Lou Reed
Lou Reed morreu de uma doença do fígado, no domingo, em sua casa em Amagansett, Long Island (EUA), aos 71 anos.Ele foi um grande ícone para minha geração. O Velvet Underground foi patrocinado inicialmente por Andy Warhol, e os integrantes da banda costumavam frequentar o Max's Kansas City, uma casa noturna e restaurante na Park Avenue South, 213, em Nova York, ponto de encontro de artistas, poetas, trapaceiros, homossexuais e músicos.
Andy Warhol e seu séquito dominavam a sala dos fundos do Max's Kansas City, e David Bowie, Alice Cooper, Iggy Pop e também Lou Reed eram todos parte da cena. Em 1975, a casa foi reaberta e se tornou um dos lugares de nascimento do punk rock. Eu mal conseguia bancar a passagem de ônibus de Princeton a Nova York, quanto mais ir ao Max's Kansas City, mas muitas vezes fiquei assistindo ao movimento, do lado de fora da porta.
Lou Reed influenciou profundamente o rock alternativo e underground em todo o mundo. Seus álbuns solo tratavam de temas como amor, experimentação sexual, alienação, vício, contradições agressivas, de "Transformer" (1972), "Berlin" (1973) e "Metal Machine Music" (1975) a "New York" (1989). Rejeitando o pop da Califórnia e o estilo hippie, Reed cantava fora da melodia, em seu ramerrão nova-iorquino.
Para mim, seu single mais memorável é "Walk on the Wild Side", que David Bowie ajudou a produzir em Londres e fala dos trapaceiros e dos travestis que cercavam Warhol na Factory. Lou Reed teve um envolvimento romântico com um travesti, Rachel, que inspirou a canção "Coney Island Baby" e cuja foto está na capa de "Walk on the Wild Side".
Reed sempre objetou à autoridade. Sofreu tratamento de eletrochoques em um hospital psiquiátrico por duas vezes, quando jovem. Era um rebelde urbano de classe média e amava a literatura de Allen Ginsberg. O que não surpreende, porque Ginsberg também visitou Princeton na época. Lembro-me de ouvi-lo gritar "fuck" a plenos pulmões, cercado de sulistas altos, loiros (e completamente incapazes de compreender). Princeton era então conhecida como "plantation", devido ao grande número de estudantes sulistas na universidade.
O último show de Lou Reed em São Paulo aconteceu no Sesc Pinheiros, em novembro de 2010. Ele tocou "Metal Machine Music", que o público não compreendeu; algumas pessoas foram embora. Ficaram confusas. Reed perdeu a palheta da guitarra. Lucas Bertolo, um jovem bonito e brilhante, correu para o palco para encontrá-la. Mas Reed "àquela altura era uma sombra do poeta das ruas que um dia havia sido", escreve Lucas. "Já estava morto."
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