domingo, 27 de outubro de 2013

Tea Party culpa moderados do partido por fiasco

folha de são paulo
Paralisação dos EUA pode prejudicar republicanos
Acusado por impasse, partido corre risco de perder vantagem na Câmara
Liderança democrata no voto popular, porém, pode não resultar na retomada da maioria, afirmam especialistas
PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULO
O Partido Republicano saiu chamuscado da paralisação do governo dos EUA, o que aumenta a possibilidade de os democratas, partido do presidente Barack Obama, retomarem o controle da Câmara nas eleições legislativas do ano que vem.
Hoje, o Senado dos EUA é controlado pelos democratas, e a Câmara, pelos republicanos. A Câmara, com sua estridente minoria do Tea Party, tem frustrado boa parte das iniciativas legislativas do governo Obama.
Os radicais do Tea Party foram os principais defensores da intransigência que levou à paralisação de 16 dias do governo americano e consequente prejuízo de US$ 24 bilhões, segundo estimativa da agência Standard & Poor's.
Eles ameaçaram conduzir o país para o calote caso democratas não aceitassem reverter vários pontos da lei de reforma da saúde, a chamada "Obamacare". A extorsão não funcionou, e os republicanos foram pressionados a recalcular a rota de forma humilhante.
Pesquisa "USA Today"/Princeton Survey Research mostra que 29% dos eleitores acham que os republicanos são culpados pela paralisação do governo, 12% culpam os democratas e 54% responsabilizam os dois partidos.
Segundo pesquisa "Washington Post"/ABC também desta semana, 53% dos eleitores culpam os republicanos pela paralisação do governo, e apenas 29% responsabilizam o presidente Obama.
Para analistas, essa reprovação dos eleitores ao comportamento do Partido Republicano aumenta as possibilidades de os democratas retomarem o controle da Câmara, algo impensável até pouco tempo atrás.
Segundo pesquisa da CNN nesta semana, 50% dos eleitores registrados para votar dizem que pretendem votar em um candidato democrata na eleição legislativa do ano que vem, diante de 42% em um republicano (4% não vão votar, 2% não têm candidato, 2% outras respostas).
A margem de vantagem, de oito pontos percentuais, é igual à margem de voto popular necessária para os democratas retomarem o controle da Câmara --estimada em de seis a oito pontos.
BATALHA ÁRDUA
Alguns analistas, no entanto, acham que essa vantagem no voto popular não é uma boa maneira de prever o resultado das eleições, disputadas distrito a distrito.
E se trata de uma batalha árdua. "Apesar de a situação ter melhorado, ainda será difícil os democratas retomarem a maioria na Câmara: em geral, o partido que está na Presidência tem desempenho pior na eleição legislativa", disse à Folha Kyle Kondik, editor do Sabato's Crystal Ball, centro de análises políticas da Universidade da Virgínia.
Segundo Kondik, seria "inédito na história" um partido que está na Casa Branca tirar da oposição 17 vagas na Câmara, número que daria a maioria aos democratas.
Muitos acreditam que o "efeito paralisação" não vai durar até a eleição do ano que vem. "Houve consequências negativas para os republicanos, mas não está claro quanto vai durar essa virada na opinião pública", disse à Folha John Sides, professor de ciência política na Universidade George Washington.
Para grande parte dos analistas, tudo depende da capacidade dos republicanos de repetir as trapalhadas dos últimos meses.
O líder da minoria no Senado, o republicano Mitch McConnell, afirmou que seu partido não deixará o governo chegar de novo a uma paralisação na próxima negociação do Orçamento e da elevação do teto da dívida, que vai ocorrer em alguns meses.
Mas o senador Ted Cruz, um dos líderes do Tea Party, não parece contrito. "Vou continuar fazendo de tudo para impedir esse trem desgovernado que é a lei de saúde de Obama", disse.
Tea Party culpa moderados do partido por fiasco
JOANA CUNHADE NOVA YORKO balanço da última disputa política foi negativo para a reputação do Tea Party mesmo entre os republicanos.
Pesquisa do Pew Research Center mostra que, entre os eleitores do partido de inclinação moderada e liberal, a parcela dos que guardam uma impressão favorável sobre o grupo caiu de 46% em junho para 27% em outubro.
"Outros impasses já aconteceram, mas havia 17 anos não se chegava à paralisação de fato. Essa foi a diferença. E não foi só uma discussão sobre dívida e Orçamento: entraram questões ideológicas e políticas, misturaram o programa de saúde", afirma Juliana Horowitz, que participou da pesquisa do Pew.
No público geral, 49% têm agora opinião desfavorável do Tea Party --há três anos, pouco após ele emergir como movimento de protesto ultraconservador contra as políticas de Barack Obama, essa parcela não passava de 25%.
A base conservadora, porém, ainda espera reação de suas lideranças e não acredita que elas serão punidas nas urnas no ano que vem.
"Estamos otimistas. Vamos continuar combatendo o Obamacare. Só precisamos pressionar mais do que fizemos neste ano", diz Deedee Vaughters, ativista do Tea Party na Carolina do Sul.
Analistas acreditam que, apesar da imagem maculada, membros do Tea Party como Ted Cruz contabilizaram algum ganho --o senador, um dos artífices da tentativa de fazer o governo refém por meio da paralisação, aspira à corrida presidencial de 2016.
"Muita gente não sabia quem ele era, inclusive dentro do Tea Party. Cruz virou o herói do movimento", avalia a pesquisadora do Pew.
Para Bob Vander Plaats, que chefia o grupo conservador The Family Leader, de Iowa, os culpados pelo "insucesso do Tea Party em atingir o Obamacare não foram conservadores reais como Cruz, e sim os republicanos do establishment', que cederam às demandas de Obama".
Com o racha no partido, "republicanos progressistas, como Lindsay Graham e Mitch McConnell, serão desafiados pela direita conservadora", diz Michael Kinzie, fundador do grupo de apoio Tea Party 911. "Esses políticos de carreira serão destronados em 2014", afirma.
O outro lado alimenta a contenda. O deputado republicano Peter King afirmou em entrevistas que é o momento de quebrar a ala mais à direita do partido. King participou dos esforços para que o republicano John Boehner, presidente da Câmara, procurasse saídas para dar fim à paralisação do governo.

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