terça-feira, 22 de outubro de 2013

João Pereira Coutinho

folha de são paulo
Homens e animais
Os defensores da libertação animal preferem que sejam os homens no lugar dos bichos nos laboratórios?
É uma marca de progresso: a discussão sobre os "direitos dos animais" chegou ao Brasil. Com estrondo: leio nesta Folha que centenas de cachorros foram resgatados de um instituto de pesquisa médica no Estado de São Paulo. A violência veio a seguir, com carros vandalizados ou completamente destruídos.
Nada de novo na frente ocidental. Na Inglaterra, por exemplo, tenho amigos que trabalham com ratinhos de laboratório em suas pesquisas científicas. Nenhum deles comenta o fato em ambientes, digamos, sociais. Como bares, cinemas, restaurantes. Nunca se sabe: pode haver um fanático da "libertação animal" por perto e as coisas descarrilam facilmente.
Como já descarrilaram no passado: histórias de insultos, ameaças de morte, agressões físicas e até profanação de sepulturas de familiares de cientistas fazem parte do cardápio. Na experimentação médica, o silêncio, e não o cachorro, é o melhor amigo do homem. Como se chegou até aqui?
O filósofo Roger Scruton escreveu um livro a respeito ("Animal Rights and Wrongs", editora Continuum, 224 págs.) que ajuda a explicar o fenômeno.
E o fenômeno explica-se com o declínio da religião nas sociedades ocidentais: quando os homens acreditavam que eram os seres superiores da criação, ninguém pensava nos "direitos" ou nas "sensibilidades" dos bichos. Nós, e apenas nós, tínhamos sido criados à imagem e semelhança do Pai. Não havia como confundir um ser humano com um batráquio.
A "morte de Deus" alterou a discussão: se não existe um Pai com seus filhos prediletos, então todos somos habitantes do mesmo espaço --e todos somos, como diria o extravagante Peter Singer, criaturas dotadas de "senciência", ou seja, capazes de experimentar a dor e o prazer. Donde, evitar a dor é um imperativo tão legítimo para humanos como para animais.
Claro que, nas teorias de "libertação animal", nem todos os animais desfrutam da mesma sorte empática: acredito que mesmo Peter Singer, nas tardes de insuportável calor australiano, também seja capaz de matar uma mosca ou duas. Mas o leitor entende a ideia: se conseguirmos imaginar um animal a falar e a cantar num filme Disney, por que não conceder-lhe estatuto moral pleno?
Porque isso é uma aberração filosófica, explica ainda Roger Scruton sobre o argumento Disney: existem traços básicos da nossa comum humanidade que estão ausentes do restante mundo animal. São esses traços que fazem com que "nós", e apenas "nós", sejamos seres morais no sentido pleno da palavra.
"Nós", e apenas "nós", somos capazes de julgar, meditar, revisitar o passado, planear o futuro --desde logo porque somos seres temporais por excelência, conscientes da nossa história e do nosso fim.
"Nós", e apenas "nós", somos dotados de imaginação e, sobretudo, de "imaginação moral": somos capazes de rir, corar, sentir remorsos ou alimentar indignações (e premeditadas vinganças).
E, talvez mais importante, "nós", e apenas "nós", somos capazes de reivindicar e defender "direitos", o que implica que "nós", e apenas "nós", somos capazes de entender o que significam certos "deveres". Como, desde logo, o "dever" de não infligir dano desnecessário sobre animais (moscas excluídas).
Será a pesquisa científica um "dano desnecessário sobre animais"?
Não creio, sobretudo quando contemplo as alternativas. O americano Carl Cohen, outro filósofo sobre estas matérias que também recomendo aos interessados (com o seu "The Animal Rights Debate"), é primoroso ao colocar o problema no seu duplo e potencial impasse: os defensores da libertação animal preferem que sejam os homens a tomar o lugar dos bichos nos laboratórios?
Ou preferem antes que não existam mais cobaias nos laboratórios e que os avanços científicos possam parar de vez neste ano da graça de 2013?
Boas perguntas. Esperemos pelas respostas. Mas, até lá, talvez não fosse inútil convidar os militantes da "libertação animal" a recusarem daqui para a frente todos os tratamentos médicos que têm no seu historial o uso de animais em laboratório. Em nome da coerência.
Se isso significar, no limite, a morte de alguns dos militantes, tanto melhor: unidos na vida, unidos na morte.

    Mônica Bergamo

    folha de são paulo

    Ex-companheira de José Dirceu quer reconhecimento de relação estável

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    SEU, MEU, NOSSO
    Evanise Santos, recém-separada de José Dirceu (PT-SP), pode ir à Justiça contra ele para que seja feita uma partilha dos bens do ex-ministro. Ao lado do petista por oito anos, invoca a condição de "relação estável" para oficializar a separação, o que daria a ela o direito à metade do patrimônio amealhado no período.

    Evanise Santos e José Dirceu

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    Mastrangelo Reino-21.fev.11/Folhapress
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    José Dirceu e a mulher Evanise Santos na festa de comemoração dos 90 anos da Folha, na Sala São Paulo
    LADO A LADO
    Os dois moravam em endereços separados. Mas Dirceu pagava contas de Evanise e estava sempre com ela em compromissos públicos.
    PONTO FINAL
    A interlocutores, Evanise diz que pretende "virar a página", fazendo a partilha e cortando qualquer laço de dependência econômica com José Dirceu.
    PRIMEIRA VEZ
    Já Dirceu diz aos amigos que está surpreso. Ele tem três ex-mulheres e afirma nunca ter tido problema na Justiça com elas. Tanto o petista quanto Evanise manifestam em privado a intenção de tentar acordo para evitar uma briga mais séria nos tribunais.
    DATA MARCADA
    A SP Cine, agência que agregará prefeitura e governo para fomentar a produção audiovisual na cidade, será lançada no dia 31.
    DUAS VEZES PARABÉNS
    A produtora teatral Lulu Librandi e a chef Mary Nigri decidiram celebrar juntas o aniversário e receberam amigos no restaurante Quattrino, nos Jardins, no domingo. O ex-prefeito Gilberto Kassab, o tucano José Henrique Reis Lobo e a empresária Paula de Lima Azevedo, com o filho, Antonio Pedro, estiveram na festa. Os atores Leonardo Medeiros e Nilton Bicudo também foram cumprimentar a dupla.

    Lulu Librandi comemora aniversário

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    Greg Salibian/Folhapress
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    A produtora teatral Lulu Librandi e a chef Mari Nigri comemoraram aniversário juntas no domingo (20), no restaurante Quattrino.
    NO MEIO DA RUA
    As fãs que ficaram de plantão na entrada do hotel Emiliano para ver Steven Tyler, líder do Aerosmith, foram compensadas no final da tarde de sábado. Em SP para um show, ele distribuiu autógrafos e até selinhos. Às 19h, o americano foi a pé até o restaurante D.O.M., de Alex Atala, onde jantou na companhia de seguranças.
    PAULISTA DA GEMA
    Spike Lee também está no Brasil. O cineasta e produtor americano tem vindo ao país para filmar um documentário. Desta vez, desembarcou de férias em São Paulo. Está hospedado no mesmo hotel Emiliano, na companhia de um de seus dois filhos.
    ERÓTICO
    O polêmico "Interior. Leather Bar.", inédito no país, abrirá o 21º Festival Mix Brasil, no mês que vem, em São Paulo e no Rio. Dirigido por James Franco e Travis Mathews, o longa é uma mistura de documentário e ficção com cenas eróticas reais entre pessoas do mesmo sexo.
    PRÓXIMA ESTAÇÃO
    A ministra da Cultura, Marta Suplicy, e o marido, Márcio Toledo, foram à exposição "Arte no Brasil: uma história do Modernismo", na Estação Pinacoteca. O diretor do Museu Lasar Segall, Jorge Schwartz, a arquiteta Patricia Anastassiadis, a curadora Regina Teixeira de Barros e o fotógrafo German Lorca também passaram por lá.

    Marta Suplicy vai a exposição

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    Greg Salibian/Folhapress
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    A ministra da Cultura, Marta Suplicy, e o marido, Márcio Toledo, estiveram na exposição "Arte no Brasil: uma história do Modernismo", na Estação Pinacoteca, no sábado (19)
    DECEPADA
    A remoção de uma seringueira centenária de um dos canteiros da avenida Santo Amaro, em razão da obra da futura estação Campo Belo da linha 5 do metrô, gerou protestos. Moradores jogaram tinta vermelha e colocaram cruzes em volta do local.
    DECEPADA 2
    A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente diz que a remoção se fez necessária em função do projeto de edificação da estação e do viaduto "de transposição da avenida Jornalista Roberto Marinho, não havendo alternativa de manejo para a árvore que não fosse o corte". Informa que está prevista uma compensação ambiental.
    CURTO-CIRCUITO
    Roberto Cavalli recebe hoje clientes em sua loja para apresentar nova coleção, às 17h. Em seguida, é homenageado com jantar por Janete Boghosian.
    A joalheria Dryzun faz coquetel hoje para comemorar os 70 anos do livro "O Pequeno Príncipe", às 18h, em sua loja no shopping Iguatemi.
    Eduardo Tonolli, Saverio Gardino, Oliver Kirkham, Fabrizio Roccia e Michele Uria fazem esquenta amanhã do projeto Mamãe, Não me Espere Para o Jantar, às 19h, na Brera, nos Jardins.
    com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
    Mônica Bergamo
    Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

    segunda-feira, 21 de outubro de 2013

    Luli Radfahrer

    folha de são paulo

    Pós-realismo fantástico dos games

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    Muita gente não gosta de videogames. É fácil entender o preconceito. A maioria dos jogos ainda tem personagens rasos de comportamento sexista, enredos banais, paisagens acinzentadas, interfaces feias e claramente artificiais. Esse tipo de jogo prende usuários a sofás e gera comportamentos que agravam o isolamento.
    Mas esse cenário está para mudar. Da mesma forma que computadores e smartphones já foram mercados de nicho, a tecnologia permite que games estejam mais próximos do mundo real. O crescimento exponencial da capacidade de processamento --impulsionado por sensores baratos, novas tecnologias de resposta tátil, telas 3D, inteligência artificial --cria experiências mais imersivas, próximas de filmes como "Inception" e "Matrix".
    Alpino
    Novas interfaces deixam de lado a linguagem espartana dos primeiros jogos, mais utilitária do que estética, em nome de visuais menos excessivos, mais orgânicos e verossímeis. Operadas a partir de plataformas como Leap Motion, Eye Tribe, InteraXon Muse e Oculus Rift, não parecem reais.
    Ao se expandir para além dos jogadores hardcore, a indústria segue o mesmo caminho dos aplicativos e dos serviços de internet, tornando-se mais amigável e aberta a novos públicos. À medida que seus usuários envelhecem, parcelas cada vez maiores da sociedade terão games em sua experiência cultural. E jogar poderá ser tão comum quanto assistir a filmes e ouvir música.
    Mas para isso é necessário melhorar a qualidade dos roteiros e papéis representados. Jogos de atiradores como "Call of Duty" não deverão morrer, mas serão um gênero.
    A contribuição do usuário é, como sempre, essencial. Games ainda estão no estágio das produções da grande mídia, em que uma empresa dita as regras. À medida que novas ideias, roteiros e personagens passarem a habitar o ambiente dos games, poderemos ter uma riqueza digna de uma Wikipédia ou de um YouTube, com milhões de contribuições.
    Já há protótipos imersivos, que em vez de criarem bolhas em torno de seus usuários, os integram à realidade. "Ingress", jogo desenvolvido pelo Google, incorpora dados de geolocalização com princípios de realidade aumentada. O projeto "IllumiRoom", da Microsoft, mapeia a sala em que o jogo acontece e projeta objetos e cenas no ambiente físico, misturando realidades.
    Estamos caminhando para um futuro em que será difícil separar os jogos da realidade. Histórias fictícias, propaganda ideológica e anúncios publicitários ganharão recursos de inteligência artificial, proporcionando interações subliminares. O trânsito, o ambiente de trabalho e as relações afetivas poderão ser combinados, criando jogos coletivos, com resultados bons e ruins.
    É preciso estar alerta para a intenção por trás de quem organiza os novos jogos. Da mesma forma que o gigantesco acesso ao conteúdo na internet trouxe a necessidade de examinar a reputação de quem gera conteúdo, em um mundo complexo e integrado de simulação é muito importante saber que jogo se pretende jogar e com quem.
    Games conscientes e engajados podem ser um belo treino para resolver problemas psicológicos ou ganhar novas habilidades. Se mal usados, seus efeitos podem ser mais graves do que a pior das ideologias.
    Luli Radfahrer
    Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas na versão impressa de "Tec" e no site da Folha.

    Ataque de doçura - Tati Bernardi

    folha de são paulo
    Quando os ossos começaram a latejar achei que era sinusite. Dai foi ficando mais forte a sensação de ter uma criança gorda sentada no meu tórax e comecei a pensar em infarto. Um pouco acima dos joelhos senti uma lerdeza extrema, precisei sentar. Talvez fosse virose. A fraqueza, para médicos angustiados em não explicar o susto da existência, é quase sempre uma doença que se pega no ar.
    Mas não demorou para eu entender que meu padecimento se chamava doçura. Eu estava tendo um ataque profundo e incontrolável de meiguice. Era uma síndrome nova que (não, nova não era, devo ter sofrido uma ou duas noites desse mal aos 12 anos) me assolava e eu não tinha ideia ou lembrança do que fazer com ela.
    Só deu tempo de tocar de leve o antebraço de Paulo e avisar "olha, vem aí uma avalanche mas...essa não sou eu e eu não tô entendendo nada". Paulo me abraçou e eu chorei baixinho por quase uma hora. Depois dormi vencida como uma criança suja de correria, tombo e sol. A tristeza esvaziada é a única felicidade real.
    No dia seguinte despertei absurdamente feminina: Paulo não havia desgrudado do meu corpo a noite inteira. Ele estava com a mão esquerda na minha cintura e a qualquer meio centímetro de deslocamento seus dedos ainda dormentes me resgatavam. Meu quarto estava quente, mas eu sentia uma brisa aliviando meus pensamentos, era uma espécie de proteção oxigenada. Um gostar possível que nem atordoava e nem era pouco. Só sei que achei tudo aquilo bem melhor que todo o resto.
    Lembro que usei saia e colori o rosto. Lembro que usei um brinco maior. Fiz um bolo de fubá com erva doce (mentira, mas pensei nele). Eu queria tanto ser mulher (talvez menina) que tive de me controlar, a cada dez minutos, pra não rodopiar cantarolando no centro de qualquer sala. Eu estava contentinha daquele jeito que só se fica quando um muxoxinho de amor é acolhido e aceito. Acho que Paulo estava feliz também. Os homens gostam de nos salvar de nossas invenções macabras mesmo que seja um porre conviver com elas.
    Na terapia falei sobre vitória. Eu, há tantos anos pugilista, dessa vez não tinha esmurrado o agressor. Nem mesmo o via como adversário num combate. A mágoa não invadia mais minha casa pelo ralo, vestida de ninja assassina. Eu a recebia pela porta da frente, com um chazinho. Ao invés de ironias cortantes para emascular, humilhar, diminuir e esfolar, eu tinha convidado, em silêncio, a grosseria de Paulo para me assistir entupida de amor.
    Cresci disfarçando minha condição de fêmea. Adernando minha pele, meus buracos e meus líquidos com chumbo pontiagudo. Pronta a expulsar qualquer dor com metralhadoras histéricas que, confusas em sua sexualidade, vociferavam másculas como pais protegendo um feto. Nunca um homem sobrou de pé depois de me decepcionar --ainda que a carne viva fosse, muitas vezes, uma loucura apenas minha.
    O mundo sempre me pareceu dividido entre florais submissas condescendentes e mulheres que compram apartamentos, chefiam equipes e opinam ao invés de sorrir. Sempre achei que aceitar um tapinha, ainda que verbal, seria enterrar viva a alma da mulher do século 21. E um blá-blá-blá chato pra cacete que, finalmente, me pareceu ser papo de baranga que não trepa.
    Mas dessa vez, nessa tarde, depois de tanto fugir em círculos da delicadeza, pude me vestir de algo que, na minha ignorância, chamei apenas de nudez. Chorei, dormi e permiti, sem nenhuma inteligência, que um homem ficasse.
    tati bernardi
    Tati Bernardi é escritora, redatora, roteirista de cinema e televisão e tem quatro livros publicados.

    Presença do Exército no leilão de Libra foi decisão de Dilma - Painel Vera Magalhães

    folha de são paulo
    A presidente Dilma Rousseff disse a um interlocutor que o leilão do campo de Libra é um dos atos mais importantes do seu governo, que "marcará o país por gerações". Foi decisão pessoal da presidente enviar o Exército para o Rio de Janeiro.
    Na sexta, determinou que o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) desse uma entrevista para espantar dúvidas. Depois, mudou a data da sanção da lei do Mais Médicos para amanhã para evitar que os assuntos "concorressem".
    *
    Expectativa O governo ainda aposta que a disputa por Libra terá mais de um consórcio. Consultores que assessoram os grupos pré habilitados acreditam que serão pelo menos dois. Inicialmente, o governo previa três.
    Canetada Tão logo Dilma sancione a lei do Mais Médicos, o Ministério da Saúde vai conceder registro para 220 estrangeiros que ainda não obtiveram licença dos conselhos de medicina para atuar no programa.
    Painho... Para evitar as prévias do PT na Bahia, o atual secretário estadual do Planejamento, Sergio Gabrielli, lançou-se pré-candidato com o apoio do ex-presidente Lula e de Rui Falcão, presidente do partido. Gabrielli foi presidente da Petrobras no governo Lula.
    ...decidirá Para conseguir consenso, Gabrielli terá de torcer pelo governador Jaques Wagner nas negociações com o PT. Wagner apoia Rui Costa para o governo do Estado, mas aceita abrir mão de seu candidato se for coordenador da campanha da presidente Dilma Rousseff.
    Em tempo Gabrielli disse à coluna que o leilão de Libra é inoportuno, porque o atual momento econômico é desfavorável.
    Só love 1 Eduardo Suplicy e Alexandre Padilha cantaram "Eu sei que vou te amar" em homenagem ao centenário do poeta Vinicius de Moraes no sábado, durante ato em Santo André.
    Só love 2 Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, anunciou o senador como candidato à reeleição no ano que vem, numa demonstração de que o partido desistiu mesmo de negociar a vaga para o Senado com os partidos aliados.
    Arrocho total A OAB federal e a CNBB se uniram e entregaram ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, um ofício pedindo que seja julgada a ação direta de inconstitucionalidade que proíbe a doação de empresas para candidatos ou partidos.
    Torpedo 1 O TRE de São Paulo deve fechar uma parceria com uma associação de São Paulo para incluir o SMS na fiscalização do órgão eleitoral. O objetivo é impedir que os torpedos sejam usados como boca de urna. Até hoje estavam na mira mensagens trocadas por email, Twitter e Faceboook.
    Torpedo 2 A associação (Mobile Entertainment Forum) também pretende se juntar à Anatel no grupo que definirá as diretrizes da fiscalização eleitoral no país com o Tribunal Superior Eleitoral.
    É do PMDB O novo conselheiro da Anatel deve ser Igor Villas Boas. Seu nome foi indicado pelo PMDB e teve apoio do ministro Paulo Bernardo (Comunicações) para ocupar a vaga de Emilia Ribeiro, que saiu em novembro passado. O posto, que vinha sendo ocupado interinamente desde então, é tido como cota do partido.
    De novo O atual presidente da agência, João Batista Rezende, cujo mandato vence em novembro, deverá ser reconduzido. As duas indicações ainda precisam passar pela presidente Dilma.
    Risco A ajuda do governo às múltis nacionais pode dar problema. Os fiscais da Receita Federal estão preocupados porque as empresas podem simular prejuízos no exterior para pagar menos imposto no país.
    Sem poder O pacote foi decisão política e o fisco não teve espaço para mudança.
    *
    TIROTEIO
    Se o Aécio tiver em São Paulo, em 2014, o mesmo tratamento que Alckmin e Serra tiveram em Minas, ficaremos muito felizes.
    DO DEPUTADO RODRIGO DE CASTRO (PSDB-MG), rebatendo queixa de paulistas à suposta falta de apoio em Minas aos candidatos tucanos em 2006 e 2010.
    *
    CONTRAPONTO
    Fome Zero
     Durante sessão solene no Senado, congressistas deram parabéns aos senadores do Piauí pelo aniversário do Estado, comemorado na semana passada.
    O piauiense Wellington Dias (PT) aproveitou para convidar os colegas para um lanche típico no cafezinho, com direito a tapioca e sorvetes de sabores locais.
    Ao perceber o interesse dos colegas pelos quitutes, o petista, que já governou o Estado, brincou:
    -Quem diria, hein! O Piauí matando a fome de Brasília!
    painel
    Vera Magalhães é editora do Painel. Na Folha desde 1997, já foi repórter do Painel em Brasília, editora do caderno 'Poder' e repórter especial.

    Ronaldo Lemos

    Congresso deveria resolver a questão das biografias



    O país está sacudido pelo debate em torno do direito de realizar biografias não autorizadas. A imprensa e as redes sociais estão em êxtase. O judiciário balançado, com juízes apressando-se a tomar posição sobre o caso.
    Só há um lugar onde o silêncio é sepulcral: o Congresso Nacional. Justamente o lugar onde a questão deveria ser resolvida está paralisado.
    É como se nada estivesse acontecendo. Se o Congresso tivesse atuado, a questão já poderia ter sido resolvida. Há um projeto de lei em tramitação desde 2011 que permite biografias de pessoas notórias sem a necessidade de autorização prévia (a indenização, se for o caso, é dada após a publicação).
    Só que o projeto está congelado. Recebeu parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça, relatado pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ), e seguia direto para o Senado.
    Só que 72 deputados entraram com recurso obstruindo sua tramitação e exigindo que o projeto fosse a plenário. O grupo, heterogêneo, juntou nomes como Tiririca (PR-SP), Paulo Maluf (PP-SP), Miro Teixeira (PDT-RJ) e Alfredo Sirkis (PV-RJ).
    Com todo respeito à ação da Associação Nacional dos Editores de Livros (Anel), que pede que o Supremo resolva a questão (e com a qual concordo em substância), essa matéria deveria ser resolvida pelo Congresso Nacional e não pelo Judiciário.
    Um país em que o Congresso se distancia dos grandes debates nacionais e obriga a Justiça a "legislar" é um país com alguma disfunção.
    Desprezar a separação de poderes é tão inconstitucional quanto proibir biografias.
    *
    JÁ ERA
    Carro movido só a combustíveis fósseis
    JÁ É
    Crescimento dos carros elétricos
    JÁ VEM
    Popularização das motocicletas elétricas
    ronaldo lemos
    Ronaldo Lemos é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e do Creative Commons no Brasil. É professor de Propriedade Intelectual da Faculdade de Direito da UERJ e pesquisador do MIT Media Lab. Foi professor visitante da Universidade de Princeton. Mestre em direito por Harvard e doutor em direito pela USP, é autor de livros como "Tecnobrega: o Pará Reiventando o Negócio da Música" (Aeroplano) e "Futuros Possíveis" (Ed. Sulina). Escreve às segundas na versão impressa do "Tec".

    Chega de shopping! - Raquel Rolnik

    folha de são paulo

    Chega de shopping!

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    No ano passado, a inauguração do shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia, foi vetada pela Justiça porque as obras viárias exigidas pela prefeitura quando da aprovação do projeto não tinham sido concluídas.
    Recentemente, uma decisão judicial determinou que um shopping que está sendo construído na avenida Paulista, com inauguração prevista para o segundo semestre de 2014, não poderá funcionar sem que sejam realizadas obras para mitigar seus impactos na região.
    Há pouco tempo, também, a imprensa noticiou o início das obras de um megaempreendimento na zona sul, que inclui torres residenciais e comerciais, hotel e... mais um shopping.
    Para além da guerra jurídico-administrativa em torno dessa questão, a pergunta que não quer calar é: São Paulo quer e precisa de mais shoppings?
    A cidade tem, de acordo com a prefeitura, 44 shoppings. Eles podem ser construídos em qualquer região que permita uso comercial.
    Mas hoje, como são considerados "polos geradores de tráfego", a aprovação dos projetos requer uma avaliação específica por parte da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que pode exigir contrapartidas para mitigar impactos no trânsito, como a construção de passarelas, o alargamento de vias etc.
    Mas quem vive próximo ou precisa passar diariamente por algum desses empreendimentos, mesmo com suas obras mitigadoras, comprova a tese de que nesses locais o trânsito e a mobilidade... pioram! Quem se lembra dos dias felizes da avenida Pompeia antes da ampliação do shopping Bourbon?
    Com raras exceções, a lógica dos shoppings é a do modelo de mobilidade por automóvel: chegar de carro, deixá-lo em um estacionamento e usufruir de um espaço que concentra opções de compras, serviços, gastronomia e atividades culturais.
    A não cidade, fingindo ser cidade, segregada: com raríssimas exceções, os shoppings simplesmente destroem a continuidade do tecido urbano, descaracterizando e matando as ruas ao redor.
    Em princípio, a legislação urbana reconhece e acolhe esse modelo, e apenas exige a ampliação do espaço de circulação dos automóveis.
    Mas, se São Paulo quer hoje migrar para um novo modelo de mobilidade, baseado no transporte coletivo e em modos não motorizados--pés e bicicletas--, podemos continuar construindo shoppings?
    Em Manhattan, Nova York, região de alta densidade residencial e comercial, os shoppings são simplesmente proibidos. No zoneamento da cidade, em áreas mistas --de comércio e residências-- que correspondem à maior parte das áreas da ilha, as zonas comerciais estão demarcadas para ocuparem apenas a primeira faixa das quadras, com profundidade máxima que varia entre 30 e 60 metros. Ainda assim, não podem ocupar toda a frente das quadras.
    A implicação dessa limitação não é somente urbanística. Restringindo o tamanho máximo de espaço comercial em boa parte da cidade, Nova York protege os pequenos comerciantes e controla o quanto o comércio pode tomar conta de áreas residenciais.
    Estamos em plena revisão do plano diretor e zoneamento da cidade de São Paulo, momento mais que propício para rediscutirmos o modelo de cidade que queremos.
    Em nome das ruas, da multiplicidade de pequenos comércios, da cidade que quer se mover a pé, de bicicleta e por transporte coletivo, chega de shopping!
    raquel rolnik
    Raquel Rolnik é urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada