sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo
Preços da bolha
RIO DE JANEIRO - Uma vaga em beliche no Rio durante a Copa do Mundo de 2014 poderá custar R$ 1.000 por noite --média com pão-canoa e manteiga à parte, no botequim da esquina. Por esse preço, cerca de 300 euros, um turista brasileiro pode passar um dia e noite de sonho em hotéis como o Adlon, em Berlim, o Excelsior, em Roma, e o Carlton, em Cannes, entre lençóis de algodão egípcio de 400 fios e com 20 variedades de queijos e geleias no café da manhã, tudo incluído na diária.
A julgar por isso, somente executivos da Fifa, milionários árabes e torcedores de países como Irã, Coreia do Sul e Nova Zelândia poderão se hospedar nos hotéis do Rio durante a competição. Os de Honduras, Etiópia e Burkina Fasso terão de dormir na praia, tomar banho nos postos de salvamento e comer no pé-sujo.
Para que não se pense que só deu a louca no Rio, tais preços estão também na parede da recepção de alguns hotéis vendidos como de quatro estrelas em várias cidades-sede da Copa, embora, sob qualquer padrão, seu serviço, atendimento e apresentação variem do medíocre ao lamentável. Ninguém me falou --conheço-os de me hospedar neles nos últimos dois anos.
Pelo que se está pagando por um anêmico galeto na maioria dos restaurantes brasileiros, duas ou mais pessoas comem à tripa forra na Europa ou nos EUA. Não será surpresa se um coco, hoje entre R$ 4 e R$ 5 nos quiosques à beira-mar, chegar a R$ 20 no verão. Qualquer cerâmica fuleira nas feiras populares do Nordeste ou do Sul já tem preços de peças de design alemão ou italiano. E, não demora muito, uma perna na ponte aérea sairá mais caro que um bilhete Rio-Nova York, ida e volta, na classe turística.
É uma bolha, dizem, e o mercado regulará tudo. Ótimo. Mas, se e quando isso acontecer, um país inteiro poderá se ver subitamente sem escada e pendurado na brocha.

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