DIÁRIO DE BERLIM
O MAPA DA CULTURA
Adeus a um crítico furioso
O autodidata que rasgava livros ruins
Reich-Ranicki popularizou a crítica de livros na Alemanha com seu jeito claro e direto de falar e escrever. Seus textos eram oásis dentro do empolado jornal alemão. Dizia que a função da crítica era animar o público para a literatura.
Judeu nascido na Polônia, passou sua juventude em Berlim, onde logo descobriu sua paixão pela literatura alemã. Frente à perseguição nazista, porém, foi obrigado a deixar a cidade em 1938. Passou cinco anos no gueto de Varsóvia --experiência narrada na autobiografia "Mein Leben" (minha vida, de 1999), que vendeu mais de 1 milhão de exemplares.
Costumava lembrar que nunca fizera um curso universitário. Proibido pelos nazistas de estudar, foi um autodidata. Suas críticas eram afiadas e temidas. Entrou em conflito até mesmo com monstros sagrados da literatura alemã, como Martin Walser e Günter Grass.
Famosa é a capa da revista "Spiegel", de agosto de 1995, na qual uma fotomontagem mostra um Reich-Ranicki colérico, rasgando ao meio o livro de Grass "Um Campo Vasto" (publicado no Brasil pela Record). Chamou-o na ocasião de "prosa sem valor, monótona e ilegível".
JUBILEU
A editora Steidl está comemorando os 50 anos de "Anos de Cão", de Günter Grass, Nobel em 1999. O livro faz parte da sua chamada "Trilogia de Danzig", que também reúne "O Tambor", publicado originalmente em 1959, e "Gato e Rato" (1961).
"Anos de Cão" conta a história do século 20 a partir da perspectiva de três narradores. O "leitmotiv" é um cachorro, Pluto, o pastor alemão de Hitler. E o palco é Danzig, a cidade natal de Grass (hoje Gdansk, na Polônia).
Grass diz considerar esta obra "mais rica" do ponto de vista estilístico e literário do que o romance "O Tambor", que acabou se tornando mais famoso por causa do filme de Volker Schlöndorff, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1980.
Além de lançar uma edição comemorativa de "Anos de Cão", encadernada em tecido e trazendo 130 gravuras feitas pelo próprio autor, a Steidl também está preparando uma exposição para o final de novembro, em Lübeck, cidade atual de Grass. Ali está localizada a Günter-Grass-Haus (www.grass-haus.de), um museu com seus desenhos, esculturas e os originais de sua obra literária.
PRÊMIO
A escritora húngaro-alemã Térezia Mora, de Berlim, acaba de ganhar o mais importante prêmio literário da Alemanha, o da Bolsa do Comércio de Livros. Sua obra "Das Ungeheuer" (O Monstro) foi considerada o melhor romance do ano.
Parte do livro lembra um "road movie". Traz a história de Darius Kopp, que depois de meses trancafiado num apartamento sai à procura de um lugar para jogar as cinzas da mulher, Flora, que se suicidou.
A narrativa tem uma forma original. Uma linha horizontal corre ao longo do romance de quase 700 páginas: acima da linha, um narrador conta a busca feita por Darius Kopp e como ele descobre o diário de Flora; embaixo estão as anotações de Flora, apontando para a depressão que devorava a mulher.
GOETHE
Um livro de 750 páginas está na lista de best-sellers na Alemanha: a biografia "Goethe "" Kunstwerk des Lebens" ( a vida como obra de arte), de Rüdiger Safranski.
O título já indica que essa biografia se centra menos nos livros e mais na vida intensa de Goethe (1749-1832), autor de "Fausto" e "Os Sofrimentos do Jovem Werther", entre muitas outras obras: a infância em Frankfurt, os estudos em Leipzig e Estrasburgo, a ida para Weimar, a temporada na Itália.
"Ele não foi apenas um grande escritor mas também um mestre da vida", diz Safranski, que vem apresentando sua obra pelo país.
Queridinho das mulheres, Goethe vivia apaixonado. Circulava entre políticos, artistas e cientistas. Até Napoleão Bonaparte recebeu-o para um café da manhã, em outubro de 1808.
Safranski é um dos maiores biógrafos da Alemanha. Também retratou Schopenhauer, Nietzsche, E.T.A. Hoffmann e Schiller.
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