domingo, 27 de outubro de 2013

Paula Cesarino Costa

folha de são paulo
Rua da Carioca, 53
RIO DE JANEIRO - A placa de bronze glorifica o sobrado de uma das mais belas ruas. Ficava no número 53 da rua da Carioca a casa de samba de dona Zica e do marido, Cartola. Inaugurado em 1963, o Zicartola é lendário até hoje, apesar de ter ficado aberto por menos de dois anos.
De segunda a sexta, amigos começavam a chegar no fim de tarde atrás de feijão, moelas e batidinhas de limão, além de conversa e samba.
"Nasceu de uma necessidade econômica (arrecadar dinheiro com a comida caseira de Zica), mas se tornou ponto de encontro de artistas e boêmios, que o transformaram em centro cultural em que cantavam e debatiam inquietações políticas e culturais", conta Maurício Barros de Castro no livro "Zicartola", reeditado pela Azougue em homenagem ao cinquentenário da casa.
Em pouco espaço e por pouco tempo, o Zicartola fez renascer sambistas esquecidos como o próprio Cartola e Ismael Silva e surgir jovens como Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Ao mesmo tempo juntou zona sul rica à zona norte maltratada, a cultura popular ao erudito --Villa-Lobos fumou seus charutos ao som de choros. Drummond e Bandeira iam lá.
Espécie de mestre de cerimônia da casa, o poeta Hermínio Bello de Carvalho define o lugar como "um aglutinador de um movimento estético cultural". Tendo Zé Keti como articulador, passou a atrair a fina flor, como se dizia, de Copacabana.
Virou moda. Jovens da zona sul se acotovelavam para ver e ouvir grandes nomes da música, muitos marginalizados pelas poderosas gravadoras. O escritor João Antonio atribuiu seu fim à invasão dos "bem comportados, politizantes e sabidos da classe média", que encheram, mudaram ares e "emporcalharam o pedaço".
Parte do casario da rua da Carioca foi comprado pelo grupo Opportunity. A prefeitura tombou alguns casarões. Os vizinhos reclamam hoje do aumento do preço do aluguel.

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