Vanessa Alcântara viveu com funcionário suspeito de fraudar ISS da prefeitura
Ela afirma que Luís Magalhães queria abrir empresa em seu nome para esconder bens; advogado de fiscal nega
"Ele tentou abrir uma empresa para transferir bens para o meu nome e eu não aceitei. Nos separamos por isso. Ele tinha feito isso com a ex-mulher", conta.
A ALP Administradora de Bens, que tem como sócia a ex-mulher do fiscal, foi usada para receber R$ 4 milhões de propina da Brookfield-- que confirmou o pagamento. A prefeitura estima que o grupo do qual Magalhães fazia parte, com mais três fiscais, causou prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres públicos.
Vanessa afirma que ouviu relatos de Magalhães sobre as empresas que aceitavam pagar propina para recolher menos impostos, mas prefere não citar nomes. "Eu sou um arquivo vivo. É por isso que tem muita gente que quer me matar", diz.
Durante as investigações, ela falou ao Ministério Público o nome de duas dessas incorporadoras e disse que corria risco de ser morta.
Promotores ofereceram a ela o ingresso no programa de proteção a testemunhas, mas Vanessa diz que ainda não decidiu se aceitará.
O episódio da tentativa de usá-la como laranja, segundo ela, ocorreu em março deste ano, quando a Controladoria Geral do Município chamou os quatro fiscais presos para explicar por que tinham patrimônio incompatível com a renda deles.
Magalhães ganha cerca de R$ 14 mil e tem um patrimônio de R$ 18 milhões.
A separação foi traumática, segundo ela. O fiscal obteve na Justiça a guarda do filho de nove meses que teve com ela e de um garoto de quatro anos que ela tivera com outro homem.
Um relatório usado na retirada da guarda afirma que Vanessa é bipolar, segundo o advogado Mario Ricca, que defende o fiscal.
Ela diz que esse relatório não existe. "Não tenho transtorno bipolar. Eles tiraram o meu filho na conversa, sem prova de nada."
Vanessa conta, no entanto, que teve um surto numa das inúmeras brigas do casal. "Eu tive um ataque histérico porque ele me agrediu, quebrou meu carro e eu botei ele para fora de casa, joguei vasos em cima dele. Ele é que é louco."
Auditor é solto e advogado nega acusações de ex
Defesa afirma que Luis Alexandre não tentou usar ex-mulher como laranja e que eles nunca viveram juntos
O auditor estava preso, desde quarta-feira, na carceragem do 77º DP (Santa Cecília) e aceitou fazer uma delação premiada --dar detalhes do esquema em troca de redução de pena.
O fiscal deixou a delegacia acompanhado de seu advogado, Mario Ricca. Ele saiu com o rosto coberto e escoltado por policiais civis do GOE (Grupo de Operações Especiais). Ele não conversou com a imprensa ao deixar o local na madrugada de hoje.
Ricca diz que não faz sentido a acusação de que seu cliente queria usar Vanessa Alcântara como laranja. "Você acha que ele abriria empresa em nome de alguém com quem ele estava brigando pela guarda dos filhos? É uma mulher que não merece a menor credibilidade".
Segundo Ricca, Vanessa tem transtorno bipolar, com mudanças de humor, muitas vezes com agressões contra o fiscal e o primeiro marido dela. "Há 18 boletins de ocorrência contra ela".
Ricca diz que não é verdade que os dois moraram um ano juntos.
O advogado, que também cuidou do caso sobre os filhos, refuta a acusação de que a guarda foi retirada dela sem razões objetivas.
Ex-mulher diz que se apaixonou por auditor
Servidor foi flagrado em gravações dizendo tê-la conhecido em boate; Vanessa diz que fiscal tentou desqualificá-la
"Quem não gosta de jantar num restaurante caro e bom? Eu gosto. Fui apaixonada pelo Luis, mas nunca me envolvi nessa coisa de propina", afirma Vanessa.
Em conversas com promotores, ela contou que era comum o casal gastar R$ 10 mil em uma noite de diversão.
Segundo ela, o casal ia ao Figueira Rubayat, restaurante nos Jardins, e o fiscal perguntava: "Qual é o vinho mais caro da carta? Eu quero esse". Tomavam um vinho de R$ 4.000. Depois, afirma Vanessa, eles ficavam no hotel Unique, também em São Paulo onde gastavam R$ 5.000.
Vanessa diz que o fiscal começou a divulgar que ela era garota de programa por causa da disputa em torno da guarda dos filhos. "Ele queria me desqualificar. É muito mais fácil ele falar que eu sou puta para ficar com o filho".
Ela diz que teve um relacionamento de dois anos e meio com Magalhães e que morou com ele durante um ano.
Nas gravações de telefonemas feitas pelo Ministério Público durante as investigações, Magalhães diz que conheceu Vanessa no Bamboa, uma casa em Pinheiros que cobra ingressos de R$ 200. Lá, as garotas cobram no mínimo R$ 300 por um programa, segundo frequentadores da boate.
Vanessa diz que estudou propaganda e marketing e é gerente de uma loja de roupas em Valinhos, a 89 km de São Paulo.
"Moro num apartamento simples e ando com um carro financiado. Não tenho nada em meu nome." Depois, chorando, faz um apelo ao repórter: "Vou te pedir como mãe: não me denigre!".
Ela diz que ficava sabendo do esquema de fraude na cobrança de ISS porque teve um relacionamento de dois anos e meio com o auditor Magalhães, dos quais moraram juntos por um ano, segundo ela. "Ele chegava cansado em casa e contava como foi o dia. Coisa de casal".
Foram nessas conversas que ele citou duas incorporadoras e mencionou políticos. Ela se recusa a repetir os nomes que citou aos promotores, seguindo uma recomendação de seu advogado, Gabriel Rossi.
INDÍCIOS
Segundo a Folha apurou, ela não citou nomes de políticos, só de incorporadoras.
O Ministério Público encara com um certo ceticismo as informações que Vanessa trouxe à investigação porque ela não tem provas.
Mas ela trouxe bons indícios dos contatos do grupo. Entregou uma lista com o nome de todos os telefones que apareciam na agenda do celular do fiscal.
Ela não tirou foto dos conatos, mas fez uma cópia a mão, o que torna a prova praticamente imprestável.
Entregou também aos promotores cópia de uma pasta com cerca de 150 páginas que Magalhães esquecera na casa. O conteúdo das páginas é mantido em sigilo.
Outro motivo do ceticismo é que o fiscal assinou um acordo de delação premiada, pelo meio do qual terá redução de pena em troca de informações sobre o esquema.
Secretário é acusado de receber verba de fiscal
Em gravação, mulher diz que Luis Alexandre doou R$ 200 mil para a campanha de Antonio Donato (Governo)
Petista afirma que não conhece auditor citado e que não recebeu dinheiro dele em sua campanha eleitoral
Na conversa que o programa obteve, uma mulher identificada apenas como amante do fiscal Luis Alexandre Cardoso de Magalhães ameaça revelar que ele doou dinheiro para a campanha eleitoral de Donato a vereador.
"Eu vou ligar para o Donato amanhã (...) e vou falar: você lembra que recebeu R$ 200 mil do Luis Alexandre para a sua campanha eleitoral?", diz a mulher na ligação. Luis Alexandre responde, na mesma gravação, que não sabe quem é Donato.
O fiscal, um dos quatro servidores da Prefeitura de São Paulo presos sob acusação de cobrar propina, confessou participação no esquema e fez um acordo com o Ministério Público para dar informações em troca de uma eventual pena mais branda. O auditor foi solto hoje.
Em entrevista ao "Fantástico", Donato disse que não conhece Luis Alexandre e que não recebeu nenhum recurso de campanha nem dele nem dos acusados presos.
Mario Ricca, advogado de Guimarães, nega a acusação.
ESCRITÓRIO
Em outra escuta telefônica, o ex-subsecretário municipal da Receita Ronilson Bezerra Rodrigues, preso no 77 Distrito Policial, conversa com um homem não identificado. Ele afirma que o escritório usado pelo grupo pertence ao ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD).
Reportagem publicada ontem pela Folha revelou que o escritório foi alugado pelo empresário chamado Marco Aurélio Garcia, irmão do deputado federal licenciado e secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Garcia (DEM).
Garcia foi secretário de Gestão de Kassab entre 2008 e 2010. À Folha ele diz que não conhece os auditores e que não mantém relações comerciais com o irmão.
Marco Aurélio confirmou à Folha que emprestou o imóvel a Ronilson.
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