Dallas marcada
RIO DE JANEIRO - É provável que Dallas, no Texas, nunca se livre do estigma de ser a cidade onde, há 50 anos no dia de hoje, John Kennedy foi morto. Outras cidades já foram palco de assassinatos iguais ou piores, como o de César, em Roma, ou o de Lincoln, em Washington, mas havia algo de inevitável nisso. Afinal, eles trabalhavam nelas.
Dallas, não. Seu ódio contra Kennedy era maciço, e o desfile do presidente em carro aberto, uma provocação. Hoje Dallas tenta apagar essa imagem, mas todos sabem que Lee Oswald, o assassino, apenas fez o que muitos políticos, fazendeiros, empresários, protestantes, valentões e racistas da cidade gostariam de ter feito.
Columbine, no Colorado (1999), e Newtown, em Connecticut (2012), onde dezenas de inocentes foram fuzilados por psicopatas, e a praia da Luz, no Algarve, em Portugal (onde, em 2007, desapareceu a menina inglesa Madeleine), também ficaram marcadas. Essas cidades não contribuíram para as tragédias, mas continuarão lembradas como seus cenários.
Por mim, quero que Dallas se dane. Foi a única vez em que, ao entrar nos EUA sem ser por Nova York, a imigração me parou. Se bem que talvez eles tivessem razão. O ano era 1988, e eu estava vindo de Cuba pela Cidade do México --daí o desembarque lá. Talvez tenham visto em mim um contrabandista de charutos, porque me fizeram abrir a mala.
Eu não trazia nenhum charuto, e sim um comprometedor estoque de biquínis brasileiros. Manuseando, cheirando e quase comendo aqueles microssutiãs e calcinhas, devem ter pensado que eu era um agente do tráfico de brancas. Custei a convencê-los de que eram um presente da "Playboy" brasileira para sua irmã americana, e que eu os estava levando de favor. E vinguei-me dizendo que, perto dos nossos, os biquínis das mulheres americanas ficariam melhores se usados como paraquedas.
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