatar mais, usando novas tecnologias. No ano seguinte, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, disse ser possível dobrar a produção de alimentos em seu Estado reduzindo a área utilizada para o desenvolvimento da pecuária.
    Na campanha de 2010, a candidata Dilma Rousseff assegurava "tolerância zero ao desmatador", descobrindo, no segundo turno das eleições, que, "sem a redução do desmatamento, não há sustentabilidade". No exercício da Presidência, não pareceu tão enfática. Mas seus líderes no Congresso descreveram o "consenso" no Código Florestal como um avanço, uma legislação mais simples e fácil de ser cumprida e que, além de reduzir o desmatamento, recuperaria a floresta em lugares onde já havia sido devastada. Uma maravilha.
    Agora o governo anuncia que o desmatamento aumentou 28% no último ano. Parte desse aumento vem de terras públicas, onde aumentou a grilagem e a ocupação predatória. Os que ganharam politicamente com a mudança nas leis ganham com seu resultado, mas sem falar muito.
    A política ambiental anterior vinha reduzindo o desmatamento e colocando o Brasil na liderança mundial de combate às mudanças climáticas. Agora podemos ter grave prejuízo no cumprimento das metas de redução de CO e quebra na liderança brasileira sobre o assunto, no momento de uma nova rodada de negociações internacionais sobre o clima, em Genebra.
    Quem tem boca vai a Roma e o papel aceita tudo, dizia-se antigamente. Depois vem o pedido: esqueçam o que eu disse ou escrevi. As justificativas para o aumento do desmatamento não seriam legítimas, porém soariam mais sinceras se adotassem esse alheamento, em vez de tentarem nos fazer crer que não tem nada a ver com as mudanças no Código Florestal e no retrocesso pactuado entre governo e parlamentares para a revisão das leis ambientais.
    Espera-se que, pelo menos, as palavras e promessas sejam mais moderadas na tentativa de mostrar uma face "ambientalista" antes das eleições do ano que vem.