REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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Um fato básico da biologia que todo adolescente aprende na escola --o de que fêmeas de mamíferos possuem dois cromossomos X em seu DNA, e machos, um cromossomo X e um Y-- está se mostrando algo relativo.
Estudo liderado pela pesquisadora polonesa Monika Ward, da Universidade do Havaí, criou camundongos machos sem cromossomo Y, que tornaram-se pais com técnicas de reprodução in vitro.
Para conseguir o feito, descrito em artigo publicado hoje na "Science", Ward e seus colegas adicionaram só dois genes do cromossomo Y --dos 86 genes presentes nele normalmente-- a camundongos geneticamente modificados para serem "X0", ou seja, para possuírem só um dos cromossomos sexuais.
Um desses genes, conhecido pela sigla SRY, já era conhecido por levar à formação de testículos em camundongos "X0" mesmo sem o resto do cromossomo de origem.
Esses testículos até produziam as fases iniciais do desenvolvimento de espermatozoides, mas o processo não ia adiante, deixando os "pseudomachos" estéreis.
Ao adicionar um segundo gene à receita, o sistema de produção de espermatozoides dos bichos ficou um pouco mais eficiente. Mas a maioria das células sexuais masculinas era capenga, com excesso de cópias de DNA. Mesmo as melhores precisaram ser injetadas em óvulos para gerar os filhotes --muitos dos quais eram férteis.
No artigo, Ward diz que, no futuro, seria possível eliminar totalmente genes do cromossomo Y do processo. "Os mecanismos que operam durante a determinação do sexo e a geração de espermatozoide não são simples, não se trata de um gene fazendo tudo. Um gene pode iniciar uma cascata de processos, que envolve vários genes, e muitos têm funções redundantes", explicou ela à Folha.
MISTURA IMPROVÁVEL
Ward diz que a pesquisa deve ajudar a entender causas de infertilidade em homens, em especial para os que têm problemas genéticos que atrapalham a formação de espermatozoides. Por enquanto, não seria possível fazer com que mulheres gerassem espermatozoides e tivessem filhos com parceiras do mesmo sexo, por exemplo.
Um problema sério é o fato de que muitos genes vêm com "etiquetas de origem", mostrando que vieram do pai ou da mãe. Criar gametas dessa forma poderia trazer problemas de desenvolvimento para a prole. Mesmo assim, a possibilidade parece sair cada vez mais do campo da ficção científica.
"O trabalho da Dra. Ward é muito interessante", diz Richard Behringer, da Universidade do Texas. Em 2011, ele obteve camundongos com dois "pais". Coisa parecida já tinha sido feita com fêmeas em 2004.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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