Desastre amazônico
Desmate aumentou em termos percentuais, não tanto no valor absoluto, mas governo se atrapalhou
A divulgação desse dado sempre foi traumática para o governo. Como ocorre em geral em novembro, coincide com a época em que se realizam as rodadas anuais de negociação internacional sobre a mudança do clima. Se a taxa sobe, queima o filme da delegação brasileira.
Na próxima terça-feira, por exemplo, começa o segmento de alto nível --quer dizer, com a presença de ministros de Estado-- da reunião que teve início na semana passada em Varsóvia, apelidada de COP-19.
O índice anual de desmatamento é calculado pelo sistema Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ele se baseia em centenas de imagens de satélite, mas depende de laboriosa interpretação. Embora boa parte do processamento hoje seja digital, a palavra final cabe a especialistas humanos.
O Inpe, órgão federal vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, havia recebido a determinação, como de hábito, para fechar a conta do Prodes antes da COP. Assim se fez. Com a demora na divulgação da cifra, porém, espalhou-se a impressão de que o Planalto estava enrolando para não passar vergonha em Varsóvia.
Se foi mesmo essa a motivação --mais uma aplicação da Lei de Ricupero (o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde)--, alguém pisou na bola. Tentar esconder informação em Brasília sempre é um lance arriscado.
Saiu primeiro o jornal "O Globo", na terça-feira, com a informação de que haveria aumento ("até 20%"). Na quinta, o Blog do Kennedy (Alencar) escancarou o percentual correto de incremento: 28%.
A área desmatada tinha saltado de 4.571 km², no período de observação agosto/2011-julho/2012, para 5.843 km² (agosto/2012-julho/2013). Ainda assim, é o segundo menor valor desde o início da série histórica, em 1988. Os números vêm caindo desde 2004, quando se alcançou o pico de 27,7 mil km².
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, convocou uma entrevista coletiva para o mesmo dia. Parecia bem irritada, quase furibunda. Disse que o governo não tinha perdido o controle do desmatamento nem era conivente com ele, que era errado atribuir às mudanças no Código Florestal o repique da taxa, que sua antecessora Marina Silva (PSB) deveria se informar melhor.
Se os 28% fossem só uma flutuação, a ministra não teria dado a performance que deu. Ninguém que exerça o poder gosta de perder o domínio da situação. Para piorar, a ex-ministra e pré-candidata Marina Silva de fato tinha pisado na bola.
Numa palestra relatada pelo jornal "Valor Econômico", Marina acusou o governo federal de "conivência" com o aumento da destruição. E foi além: "(A ONG) Imazon está dizendo que é muito mais (92%)".
A ex-ministra misturou alhos com bugalhos. O Imazon, de Belém, faz um bom monitoramento de curto prazo, comparável ao sistema oficial Deter, mas os seus próprios técnicos dizem que ele não serve para fazer predições sobre a taxa anual.
O fato é que o desmate aumentou muito, mas na taxa percentual, não tanto no valor absoluto. Bem preparada e explicada, não seria uma mensagem tão difícil de transmitir. Na base do improviso e da indignação, pareceu descontrole mesmo.
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