domingo, 24 de novembro de 2013

Cães e gatos

folha de são paulo
Cães e gatos
A Europa, como é notório, considerou-se por muito tempo o centro do mundo, admitindo no máximo a existência de algumas civilizações exóticas; com frequência, atribuía-lhes características de crueldade, frieza e selvageria que nem sempre sabia reconhecer como suas também.
Os europeus não se afastavam do comum a toda cultura relativamente isolada. Chineses, astecas ou havaianos terão pensado, igualmente, estar sozinhos num universo circunscrito aos limites de seu próprio conhecimento.
A ideia da supremacia branca, que residualmente persiste, sofreu repetidos ataques ao longo do tempo. Mais recentemente, terá sido desconfortável aos seus defensores a descoberta de que todo ser humano encontra numa Eva africana sua longínqua ancestral.
Mais ainda, teriam sido louros, especula-se, os extintos e mais primitivos grandalhões europeus de Neandertal, superados na nossa longa maratona genética pelo intelecto dos "sapiens" subsaarianos.
Seria ridículo conceder a essas investigações científicas consequências importantes para a autoimagem de quem quer que seja. De todo modo, os europeus podem agora recuperar algo de sua centralidade na história humana. Ou, melhor dizendo, na história canina.
Contradizendo as teorias que situavam na Ásia a origem dos cães, estudo publicado na revista "Science" sustenta que, do pequeno chihuahua ao cavalar dogue alemão, todos descendem de uma loba ancestral, cinzenta e europeia.
Acreditava-se que, dadas as grandes diferenças no interior da espécie, tipos diversos de lobos, chacais e coiotes tivessem entrado na mistura; dada a maior variedade nos cães do Extremo Oriente, parecia razoável que se tivessem constituído há mais tempo por lá.
Ocorre que a diversidade genética dos cães "pode ser influenciada por fatores como o comércio de certas raças ou regimes severos de cruzamento consanguíneo", diz um dos pesquisadores.
Em 20 mil anos, esses animais teriam se espalhado e diferenciado pelas mais distantes regiões --donde, com alguma fantasia, pode-se concluir que a globalização não é tanta novidade assim.
Não se importaram muito, os cães, em saber se eram europeus ou em orgulhar-se desta ou daquela característica racial. O cérebro humano é capaz de mitos e crenças --e também da ciência necessária para dissolvê-los-- que o amigo do homem não possui. A menos que sua velha antipatia pelos gatos seja uma lamentável forma de preconceito e incorreção política...

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