Isolar ou não isolar? Eis a questão
Alô, Haddad! Só tomando uns mé para engolir mais uma mudança na política das internações de dependentes
Em um mundo ideal, tomates seriam os organismos mais indicados para servir de piloto de testes da indústria farmacêutica. A ritalina, aquele remédio que é dado para crianças hiperativas, só seria receitado em casos em que se faz estritamente necessário, nunca como sossega leão. Que tal?
Nos últimos anos, distúrbios como o TDAH, TOC e a dislexia (dificuldade de aprendizado de leitura que até ontem não era reconhecida por lei e excluía legiões de brasileiros do mercado de trabalho por falta de acesso a diagnóstico e a métodos específicos de alfabetização) e a própria condição de dependente do álcool e de substâncias químicas começaram a ser tratadas à luz do dia. Problema é que em vez de a transparência prevalecer, quem dominou o debate foram a ideologia e o mercantilismo.
Ao contrário do que pensa Myres Cavalcanti, coordenadora de saúde mental da prefeitura, alguns dependentes precisam, sim, de internações prolongadas. São casos extremos, a minoria. Outros, cada caso é um caso, podem ser tratados tranquilamente em ambulatórios e conseguem trabalhar e funcionar em sociedade enquanto são tratados. No AME (Ambulatório Médico Especial) da Vila Maria, em SP, por exemplo, há um programa de acompanhamento de grande sucesso.
Outro modelo, em que o dependente de drogas ou álcool passa o dia, é o do Caps (Centros de Atenção Psicossocial). Além disso, se cada região tivesse um centro de emergência com um par de leitos em cada hospital e um psiquiatra para atender casos de surtos, nós já estaríamos bem munidos, certo, prefeito Haddad? Governador Alckmin? Não seria mais preciso ficar discutindo qual o modelo ideal, se o das internações longas ou curtas, se o encaminhamento para hospitais, ambulatórios ou para a Ilha do Diabo na Guiana Francesa. Cada caso é um caso e deve ser contemplado como tal, se é que a gente quer mesmo resolver e não ficar entrando e saindo de guerrinhas ideológicas.
Em um mundo ideal, e naquele em que o Estado está inclusive disposto a atender mais gente com mais eficiência e por menos dinheiro, estes quatro modelos funcionariam em conjunto a um programa perene de prevenção.
Nesta semana, participei do lançamento da cartilha "Papo em Família" elaborada em conjunto com gente do calibre da nossa Rosely Sayão e dos estúdios da Maurício de Sousa Produções, seguindo as diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde e patrocinado pela indústria de bebidas (para quem eu presto serviços na forma de palestras sobre alcoolismo).
Menor não pode consumir álcool porque suas sinapses ainda não estão formadas e, quanto mais cedo ele entrar em contato com a bebida, mais chances terá de desenvolver uma adição. Isso é fato. Como também é fato de que a melhor maneira de convencê-lo de que não pode ingerir álcool é conversando em família desde cedo.
Há uma pesquisa feita entre jovens tapuias indicando que ele confia mais nos pais do que nos amigos. Só que os pais não sabem conversar sobre certos temas mais tênues com seus filhos. Ou não se dão conta de que o exemplo dado em casa vale mais do que um milhão de horas de blablablá. Ou não estão informados de que a conversa sobre a bebida deve começar a partir dos seis anos. Ou que amar é impor limites e não ser um facilitador obsceno. Ou que estabelecer limites não significa moralizar nem a conversa deve ocorrer de cima para baixo. Seja como for, viu, Haddad e Alckmin, educadores, pais, indústria, todo mundo: vamos apressar o passo?
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