sexta-feira, 1 de novembro de 2013

José Simão

folha de são paulo
Ueba! Eike lança a Calotex!
Sonia Abrão brinca de Halloween nas redes sociais e posta uma foto fantasiada de bruxa! O capeta existe!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: os servidores do Kassab deixaram a Cidade Limpa mesmo. Limparam R$ 500 milhões! Levaram ao pé da letra o slogan do Kassab: Cidade Limpa! Limpa tudo! Rarará!
E o Malddad disse que o IPTU é o condomínio da cidade. Então troca o síndico. Chama o Tim Maia! Rarará!
E fantasma pra assustar não grita mais "ÚÚÚ", agora grita "IPTÚÚÚ"!
E atenção! HALLOWEEN! Medo! Susto! Pânico! Sonia Abrão brinca de Halloween nas redes sociais". E posta uma foto dela fantasiada de bruxa! O capeta existe! Rarará!
E como disse o outro: "Mas ela já faz isso diariamente". E outro: "Prefiro a Sonia Abrão de bruxa que de maiô!". Rarará! Bate qualquer filme de terror! Sônia Macabrão assusta o Halloween! Rarará!
E adorei a charge do Sponholz com a Dilma abrindo a reunião ministerial: "Gostosuras ou travessuras?". E os ministros: "Travessuras!".
E a minha sogra foi comprar uma máscara de Halloween e só deram o elástico! Rarará!
E o chargista Flavio revela que o Eike vai lançar uma nova empresa: CALOTEX. O Eike desmoralizou tanto a letra x' que até a Xuxa vai mudar de nome pra Chucha!
E o Eike vai entrar pra Bolsa Familiax. Junto com os dois rebentos: Olin e Thor. Rebentos porque arrebentam qualquer patrimônio. Rarará!
E mais duas piada prontas! "Ex-militar acusado de tráfico é preso ao sair do cinema". Qual era o filme? "Meu Passado me Condena". Rarará!
E mais outra: "Cliente de banco diz ter sido obrigado a tirar gesso para assinar transferência". Como é o nome dele? Paulo Saldo! Rarará!
E mais essa: "Maduro vê Chávez em túnel do metrô". Rarará!
E a procuradoria em São Paulo é assim: "Chegou pedido de investigação da Justiça suíça no caso Alstom". "Coloca na pasta errada e esquece!". "Chegou pedido de investigação do mensalão". "Coloca na pasta certa". Rarará!
Trensalão tucano, pasta errada. Mensalão petista, pasta certa!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Tecnologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): Mario Eugênio SATURNO! E gerente de relacionamento do Banco do Brasil: Leonardo Ouro! Rarará!
Nóis sofre, mas nós goza!.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Fernanda Torres

    folha de são paulo
    O drible
    A imprensa se mantém alerta para qualquer movimento que interfira em direitos conquistados
    Lanço um romance agora em novembro. Chama-se "Fim".
    Saindo de uma reunião na editora, parei para observar a estante de lançamentos e fui convidada a escolher alguns títulos. Interessei-me pela biografia de Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trotsky, do Leminski, botei o exemplar no bolso e me dirigi à porta.
    Meu editor veio atrás com "O Drible", de Sérgio Rodrigues, nas mãos. Perguntou se eu não queria levar. Sérgio foi um dos que tiveram a pachorra de ler e escrever o blurb, palavra odienta, uma pequena resenha na contracapa do meu "Fim". Agradeci a lembrança, encabulada por não ter partido de mim o impulso.
    A vergonha me fez atacar o livro de bate-pronto e descobrir um escritor finíssimo, mineiro radicado no Rio. Sérgio se vale de um péssimo pai, cronista de futebol aposentado, que, desenganado, decide reatar relações com o filho, para compor uma tragédia burguesa que atravessa os últimos 70 anos da nossa história.
    Através da paixão poética do pai pelo esporte bretão, Sérgio explora a geração que conviveu com Nelson Rodrigues e Mário Filho, que viu Nilton Santos, Garrincha e Pelé em campo, que testemunhou o apogeu e queda do futebol arte. Murilo desenha paralelos entre o jogo e o país, enquanto o filho, nascido junto com o golpe de 64, cresce em uma sociedade utilitária, movida a autoajuda, embalado pelo saudosismo dos seriados americanos da infância, o rock de 80 e as caixas de farmácia que come pelo caminho.
    O "Drible" é primo-irmão do "Fim". Melhor, é claro, mais sórdido, mais macho, mas primo. O Rio de Janeiro é o seu palco. O hedonismo libertário, vazio, a decadência da corte, o desprezo por qualquer grande ato e a natureza imperiosa.
    A diferença é que Sérgio é das Gerais, seus personagens sobem a BR-040, a mesma que dá em Minas, para se esconderem na umidade do Rocio; possuem a doença do interior, são abatidos pelo oculto, pela insanidade, arquitetam crimes.
    Infelizmente, de nada vale o elogio. O Sérgio acaba de me prestar um grande favor e, em prol da isenção crítica, a ética literária condena troca-trocas desse tipo. Como amadora, me permito a heresia, o autor merece.
    Por falar em boa escrita, o Procure Saber foi obrigado a rever a sua posição com respeito às leis que regem a publicação de biografias.
    A liberdade de expressão está sob ameaça em muitos países latino-americanos. No Brasil, a imprensa se mantém alerta para qualquer movimento que interfira em direitos conquistados. É um tema sagrado para os meios de comunicação e entendo o porquê de a contenda ter tomado contornos tão radicais.
    Sou a favor da liberação. O "sem fins lucrativos" beneficia a internet e a versão chapa-branca da história; a informação duvidosa, sem fontes seguras. A má-fé existe, o mau gosto também, e não só em Gutenberg. Talvez menos em Gutenberg.
    Por outro lado, alguns limites merecem atenção.
    Não é justo que um criminoso lucre com o crime que cometeu. Nos Estados Unidos e na França esse direito é negado, aqui, não há lei para isso.
    Estranha também que a reparação a um dano físico, ou moral, seja calculada com base nos dividendos da pessoa lesada. Quem ganha pouco, recebe pouco, quem ganha muito, recebe muito.
    E não acho certo a veiculação de fotos de crianças sem a autorização dos pais. Tem muito louco nesse mundo e eu gostaria de ter o direito, ou não, de expor meus filhos ao Coliseu.
    Caso seja aprovada a nova versão do artigo 20 do Código Civil, uma coisa permanecerá imutável, a sua frágil redação. Ficaria assim:
    "A mera ausência de autorização não impede a divulgação de imagens, escritos e informações com finalidade biográfica de pessoa cuja trajetória pessoal, artística ou profissional tenha dimensão pública ou esteja inserida em acontecimentos de interesse da coletividade."
    É a liberdade irrestrita, mas preocupa o uso de um termo tão ambíguo quanto divulgação no enunciado. Divulgar é promover, um verbo que abre espaço para a comercialização indevida. Não tem nada a ver com o livre pensar ou a memória da história. Não é publicar e nem transmitir.
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    quinta-feira, 31 de outubro de 2013

    Coreografia aérea e festivais levam dança contemporânea a SP, Rio e Minas

    Chuva de bailarino
    Uma coreografia aérea e três festivais colocam a dança contemporânea em palcos paulistas, mineiros e cariocas
    folha de são paulo
    IARA BIDERMAN
    DE SÃO PAULO
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    Nesta e nas próximas semanas, tanto os fãs de carteirinha quanto os que não têm a menor ideia do que seja dança contemporânea vão poder mergulhar nas suas várias vertentes, das mais pop às mais "cabeça".
    A linha acrobática, com bailarinos suspensos no ar e movimentos atléticos, é uma das mais populares. Está representada na produção "Ilusões - O Amor na Mesa Vertical de Tarô", do Grupo Ares, que estreia amanhã no Memorial da América Latina, em São Paulo.
    Os bailarinos dançam presos a uma parede de 13 metros de altura montada na praça de eventos do memorial. Apesar das peripécias aéreas, o protagonista (o ator e acrobata Guto Vasconcelos) afirma que o espetáculo é despretensioso:"É para ser um alento de 30 minutos na noite de São Paulo".

    Dança nas alturas

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    Bruno Poletti/Folhapress
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    Ensaio da dança aérea "Ilusões - O Amor na Mesa Vertical do Tarô", que estreia no Memorial da América Latina, em São Paulo
    A concepção do espetáculo, da coreógrafa goiana Monica Ala, junta circo e ideias do psicoterapeuta Carl Jung (1875-1961) para contar a "jornada do herói", no caso um executivo que pensa em se matar representado por Vasconcelos.
    "Tem a parte conceitual, mas o foco é mais lúdico. Realizamos uma fantasia impossível: dançar no ar", afirma Monica Ala.
    Para quem quer conhecer o que a vertente mais "conceitual" está fazendo, o Festival Contemporâneo de Dança, que começa hoje em São Paulo, é a oportunidade.
    A sexta edição do evento terá menos grupos e artistas do que as anteriores, mas cada coreografia ficará mais tempo em cartaz.
    Até o dia 24, serão apresentados seis espetáculos de artistas que estão despontando no cenário nacional e internacional, segundo Adriana Grechi, diretora artística do festival. "São trabalhos solo, de duplas e de trios que usam o corpo para estimular a reflexão", diz Grechi.
    Na abertura, hoje à noite, os portugueses Sofia Dias e Vítor Roriz apresentam "Um Gesto que Não Passa de uma Ameaça", experimentação que parte da repetição de palavras faladas e da transformação de seus sentidos.
    MITOS FUNDADORES
    No Rio, o Festival Panorama rola com oito horas diárias de programação. Um dos maiores da área no país, abarca várias linhas da dança contemporânea. Uma é a volta às raízes de sua própria (e recente) história.
    Espetáculos retomam mitos fundadores da dança feita hoje, como releituras da "Sagração da Primavera", que fez cem anos.
    Em uma delas, o catalão Roger Bernart faz do público o intérprete da coreografia. Aí entra também outra característica da produção atual, a interação com a plateia.
    Neste fim de semana, a francesa Olivia Grandville leva ao Rio "Cabaré Discrepante", manifesto dançado sobre arte, e a americana Lois Weaver chama o público a debater na instalação "The Long Table", no Parque Lage.
    ILUSÕES - GRUPO ARES
    QUANDO de amanhã a domingo, às 20h
    ONDE Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, São Paulo)
    QUANTO grátis
    FESTIVAL CONTEMPORÂNEO DE DANÇA (SP)
    QUANDO de hoje até 24/11
    festivalcontemporaneodedanca.com
    QUANTO grátis
    FESTIVAL PANORAMA (Rio)
    QUANDO até 10/11
    panoramafestival.com
    QUANTO de R$ 4 a R$ 20
    Espetáculos com apelo crítico dão o tom de festival em Minas
    LUCIANA PAREJA NORBIATOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAQuem acha que dança é a arte do movimento harmônico pode se espantar ao assistir o coletivo português Bomba Suicida e o coreógrafo Benoît Lachambre, do grupo canadense Par B.L.Eux. Ambos produzem em seus espetáculos um estranhamento que joga para os ares o virtuosismo, colocando em xeque a ideia vigente de normalidade.
    Não à toa, o Bomba Suicida foi o escolhido para abrir o FID (Fórum Internacional da Dança) nesta sexta, em Belo Horizonte. "De 1996 para cá, acabamos fazendo concessões, o que diminuiu o apelo político do evento. Neste ano, resolvemos voltar às origens e usar toda a potência crítica da dança", diz Adriana Banana, organizadora do evento com Carla Lobo.
    Na estreia, o Bomba Suicida apresenta "Paraíso - Colecção Privada", uma visão ácida do céu e do inferno. O coleti vo traz ainda ao FID "A Primeira Dança de Urizen" e "Guintche".
    Outra atração do festival mineiro, o grupo candense Lachambre vai também apresentar seu último trabalho, "Snakeskins", em São Paulo, nos dias 14 e 15.

      Alguma coisa está fora da moda nesta temporada

      folha de são paulo
      ANÁLISE
      DARIO CALDASESPECIAL PARA A FOLHAFutebol, cultura celta, romantismo retrô, silhueta "new look" ou releitura do moletom: mais uma vez, é hora da moda reativar o seu carrossel de tendências na fashion week. No entanto, o clima de festa permanente nos corredores e backstages parece ter ficado para trás.
      Um certo incômodo paira no ar, na semana de moda paulistana, a despeito dos desfiles concorridos e das celebridades: no meio da passarela, sentou-se um enorme elefante cinzento que responde pelo nome genérico de crise.
      É claro que negá-la com veemência faz parte do marketing positivo do evento. Bem mais difícil é negar que há uma crise de gestão das marcas, abaladas pelos inviáveis custos de produção brasileiros.
      Na ponta da indústria, faz anos que o tema crise de competitividade frequenta reuniões do setor e páginas da mídia. É difícil manter o sistema da moda funcionando sem um aparelho produtivo vigoroso.
      Os países que conseguiram já tinham uma posição forte em ativos imateriais --marcas, marketing, etc.--, quando inventaram a terceirização na Ásia (e o caminho de volta para casa, aliás, já começou).
      É incontornável, enfim, a sensação de que a semana de moda anda algo deslocada por fatores que vão das mudanças de local e de calendário à diminuição do número de desfiles, além da percepção de que os preços praticados por algumas marcas, eles sim, estão completamente fora do lugar.
      Não deixa de ser paradoxal, de certo modo frustrante, que isso aconteça no momento em que o Brasil seja efetivamente percebido como país de moda e design, no cenário internacional.
      Se serve de consolo, o momento de fraqueza da moda é global. O consumidor parece ter-se cansado de ver roupas que não vai usar.
      "Eles não entendem", lamentam-se estilistas e fashionistas. "Não é isso que queremos", reafirmam os consumidores, em franca desconexão com as passarelas --e cada vez mais sintonizados com o estilo acessível e democrático do grande varejo, que é onde a festa, por enquanto, continua.

        'Superanticorpo' contra HIV controla infecção em macacos

        folha de são paulo

        Tratamento desenvolvido nos EUA com participação de pesquisador brasileiro será testado em humanos em 2014
        Anticorpos neutralizam capacidade do HIV de se ligar às células, reduzindo a carga viral a níveis indetectáveis
        DÉBORA MISMETTIEDITORA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"Nem todo mundo se defende contra o HIV da mesma forma: algumas pessoas produzem tipos raros de "superanticorpos" contra o vírus. A eficácia de uma terapia que usa esses anticorpos para controlar um vírus similar ao HIV em macacos é relatada em dois estudos publicados hoje na "Nature".
        Infusões dos "superanticorpos" clonados a partir do material colhido de humanos conseguiram reduzir, em uma semana, a carga de HIV a níveis indetectáveis em um grupo de macacos resos.
        Esse controle da carga viral, no entanto, não foi duradouro na maioria deles: dois meses após a aplicação da terapia, em média, o número de vírus em circulação voltou a crescer na maioria dos macacos. O controle só permaneceu nos que já tinham uma carga viral mais baixa desde o início do estudo, o que sugere uma ação conjunta do sistema imune dos animais e dos "superanticorpos".
        EM HUMANOS
        Segundo Michel Nussenzweig, pesquisador brasileiro que é um dos líderes do grupo responsável por esses trabalhos, o tratamento será testado em humanos no início de 2014, nos EUA. Serão 75 voluntários, e os primeiros resultados devem ser obtidos em julho ou agosto.
        A existência desses anticorpos poderosos já é conhecida há anos pelos pesquisadores. Eles se tornaram o objeto de estudo do brasileiro especialista em imunologia.
        "Eu sabia que algumas pessoas conseguiam fazer anticorpos poderosos, mas não havia como cloná-los. Desenvolvi um método para isso que é muito eficaz."
        Nussenzweig, 58, é pesquisador da Universidade Rockefeller, nos EUA. Filho de cientistas que se dedicam a estudos sobre malária, Victor e Ruth Nussenzweig, Michel mora nos EUA desde 1964, quando seus pais foram para a Universidade de Nova York.
        Em 2012, ele publicou, também na "Nature", um estudo demonstrando a eficácia do uso desses "superanticorpos" em roedores geneticamente modificados.
        Agora, após levantar US$ 10 milhões (a maior parte com a Fundação Bill e Melinda Gates), Nussenzweig aguarda o início dos testes em humanos.
        COMO FUNCIONA
        Segundo o pesquisador, os anticorpos atacam o vírus exatamente na região da sua superfície que permite sua ligação com as células CD4. Essa ligação é que permite que o vírus invada a célula e se multiplique.
        "O anticorpo bloqueia a capacidade do vírus de entrar na célula", disse Nussenzweig àFolha, por telefone, do Rio. Ele participou, nesta semana, de uma conferência da fundação Gates no Brasil.
        A ação dos "superanticorpos" é, portanto, diferente do mecanismo das drogas antirretrovirais usadas hoje. Elas agem quando o vírus já está dentro da célula, impedindo sua replicação.
        Mas uma coisa os "superanticorpos" e os antirretrovirais têm em comum: é mais vantajoso usar mais de um tipo de cada um deles para evitar que o vírus, que tem grande capacidade de mutação, se torne resistente e drible os ataques.
        Hoje, o coquetel anti-HIV usa três drogas. Os testes com macacos usaram um ou dois tipos de "superanticorpos".
        De acordo com Esper Kallás, professor de imunologia clínica e alergia da Faculdade de Medicina da USP (não envolvido com o estudo), esse tratamento pode vir a ser usado em associação com os antirretrovirais atuais em pacientes com resistência aos remédios, por exemplo.
        Outra opção seria usar os anticorpos em momentos-chave, como na hora do parto ou logo após um contato acidental com o vírus, como um estupro. A grande desvantagem é o custo: o anticorpo é muito mais caro do que os antirretrovirais.
        "Se desse para induzir o organismo a produzir esses anticorpos continuamente, você teria uma vacina."
        Segundo Nussenzweig, descobrir como algumas pessoas produzem esses "superanticorpos" poderá dar um mapa aos cientistas para produzir uma imunização.
        "Todas as vacinas que temos até hoje foram feitas copiando a natureza. No caso do HIV, ainda não conseguimos fazer isso, porque não sabemos como esses anticorpos são feitos."
          Ainda não há opção a macaco, dizem cientistas
          DA EDITORA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"Até agora, não há alternativa aos uso dos macacos para checar se novos tratamentos contra o HIV são seguros o suficiente para serem testados em humanos, segundo Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP.
          Em breve, uma vacina contra o HIV desenvolvida no Brasil começará a ser aplicada em macacos resos no Instituto Butantan.
          Michel Nussenzweig, da Universidade Rockefeller, que usa macacos resos em seus estudos, afirma que animais não devem ser usados em pesquisas quando há alternativas.
          "Não acho que animais devam ser usados para testar cosméticos. Só quando não houver escolha e quando a pesquisa tem a chance de beneficiar as pessoas."
          O roubo de 178 beagles do Instituto Royal, em São Roque, há quase duas semanas, trouxe o tema da pesquisa em animais à tona. O laboratório usava as cobaias para estudos com medicamentos contra câncer, entre outros.
          "Infelizmente, não teria outra forma de fazer esse estudo [sobre HIV] sem os macacos. Levo isso muito a sério. Não podemos abusar dos animais. Tentamos criar as condições mais humanas possíveis durante os testes."
          Segundo Kallás, pesquisador nenhum gosta de sacrificar animais, mas é preciso pesar custo e benefício.
          "São 35 milhões de pessoas com HIV no mundo. Até hoje, quantos macacos foram usados em pesquisas? Um número infinitamente menor. Ninguém gosta de testar macaco. Mas quais são as prioridades da saúde pública brasileira e mundial?"
          O professor de imunologia da USP, que realiza pesquisas com seres humanos, afirma que a regulamentação brasileira já é bem rigorosa para os testes com animais e com pessoas.
          Para ele, a demora na aprovação dos testes clínicos chega a ser excessiva. "O rigor aqui é maior do que lá fora. Acabamos sofrendo com isso, demoro um ano e meio para aprovar um teste clínico."
          Kallás afirma que quem faz pesquisa no Brasil hoje está "esmagado" entre o debate da sociedade sobre o uso de cobaias e a burocracia necessária para aprovar os testes.
          "Esses movimentos [contra pesquisa em animais] já aconteceram na Europa e nos EUA há 20 anos. Sempre tem alguém que acha que salvar um coelho é mais importante do que salvar uma pessoa."

            Marcelo Miterhof

            folha de são paulo
            IPTU sem preconceito
            Facilmente percebido por quem paga, o IPTU deixa o cidadão mais atento para cobrar bom uso dos recursos
            Volto ao IPTU. Evidentemente, esperava uma forte reação contrária à coluna "Aumentem meu IPTU!", de 17/10/2013, na qual, entre outras coisas, defendi uma maior tributação sobre o patrimônio e a renda como maneira de criar espaço para reduzir a taxação sobre a produção e o consumo.
            Não à toa, segundo o Datafolha, 89% dos paulistanos são contrários à elevação do IPTU. A princípio, ninguém quer pagar mais imposto. Mas é preciso ir além da oposição apriorística. Nesse sentido, os colunistas Vinicius Mota (24/10/2013) e Hélio Schwartsman (25/10/2013) levantaram bons argumentos contra a medida.
            O principal é que a valorização dos imóveis nos últimos anos tende em parte a ser irrelevante, pois ela só se converte em ganhos efetivos aos proprietários quando os imóveis são vendidos.
            Um problema derivado, em exemplo clássico dado por Schwartsman, é o de aposentados, que compraram suas residências quando trabalhavam e, hoje, ganhando menos, são punidos pela alta do tributo, que comprime suas rendas.
            Generalizando o argumento, Mota advoga que o IPTU é um falso imposto sobre imóveis, que de fato incide sobre a renda e deveria ter sua elevação limitada à dos salários.
            A alternativa talvez fosse acabar com a tributação sobre a riqueza. O problema é que raciocínio semelhante vale ainda mais para outros impostos, como o ICMS. A taxação de bens e serviços não leva em conta a renda, o que a torna regressiva: como distintos consumidores pagam uma mesma quantia de imposto, ele representa uma fração maior da renda de quem ganha menos.
            A tributação poderia ser feita exclusivamente pelo IR. No entanto, há alto risco nessa opção: a liquidez da renda a torna mais fácil de ser sonegada. Por isso, deve-se ter um balanço entre as taxações sobre consumo, riqueza e renda. Nesse sentido, a tributação do patrimônio é boa porque em geral é proporcional à renda e difícil de se escapar.
            Além disso, tome o exemplo de duas pessoas de igual renda, mas uma proveniente do trabalho e a outra de aluguéis. Ambas pagarão o mesmo de IR, porém é preciso também taxar a riqueza para desestimular o rentismo.
            Por certo, é preciso ter cuidados, como fazer aumentos graduais. A renda limita em algum grau a exploração do IPTU. Não é simples fazer a cobrança de um fluxo (o imposto anual) incidente sobre o valor de um estoque pouco líquido (o imóvel).
            Porém é inegável que o valor de mercado do imóvel é o melhor parâmetro para cobrar o IPTU. Nos últimos anos, a alta dos preços imobiliários refletiu os ganhos reais de renda e a expansão do crédito no país.
            A localização também determina a valorização relativa: custam mais imóveis em regiões mais bem atendidas por infraestrutura e serviços públicos. Por isso, os mais valorizados devem pagar mais IPTU, contribuindo para que as demais áreas também sejam mais bem servidas.
            É difícil se opor racionalmente à revisão periódica da planta genérica de valores, que estima o preço dos imóveis. Sem atualizar sua base arrecadatória, o IPTU se torna crescentemente arbitrário: imóveis de mesmo valor de mercado podem ser taxados em montantes bem diferentes.
            Claro, é possível reduzir compensatoriamente as alíquotas, de forma a alterar só a distribuição da arrecadação. Todavia, essa é uma decisão de outra natureza, a de equacionar os recursos às demandas por serviços públicos. Elevar a arrecadação para ampliar e melhorar tais serviços é uma opção política respeitável.
            Para as situações atípicas, há formas de corrigir os problemas, como descontos e isenções. Cláudia De Cesare --assessora em tributação da Prefeitura de Porto Alegre e professora do Lincoln Institute of Land Policy, com quem conversei sobre esta coluna-- destaca que nos EUA o imposto é diferido em alguns casos. Viúvas e aposentados podem optar por não pagar o IPTU local, que se acumula até ser cobrado na transmissão do imóvel, por venda ou herança. Assim, os contribuintes não são excessivamente onerados e a sociedade não é prejudicada.
            Por fim, a forte reação contra ao aumento do IPTU em São Paulo sugere que faz sentido um argumento tipicamente liberal a favor de dar mais peso a tal imposto. Por ser mais facilmente percebido por quem os paga, o IPTU (e demais impostos diretos) faz com que o cidadão fique mais atento para cobrar o bom uso dos recursos pelo poder público.

            Marina teve lições erradas na economia, afirma Lula

            folha de são paulo
            Petista ataca líder da Rede depois de ela reconhecer avanços do governo tucano
            Segundo ex-senadora, o próprio Lula a ensinou sobre manutenção da estabilidade econômica em declaração de 2002
            DE BRASÍLIADE CURITIBADias depois de a ex-senadora Marina Silva indicar que reconhece a contribuição do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para a estabilidade econômica do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a ex-aliada dizendo que ela precisa parar de aceitar "lições" erradas sobre o tema.
            Marina, que foi ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato de Lula e tem criticado a política econômica da presidente Dilma Rousseff, afirmou no início da semana que era preciso dar crédito a FHC e aos tucanos pelas conquistas econômicas do país, "para não fazer injustiça".
            "A Marina entrou no governo junto comigo, em 2003, e ela sabe que o Brasil tem hoje mais estabilidade, em todos os níveis, do que a gente tinha [antes]", disse Lula. "Nós herdamos do FHC um país muito inseguro, não tinha nenhuma estabilidade."
            O ex-presidente, que falou sobre o assunto a jornalistas após participar de evento comemorativo dos dez anos do Bolsa Família, disse que Marina "deve ter esquecido" das dificuldades econômicas que o país enfrentava quando os petistas chegaram ao poder.
            "Tínhamos uma inflação de 12% quando cheguei e tem uma inflação hoje de 5,8%. Então, penso que a Marina precisa não aceitar com facilidade algumas lições que estão lhe dando. Ela precisa acompanhar, com mais gente, o que era o Brasil antes de a gente chegar", acrescentou.
            Pelo mesmo critério de comparação utilizado pelo petista, a inflação era de 916% ao ano antes de FHC assumir a Presidência, em 1995.
            Marina se aliou no início de outubro ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que deseja se candidatar a presidente contra Dilma nas eleições de 2014.
            Segundo Lula, Marina "deve ter se esquecido" que "em 1998 a política cambial fez esse país quebrar três vezes".
            À noite, antes de palestrar em Curitiba, Marina respondeu dizendo que o próprio Lula havia reconhecido as conquistas econômicas do país antes de assumir.
            "Quanto à ideia da manutenção da estabilidade econômica, quem me deu a lição foi o próprio presidente Lula, quando ele assinou a Carta ao Povo Brasileiro'", disse ela, em referência ao documento que o petista lançou ainda como candidato à Presidência, em 2002.
            A carta foi uma sinalização de Lula ao mercado de que, caso vencesse, manteria os fundamentos da política econômica vigente à época, como combate à inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante.
            Durante a palestra, a ex-senadora também disse que a estabilidade, apesar de ter começado com FHC, "não é mais do PSDB nem dele".
            "Independente de partido ou governo, essas conquistas têm que ser mantidas e aprofundadas, porque são da sociedade brasileira", afirmou.
            CONTINUIDADE
            Ao criticar a atribuição da "estabilidade econômica" a FHC, Lula disse também que a principal marca de Dilma é a da "continuidade" do "programa de inclusão social e desenvolvimento" que ele começou. Lula afirmou ainda que seu governo e o de Dilma foram os que mais investiram em infraestrutura desde Ernesto Geisel (1974-79).
            Os investimentos federais tiveram uma melhora no segundo mandato de Lula, quando se aproximaram de 3,5% do Produto Interno Bruto, mas ficaram longe dos mais de 10% atingidos sob Geisel e abaixo de patamares atingidos nos governos Figueiredo (1979-85) e Sarney (1985-90).
              LULA
              "[Marina Silva] entrou no governo junto comigo em 2003 e ela sabe que o Brasil tem hoje mais estabilidade em todos os níveis. [...] Penso que Marina precisa não aceitar com facilidade algumas lições que estão lhe dando"
              ontem, ao comentar as declarações da ex-senadora sobre política econômica
              "O Brasil é país pleno e complexo demais para ser governado por forças políticas isoladas"
              terça-feira, durante evento comemorativo dos 25 anos da Constituição, em discurso que foi interpretado como uma referência velada a Marina
              "Economista sabe tudo quando está na oposição. Agora estou ouvindo até uma candidata falar em tripé: temos que consertar o tripé'"
              em 18.out., sobre a defesa de Marina pela volta do tripé macroeconômico
                MARINA SILVA
                "Quanto à ideia da manutenção da estabilidade econômica, quem me deu a lição foi o próprio presidente Lula, quando ele assinou a Carta ao Povo Brasileiro'. [...] Foi um gesto grandioso"
                ontem, referindo-se ao documento lançado por Lula nas eleições de 2002, quando ele sinalizou ao mercado que manteria os fundamentos da política econômica vigente à época
                "Não precisamos tratar as boas conquistas como se fossem apenas de um partido. São conquistas de toda a sociedade brasileira"
                ontem, sobre conquistas recentes do país, como a democracia, a estabilidade econômica e a inclusão social
                "Eu não posso reescrever a história. Não posso dizer que não foi no governo [FHC] que começou [a estabilidade econômica]"
                ontem, ao atribuir méritos à gestão tucana no âmbito econômico
                  'Se encherem o saco, volto em 2018', afirma petista
                  DE BRASÍLIAEm almoço que participou na tarde de ontem no Senado, o ex-presidente Lula disse aos participantes, em tom de brincadeira, que está fazendo duas horas de exercícios físicos todos os dias para entrar em forma e que, se "encherem o saco", estará de volta como candidato à Presidência da República em 2018.
                  Segundo políticos que estiveram no almoço, realizado no gabinete da liderança do PTB na Casa, o petista fez o comentário logo após avaliar que os presidenciáveis Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, e Aécio Neves (PSDB), senador pelo PSDB, terão problemas para administrar suas "sombras", a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o ex-governador de São Paulo José Serra, respectivamente.
                  O ex-presidente teria dito, nesse momento, que Campos "se enrolou de vez" ao aceitar o apoio de Marina, que aparece à sua frente em todas as pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto.
                  Ao declarar isso, um dos convidados perguntou a Lula se ele não se considerava uma "sombra" da presidente Dilma Rousseff.
                  Ele negou, segundo participantes, reafirmando que seu objetivo principal agora é reeleger Dilma. Contudo, emendou a declaração, em tom de brincadeira, afirmando que tem se preparado diariamente para, se lhe "encherem o saco", voltar a se candidatar na eleição de 2018.
                  Na solenidade em comemoração aos 10 anos do Bolsa Família, ontem, Lula deu uma rápida e tumultuada declaração à imprensa.
                  Após o ato, o ex-presidente disse apenas que está "voltando a ter uma atividade política um pouco mais intensa" nos últimos tempos.
                  Um dos objetivos que o petista destacou é o de militar contra a negação da política e dos políticos observada em alguns dos participantes das manifestações que tomaram as ruas do país em junho deste ano.