sábado, 30 de novembro de 2013

Boa edição reconta a revolução sexual dos séculos passados - Mary Del Priore

folha de são paulo

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MARY DEL PRIORE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A sexualidade humana se resume a um leque de práticas que se organizam em sequências que variam pouco. Mas fazer sexo seria impossível sem um arsenal de ritos e imagens que lhe dão milhares de sentidos.
Visível ou invisível, eloquente ou silenciosa, a sexualidade sempre foi objeto de intervenções. E por quê? Pois controlá-la sempre foi controlar as relações sociais.
Com a emergência da intimidade, ela se tornou uma forma de "disciplina de si". E se construiu através de constrangimentos até desaguar no universo público e midiático, quando jornais, gravuras e diários passaram a expor a privacidade das pessoas.
Divulgação
A Cama' (1646), de Rembrandt, uma das ilustrações que estão em 'As Origens do Sexo
'A Cama' (1646), de Rembrandt, uma das ilustrações que estão em 'As Origens do Sexo'
E é disso que trata "As Origens do Sexo - Uma História da Primeira Revolução Sexual", de Faramerz Dabhoiwala, em belíssima edição e tradução da Biblioteca Azul, selo da editora Globo.
O cenário é a Inglaterra entre os anos 1600 e 1800. Ali, no início do Renascimento, infidelidade, prostituição e simples fornicação corriam graves riscos. Punições terríveis assustavam: por adultério se perdiam orelhas. Acusados de homoerotismo, sodomia e bigamia eram condenados à morte. A sexualidade era vigiada por Deus e controlada pela comunidade.
Mas o chamado Iluminismo inglês trouxe mudanças. Na elite, a liberdade sexual ganhou terreno. As mulheres, antes consideradas lúbricas --afinal, filhas de Eva--, se tornaram castas. Os homens, antes vítimas do desejo feminino, liberaram geral.
Ilustrações de nus e posições sexuais se multiplicaram. Debates sobre a poligamia justificavam-na como um remédio contra a promiscuidade.
Um pregador chegou a argumentar que o adultério não seria pecado, se praticado com pureza. E até o filósofo Jeremy Bentham se preocupou com os direitos civis dos "sodomitas": advogava que tinham direito de fazer o que quisessem com seus corpos.
O século 18 individualizou os problemas de consciência, e a sexualidade ganhou autonomia. Deixou de ser comunitária para ser particular. O certo e errado não mais se baseavam na Bíblia. A distinção entre público e privado foi reforçada, e o sexo fora do casamento ficou sem punição.
O que Dabhoiwala, professor de Oxford, nos diz é: a revolução sexual dos anos 60, apoiada na pílula, não foi novidade. A verdadeira ocorreu dois séculos antes. Mas o pêndulo foi e voltou. Ainda há muitos países onde a sexualidade lembra a situação pré-moderna.
A história seria, portanto, não triunfalista, como desejam os marxistas, mas circular. E todas essas ideias estão num livro polêmico, bem escrito e fartamente ilustrado que vale a pena conhecer.
MARY DEL PRIORE é autora de 40 livros sobre história do Brasil
AS ORIGENS DO SEXO
AUTOR Faramerz Dabhoiwala
EDITORA Biblioteca Azul
QUANTO R$ 74,90 (688 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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