domingo, 10 de novembro de 2013

Crepúsculo dos ídolos - Favela, sem eufemismo [editoriais folha]

folha de são paulo
EDITORIAIS
Crepúsculo dos ídolos
Chico Buarque e Oscar Niemeyer, Regina Duarte e Beatriz Segall: a favor de um ou outro candidato, artistas de variadas áreas não costumam recusar participação em campanhas eleitorais.
Faltando quase um ano para a disputa presidencial, o governador Eduardo Campos (PE) e Marina Silva, ambos do PSB, já articulam contatos desse tipo. Conforme apurado pela Folha, programa-se um evento no Rio, no qual terão oportunidade de encontrar-se com personalidades do setor.
Estaria em pauta a discussão de alternativas à política cultural. Ainda que esse tópico dificilmente ocupe por mais de 15 segundos a atenção da maior parte dos candidatos, não há nada de condenável em tais confraternizações.
A dúvida é se a presença dessas celebridades ainda se reveste da importância que teve em momentos mais turvos da história política.
Artistas de novela e músicos de MPB puderam, por algum tempo, emprestar um ar de familiaridade e crédito a candidatos que, por diversas razões, careciam de maior endosso na opinião pública.
Num momento em que Lula, por exemplo, inspirava certo temor na classe média pelo excesso de esquerdismo, foi conveniente à sua candidatura o apoio de rostos bonitos e vozes maviosas. Do outro lado, as aventuras espumantes de Fernando Collor ganhavam uma credibilidade cosmética quando enaltecidas pelos sorrisos de alguma celebridade inofensiva.
Atualmente, o quadro é diverso. Ou os políticos já despertam desconfiança demais para que artistas possam atenuá-la, ou o potencial de estranheza e perturbação já se dissolveu. Tornaram-se, em diversos casos, mais construídos do que os próprios atores de novela.
Além disso, as celebridades, em especial as da música popular, veem diminuir a admiração que mereciam. Pelo menos do ponto de vista das ideias políticas, notáveis defensores da liberdade de expressão não se saíram bem quando a publicação de biografias a seu próprio respeito entrou em debate.
Melhor assim, talvez; humanizam-se todos, sensíveis ao interesse comercial ou às suscetibilidades do estrelato. A democracia, se estimula a participação sem distinções, pode ter o efeito de mitigar idolatrias exageradas.
Distinguem-se, ademais, os artistas que têm constante atividade política dos que surgem como convidados de luxo na propaganda eleitoral. Ou dos que só procuram, para beneficio próprio, converter em votos e cargos o apreço que conquistaram. Mas esses, como se sabe, são de outra laia.
    Embora tenham mais itens de consumo, moradores de "aglomerados subnormais" continuam abaixo da média nos indicadores sociais
    A iniciativa do IBGE de quantificar alguns aspectos da vida no que se chama genericamente de favelas --"aglomerados subnormais", na linguagem técnica-- embasa e ratifica algumas intuições antigas a respeito de seus habitantes.
    Segundo a pesquisa do IBGE que refinou o Censo 2010, uma casa de favela tem quase tantos eletrodomésticos básicos quanto as do restante do país, mas seus moradores estão pouco aparelhados para aspirar a uma vida que não seja apenas confortada por alguns poucos objetos de consumo.
    Os moradores da favela continuam "subnormais", fora da norma e abaixo da média, como seus ancestrais na criação ou ocupação de bairros precários, no século 19.
    Na sua média "subnormal", têm menos educação formal, menos acesso ao mercado de trabalho formal, menos acesso ao traçado formal de ruas (com o que acabam tendo menos acesso à infraestrutura básica, de saneamento a segurança). Têm, portanto, uma cidadania informal. Subnormal.
    Certamente não só eles vivem abaixo das médias já deprimentes do Brasil. Estar perto da cidade em tese traz algumas possibilidades de superação. Há pessoas em situações piores, desconectadas do mercado pela geografia e quase isoladas dos serviços do Estado.
    Mais gritante na condição dos moradores de "aglomerados subnormais" é que se concentram nas maiores regiões metropolitanas do país. São vizinhos muito próximos da "normalidade", e o conhecimento intuitivo que se tem deles não se distancia do que as estatísticas agora ilustram com precisão.
    Dado que a existência dos "subnormais" urbanos é secular, persistente, é razoável supor, não sem fundamento, que a favelização territorial e social tem alguma funcionalidade imediata, ainda que prejudicial a longo prazo (deterioração urbana e baixa produtividade, por exemplo).
    Diferentemente dos moradores dos grotões e sertões, os habitantes desses bairros precários terminam sendo reserva de mão de obra para uma sociedade que aceita, na prática, conviver com a desigualdade de direitos e o subemprego como soluções para uma economia eivada de ineficiências e de serviços sociais precários.
    A esse respeito, cabe a comparação com a situação até há pouco tempo enfrentada pelos trabalhadores domésticos. Também eles eram "subnormais", já que não tinham os mesmos direitos de outros trabalhadores. A subnormalidade, enfim, resulta no barateamento, ao menos no curto prazo, da vida "normal", mas dura, de uma sociedade ainda medianamente pobre e, sobretudo, tolerante com o abismo social.

    Situação na prefeitura era de descalabro, diz Haddad

    FOLHA DE SÃO PAULO
    ENTREVISTA FERNANDO HADDAD
    Controladoria é resposta a situação de descalabro
    Orgão de controle envolve riscos políticos, mas traz benefícios superiores no campo da ética, diz prefeito de São Paulo
    FERNANDA MENADE SÃO PAULOMARIO CESAR CARVALHOQuase sempre avarento e professoral nos adjetivos de acusação, o prefeito Fernando Haddad (PT) subiu o tom contra a gestão de Gilberto Kassab (PSD) --mesmo sem nunca citar o seu nome.
    Em entrevista à Folha, ele classificou a situação que encontrou na Prefeitura de São Paulo de "descalabro": "Havia uma degradação. Nichos instalados e empoderados".
    Por outro lado, não poupou elogios à Controladoria-Geral do Município, criada por ele a partir da experiência da Controladoria-Geral da União (CGU), que revelou a máfia do ISS (Imposto sobre Serviços): fiscais que cobravam propina para reduzir o valor do tributo pago para imóveis novos num esquema que fraudou a prefeitura em cerca R$ 500 milhões.
    Ele recusa, no entanto, a pecha de xerife da cidade. "Se existe uma pessoa que controla o processo de investigação, ele está viciado. A ideia é que não haja um controlador, mas uma controladoria."
    Haddad afirma que a controladoria, por ter autonomia em relação ao Executivo, traz riscos políticos que devem ser desprezados (seu principal secretário, Antonio Donato, foi citado em quatro episódios no caso dos fiscais).
    "É uma covardia medir os ganhos éticos com os eventuais prejuízos políticos."
    Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida à Folha.
    Folha - O sr. se encontrou com o ex-presidente Lula. O que ele falou dos fiscais do ISS?
    Fernando Haddad - Ele comentou: "A gente reclama da CGU [Controladoria-Geral da União], mas ela faz um bem para o Brasil, né?". A CGU às vezes interrompe um processo, suspende um edital... E a gente reclama, pois quer fazer obras. Mas um órgão de controle pode ser um freio na gestão ao mesmo tempo em que é imprescindível para chegar a seus problemas.
    A investigação, por respingar no ex-prefeito Gilberto Kassab, pode prejudicar alianças do PT nas eleições de 2014?
    Não acredito nisso.
    Há quem diga que, nesta crise, o sr. foi inábil politicamente.
    Dependendo de como foi usado o termo, eu o fui com muito orgulho. Quando você monta uma controladoria, ou ela é um órgão de controle ou não é. Não tem meio-termo. Porque, se 10% do que ouvi em 2012 sobre a prefeitura fosse verdade, já era o caso de montar uma controladoria.
    O que o sr. ouviu?
    Ouvi que a situação era a pior possível do ponto de vista ético. Havia uma degradação. Nichos instalados e empoderados. Havia uma percepção de degradação.
    Mas há petistas que dizem que o sr. está colocando em risco uma aliança com Kassab.
    Nos valemos de dez anos de tecnologia de combate à corrupção da CGU. Não é pouco trazer isso para São Paulo. É um patrimônio inestimável para a cidade. Em vez de inabilidade política, deveria ser visto como resposta do Executivo a uma situação de descalabro.
    Quem fala mais alto neste momento: o prefeito de São Paulo ou o prefeito do PT?
    O filho do Khalil e da Norma.
    Qual é a diferença entre a corregedoria que existia e a controladoria criada em sua gestão?
    É um divisor de águas. A controladoria tem duas ou três características importantes. A primeira é a autonomia. Ela não presta contas ao prefeito.
    O [controlador-geral Mario] Spinelli não presta contas a mim. Não pede permissão para investigar este ou aquele procedimento. Não tem o dever de sequer me comunicar.
    Em segundo lugar, a controladoria não é um agente passivo, que reage a denúncias. Ela faz trabalho de inteligência. Não se trata de dizer quem começou ou continuou a investigação. É uma mudança de cultura e de mentalidade.
    Kassab tem insistido que ele começou essa investigação.
    É uma disputa estéril. O ganho que a sociedade pode ter é que os processos hoje são de um órgão 100% autônomo.
    O sr. se mostra envolvido na divulgação de cada passo dessa investigação. Quais os riscos políticos dessa postura?
    Se conseguir convencer a sociedade de que a controladoria é um marco que pode ser disseminado pelo país, terei feito o melhor para a cidade. Penso mais nisso que no cálculo político, de curto prazo.
    O sr. responde agora à pergunta sobre quem fala mais alto.
    Estou falando da minha formação. Quando criamos este órgão, sabíamos que ele envolvia riscos de natureza política na exata medida em que envolve uma solidez do ponto de vista ético e moral.
    Os benefícios no campo da ética são tão superiores e mais consistentes que os riscos políticos que nem coloco as duas coisas na balança.
    É uma covardia medir os ganhos éticos com os eventuais prejuízos políticos.
    Seu principal secretário, Antonio Donato, é citado em quatro episódios desta investigação. Por que não foi aberta investigação em torno dele?
    Olha... O Donato acompanhou, até como secretário de Governo, os procedimentos adotados nas investigações. O fato narrado em 2008...
    Há fatos recentes do Ronilson Rodrigues, tido como chefe da máfia do ISS, o procurando.
    Isso não é negado. Ronilson entregou dois estudos à minha campanha: sobre ISS e sobre IPVA. Participou da transição, indicado pela administração anterior.
    E o sr. não pretende abrir uma investigação do Donato?
    Os fatos sobre a campanha de 2008 têm de ser investigados pelo Tribunal Regional Eleitoral, se o órgão julgar que deve [Donato teria recebido dinheiro dos acusados em sua campanha; ele nega].
    O sr. quer passar uma imagem do tipo Rudolph Giuliani, o prefeito-xerife de Nova York?
    Se há uma pessoa que controla o processo de investigação, ele está viciado. Se é institucional, atua com princípios de institucionalidade, moralidade e apartidarismo. A ideia é que não haja um controlador, mas uma controladoria.
    Num telefonema gravado, o chefe da máfia do ISS diz que o prefeito sabia de tudo. O sr. sabe quem é esse prefeito?
    [Ri] Olha... Não é possível desconsiderar que [Ronilson] ocupou um cargo da maior importância durante muito tempo na gestão anterior.
    O que se pode esperar das investigações daqui pra frente?
    Existem evidências fortes de que esses fiscais também atuavam no cadastro do IPTU. A fraude no IPTU pode ser pior que a do ISS.
    Há quem defenda que corrupção ocorre pela forma como as administrações públicas são estruturadas. Há algum projeto de reestruturação?
    As áreas de ISS das construtoras e IPTU são as únicas da Secretaria de Finanças que não tinham sido informatizadas. Agora, estão sendo.
    A novidade não é a existência de servidores corruptos, mas do caminho para diminuir as chances de isso voltar a acontecer. O crime aprende. E a controladoria terá de aprender mais do que elas.

      TV Globo retoma características clássicas da novela com 'Em Família'

      folha de são paulo
      A volta do novelão
      Com 'Em Família', que tem estreia prevista para fevereiro
      ISABELLE MOREIRA LIMA
      ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIA
      Ouvir o texto

      Um novelão daqueles vai encerrar a saga das Helenas de Manoel Carlos. "Em Família", novela das 21h da Globo que estreia em fevereiro, retoma as características clássicas do gênero: muito drama, romances problemáticos, histórias de superação e uma linguagem visual careta.
      Desde "Avenida Brasil" (2012), com reviravoltas diárias e um ritmo acelerado comum aos seriados norte-americanos, a emissora tem tentado emular o gênero estrangeiro transmutando o que sempre foi sua principal fonte de audiência, a telenovela.
      Com a estreia, é como se congelasse a estratégia e voltasse à fórmula que em outros tempos era garantia de sucesso: uma trama que se desenvolve lentamente e se explica a cada capítulo.
      João Miguel Júnior/Divulgação/TV Globo
      Bruna Marquezine grava cena em praça no centro de Goiânia (GO)
      Bruna Marquezine grava cena em praça no centro de Goiânia (GO)
      "Vamos usar uma linguagem menos arrojada, queremos uma coisa mais tradicional", diz o diretor-geral de "Em Família", Leonardo Nogueira. Jayme Monjardim assina a direção de núcleo.
      Partindo dessa ideia, a Globo escolhe mostrar uma trama baseada em situações familiares e triângulos amorosos, além dos temas "campanha social" -como o alcoolismo e a doença de Parkinson-, num ritmo mais lento, de "vida real", que caracteriza a obra de Manoel Carlos.
      "Estou escrevendo como sempre escrevi. Talvez seja correto dar a esse formato o nome de tradicional, mas para mim é apenas o que acredito saber fazer", diz o autor. Ele anunciou que essa deve ser sua última novela.
      A história central em questão é a de uma menina, Helena, que se apaixona pelo primo, Laerte, com quem cresce e quase casa, até que um evento (este fechado a sete chaves pela Globo) os leva a direções opostas.
      Ela deixa Goiás, onde os dois nasceram, e se muda para o Rio. Ele, anos depois, vai para o exterior e vira um flautista famoso.
      Bruna Marquezine e Júlia Lemmertz interpretam Helena, a protagonista, em duas fases da vida. Marquezine, na segunda parte da novela, vive ainda sua filha, Luiza.
      A escalação foi bem planejada por Manoel Carlos. Marquezine começou a carreira em uma novela do autor, "Mulheres Apaixonadas" (2003), como a menina Salete, aos 8 anos, e desde então não trabalhou mais com seus textos.
      Lemmertz é filha de Lilian Lemmertz (1937-1986), a primeira Helena e a quem a novela é dedicada. "Pensei imediatamente na Júlia, uma atriz que sempre admirei e para quem nunca escrevi."
      Sobre Marquezine, diz que precisava de uma artista versátil: "É uma atriz jovem, mas já com experiência para encarar dois papéis diferentes".
      Laerte, o primo que se envolverá com mãe e filha, é interpretado por Guilherme Leicam ("Malhação") e por Gabriel Braga Nunes.
      A repórter viajou a convite da TV Globo
      CAPA
      Globo vai a Goiânia atrás de audiência
      Primeiros capítulos incluem cidades de Goiás, numa tentativa de melhorar o mau desempenho da emissora no Estado
      Próxima novela das nove pode ser a última de Manoel Carlos; autor diz que vai passar a escrever minisséries
      ISABELLE MOREIRA LIMADA ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIANovela de Manoel Carlos é sinônimo de Leblon, bairro nobre da zona sul do Rio de Janeiro. Mas, desta vez, outro cenário deve abrir a nova trama das 21h da Globo: Goiás. A novela tem início na cidade fictícia de Esperança, onde Helena viverá sua infância. Foram feitas gravações em locações do município de Goiás e na capital, Goiânia.
      Assim como a escalação das atrizes, a escolha das cidades é estratégica para a Globo, que enfrenta na capital goiana sua pior audiência.
      "Temos o enorme desafio de fazer com que as pessoas assistam à TV aqui", disse o diretor-geral Leonardo Nogueira antes de gravar cenas com Bruna Marquezine.
      Já Manoel Carlos diz que a história começa fora do Rio porque precisava de um cenário "rico, mas que mantivesse os costumes regionais". Na vida adulta, Helena sairá de lá e viverá no Leblon.
      A Folha assistiu a gravações da novela na capital goiana. Na primeira, a vida real da cidade quase interferiu na "vida real" que a novela tentava reproduzir.
      Gabriel Braga Nunes (Laerte) e Helena Ranaldi (Verônica) faziam sua primeira cena em um parque, onde adolescentes fantasiados de fantasmas e zumbis cobertos de sangue falso comemoravam o Dia das Bruxas.
      Horas mais tarde, no centro, Helena (Bruna Marquezine) vivia seu romance juvenil na saída de um baile de formatura, ao lado do primo, vivido por Guilherme Leicam.
      A cena, que se passa nos anos 1990, era composta por figurantes com longos vaporosos e penteados extravagantes, além de Opalas e Chevettes estacionados.
      A novela será dividida em três fases que se passam nos anos 1980 e 1990 e em 2014. Além de Goiás e do Rio, Viena será cenário.
      A cidade foi escolhida, diz o diretor Jayme Monjardim, "por ser musical", uma vez que a novela conta com ao menos quatro músicos entre os personagens principais.
      Mas Monjardim afirma que nenhum desses elementos deve ser a principal marca da obra: "Nada fala mais alto nas novelas do Maneco [Manoel Carlos] do que o próprio Maneco. O desafio é não atrapalhar o texto dele."
      O autor diz que essa será sua última novela. Esse anúncio já fora feito há dez anos, quando ele lançou "Mulheres Apaixonadas" (2003). "Cheguei aos 80 anos e prefiro parar enquanto me julgo ainda capaz de encarar essa empreitada", afirma.
      Ele diz, no entanto, que não está se aposentando: quer escrever minisséries e pode ainda experimentar o formato dos seriados.

        José Simão

        folha de são paulo
        Ueba! O Eikex tá fudidex!
        E o Bieber? O Justin Bieber é como chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram!
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Os predestinados! Nome do médico que batia ponto e saía voando: Jetson! Jetson Franceschi! Nome de fiscal das propinas: Almir Cançado! Receber propina "cança" mesmo! E o homem mais rico do Brasil deve ser o Pina. Tudo vai pro Pina! E o nome do novo conselheiro da OGX do Eike: Adriano Salvo Salvate! Vai salvatex o Eikex, que tá fudidex!
        E a nova empresa do Eike: Calotex! E acaba de sair a nova biografia não autorizada do Eike: "Da Luma à lama". Rarará. A lama foi praga da Luma!
        E o Bieber? O Justin Bieber é como chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram! E diz que o Bieber é blackbunda. Só transgride cercado de seguranças!
        E atenção! Minas sempre na vanguarda: "Prostitutas de BH inovam, fazem convênio com a Caixa e recebem com cartão de débito e crédito". É o Xotacard! Ou Trepcard!
        Mais uma categoria pra atormentar: Débito ou crédito? CPF na nota? Luz acesa ou apagada? Comum ou aditivada? Gelo e limão? Serve Pepsi? Rarará!
        Desvantagem do Xotacard: beijo na boca, só no débito! E o duro vai ser explicar a fatura pra patroa. Mas essas faturas vêm sempre com nomes diferentes e esquisitos: "Hortifruti São Petersburgo". "Funilaria do Baitola".
        Mas um amigo foi numa casa de massagem e a fatura veio no nome da empresa: Coma Bem! Rarará. E um leitor tem uma dúvida cruel e shakespeariana: "Se brochar, estorna?". Rarará!
        E o Maluf tá com a esfirra suja! "Paulo Maluf condenado e com ficha suja". E ele: "É mentira! Eu lavei a ficha junto com o dinheiro". Ficha lavada! O Maluf tem ficha lavada!
        E adoro quando ele diz: "Eu tirei os bandidos da rua". E botou todos na prefeitura! Rarará. E ainda faz uma ameaça nuclear: "Vou viver 200 anos". Vamos comemorar o bicentenário do Maluf. Quando ele será condenado pela zilionésima vez. E o Ceni ainda será o goleiro do São Paulo.
        E um leitor me disse que o Maluf não vai morrer: vai transitar em julgado! Rarará! E outra coisa: não quero o Maluf inelegível! Protesto! Eleição sem o Maluf não tem graça!
        Tem um amigo que ainda vota no Maluf por três motivos: rouba, mas faz; mente, mas não convence, e é culpado, mas ninguém prova! E pra cada viaduto, o Maluf constrói dez desviadutos. Rarará.
        Nóis sofre, mas nóis goza!
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

          Mauricio Stycer

          folha de são paulo
          'Estratégias de transmidiação'
          Estudiosos tentam entender como a narrativa de uma novela pode ser desenvolvida fora da TV
          O tema principal do 30º capítulo da novela "Cheias de Charme", exibido num sábado, 19 de maio de 2012, foi o clipe "Vida de Empreguete", no qual o trio de protagonistas canta, com muito humor, as agruras do cotidiano de uma empregada doméstica.
          Sem que elas saibam, uma rival posta o vídeo na internet antes do seu lançamento oficial, produzindo curiosidade geral. Inúmeros personagens da trama são vistos assistindo ao clipe diante do computador. Até que, ao final do capítulo, o espectador vê na tela da televisão o endereço on-line onde poderia encontrar o vídeo.
          Na segunda-feira, 21 de maio, quando finalmente foi exibido no 31º capítulo da novela, o clipe já havia sido visualizado 2 milhões de vezes no site da emissora. A estratégia, chamada de "transmidiação", não era inédita na ocasião, mas é considerada a mais ousada e bem-sucedida experiência do gênero já realizada na Globo.
          Pela primeira vez, um conteúdo original essencial para a trama "nasceu" fora de seu habitat principal. Diferentemente de outras ações, marcadamente promocionais, esta permitiu, de fato, que a trama avançasse em outra mídia, produzindo o efeito, para usar o jargão dos comunicólogos, de uma "narrativa transmídia".
          Nos capítulos seguintes, à medida que o vídeo continuava despertando interesse (passou de 10 milhões de visualizações), os personagens comentavam o assunto, citando números reais e fazendo com que o público, de certa forma, se tornasse também participante da trama.
          Esta experiência em "Cheias de Charme" orientou as principais reflexões feitas em um encontro realizado esta semana na USP pelo Centro de Estudos de Telenovela, sediado na Escola de Comunicações e Artes (ECA), e pela Globo Universidade, sob o título "Estratégias de Transmidiação na Ficção Televisiva Brasileira".
          Por trás do nome pomposo do encontro, e também do livro lançado na ocasião, são visíveis as dificuldades dos pesquisadores para, até mesmo, definir com precisão o próprio conceito principal.
          A exploração comercial de conteúdos de uma mídia em outras tem sido feita há muito tempo pelos publicitários, em ações chamadas "crossmedia". Estas seriam operações destinadas à "propagação" de um mesmo conteúdo, ainda que com diferentes roupagens, com objetivo meramente promocional.
          A ação em "Cheias de Charme" mostraria uma possibilidade de "expansão" de um determinado conteúdo. Tem a função, obviamente, de reforçar os laços do espectador com a novela, mas vai além, ao exibir um conteúdo original em outro ambiente.
          Toda novela da Globo tem, desde 2010, um "produtor de conteúdo de transmídia", encarregado de propor ações paralelas à trama em outras mídias. Segundo Tiago Campany, coordenador de multiplataforma da Globo, nada é feito sem a aprovação dos autores e diretores da novela.
          Ações mais corriqueiras incluem a criação de blogs de personagens, nos quais são discutidos temas correlatos às tramas, como o de Melina (Mayana Moura) em "Passione" e o de Sueli Pedrosa (Tuna Dwek) em "Sangue Bom".
          Ainda que não afete diretamente o andamento da novela, este tipo de experiência alarga o conceito de autoria. O produtor de conteúdo "transmídia" passa a ser, ele também, coautor da obra. A ampliação deste modelo abre a possibilidade de se falar em "autoria corporativa" de uma novela.

            Ferreira Gullar

            folha de são paulo
            Frases de efeito
            Quando digo que a arte existe porque a vida não basta, estou dizendo que a arte torna a vida mais rica
            Muitos anos atrás --e bota anos nisso-- escrevi uma série de aforismos sobre a crase e os publiquei no suplemento literário do extinto "Diário de Notícias", do Rio de Janeiro.
            Um deles se tornou muito conhecido, a ponto de estudantes em greve, em Curitiba, o terem escolhido como lema de seu movimento. Estenderam uma faixa no refeitório da faculdade: "A crase não foi feita para humilhar ninguém".
            Não demorou muito, apareceu alguém para dizer que aquela frase era de Machado de Assis. Logo surgiu outro que a atribuiu a Carlos Drummond de Andrade. Até a atribuíram a Rubem Braga, que, numa de suas crônicas, desfez o equívoco: a frase não é minha nem de Machado nem de Drummond; é do poeta Ferreira Gullar.
            Não sou um frasista, muito embora algumas frases minhas tenham se tornado conhecidas. É o caso da que diz assim: "Não quero ter razão, quero ser feliz". Até agora ainda não apareceu ninguém para atribuí-la a algum escritor ou pensador famosos.
            É verdade, porém, que já não sou o dono dela. Foi pelo menos o que pensei quando Cláudia, minha companheira, me trouxe de presente, no dia de meu aniversário, um copo que comprara numa loja de Ipanema: nela estava escrita a tal frase.
            Eu a formulara, pela primeira vez, numa palestra que fiz na Flip. Falando sobre o conflito entre palestinos e israelenses, observei que ambos os lados alegam estarem com a razão e, enquanto isso, vêm se matando há mais de 50 anos. Acho que eles deviam parar de ter razão --disse eu então-- e fazer um acordo de paz. E contei também como, certo dia, minha namorada veio me encontrar para irmos ao cinema, mas começou uma discussão entre nós, cujo desfecho foi ela pegar a bolsa e ir embora. Eu fiquei ali, cheio de razão, mas triste para cacete. Então disse a mim mesmo: o que importa não é ter razão, mas ser feliz.
            Veja bem, quando digo que não sou um frasista é porque não vivo de fato preocupado em fazer frases de efeito. De fato, o que procuro é formular de maneira mais sintética e clara possível, o que se aprende com a vida. De modo geral, as frases de efeito, quase sempre expressam, quase sempre, uma verdade aparente ou parcial, porque o que o frasista procura, menos que a verdade, é o efeito. Modéstia à parte, não é o meu caso.
            Por exemplo, outra frase minha que ganhou certa popularidade diz assim: "A arte existe porque a vida não basta". Não se trata de uma sacação de feito e, sim, conforme creio, de um modo meu de ver a arte como algo que acrescenta à vida o que gostaríamos que ela tivesse.
            E não é que descobriram que essa frase já tinha sido formulada por Fernando Pessoa? Confesso que não sabia disso, mas é natural que não soubesse porque o que li do grande poeta português foram os poemas.
            De sua prosa, lia muito pouco, mesmo porque, se admiro ilimitadamente o poeta que ele é, não concordo com sua visão de mundo, seja espiritual, seja política. Mas fui para a internet e terminei encontrando a frase do poeta, que diz assim: "A literatura, como arte, é uma confissão de que a vida não basta". É, sem dúvida, muito parecida com a minha, mas não diz a mesma coisa.
            A diferença decorre precisamente de que a minha visão de mundo não coincide com a de Pessoa: ele era espiritualista e eu, materialista.
            Quando ele diz que a arte é "uma confissão de que a vida não basta", o que está afirmando é que o significado da vida não se limita à realidade material do mundo; essa realidade não lhe basta, ela só se completa com a dimensão espiritual. A arte e a literatura --particularmente a dele, Pessoa-- são uma confissão de que a vida só se completa no plano espiritual. A realidade material não basta.
            Minha visão é outra e, portanto, outro o significado de minha frase. Quando digo que a arte existe porque a vida não basta, estou na verdade dizendo que a arte torna a vida mais rica, mais fascinante, mais encantadora. Mas essa frase não surgiu do nada.
            Na verdade, acredito que o objetivo de arte não é, como se diz, revelar a realidade mas, sim, reinventá-la. Quando Van Gogh pinta o quadro "Noite Estrelada", está acrescentando aos milhões de noites reais, mais uma que só existe em sua tela. E reinventa, assim, a noite real.

              Mônica Bergamo

              folha de são paulo

              Luiza Brunet chega aos 51 apaixonada e disposta a tirar o silicone dos seios

              Ouvir o texto

              A foto foi feita por Bruce Weber, badalado fotógrafo de moda, no Copacabana Palace, em 1986. Hoje, a imagem da morena de seios à mostra repousa emoldurada em um apartamento em Nova York.
              *
              É um dos retratos mais famosos de Luiza Brunet, colocado à venda em 2008 na Christie's, tradicional casa de leilões. O então marido da modelo, Armando Fernandez, via os lances pela internet, mas não entrou no páreo. Havia um "gringo" disposto a pagar muito pelo clique alçado à condição de obra de arte.
              *
              O dono do lance de US$ 50 mil (cerca de R$ 110 mil) era o empresário gaúcho Lirio Parisotto, 60, dono da Videolar, com faturamento de US$ 1,4 bilhão. Três anos depois do leilão, ele arremataria também o coração da modelo.
              *

              Luiza Brunet cansou de ser sexy

               Ver em tamanho maior »
              Eduardo Knapp/Folhapress
              AnteriorPróxima
              Aos 51 anos, Luiza Brunet diz que já tá transcendeu ao rótulo de "sex symbol" e anuncia que vai tirar as próteses de silicone dos seios
              *
              "Comprei várias fotos históricas. Escolhi a da Luiza pela beleza brejeira de um ícone brasileiro", relata ele à repórter Eliane Trindade. "Nem imaginava que um dia iria namorar a moça."
              *
              Na sala do apartamento dele nos Jardins, em SP -famoso pela adega de 30 m² com mais de 10 mil garrafas de vinho-, ela fala dos prazeres de uma relação madura. "Era pouco provável, na minha idade, conhecer alguém de quem gostasse realmente e que fosse disponível. É maravilhoso estar apaixonada e viver um amor na maturidade."
              *
              O namoro se firmou na ponte área -ela mora no Rio com o filho caçula, Antônio, 16. O casal se conheceu em um jantar no Copacabana Palace, cenário da foto icônica.
              *
              Aos 51 anos, uma das mulheres mais desejadas do país diz ter ficado cerca de dois anos sem sexo, após se divorciar em 2008. "Quando falei isso, foi uma loucura. Fizeram reportagens de comportamento, ouviram especialista", conta, rindo.
              *
              "A questão não é conseguir sexo. Por que a fila tem que andar rapidinho?" A dificuldade não era parceiro, diz, mas virar a página após 24 anos ao lado de Armando, pai de seus dois filhos. "Foi doloroso aprender a estar só. Sentia falta até das discussões."
              *
              Precisou se reestruturar. Cortou o cabelo curto, fez regime. "Estava largada", admite. Não mais. Ela se mantém nos 64 kg em 1,76 m. Já pesou 58 kg. "Não preciso mais estar tão magra."
              *
              É empresária de si mesma. O perfume que leva seu nome vendeu 3 milhões de unidades. Aposentou-se como rainha de bateria no Carnaval, mas continua na ativa como modelo em um mercado que cobra juventude. Relata comentários agressivos na internet em fotos nas quais aparecem as marcas inevitáveis do tempo. "Alguns são agressivos, me chamam de velha."
              *
              Não esconde idade. "Olho fotos minhas com 20, 30 anos, e gosto mais de mim hoje. Não tenho nenhum problema com envelhecimento. Já a morte me assusta. Perder a lucidez me apavora."
              *
              Luiza quer se despir da pele de "sex symbol". "Já transcendi a essa história de símbolo sexual." Vai retirar as próteses de silicone dos seios (170 ml cada uma). "Estou em busca de outras coisas e quero uma estética mais natural, menos sensualidade."
              *
              Posou nua pela última vez em 1986 para a revista masculina "Playboy".
              *
              "Eu me sentia super à vontade", diz. "Mas o nu era mais discreto. Eu não posaria hoje de jeito nenhum. É muita exposição. As fotos estão na internet na mesma hora."
              *
              O empresário Humberto Saade, dono da grife Dijon, a descobriu quando fazia um ensaio sensual para a revista "Ele & Ela". Nascia La Brunet (sobrenome do engenheiro com quem foi casada dos 16 aos 22 anos). Nas imagens publicitárias dos anos 1980, ela aparece sempre sem blusa, ao lado do patrão.
              *
              Ela nasceu Luiza Botelho da Silva, no Mato Grosso do Sul, e foi criada em um subúrbio do Rio. Queria ser cabeleireira. "Era o meu horizonte." É a segunda de oito irmãos (dois morreram pequenos). Aos 12 anos, virou babá. "Cuidava de duas meninas, de 4 e 6 anos. Éramos três crianças, mas eu me comportava como uma senhora. Me sentia importante por ajudar em casa."
              *
              Sentia-se preparada para as ciladas da futura carreira. "Sobrevivi como modelo porque nunca vivi dentro do mundo da moda. Trabalhava e voltava para minha família."
              *
              Prostituição e drogas estavam no cardápio. "É difícil fazer as coisas funcionarem e não se corromper", diz Luiza. "Existe todo tipo de assédio. Propostas indecorosas e decorosas. Nem sempre de dinheiro. Mas nunca passou pela minha cabeça, em nenhuma fase, ter vida boa em troca de favores sexuais."
              *
              Passou a cartilha à filha Yasmin, 25, também modelo. "A cobrança era terrível. Falavam: 'Sua mãe é maravilhosa, se você chegar aos pés dela...'. É como se ela tivesse obrigação de ser melhor do que eu." A garota decidiu morar em Nova York. "Foi uma forma de sair da sombra e resgatar a autoestima."
              *
              Luiza Brunet leva gravado no corpo o nome das duas crias. Fez a primeira tatuagem no braço, aos 39 anos. A princípio, os desenhos (fez outros no quadril e no tornozelo) serviram para disfarçar manchas de vitiligo. "É uma doença autoimune que aflorou por conta de passagens da minha vida." Evita entrar em detalhes. "Momentos difíceis todos enfrentam."
              *
              Os primeiros sinais de despigmentação da pele apareceram na infância. Chegou a tentar um tratamento famoso em Cuba, mas não deu certo. Aprendeu a conviver com a doença e a controlá-la. "O estresse é sempre um gatilho. Se estou menos estressada e me cuido, não se desenvolve." As marcas não a impediram de fechar importantes contratos com empresas de cosméticos.
              *
              No dia a dia e nas fotos, usa creme autobronzeante para camuflar as manchas. Segue a linha natural na hora de apelar para métodos de rejuvenescimento. Fez plástica no rosto aos 47 anos. "Um minilifiting. Nem perceberam."
              *
              Dá risada das histórias da vida. Conta, às gargalhadas, episódios como o dia em que foi apresentada ao ex-presidente José Sarney, em Búzios. "Estava fazendo faxina. Meu vizinho apareceu. Abri a porta e dei de cara com o Sarney." Detalhe: estava só com a parte de baixo do biquíni. E foi de topless que cumprimentou as visitas. "Era como ficava em casa na praia."
              *
              Foi apresentada a Pelé junto com Xuxa, quando o trio posou para uma revista. "Nos conhecemos no mesmo dia. Ele sempre xavecando todo mundo. Acabou saindo com a loura", brinca Luiza.
              *
              As duas eram amigas, mas se distanciaram quando Xuxa virou um fenômeno na TV. Luiza agora também está na Globo, na série "Correio Feminino", do "Fantástico". Foi escolhida pelo diretor Luiz Fernando Carvalho para encarnar uma das mulheres que dão vida às crônicas de Clarice Lispector. "Viver o universo de uma mulher madura me deixou segura."
              *
              Após duas novelas e participações especiais, ela é crítica quanto à própria atuação. "Eu era totalmente despreparada para fazer novela." Trauma das resenhas impiedosas ao seu papel em "Os Trapalhões no Reino do Futebol" (1986). "Me destruíram", diverte-se. "Morro de vergonha. Estava muito ruim mesmo."
              *
              Agora finaliza a autobiografia, que lançará em breve. "Foi difícil me abrir, mas nunca escondi minha origem, meus defeitos, minhas ansiedades. Acho legal compartilhar. Descobri faz tempo que a gente só aprende na dor, na porrada, na crítica", diz a Luiza na versão 5.0.
              Mônica Bergamo
              Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.