sábado, 30 de novembro de 2013

Romaria a presídio foi um equívoco, diz Dilma a petistas

folha de são paulo

Parentes de presos comuns reclamam dos 'privilégios' de políticos na Papuda

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FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA
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Nos dias de visita, algumas centenas de mulheres começam a se aglomerar, a partir das 4h da manhã, no "curral", nome dado à grade em que elas se apoiam para, em fila, receber a senha para visitar os presos do Complexo Penitenciário da Papuda.
Essa é a primeira etapa para o ingresso no local, onde estão os presos do processo do mensalão --como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares.

Ainda será necessário passar pela revista, scanner corporal e "banquinho", dispositivo que apita caso identifique qualquer aparelho eletrônico levado pelo visitante.
"A gente é tratado como bandido também", reclama Maria Aparecida Nunes, 44 anos. Há dois anos ela visita o sobrinho, preso por tentativa de homicídio.
A empregada doméstica D.N., 38, reconhece que alguns episódios contribuem para o rigor adotado. "Aqui já teve mulher de 78 anos com droga dentro da bengala. Por conta de uma, todas pagam."
Toda semana ela visita o marido, mas tem preferência no acesso ao presídio: o companheiro é "xepeiro", lava a marmita servida aos presos, apelidada de xepa (restos de comida). Mas, assim como as outras mulheres, precisa cumprir todos os pré-requisitos para ter acesso aos pátios onde acontece a visita.

Políticos visitam condenados na Papuda

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Valter Campanato/Agência Brasil
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O senador José Sarney, após visitar José Genoino IC-DF
ROUPAS BRANCAS
Todo o vestuário deve ser de cor branca. Nos pés, "sandálias de dedo com solado fino, de cor clara, sem miçangas, pingentes ou fivela metálica", como detalha a regra de acesso às prisões do DF.
Ao todo, 10.294 presos cumprem pena ali. O local herdou o apelido da proprietária da fazenda onde hoje está o complexo. Por ter desenvolvido uma doença que a deixou com "papo" --possivelmente bócio-- recebeu a alcunha de "Papuda".
A visita ali acontece às quartas e quintas-feiras, das 9h às 15h. É durante esse período que as esposas podem ter 30 minutos de encontro íntimo com o parceiro, no "parlatório", nome dado à sucessão de quartos disponíveis para quem é casado ou comprove ter relação estável.
A estrutura não agrada: pela rigidez da cama, o móvel ganhou o apelido de "quebra-cabeça". Como os namorados não têm acesso ao espaço, foi preciso improvisar. Sob a vigilância de um detento, alguns banheiros do pátio são transformados em "parlaboi", onde os casais conseguem ter a privacidade que desejam.
Foi no presídio que Érica Silva, 36, engravidou do terceiro filho. Na última quinta, ela aguardava sua vez na fila para contar a novidade ao marido, preso por tráfico.
"A família gostou, mas eu chorei tanto... Tudo vai diminuir, não vou poder trabalhar com química e cuido dele e dos meninos com meu salário de cabeleireira."
Muitas mulheres não se conformam com o que consideram tratamento privilegiado dado aos visitantes dos condenados no mensalão. E reclamam da romaria de políticos que foi visitar a cúpula petista. As visitas, nestes casos, não se limitaram aos dias estabelecidos e não seguiram as limitações impostas aos visitantes "comuns" do Complexo da Papuda.


Romaria a presídio foi um equívoco, diz Dilma a petistas


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NATUZA NERY
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

Apesar de ter determinado silêncio no governo sobre as prisões dos condenados do mensalão, a presidente Dilma Rousseff reprovou o regime privilegiado que permitiu visitas fora de hora aos petistas presos no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
Ela considerou um erro a romaria de políticos que foi à cadeia visitar os petistas na primeira semana de detenção. E vê o risco de que outros presos e seus parentes fiquem revoltados com a situação.
Em viagem a Fortaleza no dia 22, Dilma discorreu sobre os três anos em que ficou presa durante o regime militar e, diante de ministros e congressistas, falou sobre o que a experiência lhe ensinou para evitar problemas na prisão.
Além de auxiliares do primeiro escalão, estavam a bordo do avião presidencial o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), irmão do deputado José Genoino (SP), preso na Papuda com o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.
Pedro ladeira - 21.nov.2013/Folhapress
Familiares de presos fazem fila para visitar parentes no presídio
Familiares de presos fazem fila para visitar parentes no presídio
A romaria de políticos à Papuda reuniu 26 deputados do PT no dia 20 para ver Dirceu, Delúbio e Genoino --que depois saiu do cárcere para tratamento médico e aguarda decisão sobre seu destino.
Dilma recomendou aos petistas que as visitas sejam breves para não irritar os familiares dos demais presos, com acesso mais restrito às áreas de segurança e sempre submetidos a controle rígido para conseguir entrar no local.
O mandato assegura aos congressistas visitas fora dos dias convencionais. Mas a caravana de políticos irritou familiares dos presos que formam filas nas madrugadas dos dias de visita e gerou críticas. Para Dilma, episódios assim podem gerar animosidade desnecessária na Papuda contra os petistas presos.
"Eu estive lá, sei como é", disse a presidente, conforme relatos de participantes da viagem a Fortaleza, relembrando seus anos na Torre das Donzelas, apelido da ala onde ficava no antigo presídio Tiradentes de 1971 a 1974.
Dilma afirmou que a regra básica no cárcere é conquistar a confiança dos outros presos. Também é "fundamental saber cozinhar", aconselhou a presidente durante a conversa no avião.
Para ela, além de garantir a qualidade da comida, o trabalho na cozinha ajuda a matar o tempo e pode funcionar como terapia. No regime semiaberto ao qual estão submetidos os petistas, é possível ser selecionado para trabalhar na cantina da cadeia.
"Os presos comuns e os carcereiros eram nossos aliados", disse. Na ditadura, os carcereiros costumavam comprar livros encomendados pelos presos políticos. Assim como os outros detentos muitas vezes transportavam bilhetes trocados entre os homens e mulheres detidos por se opor ao regime militar.
Em seguida, conforme contaram alguns dos presentes durante a viagem a Fortaleza, Dilma classificou como "tremenda bola fora" a exibição de tratamento diferenciado.
Apesar das críticas, a presidente manifestou, mais uma vez, preocupação com a saúde de Genoino. Operado para uma correção na artéria aorta recentemente, ele teve um pico de pressão e foi hospitalizado. Agora aguarda decisão sobre seu destino na casa de um parente. Duas juntas médicas consideraram que seu quadro não é grave.

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