quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Marina teve lições erradas na economia, afirma Lula

folha de são paulo
Petista ataca líder da Rede depois de ela reconhecer avanços do governo tucano
Segundo ex-senadora, o próprio Lula a ensinou sobre manutenção da estabilidade econômica em declaração de 2002
DE BRASÍLIADE CURITIBADias depois de a ex-senadora Marina Silva indicar que reconhece a contribuição do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para a estabilidade econômica do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a ex-aliada dizendo que ela precisa parar de aceitar "lições" erradas sobre o tema.
Marina, que foi ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato de Lula e tem criticado a política econômica da presidente Dilma Rousseff, afirmou no início da semana que era preciso dar crédito a FHC e aos tucanos pelas conquistas econômicas do país, "para não fazer injustiça".
"A Marina entrou no governo junto comigo, em 2003, e ela sabe que o Brasil tem hoje mais estabilidade, em todos os níveis, do que a gente tinha [antes]", disse Lula. "Nós herdamos do FHC um país muito inseguro, não tinha nenhuma estabilidade."
O ex-presidente, que falou sobre o assunto a jornalistas após participar de evento comemorativo dos dez anos do Bolsa Família, disse que Marina "deve ter esquecido" das dificuldades econômicas que o país enfrentava quando os petistas chegaram ao poder.
"Tínhamos uma inflação de 12% quando cheguei e tem uma inflação hoje de 5,8%. Então, penso que a Marina precisa não aceitar com facilidade algumas lições que estão lhe dando. Ela precisa acompanhar, com mais gente, o que era o Brasil antes de a gente chegar", acrescentou.
Pelo mesmo critério de comparação utilizado pelo petista, a inflação era de 916% ao ano antes de FHC assumir a Presidência, em 1995.
Marina se aliou no início de outubro ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que deseja se candidatar a presidente contra Dilma nas eleições de 2014.
Segundo Lula, Marina "deve ter se esquecido" que "em 1998 a política cambial fez esse país quebrar três vezes".
À noite, antes de palestrar em Curitiba, Marina respondeu dizendo que o próprio Lula havia reconhecido as conquistas econômicas do país antes de assumir.
"Quanto à ideia da manutenção da estabilidade econômica, quem me deu a lição foi o próprio presidente Lula, quando ele assinou a Carta ao Povo Brasileiro'", disse ela, em referência ao documento que o petista lançou ainda como candidato à Presidência, em 2002.
A carta foi uma sinalização de Lula ao mercado de que, caso vencesse, manteria os fundamentos da política econômica vigente à época, como combate à inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante.
Durante a palestra, a ex-senadora também disse que a estabilidade, apesar de ter começado com FHC, "não é mais do PSDB nem dele".
"Independente de partido ou governo, essas conquistas têm que ser mantidas e aprofundadas, porque são da sociedade brasileira", afirmou.
CONTINUIDADE
Ao criticar a atribuição da "estabilidade econômica" a FHC, Lula disse também que a principal marca de Dilma é a da "continuidade" do "programa de inclusão social e desenvolvimento" que ele começou. Lula afirmou ainda que seu governo e o de Dilma foram os que mais investiram em infraestrutura desde Ernesto Geisel (1974-79).
Os investimentos federais tiveram uma melhora no segundo mandato de Lula, quando se aproximaram de 3,5% do Produto Interno Bruto, mas ficaram longe dos mais de 10% atingidos sob Geisel e abaixo de patamares atingidos nos governos Figueiredo (1979-85) e Sarney (1985-90).
    LULA
    "[Marina Silva] entrou no governo junto comigo em 2003 e ela sabe que o Brasil tem hoje mais estabilidade em todos os níveis. [...] Penso que Marina precisa não aceitar com facilidade algumas lições que estão lhe dando"
    ontem, ao comentar as declarações da ex-senadora sobre política econômica
    "O Brasil é país pleno e complexo demais para ser governado por forças políticas isoladas"
    terça-feira, durante evento comemorativo dos 25 anos da Constituição, em discurso que foi interpretado como uma referência velada a Marina
    "Economista sabe tudo quando está na oposição. Agora estou ouvindo até uma candidata falar em tripé: temos que consertar o tripé'"
    em 18.out., sobre a defesa de Marina pela volta do tripé macroeconômico
      MARINA SILVA
      "Quanto à ideia da manutenção da estabilidade econômica, quem me deu a lição foi o próprio presidente Lula, quando ele assinou a Carta ao Povo Brasileiro'. [...] Foi um gesto grandioso"
      ontem, referindo-se ao documento lançado por Lula nas eleições de 2002, quando ele sinalizou ao mercado que manteria os fundamentos da política econômica vigente à época
      "Não precisamos tratar as boas conquistas como se fossem apenas de um partido. São conquistas de toda a sociedade brasileira"
      ontem, sobre conquistas recentes do país, como a democracia, a estabilidade econômica e a inclusão social
      "Eu não posso reescrever a história. Não posso dizer que não foi no governo [FHC] que começou [a estabilidade econômica]"
      ontem, ao atribuir méritos à gestão tucana no âmbito econômico
        'Se encherem o saco, volto em 2018', afirma petista
        DE BRASÍLIAEm almoço que participou na tarde de ontem no Senado, o ex-presidente Lula disse aos participantes, em tom de brincadeira, que está fazendo duas horas de exercícios físicos todos os dias para entrar em forma e que, se "encherem o saco", estará de volta como candidato à Presidência da República em 2018.
        Segundo políticos que estiveram no almoço, realizado no gabinete da liderança do PTB na Casa, o petista fez o comentário logo após avaliar que os presidenciáveis Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, e Aécio Neves (PSDB), senador pelo PSDB, terão problemas para administrar suas "sombras", a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o ex-governador de São Paulo José Serra, respectivamente.
        O ex-presidente teria dito, nesse momento, que Campos "se enrolou de vez" ao aceitar o apoio de Marina, que aparece à sua frente em todas as pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto.
        Ao declarar isso, um dos convidados perguntou a Lula se ele não se considerava uma "sombra" da presidente Dilma Rousseff.
        Ele negou, segundo participantes, reafirmando que seu objetivo principal agora é reeleger Dilma. Contudo, emendou a declaração, em tom de brincadeira, afirmando que tem se preparado diariamente para, se lhe "encherem o saco", voltar a se candidatar na eleição de 2018.
        Na solenidade em comemoração aos 10 anos do Bolsa Família, ontem, Lula deu uma rápida e tumultuada declaração à imprensa.
        Após o ato, o ex-presidente disse apenas que está "voltando a ter uma atividade política um pouco mais intensa" nos últimos tempos.
        Um dos objetivos que o petista destacou é o de militar contra a negação da política e dos políticos observada em alguns dos participantes das manifestações que tomaram as ruas do país em junho deste ano.

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