A ópera e seus fantasmas
Principal equipamento cultural da cidade de São Paulo, o Theatro Municipal é, há alguns meses, objeto de polêmica. As razões são estas: denúncias de corrupção e propostas de modificações em seus corpos artísticos estáveis.
Como maior patrimônio cultural da metrópole, palco de alguns dos mais importantes momentos da cultura brasileira, o destino do Municipal é algo que não interessa apenas a artistas e músicos, mas a todos os cidadãos.
Nos últimos meses da gestão passada, o sr. Gilberto Kassab resolveu aprovar a criação de uma fundação que seria responsável pela gestão não apenas do Municipal, com suas orquestras, seus corais, seu corpo de baile e seu quarteto de cordas, mas também de escolas como o Conservatório Municipal e a Escola de Dança. Todo o processo foi obscuro, sem participação da sociedade e discussão aprofundada.
Durante anos, boa parte dos músicos e professores viveram em regime inacreditável de precarização, com contratos de apenas três meses, periodicamente renovados. Obras como a da Praça das Artes chegaram a ter o fosso dos elevadores inundado após apenas alguns meses de sua entrega. Tudo isso demonstra a maneira inadequada com que as questões referentes a um dos corações da produção cultural da cidade foram cuidadas.
Nesse momento, denúncias de corrupção contra o Coral Paulistano aparecem. Elas merecem ser tratadas da maneira mais dura possível. Há, no entanto, uma sobreposição de problemas em que tais denúncias parecem colonizar os debates a respeito do destino tanto do coral quanto da Orquestra Experimental de Repertório (OER). Certamente, não é bom que isso ocorra.
O Municipal tem agora o projeto de se transformar em uma casa lírica de referência. Tal projeto só pode ser bem-vindo, já que, de fato, a cidade de São Paulo se ressente de tal ausência. Mas isso não implica, necessariamente, desconhecer a natureza historicamente multifuncional de um espaço com vários corpos estáveis.
Corpos como o Coral Paulistano e a OER desempenham funções de extrema importância, como produzir encomendas para compositores nacionais, apresentar repertório contemporâneo desconhecido do grande público e fazer pesquisas sobre música brasileira. Sucateá-los ou fundi-los não parece a melhor solução.
Um dos principais pontos do programa de cultura da atual gestão era a "democratização do Theatro Municipal". Isso significava que as decisões relativas ao Municipal seriam tomadas levando-se em conta todos os atores envolvidos em suas atividades. Esse é o melhor momento para mostrar que tais palavras não são letra morta.
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