Programação interrompida, cobertura ininterrupta por quatro dias, assassinato de Lee Oswald ao vivo na televisão: a morte do presidente John F. Kennedy, em Dallas, provocou uma revolução nos veículos de comunicação, transformando a televisão na "janela do mundo".
Cinquenta anos depois, Bob Huffaker, um antigo jornalista da rádio-televisão KRLD/CBS de Dallas, ainda se lembra: "a partir desse dia, nós compreendemos que tínhamos mais responsabilidade sobre os nossos ombros do que nunca antes".
"Dealey Plaza, Dallas, em 22 de novembro de 1963: às 12h30 (hora local), "três tiros foram dados contra o comboio presidencial do presidente Kennedy", de acordo com um boletim da agência de notícias UPI, às 12h34.
Às 12h40, no canal CBS, um personagem da novela "As the World Turns" está fazendo "uma profunda reflexão" sobre o casamento quando a imagem é cortada. Aparece o logo da CBS, e o famoso apresentador Walter Cronkite anuncia que o presidente Kennedy "foi gravemente ferido".
À 13h38, Cronkite, de camisa social --na correria, ele acabou esquecendo de colocar o terno--, anuncia a morte do presidente, tira os óculos e olha para o relógio, com pesar. A imagem simboliza o evento trágico que acabara de petrificar os Estados Unidos e o mundo.
"É uma dessas imagens que aqueles que a viram não se esquecem mais", afirma Cathy Trost, vice-presidente do Newseum, museu dedicado à imprensa, localizado em Washington.
"Em Dallas, cancelamos toda a programação normal durante três dias e três noites", conta Pierce Allman, então um jovem diretor da grade da emissora WFAA/ABC.
Todos os principais canais fazem o mesmo e o que se segue são três dias de cobertura, sem anúncio, um horário nobre integral: a viagem de volta do caixão do presidente, o juramento --em fotos-- do novo presidente Lyndon Johnson, a chegada do suspeito Lee Harvey Oswald à delegacia de Dallas.
JANELA DO MUNDO
As câmeras registram ao vivo as homenagens à Casa Branca. No domingo, é a vez do cortejo fúnebre, que segue para o Capitólio, depois o funeral, na segunda-feira, no Cemitério Nacional de Arlington, na Virgínia, perto da capital. Trata-se do cemitério militar mais tradicional do país.
No sábado, em Dallas, depois de indiciado pelo assassinato do presidente, Lee Oswald é transferido. No meio da multidão de jornalistas que tentam entrevistá-lo, um homem surge, de arma em punho, e atira. Jack Ruby acaba de matar, ao vivo na NBC, o principal suspeito da morte de JFK, em mais um fato inédito visto através da TV.
Ao final desses quatro dias, o apresentador da ABC Ron Cochran afirma que "a televisão se transformou na janela do mundo".
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"A televisão atingiu sua maioridade naquele fim de semana", avalia Cathy Trost, acrescentando que "ultrapassou os jornais como principal fonte de informação para para os americanos".
Segundo ela, essa cobertura encontraria seu equivalente somente anos depois, com os atentados do 11 de Setembro. O fato é que a América estava preparada. Em 1949, apenas 9% dos lares americanos tinham televisão; contra 50% em 1952; e 90% já em 1960, com 52 milhões de televisores.
O próprio Kennedy foi um pioneiro na exposição de seu mandato na TV, lembra o jornalista francês Philippe Labro, autor de "On a tiré sur le président", explicando que "todos os outros presidentes apenas reproduziram seu comportamento".
Segundo o instituto de medição de audiência Nielsen, em 22 de novembro de 1963, às 14h45 --horário do anúncio oficial feito pela Casa Branca sobre a morte de JFK--, 45,4% dos televisores estavam ligados; 65,8%, às 18h15; e 81%, na segunda-feira, durante a cerimônia fúnebre.
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"A única coisa que podíamos fazer era ficar em casa", conta Martha Prince Michals, entrevistada na casa de repouso para idosos Edgemere, em Dallas. "Para saber, a gente precisava ver televisão. Era nossa fonte de informação", acrescenta essa senhora, de 89 anos.
O professor de Jornalismo David Greenberg, da Universidade Rutgers (Dallas), confirma que é sempre para a mídia --televisão, sobretudo - "que nos voltamos em tempos de crise para ter explicações, conforto e nos unirmos com nossos concidadãos".
Ainda muito popular, o rádio também esteve presente, e alguns jornais impressos publicaram até oito clichês nesse dia, detalha Cathy Trost, sem se esquecer dos flashes das agências de notícias.
"Hoje, as redes sociais anunciariam a notícia primeiro", afirma, destacando, no entanto, que sempre caebe à imprensa verificar a exatidão dos fatos.
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