Em livro, Duvivier leva humor à poesia
'Ligue os Pontos' é o segundo volume de poemas publicado pelo ator do Porta dos Fundos e colunista da Folha
Com Antonio Prata, que também lança livro hoje, carioca fala sobre seu trabalho literário em evento em São Paulo
Seus vídeos, avalia, têm humor quase infantil na comparação com os outros, mais anárquicos e escrachados, produzidos pelo grupo que desde 2012 atrai milhões de espectadores no Youtube.
Esse interesse por um humor mais poético é bem anterior ao formato que fez dele uma estrela virtual. Teve sua primeira aparição em 2008, quando saíram os poemas de "A Partir de Amanhã Eu Juro que a Vida Vai Ser Agora" (7Letras), obviamente com menos alcance que o programa de vídeos.
"Poesia em geral é considerada o supérfluo, o desutensílio', como diz o Manoel de Barros", comenta o escritor, colunista da Folha.
Mesmo assim, Duvivier resolveu tirar da gaveta versos dos últimos cinco anos e reuni-los em "Ligue os Pontos --Poemas de Amor e Big Bang" (Companhia das Letras), que será lançado hoje, em São Paulo, em evento do qual também participa Antonio Prata (leia nesta página).
Com o livro, Duvivier busca mostrar que a poesia não precisa ser oposta ao humor. "Quando você ri de algo, está se identificando. Assim como a poesia, o humor passa pelo afeto. E ambos têm de puxar os tapetes da certeza."
São pouco mais de 30 poemas curtos, como "no princípio era o verbo/ uma vaga voz sem dono/ vagando pela via láctea.// depois veio o sujeito/ e junto com ele todos/ os erros de concordância.". Os versos são sempre dispostos na forma de pequenos blocos de texto.
"Os poemas são todos quadrados, quase emoldurados. Não ligo para métrica, mas gosto desse formato. É como uma espécie de TOC de não pisar nas linhas brancas", ri.
O volume é dividido em duas linhas temáticas: "cartografia afetiva", com referências líricas ao Rio natal do autor, e "aprender a gostar muito", sobre amor.
Os poemas de amor são dedicados à atriz e cantora Clarice Falcão, 24, mulher de Duvivier e colega de Porta dos Fundos. "Foi ela quem me intimou a tirá-los da gaveta."
Com o poeta Paulo Henriques Britto, de quem foi aluno na faculdade de letras, Duvivier aprendeu que a gaveta é boa para a literatura. "Se um poema não resiste à gaveta, não resistirá à estante. É um tubo de ensaios: basta deixar um ano ou dois e ver no que dá. Às vezes melhora, mas em geral estraga."
No teste, muitos tiveram a validade vencida. "Eliminei uns 60 deles, com a ajuda dos editores, que são ótimos em jogar coisa fora", diz.
DA COLUNISTA DA FOLHAA infância que Antonio Prata, 36, retrata em seu novo livro, "Nu, de Botas" (Companhia das Letras), poderá parecer estrangeira a quem nasceu depois dos anos 1980.
É num cenário sem internet, "num mundo de pequenas barbáries no qual não existiam o protetor solar, o politicamente correto nem o photoshop", como define o autor, que se desenrolam os contos e crônicas protagonizados pelo menino Antonio, na flor da primeira infância.
"Se parar para pensar, há uma proximidade cultural maior entre quem nasceu entre o final da Segunda Guerra [1945] e os anos 1980 do que entre quem nasceu entre os anos 1980 e os anos 2000. Nesse sentido, o livro está preso no século passado", avalia o colunista da Folha.
As narrativas se passam em sua maior parte no bairro paulistano do Itaim (Bibi, e não Paulista, como descobrirá Antonio apenas depois de perder a chance, por pura falta de noção de endereço, de ganhar uma bicicleta do programa de TV do Bozo).
Nesse cenário, o menino descobre os tufos de poeira debaixo dos móveis, o divórcio dos pais, a morte de dois bichos de estimação, a sexualidade e os desafios da vida -- por exemplo, como esconder dos adultos o fato de ter feito cocô na calça no auge de seus quatro anos de vida.
Fatos da vida do autor estão lá (como o caso do cocô, cuja solução então imaginada e imediatamente desvendada pelos adultos foi vestir várias peças de roupa por cima da calça para ninguém reparar no estrago), embora a maior parte do material esteja lustrada pela ficção.
"Não dá para falar que uma memória dos quatro anos não seja ficção, porque não se pode lembrar o que é verdade e o que você inventou. O material já começa suspeito", diz o autor, que elaborou pensamentos e personagens a partir de "resquícios arqueológicos" da memória.
Os textos começaram a ser pensados há uma década, quando Prata foi convidado pela escola onde estudou até os seis anos a escrever sobre aquele período.
"Assisti aula com as crianças por dois meses. Então que reparei como aquelas memórias eram próximas de mim."
Um dos contos, "Waldir Peres, Juanito e Pölöskei", garantiu a Prata um lugar entre os 20 selecionados da concorrida "Granta -- Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros" (Alfaguara), lançada em 2012.
É num cenário sem internet, "num mundo de pequenas barbáries no qual não existiam o protetor solar, o politicamente correto nem o photoshop", como define o autor, que se desenrolam os contos e crônicas protagonizados pelo menino Antonio, na flor da primeira infância.
"Se parar para pensar, há uma proximidade cultural maior entre quem nasceu entre o final da Segunda Guerra [1945] e os anos 1980 do que entre quem nasceu entre os anos 1980 e os anos 2000. Nesse sentido, o livro está preso no século passado", avalia o colunista da Folha.
As narrativas se passam em sua maior parte no bairro paulistano do Itaim (Bibi, e não Paulista, como descobrirá Antonio apenas depois de perder a chance, por pura falta de noção de endereço, de ganhar uma bicicleta do programa de TV do Bozo).
Nesse cenário, o menino descobre os tufos de poeira debaixo dos móveis, o divórcio dos pais, a morte de dois bichos de estimação, a sexualidade e os desafios da vida -- por exemplo, como esconder dos adultos o fato de ter feito cocô na calça no auge de seus quatro anos de vida.
Fatos da vida do autor estão lá (como o caso do cocô, cuja solução então imaginada e imediatamente desvendada pelos adultos foi vestir várias peças de roupa por cima da calça para ninguém reparar no estrago), embora a maior parte do material esteja lustrada pela ficção.
"Não dá para falar que uma memória dos quatro anos não seja ficção, porque não se pode lembrar o que é verdade e o que você inventou. O material já começa suspeito", diz o autor, que elaborou pensamentos e personagens a partir de "resquícios arqueológicos" da memória.
Os textos começaram a ser pensados há uma década, quando Prata foi convidado pela escola onde estudou até os seis anos a escrever sobre aquele período.
"Assisti aula com as crianças por dois meses. Então que reparei como aquelas memórias eram próximas de mim."
Um dos contos, "Waldir Peres, Juanito e Pölöskei", garantiu a Prata um lugar entre os 20 selecionados da concorrida "Granta -- Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros" (Alfaguara), lançada em 2012.
Autores lançam livros juntos com debate e balada
Hoje, às 20h, Antonio Prata e Gregorio Duvivier se encontram no Cine Joia (pça. Carlos Gomes, 82, tel. 3231-3705) para o lançamento de seus livros.
O evento inaugura o que a Companhia das Letras define como "novo formato de noite de autógrafos". Haverá bate-papo e sessão de autógrafos seguidos de discotecagem feita pelos editores da casa.
A classificação indicativa é de 14 anos. Os ingressos custam R$ 50 e dão direito aos dois títulos. Nas livrarias, os dois juntos saem por R$ 60,50 ("Nu, de Botas", de Prata, por R$ 31; e "Ligue os Pontos", de Duvivier, por R$ 29,50).
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