É a primeira vez que as principais organizações ambientalistas deixam a reunião da ONU, realizada há 19 anos
Insatisfação com ritmo de negociações e com recuos de metas de corte de emissões de CO2 motiva protesto
O maior objetivo da conferência é delinear um esboço para um acordo sobre redução de emissões de gases-estufa a ser fechado em 2015.
As ONGs, como Greenpeace, Oxfam e WWF, se dizem insatisfeitas com o ritmo das negociações e com países que voltaram atrás em compromissos ambientais.
Os articuladores estimam que 800 pessoas tenham abandonado a cúpula.
A ausência dos ambientalistas foi rapidamente percebida no Estádio Nacional de Varsóvia, onde acontecem as negociações. Além dos stands vazios, os corredores estavam em silêncio.
"Os governos deram um tapa na cara dos que sofrem com os perigosos impactos das mudanças climáticas", disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace.
"Chegamos a um ponto tão difícil, com as coisas tão empacadas, que não havia outra solução. Não estamos abandonando o movimento, apenas essa conferência, que chegou a uma situação insustentável", disse André Nahur, da WWF-Brasil.
A saída acontece após uma semana considerada de reveses pelos ambientalistas. O Japão anunciou que não vai cumprir suas metas de redução de emissões de gases-estufa e outros países ricos estão relutantes em destinar mais dinheiro à redução dos danos causados pela mudança climática. Na quarta-feira, o presidente da COP-19, Marcin Korolec, perdeu seu emprego como ministro do Meio Ambiente da Polônia.
Ele divulgou uma nota na qual lamenta a saída das ONGs. "Observadores não governamentais sempre mobilizaram os negociadores para maiores ambições."
A decisão de abandonar as negociações não foi unanimidade. Após a saída do estádio, alguns manifestantes discretamente evitaram entregar seus crachás. "Quero voltar, o ato foi mais uma coisa simbólica", disse uma ambientalista brasileira.
Enquanto ONGs e diplomatas mantiveram o tom pessimista ontem, o presidente da COP-19 enviou uma declaração à imprensa dizendo que as negociações avançaram.
"Após negociações que duraram a noite toda, atingimos um progresso considerável em financiamento climático. As conversas sobre a forma de um novo acordo global também entraram noite adentro. Estamos chegando perto do sucesso final."
Meta de emissões virá na hora certa, diz embaixador
DA ENVIADA A VARSÓVIA
Os negociadores brasileiros subiram o tom em relação a boatos que circulam na COP-19. Algumas ONGs internacionais diziam que Brasil estaria liderando um bloco para atrasar e esvaziar o próximo acordo mundial do clima, a ser fechado em 2015.
Questionado sobre quando o Brasil apresentaria suas novas metas de redução de gases-estufa, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, que chegou ontem a Varsóvia, disse que os números "virão na hora certa", quando o país sentir que as condições de negociação são adequadas.
"Antes de termos os números, é preciso saber com clareza quais vão ser as condições. Não temos pressa para apresentar um número que não significa nada", disse Figueiredo.
O negociador-chefe do Brasil, José Antônio Marcondes de Carvalho, disse que o país não foi a Varsóvia para "escolher culpados", mas cobrou transparência nas negociações.
Os negociadores brasileiros dizem que os resultados da conferência ainda estão incertos. As reuniões têm se estendido pela madrugada.
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