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Pesquisa global se esforça para enfrentar efeitos colaterais do próprio sucesso e expurgar do acervo os erros e fraudes em expansão
Verdade que as comportas existentes parecem resistir bem à maré montante de artigos e periódicos. Dois pilares sustentam as barreiras: revisão por pares (exame crítico do estudo, por especialistas na área) e compromisso de reprodutibilidade (possibilidade de repetir experimentos ou observações).
Mas a própria comunidade científica tem ventilado suspeitas de que haja fissuras em tais esteios.
No primeiro caso, na fonte do problema parecem estar a facilidade de publicar e a explosão de periódicos científicos online. Só um diretório mantido pela Universidade de Lund (Suécia) listava em 2012 um total de 8.250 desses "journals" eletrônicos, mil deles incluídos naquele mesmo ano.
Tais periódicos se sustentam não com assinaturas e publicidade, mas com tarifas pagas pelos autores dos estudos. Sem interesse comercial em recusar clientes, os editores tenderiam a rebaixar os padrões da revisão --ou eliminá-la.
Isso foi evidenciado pela mais tradicional revista científica dos EUA, a "Science". Um jornalista fabricou estudo sobre medicamento antitumoral fictício e enviou 304 versões para essas publicações. Mais da metade (157) foi aceita.
No segundo caso, pululam indícios de que muitas pesquisas jamais serão reproduzidas. A empresa de biotecnologia Amgen, segundo a revista "The Economist", só conseguiu repetir 6 de 53 estudos rumorosos sobre câncer. A farmacêutica Bayer fracassou em três quartos das tentativas de replicar resultados de 67 artigos relevantes.
Na melhor das hipóteses, o problema decorre da omissão de informações imprescindíveis. Na pior, é causada por erros --ou por fraude.
Quando falhas ou fraudes são descobertas, o mecanismo consagrado de autocorreção é a retração ("retraction"), uma nota no mesmo periódico anunciando a "despublicação" do artigo. Levantamento publicado no periódico eletrônico "PLoS One" revela aumento das retrações, sobretudo após 1995.
Mas a análise também mostra que o crescimento de retrações segue, grosso modo, o de artigos publicados; que o intervalo entre publicação e retração tem diminuído; e que os critérios estão mais rígidos. Há mais casos de retirada por plágio e duplicação, por exemplo.
Existem problemas, mas a ciência não perdeu a capacidade de produzir anticorpos contra a própria degeneração.
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